terça-feira, 5 de agosto de 2025

Como os holandeses desenharam a utopia

Para quem não fala ou compreende inglês. Não faço ideia se é possível fazer com este traduza automaticamente o audio, se houver, apliquem. Ver sem entender pouco vai ser útil. E ver, ouvir e entender é crucial para saber o que estamos fazendo, no que estamos errando, e o que temos que mudar.
Conta um pouco da história de como os holandeses chegaram ao nível de segurança de ciclistas e a bem dizer pedestres. Falam sobre segregação, um tanto diferente do que se faz por aqui, acalmamento de trânsito, e o mais interessante, quase no final apresenta o que vou chamar de manifesto contra o uso de capacete, sim, contra o uso, apresentando as razões.
Repito o que não canso de repetir: a forma de se alcançar algo faz toda diferença. E se quiser resultados verdadeiros, não populistas, ter que perseguir a qualidade. Mais: besteira mata, acreditar em besteira é um imenso perigo.


Coloquei este segundo vídeo aqui porque ele mostra uma postura que define o nível de civilidade local. Deixo para vocês descobrirem como pegadinha. Enfim, o que aconteceria se fosse aqui no Brasil?  



sexta-feira, 1 de agosto de 2025

O retorno aos passeios gosotosos de domingo

Tenho saído aos domingos e feriados com um pequeno grupo de ciclistas que quer se divertir com tranquilidade e sem compromissos. Cara, tem sido divertidíssimo, uma volta aos velhos e bons tempos. Nada dos mesmos caminhos do carro, nada de correria, nada de deixar para trás, nada de berraria, zero competição. Só amizade e companherismo. Vamos pedalando cada vez por um novo caminho, normalmente fora de avenidas, ciclovias, ou caminhos certos (os triviais do dia a dia dentro do carro), conhecendo lugares novos, parando quando alguém pede, sempre um olhando pelo outro, se preocupando com o outro e o bem estar de todos. Delícia!

Da última vez fomos almoçar na Guarapiranga. Estava muito frio e ventando. Conversamos e decidimos que pegaríamos as ciclovias da Faria Lima e Berrine, que pelo frio estavam tranquilas e mais protegidas o vento. Só lá para frente entraríamos, já com sol, na ciclovia do rio Pinheiros rumo a Socorro e a represa. Num determinado momento o guia mudou um pouco o roteiro, saímos da ciclovia e acabamos indo por dentro do bairro para mostrar e parar numa padaria para um cafezinho. Só na Chácara Santo Antônio entramos na ciclovia do rio. Este pessoal não gosta muito da tensão de ciclovia. Em vez de sair na ponte Socorro, saímos na altura do canal, por dentro da área industrial, com parada para algumas histórias do local. Já na represa, melhor, num bairro da represa, escolhemos um pequeno e escondido restaurante, almoçamos com muita falação, fomos um pouco mais para frente margeando a água, e voltamos por dentro do bairro entre Interlagos e a represa, que aliás eu não via fazia décadas. Um destino, varios improvisos. 

Num outro passeio pedamos num trecho da Rodovia Castelo Branco... ("Como assim? Está  louco? Pedalar na Castelo Branco é tranquilo?") para depois pegar a passarela, cruzar o rio Tiete, e pedalar por dentro de bairros até voltar.

Agora respondendo: dependendo do dia, trecho e horário o trânsito é muito tranquilo. Dou um exemplo facílimo: contra-fluxo. Dependendo de onde você pega o contrafluxo parece que é feriado. 
Dependendo do dia, trecho e horário a via estará vazia, tranquila e segura. Em outras palavras, a cidade muda seu trânsito constantemente durante a semana e dependendo dos horários. Descubra, aproveite, o que boa parte não faz, prefere a segurança dos caminhos conhecidos. Não se limite a ideia de pedalar só nas ciclovias ou nos mesmos caminhos que os carros são obrigados a fazer, como fazem muitos grupos. Bicicleta permite que se faça caminhos que o automóvel não pode fazer. Enfim, liberte-se.

Sobre a Castelo Branco, no caso pedalamos num trecho da marginal entre a ponte dos Remédios e a passarela, que no domingo pela manhã fica as moscas. Entramos na rodovia um pouco mais a frente da ponte dos Remédios, que é o ideal. Sair da ponte direto não é o ideal. O trecho é uma área industrial, domingo ninguém trabalha. A mesma tranquilidade acontece em vários outros lugares tidos como perigosos por muitos ciclistas, o que acaba limitando muito as possibilidades de passeio.
Aliás, sobre este mesmo trajeto, acabei de descobrir que dá para sair da ponte, seguir em frente mais um pouco, virar a esquerda na igreja e passar pela lateral de uma favela, outro mito sobre violência. A rua é asfaltada, as casas são muito simples, o pessoal simpático, passar por lá é muito mais seguro, por exemplo, que pedalar durante a semana na ciclovia da Pedroso de Moraes, onde assalto é o que não falta. Na Guaripanga tem um trecho da ciclovia que passa pelo que chamam de favela. São só umas casinhas bem simples de famílias trabalhadoras, nada mais.

São Paulo é uma cidade imensa, cheia de possibilidades para quem quer pedalar. A maioria dos grupos de ciclistas faz roteiros que repetem os caminhos mais comuns quando se está num carro. Por que não descobrir? Por que não fugir da mesmice?
Mesmo com ciclistas de pouca prática e temerosos pela segurança é possível sair, pedalar e voltar agradando a todos. Eu sei, eu sei, o pessoal gosta dos passeios que estão aí, mas e se experimentassem algo novo, mais lento, quebrado, com descobrimentos, com tempo para ver novidades?

Eu vou dar roteiros? Não, por uma simples razão: espero que você descubra a cidade.

segunda-feira, 28 de julho de 2025

... cicloclovias segregadas atraem mais ciclistas. Será?

"... cicloclovias segregadas atraem mais ciclistas", está escrito numa matéria do Mobilidades do Estadão.
Será?

Algumas pessoas já leram o texto original que esteve aqui publicado. Não costumo fazer, mas vou modificá-lo para procurar explicar o porque tenho restrições e combato tanto vias segregadas, incluindo ciclovias. Para mim não é uma tarefa fácil, tanto porque não tenho um texto sintético, quanto não gosto de populismos, ou de "comprar a cabeça do outro". 
Mesmo que eu tivesse grande habilidade com palavras e textos, a explicação do porque segregar deve ser a última opção não é facil de ser dada. O tema é vasto, cheio de detalhes, alguns se cruzam, e uma parte não é muito fácil para não iniciados. 

O texto original que esteve aqui o que foi enviado para SP Reclama do O Estado de São Paulo, está publicado agora no escoladebicicleta.blogspot. É uma resposta a uma matéria que foi publicada no Mobilidades, caderno especial do Estadão, aliás de onde tirei o titulo.
Vamos lá.


"...ciclovias segregadas...", do dicionário, Segregar: "Colocar-se de lado; pôr-se à margem de; separar ou separar-se", que é uma das razões pelas quais nossa sociedade está cada vez mais dividida e violenta.
É certo que "ciclovias segregadas atraem mais ciclistas" pela sensação de segurança, até certo ponto e dependendo das condições uma afirmação pertinente, mas não necessariamente verdade raza e definitiva, não no que diz respeito à segurança no pedalar.

Por onde começar a explicação?

Segurança:
Dar segurança, proteger, depende obrigatoriamente de segregação? A ideia vendida é que sem segregação não há segurança. Não é verdade, aliás, além de uma mentira conveniente, é um erro crasso.
O que não é tão óbvio é que segregar, mesmo em nome ao estímulo, tem seu preço, melhor, seus preços, vários e por várias razões. 
Hoje, aqui, parece que pedalamos por um "segrege-se e que se dane o resto". Será inteligente?

"Sem ciclovia (via segregada) não há segurança", é a palavra espalhada, verdade popular, populismo bem aplicado que abraça a maioria que o aceita sem questionamentos. Será? Segregar será o único caminho para a segurança? Muros, grades, seguranças na porta, porta giratórias e outras medidas mais nos trouxeram mais segurança? Pelos números da última pesquisa agora apresentados, a resposta é "muito pelo contrário".
As ciclovias não costumam sair da porta de casa e entregá-lo na porta do destino final. A maioria pedala um boa parte do trajeto compartilhando o trânsito até chegar à ciclovia desejada, e nem percebe. Quando fala sobre segurança só se lembrar de falar sobre ciclovias. Por que será? Mais, você já teve curiosidade para levantar onde ocorrem os acidentes com ciclistas? Foram distante, dentro ou nas proximidades de uma ciclovia? A resposta é interessante. 

Cidade:
Que cidade você quer? Que vida você quer?

Começando pela sua saúde, a saúde individual, todos estudos apontam que o bem estar começa pela vida coletiva, ou seja, não segregada. Não importa o estilo de vida que você tem, o convívio social é fundamental para uma boa saude.
"OK! Mas quando estou pedalando quero ter segurança e só tenho numa ciclovia", pensarão. 

Tem forma de dar a segurança desejada ao ciclista sem ciclovia segragada? Tem, depende e muito de onde se está pedalando e do que entende e pretende o cidadão ciclista. Se sua resposta é "eu" quero segurança, portanto "eu" e que se dane o resto do mundo, é provavel que a sua única resposta seja "segregação". Mas neste caso não importa em que veículo você esteja, seja uma bicicleta ou uma SUV blindada, o seu nível de segurança não será o ideal. Por que? Porque trânsito é um 'jogo' coletivo, onde entender e respeitar os outros faz toda a diferença. Dados são claros e não mentem. Foi para o "eu", reduziu a muito segurança.
Se seu desejo é que você e todos tenham segurança, ou seja, jogar o coletivo, entrar no trânsito sem pensar em guerra, batalha, inimigos, a resposta vai para segregar só em casos excepcionais e momentâneos, isto se definitivamente não houver outra alternativa.
O que está em jogo é que vida você quer? e, que cidade (coletivo) você quer? 
O coletivo traz riscos diferentes do segregado. A questão é que as pessoas acreditam piamente no que foi vendido. Mais, eu não tenho dúvida que brasileiro ainda não entendeu o que é uma cidade, e não entendeu porque há interesses imensos que não querem que ele entenda o que é uma cidade. O coletivo é profundamente desinteressante para certos interesses, inclusive os de esquerda que dizem defender interesses coletivos.

Descartar possibilidades testadas e aprovadas em inúmeras cidades do planeta acaba sendo tão ou mais perigoso quanto o ir cego para o que de imediato parece lógico. Muros, grades, seguranças armados na porta, são a resposta que parece mais sensata contra a violência, mas tem funcionado?

Sobre o que a bicicleta pode oferecer para a cidade:
Já escrevi várias vezes que na virada do século XIX para o XX dizia-se que "ao socialismo se vai em bicicleta", o que pode-se traduzir hoje como "ao equilíbrio social se chega pedalando uma bicicleta (não elétrica)". Bicicleta tem uma espécie de pacto com a equidade, com o equilíbrio social, com uma economia ambientalmente correta, e outras qualidades mais. Nada a ver com segregação.

Em todas as partes do planeta a bicicleta foi e está sendo usada como uma ferramenta de integração social, não de segregação. Sim, as ciclovias são a base desta transformação, mas definitivamente não o único ponto de sustentação da segurança. Olha-se o interno dos bairros e se acalma o bairro usando ferramentas para diminuir a velocidade, aumentar a atenção de motoristas e com isto dar liberdade a todos que vivem na área. Ciclovia segrega, o que tira a necessidade do motorista prestar atenção no ciclista, daí os acidentes nos cruzamentos. 
 
O interesse pela bicicleta não está só na melhoria da mobilidade urbana e segurança dos ciclistas, mas na capacidade de integração social que bem implantada ela oferece. Só não se deve Integrar quando situações muito específicas realmente não permitem.

Aqui, segrega-se, ponto final. O povo adora, então segregam mais ainda. Com isto grande parte das inúmeras vantagens que a bicicleta traz para a sociedade como um todo perde-se.

No Brasil a segregação, não só da bicicleta, vem com uma resposta simplista, populista a bem dizer, para soluções de problemas muito complexos. Segregar atende ao pedido das multidões, populismo barato, ladainha pura. O resultado a princípio pode ser bom, e geralmente é, mas vai deixando penduricalhos não resolvidos, e estes sim são o real problema. 

E as calçadas, não são segregadas?
No caso do trânsito, ciclistas têm a mesma necessidade de segregação que pedestres? Pedestres são segregados porque seus deslocamentos são muito diferentes da forma de deslocamento de todos veículos, sem exceção, incluindo bicicletas, que por lei é veículo. Começa pela velocidade do caminhar e termina pela capacidade de mudar de direção, que no caso do pedestre pode facilmente ser abrupta, pára, gira, anda para trás, abre os braços, etc..., o que é impossível para qualquer veículo sobre rodas, a bem da verdade até para monociclos. É uma questão relacionada às leis de física, que até onde se sabe são imutáveis, pelo menos no resto do planeta.

Para onde caminha a segurança do trânsito? Na maioria dos países para a redução de velocidade. Ainda em poucas localidades estão fazendo uma revolução partindo para a abolição completa de todos elementos segregadores das vias públicas, ou seja, todo mundo junto, aliás, pedestres, ciclistas, motos, carros... Vão mais longe ainda, tiram todas as sinalizações, todos semáforos, tiram tudo, deixam as ruas totalmente limpas. "Como assim? Não pode ser!" Pode, e os índices de segurança melhoraram muito até em comparação às localidades consideradas seguras. 'Shared spaces' é um dos nomes dados à técnica. O movimento começou na Holanda e vem se espalhando por cidades européias, incluindo trechos em grandes cidades, com excelentes resultados.

Para terminar, quero lembrar a irritação de boa parte da população com a implantação indiscriminada de ciclovias e ciclofaixas, muitas delas ficam as moscas. Esta irritação rebate no comportamento de muitos motoristas, estejam certos. Porque ter boa vontade e paciência com quem acha que só ele tem plenos direitos? 

O dia que o Brasil parar de segregar, colocar de lado; pôr à margem de; separar ou e principalmente separar-se, vamos iniciar a construção de um futuro com futuro.

sábado, 26 de julho de 2025

Pedivela com uma coroa? Talvez não seja bom

Lá pelos idos do começo dos anos 90, Ritchey, um dos gênios da engenharia do mountain bike, falou e publicou que o futuro das marchas seria uma coroa no pedivela e 12 marchas na traseira. Teve muita gente dizendo que ele estava louco. Bingo! Em cheio. Até as bicicletas mais básicas estão saindo com 1x12. O pessoal está adorando. Mas...

Só vim entender o porquê da coroa única na frente agora: facilitar para os leigos e principiantes o uso das marchas, o que de certa forma era fácil de imaginar. 
Nestes mais de 30 anos de vida com coroa tripla na frente, o básico e bem conhecido 21 marchas, 3x7, cansei de ver quem não usasse a coroa tripla ou usasse errado. E para a maioria não adianta explicar como usar porque sempre vão fazer besteira. Daí coroa única na frente fazer todo sentido.

Eu não quero. Primeiro porque sei usar a relação completa de marchas, o que inclui tripla coroa. Acredito que seja uma obrigação de quem gosta de bicicleta e pedala com gosto aprimorar a técnica de pedal, o que inclui usar bem a relação de marchas. Segundo, o custo de manutenção das relações com coroas triplas ou duplas é muito mais baixo que de uma relação 1x12, e a durabilidade maior. Dentre outras palavras, ... meio ambiente.

Desde a primeira vez que vi estas relações 1x12 me perguntei: o ciclista vai pedalar a maioria do tempo nas últimas marchas, que portanto estas gastarão mais. Fui a algumas bicicletarias e perguntei se com a relação gasta seria necessário trocar todo cacete ou só as relações gastas. Respostas: troca tudo, não tem outro jeito. Primeiro, o custo de manutenção de coroa única é muito mais alto, segundo, é ruim para o meio ambiente. Quem ganha, e muito, os fabricantes. Ok, ganha também quem não sabe usar o câmbio dianteiro.

Um dos indutores de "melhorias" nas bicicletas atuais é o ciclismo profissional, mas, óbvio, profissional é profissional, o resto é o resto. No mundo profissional só interessa os resultados, custos e outros que se danem. No mundo real, o nosso, deveria ser o contrário.

Acompanhando o que acontece lá fora, especialistas começam a criticar estes pedivelas de coroa única, por mais razões que as que exponho aqui. 

Pedivela de coroa única é moda ou veio para ficar? Boa pergunta. Fato é que está aí, dentre outras coisas, para aumentar as vendas e os lucros. Deve ficar, virar regra. 

De minha parte, continuo dizendo que bicicleta tem que ser o básico, e de preferência alavancar seu maior bem, ajudar o meio ambiente. 

quarta-feira, 25 de junho de 2025

Entrada de veículos, ciclista pedalando na calçada

Antes que tire conclusões precipitadas, por favor, leia até o final.

Vou tentar usar algo como o método de análise de acidentes aplicado na aviação

Ciclista pedalando na calçada colidiu de frente com a lateral de um veículo que estava entrando no estacionamento. O ciclista foi ao chão sem grandes consequências.


Erro: ciclista pedalando na calçada. Calçadas são restritas a pedestres e pessoas com necessidades especiais de mobilidade. Pedalar numa calçada é proibido. Razão: perigoso para pedestres e aumenta a possibilidade do ciclista sofrer de acidente. O ângulo de visão do ciclista fica muito prejudicado, o que diminui muito o seu tempo de reação. Uma pessoa ou veículo saindo de uma propriedade só vai estar visível quando não houver mais tempo de reação. E o ângulo de visão dos condutores de veículos é limitado nestas saídas de propriedade. Mesmo quando vem pela rua a sua visão do que acontece na calçada é prejudicada porque seu foco é a via e ou trânsito que está a frente, e por obstáculos normais de uma calçada, postes, árvores, vegetação, carros estacionados, outros.

Segundo erro: o ângulo de acesso do veículo para o estacionamento neste caso permite uma velocidade mais alta que o recomendável quando ele atinge a calçada.

Fato: o motorista disse que tinha olhado para ver se tinha pedestre na calçada.
Fato: o ciclista estava muito lento, algo em torno de 10 km/h
Fato: a colisão do ciclista foi frontal e se deu na roda dianteira direita do automóvel
Fato: o ciclista estava distraído com luzes a frente
Fato: a bicicleta não sofreu danos, portanto o impacto foi leve devido à sua baixa velocidade
Fato: o ciclista não sofreu qualquer ferimento ou lesão que o impedisse de seguir pedalando, portanto seu impacto na lataria do carro foi leve também
Fato: estava escuro, o ciclista vestia sueter preto, que por si diminui muito a capacidade de visualização do motorista. O ciclista estava passando por um muro de vegetação, o que diminui o contraste de seu casaco preto contra a folhagem verde. 
Fato: foi possível ver que o automóvel não teve amassados

Responsabilidades

A lei é clara. A responsabilidade da ocorrência é do ciclista porque bicicleta perante a lei bicicleta é um veículo e deve ser conduzida na via, sendo proibida sua circulação nas calçadas, exceto quando devidamente sinalizado.

Podesse dizer que o motorista foi imprudente. Sua alegação que tinha olhado para ver se tinha pedestre é difícil de sustentar pela altura do ciclista, 1,85 m.. Sentado numa bicicleta faz o ciclista um pouco mais alto que os 1,85 m.. Não havia obstáculos que impedisse a visualização do dorso e cabeça do ciclista pelo motorista, mas o ciclista vestia cor escura e estava contra uma vegetação que a noite também fica escura, ou, o ciclista era difícil de ser notado. 

ciclista trafegava em baixa velocidade, aproximadamente 10 km/h, quase de um pedestre caminhando com rapidez. Um corredor a pé estaria mais rápido.

A colisão do ciclista foi na frente do automóvel, na altura da roda dianteira, o que aponta para a posição dos dois antes da colisão enquanto rodavam em paralelo. Aponta também para que o automóvel vinha de trás da posição do ciclista. 
O automóvel vinha junto com o trânsito numa velocidade aproximada de 30 km/h. Houve frenagem antes da entrada do estacionamento, mais o fazer a curva para a direita e o alcançar a calçada. Resta a dúvida se o motorista estava com sua atenção na calçada e possíveis pedestres circulando, o que seria sua obrigação legal.
Podesse afirmar que houve imperícia por parte do motorista.

O acidente foi comigo. Viajei na maionese, estava muito tranquilo e me distrai com as luzes acesas de uma casa que nunca vi iluminada. E bum! Ouvi uma barulheira, senti um tranco e cai no chão.
Se não me falha a memória a lei, o CTB, diz que durante condução se deve manter a atenção no trânsito, ou qualquer coisa do gênero. Dois a zero, a responsabilidade é minha.
Estou bem, mas um pouco dolorido. Foi uma boa lição. Mais importante, a bicicleta está inteira.

O motorista parou, desceu do carro e veio ver como eu estava, pedindo desculpas. 
Imediatamente assumi a responsabilidade, o que ele não entendeu bem, mas ficou aliviado.

sexta-feira, 20 de junho de 2025

Falta de cultura é pouco

No início dos anos 90, em homenagem a Ferrari, a tradicional marca de bicicletas de competição Colnago fez uma edição especial muito limitada, a da Colnago Ferrari. Na época foi vendida para um seleto grupo de ciclistas e colecionadores pela bagatela de US$ 12.500,00, então uma pequena fortuna. 
A Colnago Ferrari é uma Colnago C60 melhorada. A saber, a C60 foi a única bicicleta testada por uma das mais importantes e respeitadas revistas internacionais de ciclismo, que no final do texto, nas qualidades e defeitos recebeu um comentário impressionante: "sem defeitos". Reli para ver se tinha entendido e, sim, estava lá, "sem defeitos". Em décadas de leitura nunca havia lido algo próximo.

Um brasileiro comprou uma, que foi enviada para o mais respeitado mecânico, Daniel Aliperti. Caixa ainda fechada na bicicletaria, todos admirando, e mesmo antes que fosse aberta chegou um telegrama.
- Tenho informação que a Colnago Ferrari está com vocês. Pago US$ 25.000,00, mais todos transportes e impostos.

A bicicleta continuou no Brasil, uma jóia raríssima, muito mais que uma bicicleta cara, mas um símbolo do que melhor existia no mundo da bicicleta e tecnologia daquela época. É um marco histórico a ser respeitado.

Semana passada ouço de um mecânico que ele instalou um motor elétrico exatamente nesta bicicleta. Quase caí de costas. O dono não faz a mais remota ideia do que aquela obra de arte significa, não tem nem cultura ciclística,, aliás provavelmente nem cultura geral, e muito menos noção do que é História, com H maiúsculo. 
Motor elétrico numa bicicleta destas é um, não, vários disparates. Simplesmente aponta, sem o menor erro, para o baixíssimo nível cultural que temos o Brasil. 

segunda-feira, 16 de junho de 2025

Tampas de bueiro afundadas e outros buracos

SP Reclama
O Estado de São Paulo

Ontem por muito pouco não sofro um acidente grave enquanto pedalava. Peguei pedalando uma, não, duas seguidas malditas tampas de bueiro afundadas daquelas que estão por toda a cidade. Bel, num buraco destes partiu em dois a suspensão dianteira de seu carro. Não precisa de estatística para saber que muitos caem nestas tampas de bueiro afundadas, basta ficar parado próximo para ouvir o barulho das seguidas rodas batendo. De qualquer forma seria de utilidade pública se houvesse dados estatísticos sobre este tipo de ocorrência, o que aposto que não há. Reasfaltaram e deixaram a tampa afundada ou o concreto cedeu? Sou cidadão e não me interessa de quem é a responsabilidade, quero o problema definitivamente sanado. Concreto novo colapsando é coisa trivial, como é trivial que ninguém investigue o porque concretou na coisa pública, quebrou logo em seguida, é óbvio, nós que paguemos. É extremamente fácil provar que o concreto usado é inapropriado ou o serviço é mal feito. Só bueiros afundados? Quantas são as esquinas que foram repetidas vezes reconcretadas? Uma que mais uma vez está uma vergonha é a esquina da rua Augusta com Oscar Freire. Se eu começar a escrever os locais que me lembro de bate pronto onde o concreto rapidinho quebrou não paro mais. Não me interessa qual seja a razão, me interessa que se pare de gastar estupidamente dinheiro público numa obra mal feita, num problema que não se sana. Corredor de ônibus esburacado aos montes. Os remendos nas pontes..., consertos em calçadas guias rebaixadas, escadas... Concreta, cimenta, quebra, concreta, cimenta, quebra... Finalmente: quem vai ter interesse, ou coragem, para investigar porque o concreto usado em obras públicas quebra ou esfarela com tanta facilidade?


Quem vai ter interesse em descobrir o número de ocorrências graves, acidentes e incidentes que foram causados por buracos e tampas de bueiro afundadas ou inexistentes que pipocam por toda cidade? Se até hoje não se investigou e trouxe a público a verdade sobre o escárnio dos roubos de fio de cobre, que é um setor muito menor e mais fechado, o que tudo indica é que falta interesse e ou
 coragem para descobrir o que vem acontecendo com esta indústria do cimento. Relatar a ocorrência não basta, urge ir atrás dos fatos. Óbvio que alguém está ganhando muito com isto. Saber quem deveria ser o objetivo, mas saber porque o silêncio talvez seja muito mais útil. 


Não cheguei a cair da bicicleta no meio do trânsito por pura sorte, mas bati o saco no tubo superior, consegui frear a bicicleta antes de ir para o chão e a gentil senhora que estava atrás parou a tempo. Aliás, agradeço aos que viram a ocorrência e assustados pararam para perguntar como eu estava. Meu tenis foi para o lixo, eu que me vire para pagar, assim como acontece com todos nós, cidadãos. O prejuizo sempre é nosso.

sexta-feira, 13 de junho de 2025

Calçadas - texto não ainda terminado

Pedestre / Calçada
  • que tipo de via?
    • conurbada 
    • estrada
    • expressa
    • avenida
    • corredor de ônibus
    • ruas 
      • principais
      • secundárias
    • vielas
    • interno de bairros
    • rampas para pedestres
    • escadarias 
    • passarelas
    • pontes
    • pinguelas
    • oficiais 
    • privadas de uso público
    • não oficiais
  • largura
  • inclinação
  • curvatura da via e águas
  • tipo de piso
  • iluminação
  • vegetação
  • problemas sazonais 
Implicações legais em cada tipo e forma de via.  

Pontes
  • cruzamento nas alças
    • semaforização
    • posição faixa de pedestre
    • visibilidade da sinalização para pedestres
    • visibilidade da sinalização para condutores - importantíssima 
    • tempo de reação
  • cabeceiras
  • piso modular móvel - solto quando há cabos ou encanamento
  • escadas e degraus
  •     desrespeito ao padrão
  • largura da passagem
  •     uso por ciclistas
  •     espaço para caminhar
  • ferrugem
  •     pintura solta
  •     falta de limpeza 
  • pontas expostas 
Passarelas
  • cruzamentos possíveis próximos - indução a cruzar sem subir
  • distancia e tempo total do cruzamento a pé 
  • caminho obrigatório para ciclistas
  • caminho opcional facilitador para motociclistas
  • cabeceiras 
  • assaltos no meio da passarela 
Leis e normas técnicas sobre construção e manutenção
  • qual a atualidade?
  • qual a realidade em relação ao que se tem hoje na construção?
  • quem fiscaliza?
  • qual o gatilho para fiscalizar?
  • quais os critérios de aprovação ou não?
  • regras e normas de limpeza 
  • critérios para aplicação de multa
  • caso Heymeyer
Acidentes e ocorrências
  • banco de dados
    • quem cruza os dados?
    • como são cruzados? critérios? 
    • politização?
    • capacidade técnica?
    • responsabilidade técnica
  • uso de dados para correção
Ocorrência

SAMU     

  • forma de registro
  • atendimento - qual a obrigação legal e quais limites? 

Perícia 
  • quantas perícias em ocorrências fatais causadas por calçadas?
  • existência de perícia
  • qualidade da perícia
    • tempo de periciamento
    • preservação local e de dados
  • corporativismo?
  • possibilidade de acionar perícia fora do poder público?
PA

  • forma de registro
  • colaboração com formação de banco de dados
  • permissão e limites de entrada e acesso de perícia ao atendido

fato consumado - dano ao bem público

  • quantos danos ao bem público foram ressarcidos pelos causadores?
  • quem paga?
  • como paga?
  • quem controla?
  • quanto recaiu sobre os cofres públicos?
  • o que fala a lei? 
  • quantos foram punidos desta e ou de outra forma?
  • responsabilidade técnica - de volta a perícia

 Qualidade da calçada

  • tempo de garantia de obra pública
  • forma de garantia e controle sobre obra em espaço privado de uso público
  • tipo de piso
  • uniformidade
  • desníveis ou irregularidades de obra aceitos
  • como está na lei? Lei é uma coisa, realidade é outra 
  • uniformização estética e funcional
  • carga que sofre - passagem de automóveis, vans, ônibus e caminhões, por exemplo
  • calçada loca X calçadas do entorno 
exemplo Pinheiros 
  • calçadas reconstruídas dentro da Operação Faria Lima - Pinheiros
  • reconstrução de algumas ruas e avenidas desnivelou as calçadas
    • pior exemplo - entre Largos de Pinheiros e da Batata 
    • problema para a continuidade do olhar entre as duas praças
    • num sentido pedestre tem perda de visão do trânsito da avenida 
    • cruzamento com escadinha onde era plano
Vias e estradas conurbadas
  • distância entre passarelas ou cruzamentos de pedestres
  • cruzamento de pedestres através de barreiras fixas - sinalizadas, mas
  • piso começou a soltar pouco tempo depois
Meio ambiente 
  • sombra
  • umidade
  • nivel de ruido
  • agradabilidade ambiental
  • impacto visual de área construída
  • qualidade do piso na sensação do pedestre
  • arborização
  • paisagismo
  • locais de convívio / descanso
    • por que foram feitos tantos erros? porque tanto desperdício?
    • calçadas em zig-zag?
    • bancos que ninguém senta?
    • equipamento urbano inútil?
  • iluminação
Postes e fiação aérea
  • postes nas esquinas - por que tantos?
  • postes nas calçadas 
    • limita a visão do pedestre, principalmente ao cruzar a rua
    • segurança no trânsito
    • tempo de reação pedestres e motoristas
Pedestres e sistema cicloviário
  • projetos cicloviários tem que ser pensados tendo o pedestre como prioritário
  • a circulação do ciclista tem que estar a serviço de pedestres e pessoas com mobilidade especial
  • Por que pedestres querem caminhar nas ciclovias? 


segunda-feira, 2 de junho de 2025

Por que as propostas de redução da violência no trânsito não dão certo?

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Autoridades? Quem? Comecemos por aí. O primeiro passo para pararmos o banho de sangue nosso de cada dia é ter alguém que seja autoridade respeitável, mas aí dancemos!
Autoridades temos, e que merecem respeito, também, mas com a desconstrução que vivemos tendo por tantos anos não é mais discernível saber quem é o que ou o que é quem.

A questão passou há muito do como diminuir a violência para como frear a selvageria disseminada entre a população, selvageria que começa em pequenas faltas de educação básica, cidadania, e termina (será que termina?) no tiro no peito dado a troco de banana por um vira bosta, não muito diferente de um pelotão de fuzilamento de revolucionários de uma república da banania. 
Quem realmente sabe para que serve a autoridade? Não a ideológica, a funcional.

Diminuir a violência? Qual delas? Como se faz para que não joguem lixo nas ruas, ou lhe respondam o bom dia que foi desejado com sinceridade? Ou que a vendedora largue o celular e venha lhe atender, que é sua obrigação de trabalho?
Como ciclista recomendo que não peça que o outro dê passagem, até quando ele simplesmente decide parar e fechar a ciclovia para digitar o celular. Não ouse pedir que abaixe a luz piscante que cega apontada para seus olhos, e que ele acredita piamente que o faz mais seguro. Nem sequer ofereça ajuda para consertar o furo da câmara, o que pode ofender os brios do ou da ciclista. 
Gentileza gera gentileza, mas o que fazer quando a gentileza caiu fora da moda?  
 
Diminuir a violência no trânsito? Com velhas soluções? Educação, respeito, não corra, não mate, não morra? Quem se importa? Quem tem autoridade para falar tais coisas? 

Especialistas listam ações para reduzir acidentes com motos, título de matéria no Mobilidade, especial Maio Amarelo, O Estado de São Paulo, 28 de maio de 2025.
1. Formação; 2. Ficalização; 3. Conscientização; 4. Manutenção; 5. Treinamento; 6. Tecnologia; 7. Vias mais seguras, são os tópicos. E numa pequena caixa, "Vias inseguras para pilotos. Sinalização escorregadia, valetas, buracos, entre outros problemas, são verdadeiras armadilhas", diz, aliás, define porque não a situação vai mudar, ou mudará sabesse lá quando. Falar sobre formação, fiscalização, conscientização, manutenção, treinamento em 2025? A quantos anos se recita exatamente a mesma ladainha? Mudou algo? Estão falando para quem, para quem lê jornal? Pior, para os poucos que lêem e entendem o que estão lendo?

Não temos autoridades, este é o problema. Sem um poder público que tenha um mínimo de credibilidade não sairemos desta. Os 'mortoboys' que o digam.

Temos que cair na real e fazer o que tem que ser feito, que não é necessariamente o que diz a lógica. Isto aqui é uma guerra, e guerras são vencidas não com o bonitinho, mas com o uso da inteligência para vencer uma batalha por vez. De novo, o que nos falta é comandantes e mais ainda, inteligência.  

A tensão de pedalar numa ciclovia.

Só porque é ciclista é bonzinho? Tem gente que acha que sim, que bicicleta santifica. Eu tenho certeza que não é assim. Só porque está numa ciclovia junto com ciclistas você está seguro. Tem gente que pensa assim, eu definitivamente não. 

Somos todos humanos. E somos todos usuários de automóveis ou motoristas. E como ciclistas acabamos tendo os mesmos vícios de usuários de automóveis ou motos. 
Os vícios criados pelo uso do automóvel é secular, portanto está empreguinado na sociedade, principalmente na forma que nos movemos no urbano. Importante diferenciar a condução e o uso correto do impróprio, perigoso e pouco civilizado. O problema não é o automóvel, mas quem o conduz. O comportamento de boa parte dos que pedalam nas ciclovias que o digam. São poucos os que pegam o mais belo que a bicicleta oferece: paz e tranquilidade.

Quando temos em mãos um instrumento para extravasar, todos nós, sem exceção, colocamos para fora o que de mais profundo temos, o nosso mais puro caracter, com suas qualidades e mazelas. Acontece isto quando estamos dirigindo, quando estamos pedalando, ou em qualquer modo de transporte.  Aí vem a tona o que temos de mais íntimo e o como lidamos com o mundo onde se vive.

Hoje, ciclovias 'estão' um espaço para ex usuários automóveis e motocicletas. Mesmo quem nunca tenha conduzido um veículo motorizado foi com certeza levado para lá e para cá como passageiro num carro, moto, ou ônibus. Este foi o aprendizado sobre comportamento social no uso de um veículo, qualquer, o que se reflete na forma como pedalam.

A quantidade de cidadãos (?) que pedalam bicicletas elétricas (bicicletas?) de forma, eu diria, pouco civilizada é uma barbaridade. Deduzo eu que o sonho deste pessoal seria estar na ciclovia com uma Harley Davison Fat Boy escapamento aberto acelerando fundo para tirar qualquer ciclista da frente. Motos em ciclovias não acontece, é raro, mas é inegável que muitas bicicletas (?) elétricas estão mais para scooter, o que quando claramente não o são. Pedais? Onde estão? 
Pseudo scooters ou ditas bicicletas elétricas, da forma como seus proprietários se comportam não nega o que pensam: "Que coisa chata! Este pessoal não tem dinheiro para comprar uma elétrica, por que não voltam para casa?" E para estes "cidadãos" (que acham que se comportam tão bem nas ciclovias com suas elétricas) em suas noitadas e viagens de fim de semana, uma bela SUV das grandes, altas, imponentes! "Que delícia! Finalmente livre daqueles imbecis que pedalam na ciclovia".

Ciclista de pouco ou baixo senso de cidadania não é uma novidade, nem coisa de Brasil, se bem que em se falando de Brasil é coisa bem brasileira, bem peculiar, especial, muito mais sofisticada. Os números não mentem.

Vamos lá.

A primeira experiência assustadora com ciclistas agressivos numa ciclovia foi em Munique no fim da tarde, hora do rush de volta do trabalho para casa. 2005. Ainda não existiam as ditas bicicletas elétricas. A agressividade daquele povo ao abrir o semáforo me assustou. Nem em largada de prova de final de campeonato de mountain bike experimentei tal sufoco. No resto do dia as ciclovias de Munique são um sonho de tranquilidade.

Pedalar no centro de Amsterdam é complicado por causa dos turistas. Muitos não fazem ideia do que seja pedalar uma bicicleta, muito menos como se comportar numa ciclovia ou mesmo numa rua. O povo de Amsterdam não aguenta mais. A última vez que estive lá tinham liberado os scooters pequenos, com motor até 50CC. Achei estranho, não gostei muito, mas como os holandeses são muito educados, civilizados, com um senso coletivo claro, fora o barulho e o cheirinho ruim, pedalar junto com as scooters não foi um problema. Hoje, com a entrada das elétricas, que incluem scooters ditos a pedal, a coisa mudou. Tenho lido que querem fazer algo para parar a bagunça que virou.

Sensação de segurança passa pelo nível de civilidade de cada população. Aí está nosso problema. Como sempre, fácil provar a nossa triste baixa civilidade: olhem o lixo espalhado no chão de nossas cidades e tirem  suas conclusões. Está mais que provado, leiam, não resta dúvida que nosso comportamento no trânsito é selvagem. Somos um dos países com trânsito mais violento do planeta dito civilizado. Por que seria diferente com os ciclistas?

Este texto veio porque estou tendo que subir a av. Hélio Pelegrino no horário que o pessoal está indo para trabalhar. Deixei de usar aquela ciclovia porque não aguento mais a agressividade principalmente dos usuários das elétricas e afins. Eles são chiquérrimos, só vendo. A possibilidade de sofrer um acidente ali é muito maior que a de ser atropelado por um carro. Afirmo com todas letras que os motoristas são muito mais civilizados, muito menos agressivos, tem uma condução muito mais correta, que os elétricos. 

domingo, 25 de maio de 2025

Emenda da câmara de ar vazando

Pneu furado. Para o passeio. Entro no boteco, peço um suco, desmonto o pneu, pego a câmara, bombeio até ficar cheia. Passo a mão pela câmera e não consigo sentir onde está o furo, mas está vazando bem devagarinho. Encho mais ainda, encosto a câmara na bochecha, que é muito sensível, vou passando e finalmente encontro o microfuro. Na emenda. Estico a câmara com as mãos e o buraco aumenta um pouco. Paro ou não vai dar para remendar. Remendo feito seguimos em frente sem problema.

Furo em emenda da câmara acontece. Ruptura também, não é comum, mas acontece, principalmente em câmaras velhas, como era o caso. Devia ter uns pelo menos uns 20 anos. De marca européia, portanto boa. Quanto durou e ainda vai durar depende de uma série fatores. Não importa, tempo de vida é tempo de vida, tudo termina.

Por sorte, naquele domingo quente, e naquele bairro distante, tivemos a sorte de passar por dois senhores já bem altos, música alta e cerveja na mão. Olhei e vi que era uma bicicletaria bem pobrinha cheia de câmaras remendadas penduradas. Por muita sorte saímos com uma câmara nova, que foi instalada na primeira parada mais longa do passeio. Aí a dona da bicicleta me contou que já tinha trocado a câmara da roda da frente. Deveria ter trocado as duas. E guardado as velhas para estepe, para conseguir voltar para casa.

Quantos anos têm suas câmaras? Em que estado elas estão? Quando foi a última vez que as revisou? Só quando furam? Não vale a pena. Com um pouco de paciência você sairá de casa muito mais tranquilo. Revise.


A saber, todas câmaras de ar têm emendas na diagonal para juntar as duas pontas. Se não tiver é porque o tubo foi extrudado. Várias têm emenda longitudinal, ou seja, são fabricadas a partir de uma tira de borracha, látex ou outro material. Primeiro são juntados, normalmente fundidos, os dois lados para formar um tubo, depois cortada na medida desejada e finalmente juntadas as duas pontas. O bico? Não sei ao certo, mas imagino que seja colocado ainda quando é uma tira.

segunda-feira, 12 de maio de 2025

Onde você coloca seu olhar?

Subiu na bicicleta e colocou seu olhar para baixo, no chão. Esquece, não vai se equilibrar ou pedalar com facilidade. Este é um erro clássico entre os aprendizes de ciclista, mas não só deles. Entre os que pedalam mais sério no mountain bike, colocou o olhar numa árvore, "chupa!" (como minha geração dizia), líquido e certo você vai bater na árvore.
Sim, há uma forma correta de olhar, principalmente quando se trata da segurança no trânsito ou mesmo do simples pedalar.

Tive bem poucos acidentes pedalando e praticamente todos foram causados por mulheres bonitas. Não, não foram elas que causaram os acidentes, mas porque fiquei olhando e acabei batendo num poste, numa árvore, caindo num buraco ou acertando a lateral de um carro, dentre outras situações tensas que já passei. 

Outro dia estava pedalando no meio do trânsito e tirei por um segundo o olhar de onde devia estar, do carro da frente. Felizmente tive tempo para desviar da traseira que cresceu rápida. Correu um gelado pelo corpo, uma fração de segundo a mais e cabummmm.

Um dos problemas com quem se distrai prendendo o olhar num ponto fixo, e isto inclui celular, é que quando o olhar volta para o que realmente interessa, o cérebro demora para ler e entender a situação que está a frente. O número de acidentes que tem por causa isto é muito alto. No caso do uso do celular há alguns agravantes, o mais complexo é tempo de retorno à realidade depois que o olho sai do celular. Segundo pesquisas científicas, o retorno completo à realidade só se dá uns 23 segundos após o olho deixar a telinha. 
No meu caso, o vício de olhar para mulheres interessantes, depois que tirei o olho delas e voltei o olhar para a rua, o pensamento ainda fica na beleza delas por um pequeno tempo, ou seja, estou olhando para frente e não estou vendo ou entendendo o que está a frente. 

Num cálculo simples: a cada 1 segundo desatento um ciclista de rua, destes bem calmos, que pedalam a uma média de 15 km/h, a bicicleta roda 5 metros. Parece pouco, mas definitivamente não é. E não estou falando sobre a perda de direção que pode ocorrer nesta desatenção. Pelo que li, a 15 km/h uma bicicleta demora entre 10 e 15 metros para parar. Ou seja, 1 segundo de distração = 5 metros corridos, mais 10 metros para parar = 15 metros para evitar um acidente, e neste cálculo não está o fator tempo de reação, que são mais uns tantos metros.

Esportistas profissionais conseguem manter a atenção completa por um bom tempo, mas não todo tempo. Entre os mortais, eu afirmo, ninguém consegue ser perfeito o tempo todo, muito pelo contrário. Nós voamos no piloto automático com um inconsciene ligado no olho sempre pronto para reagir. Se não estiver olhando, nem o piloto automático vai funcionar.

A forma correta é olhar para onde é necessário de preferência usando a visão periférica. Trânsito, ir, pedalar, ou qualquer condução de veículo, não é exatamente uma linha reta, mas um processo dinâmico porque tudo em volta está se movimentando.

O correto mesmo é tentar relaxar quando se está no meio do trânsito. Esta é uma verdade provada e comprovada pela ciência, divulgada em relatórios e em artigos científicos publicados nas mais respeitadas revistas especializadas do planeta. Relaxado o cérebro vai automaticamente escolher o que é importante ou não para a segurança. Relaxado se enxerga muito melhor.

Não é só no meio do trânsito, mas ficar relaxado faz muita diferença em tudo. Fechou a cabeça num único pensamento sempre é problema. Há uma diferença enorme entre ficar ou estar concentrado e ficar ou estar bitolado, ou seja, com foco fixo.

Abrir o olhar demanda um certo treino, sempre demandou. A proxima vez que for para as ruas deixe seu olhar leve, quando possível treine sua visão periférica. Sua vida ficará muito mais agradável e segura.




Um dos  

segunda-feira, 5 de maio de 2025

Bondes, VLTs ou ônibus elétricos? Bicicletas?

Transporte de massa ou transporte ativo individual, leia-se bicicletas, patinetes e afins? O correto, o eficiente, é tudo junto, cada um com suas qualidades e em seu lugar, incluindo automóveis. Não é uma equação fácil de ser resolvida, mas o resultado tem que ser "qualidade de vida para todos e para o meio ambiente da cidade". Aí não dá para descartar nada. 

No fim das contas é sobre o uso de espaços de uso público, o que é o caso das vielas, ruas, avenidas, vias expressas, por onde a vida passa. Via expressa? Sim, uma linha de trem no fim das contas é uma via expressa. E por razões de contexto histórico e econômicas, as vias expressas para automóveis, o que inclui caminhões e ônibus, tem que existir, talvez, melhor, com certeza, não como são hoje.

Sobre que escala estou falando? Numa cidade como São Paulo a escala é uma loucura, quilométrica, dezenas de quilômetros, distâncias enormes, deslocamentos massivos... Pensar só em bicicletas ou patinetes é não olhar para a realidade. Transporte ativo é para distâncias curtas, quando muito médias. Eu sei, daqui até meu médico são 20 km e vou pedalando, o que acaba sendo mais rápido inclusive do que em automóvel, dependendo da hora e dia. Mas, ir tão longe, não é esta a função da bicicleta no contexto de uma cidade, ou pelo menos não deveria ser. Minha média de velocidade pedalando é de 15 km/h. Um automóvel deveria ter uma média de velocidade maior, mas, de novo, dependendo do dia e horário não tem, e aí está o erro, ou os erros, muitos erros.
 
Para distâncias maiores deveria entrar o metro ou bonde. Metro é mais rápido, com paradas bem mais espaçadas. Bonde atende as localidades com suas paradas mais curtas, mais ou menos as de um ônibus. A diferença é que está mais que provado que ônibus, mesmo os elétricos, criam problemas ambientais urbanos, o que não é o caso dos bondes ou VLTs. 

O transporte de massa mais barato e rápido de se implantar é o ônibus, mas por onde passa degrada, está aí para quem quiser ver. E seus custos de operação, diretos e indiretos, são altos. Ou seja, o barato sai caro, e como.

Metro é caro e demorado, mas sua eficiência é mais que comprovada, em praticamente todos sentidos.
É necessário diferenciar o custo inicial do operacional e suas consequências na vida dos cidadãos. Metro é um ótimo negócio, mesmo que aqui no Brasil demore e custe normalmente bem mais que o previsto e desejado.


Bonde, ou VLT, é um sistema bem menos caro que o metro, com certeza, mas bem muito caro e complexo que implantar ônibus. É transporte limpo, carrega menos passageiros que o metro, bem mais que ônibus, e é 
ambientalmente correto em vários sentidos. O grande problema é o tempo e os transtornos durante sua implantação. Depois só vantagens. 

Bonde, minha paixão, virou VLT, ou veículo leve sobre trilhos, e que são muito maiores que os velhos bondes, usam uma linha fixa, trilhos, para se movimentar. Ônibus consegue desviar. Por que os bondes desapareceram em São Paulo? Fácil, por uma ironia do destino caminhões e ônibus sempre quebravam em cima dos trilhos. Uai? Como assim? Mas por que? A cidade tinha bonde para tudo quanto era canto, e como num passe de mágica, ou de "quebra tudo exatamente sobre os trilhos", a cidade passou a ter ônibus para tudo quanto é canto. Aviso, o fenômeno não aconteceu só nestas paragens, mas em outras partes também. Maldita indústria automobilística? Eu afirmo: maldita mediocridade de toda sociedade. 

Vá a Milão, Itália, e circule nos mesmos modelos de bondes que tínhamos aqui na década de 60. Funcionam maravilhosamente bem. Pergunte se por que não foram desativados lá.

"Que inveja de Amsterdam! Bicicleta para tudo quanto é lado, uma delícia pedalar!" É mesmo? Quem fala fala como turista e não se lembra da escala urbana. Amsterdam é pequena se comparada a boa parte de nossas capitais e cidades mais importantes. Sim, o índice de uso da bicicleta é bem alto, mas a cidade não funciona por causa da bicicleta. Funciona porque tudo funciona, a bicicleta, os bondes, a qualidade para caminhar, o controle de fluxo, o projeto urbano... Tudo está e é racionalizado, bem pensado, funcionando com deve, não como alguns acham que deve. 

Qual a solução para nossas loucuras? A primeira é ter um planejamento honesto e de qualidade para curto, médio e longo prazo que levasse em consideração as necessidades específicas de cada local somada a do geral, aproveitando o potencial de cada uma das mobilidades e modos de transporte. Mudar tudo de governo administração para administração definitivamente não funciona. Apostar pesado num modo de transporte em detrimento dos outros também não. Atender a vontades e desejos específicos e particulares muito menos.
E, principalmente, que o povo aprenda que reclamar pouco adianta. Tem que saber o que está falando, trocar ideias e fazer força para que aconteça. 

Semáforos inteligentes só é novidade aqui


A primeira vez que fui para Buenos Aires foi em 1966 e as avenidas já estavam com semáforos sequenciais fazia décadas. Aqui é motivo de materia como se fosse novidade.

Em qualquer cidade civilizada o sistema semáforico é de fato inteligente, ou seja, lê não só o fluxo da avenida em si, mas de todo entorno e de todos fluxos. A diferença de qualidade para a cidade em relação a um sistema sequencial é imensa.

De novo e sempre: não muda porque não nos interessamos. Quem quer vai atrás.

sexta-feira, 18 de abril de 2025

Melhoras nas esquinas ajudam pedestres e ciclistas


A esquina da rua Estados Unidos com Canadá, no Jardim América está em obras para receber o que eu pensei ser um acalmamento de trânsito. Pelo sim ou pelo não, é e não é. A função da obra é aumentar a drenagem do solo e com isto parar os alagamentos que lá ocorrem sempre depois de qualquer chuva mais forte, um pequeno espaço verde conhecido como jardim de chuva. Com ele a distância entre as calçadas vai diminuir na esquina. A mudança da geometria da rua aumenta o ângulo de curva força os carros dobrarem bem mais devagar. Jardim de chuva vai de encontro com a técnica de trânsito básica para reduzir velocidade aplicada em todas as cidades civilizadas e que tem efeitos mais que comprovados para a segurança de todos cidadãos, principalmente pedestres e ciclistas.

Exemplos já existem espalhados pela cidade, alguns criados por puro acaso. Não muito longe dali, nas ruas Pamplona e Veneza, as esquinas foram estreitadas faz muito tempo, décadas. mas por outra razão: eram os pontos finais dos bondes, onde eles faziam a volta para retornar ao Centro. O diâmetro destas esquinas era grande, foi reduzido para uma esquina comum, transformando o local em pequenas praças. Bondes foram extintos, o que foi um crime contra a vida na cidade, mas isto é um outra história. 

Se por um lado a cidade tem urgência de aumentar sua drenagem, por outro também urge reduzir drasticamente o número de mortes no trânsito, em especial o de pedestres. Estas esquinas e ruas que estão recebendo jardins de chuva que estreitam a via são muito mais que bem vindas. 
Seria de grande valia, para não dizer inteligência, que o movimento da bicicleta mudasse seu discurso muito centrado em ciclovias e ciclofaixas e passasse a pressionar por esquinas com acalmamento de trânsito e drenagem. Não vivem falando que se deve diminuir a velocidade do trânsito? Então, aproveitem a oportunidade.

Estão fazendo esta melhoria nesta esquina de bairro chique por onde passam não muitos pedestres, mas de novo, o ponto de interesse não são os pedestres, mas o fluxo de veículos. Alameda Casa Branca e sua sequência, rua Canadá, são vias alternativas e auxiliares à av. Nove de Julho e não podem alagar ou vira um caos pior do que já é a seco. O cruzamento para os pedestres ficou melhor, mas ainda não tem a qualidade que se dá em cidades civilizadas. De novo, o número de pedestres não é grande, nem na hora de pico, mesmo assim poderiam pintar as faixas de pedestres que faltam.
Acalmamento de trânsito e jardins de chuva deveriam estar sendo aplicados por toda cidade, principalmente em cruzamentos críticos para pedestres. Como sempre a pergunta: qual é o critério adotado? De qualquer forma, que seja o primeiro de uma pandemia de acalmamentos, ou jardins de chuva, espalhados pela cidade. Pode ser no meio do quarteirão, o que vem acontecendo.
Volto ao que eu propuz como projeto cicloviário para a cidade, ao que depois eu e meu grupo, mais profissionalizado, propôs. Como primeiro passo pensar na introdução de um sistema cicloviário que beneficiasse todos, que fosse o menos segregativo possível. Ciclovia e ciclofaixa como última alternativa, onde realmente é necessário. Eu não gosto muito de ciclovia de canteiro central porque acaba impermeabilizando mais ainda a cidade. Nas demais vias, principalmente dentro de bairros, acalmamento de trânsito ou trânsito compartilhado, o que naturalmente educaria motoristas a conviver primeiro com ciclistas e por conseguinte entender e respeitar os pedestres. Segundo passo estabelecer critérios de implantação. Dinheiro público não nasce em árvore. Ciclovias e ciclofaixas custam. Terceiro passo, um passo por vez, nada de quanto mais melhor, tudo conversado e discutido com as populações locais. Quarto, o máximo de "de acordo" possível entre todas as partes. "Vocês têm que engolir" não me parece uma boa política. "Eu estou certo e você errado" também não. Fato inequívoco, temos que melhorar e muito drenagem de nossas cidades. Jardim de chuva implantado com inteligência pode resolver dois problemas numa tacada só.