quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Mercado top e mercado pop


O sonho de todos normais é viver as emoções dos bons, mitos, heróis, dos profissionais, daqueles que fazem coisas que parecem impossíveis. Foi assim desde os tempos imemoráveis; sonhos e desejos transmitidos via oral num passado longínquo, depois por escrita, rádio, TV e hoje através de mídias sociais. A humanidade chegou aqui porque sempre se aproveitou o famoso "nada se cria, tudo se copia", ou seja, aproveitou as referências. Precisamos de referências para viver, sobreviver, crescemos com elas, nos fortalecemos nelas. Não é diferente com os ciclistas normais ou amadores, aliás também com os profissionais e campeões.
A escolha da bicicleta, acessórios, equipamentos de segurança e roupas normalmente vai ter como base referências mais diversas: o que alguém viu, provou ou gostou, as modas. Não importa muito que seja só para melhorar a aparência, satisfazer o ego, para o status, para ser incluso num grupo social, ou para o que seja.

Foi e continua sendo assim com as mountain bikes, verdadeiras ou falsas, e as 21 marchas, por muito tempo sonho de todo principiante. A maioria não fazia e continua não fazendo ideia de como usar tantas marchas, usando só umas duas ou três, pedalando sem cadência, mas com orgulho de ter 21 marchas. O mundo gira e a bicicleta roda, nada para e o chamariz ficou cada dia mais sofisticado; e assim vieram as 24 marchas, as 27 marchas, e as 30, mesmo com a maioria dos ciclistas só usando duas ou três marchas. Quanto mais marchas ou quanto mais atual o sistema mais legal, mesmo que o proprietário jamais vá pedalar onde sejam necessárias tantas marchas. E os “entendidos” foram para as 20, depois as 11, 12, 13 marchas, mas ainda não colou no povão. Wireless! Ops! esqueceu de trocar a bateria do wireless e ficou sem marchas? 

Bom exemplo do que é o mercado são os quadros de alumínio, que todos acham que foram introduzidos no mercado porque são mais leves que os de aço e cromo-molibdênio. Normalmente não são, pelo menos nas bicicletas mais básicas. Só são nas bicicletas top de linha. Bicicletas mais baratas usam alumínio de liga mais barata, que é mais frágil, portanto precisa mais material para ter a resistência necessária, o que em outras palavras pode ser traduzido como peso. Por isto os tubos são grossos. Final das contas, tão ou mais pesado que uma de cromo-molibdênio. Mas todo mundo queria uma porque são mais vistosas. Para os fabricantes a entrada do alumínio diminuiu os custos de produção e como os tubos tem que ser mais grossos a marca da bicicleta fica muito mais visível que nos tubos de cromo-molibdênio. E para os leigos parece com aquelas bicicletas dos campeões. Enfim, todo mundo feliz.

As mountain bikes vinham com cantilever, sistema de freio que permite muitas regulagens, de uma frenagem mais suave a uma mais rápida e firme, com a modulagem que o ciclista desejar. Mas são chatos de regular, tomam muito tempo na oficina, poucos os mecânicos sabem fazer bem o trabalho. Para o setor o Vbrake foi um achado; simples e rápido no montar e ajustar, menos peças, qualquer um faz, bom para os lucros.  Os profissionais começaram a usar o Vbrake porque são ciclistas profissionais e são patrocinados pelos grandes fabricantes. E todo mundo foi para o Vbrake, mesmo que a frenagem fosse tão violenta que boa parte dos ciclistas iniciantes tenha voado por cima do guidão. E o mundo não para, o progresso (?) também. Veio o freio a disco, que no início freava pouco e agora freia bem, mas torra pastilhas que custam uma nota, bom negócio para os fabricantes e bicicletarias. Mas quem se importa? Para o povão  chique é ter um freio a disco como das bicicletas top. E assim vamos.
Show bike da Specialized:
lindo, mas... ; inviável
E o mercado precisa encontrar novos caminhos para estimular as vendas; vieram as fixas, as urbanas, as 29, as estradeiras...

Qual é a sua referência?

Eu, em particular, prefiro pedalar, não importa a bicicleta. Minha referência é o “pedalar” em si. Até gostaria de ter uma top de linha, mas temo roubo e prefiro evitar assalto a mão armada, o que infelizmente é comum, todos sabem. Mas minhas restrições às bicicletas muito sofisticadas não param aí. Quem já teve a experiência de estar com uma bicicleta sofisticada e ter que voltar para casa porque deu problema numa peça besta, mas muito sofisticada, que só se encontra nas bicicletarias especializadas, sabe a raiva que dá. Não passei por esta, mas já vi passarem e não foi uma ou duas vezes. 
Lembro da primeira vez que um amigo apareceu com uma bicicleta com pneus sem câmaras, uma novidade então. A bicicleta era maravilhosa, ele dizia que era mais difícil de furar o pneu, mas por ironia do destino na hora que o passeio deveria sair o bendito pneu sem câmara, sonho de boa parte dos que estavam lá, furou, murchou. E foi um baile conseguir conserta-lo.

O que você quer?
Defina o que você pretende fazer com a bicicleta. Há um modelo para cada uso. Não vale a pena comprar uma 29 baratinha com 21 marchas para fazer trilha, tanto porque ela não tem redução própria para off road quanto porque não foi projetada para aguentar o tranco. Também não faz sentido comprar uma bicicleta cara para usar como modo de transporte, ou seja, que vá ficar muito suscetível a roubos e assaltos, cada manutenção vai custar uma poupança, os pneus vão gastar muito rápido... e sua mulher vai querer te matar!

De preferência ter uma bicicleta que dê liberdade, que você não tenha que se preocupar. A partir de um preço, uns US$ 500,00 (R$ 2.000,00) as bicicletas são boas, não chamam muito atenção, vão e voltam de qualquer lugar, até em trilhas leves. Falo de ciclista comum, não de esportista de competição.
Não recomendo comprar bicicletas muito baratas porque vão dar problema, muito problema, mais que se possa imaginar. O bom para um leigo é ter uma bicicleta que rode e rode e rode sem apresentar qualquer problema.
E por favor, entenda uma coisa simples: uma coisa é a aparência outra é a função. Exemplo típico: bicicleta com suspensão dianteira e traseira para funcionar direito custa caro. As baratas são pura enganação.

Ter ou ser?
Pé de chinelo, literalmente, é aquele sujeito bem simples, pobre, para dizer sem rodeios, que vem com uma bicicleta precária e passa a mil por você pedalando com sandálias Havainas, daí o apelido. Passa por você, pelos ciclistas com bicicletas caras todo equipados, passa pelo sujeito treinado, e vai embora na maior naturalidade. Ele simplesmente pedala. Este é meu herói.
Adoro todos aqueles que tem uma bicicleta correta, bem cuidada, e vão na deles, curtindo o dia, curtindo o pedal, curtindo as companhias, curtindo a vida. Pedalam!

Não é a bicicleta, é o pedalar. É lógico que uma boa bicicleta ajuda, mas definitivamente não é tudo.

Subiu dolar, subiu o preço das bicicletas

Aviso aos pedalantes: os preços das bicicletas vai dar um belo pulo no ano que vem. Vai acompanhar a alta do dólar, que não foi pouca. Para todo mundo é ruim; para os ciclistas, para as bicicletarias que já não andam muito bem das pernas, e principalmente para o setor importador. Como as bicicletas nacionais têm boa parte das peças importadas também vão ter aumento em seus preços. Numa bicicletaria me falaram em até 30%, mas deve ser por volta de 20%, não mais; ou será um desastre. 
Bicicleta no Brasil custa muito. A incidência de impostos é muito alta e não se consegue mudar isto. Uma das principais razões para não ter menos imposto tem nome: Zona Franca de Manaus, uma das jabuticabas de nossa distorcida economia. Se baixarem impostos os benefícios ZFM não vão ser tão compensatórios assim e tem gente grande por lá que prefere ficar como está. Chora menos quem pode mais. Boa parte das bicicletas com selo Made in Brasil são na realidade recebem benefícios fiscais da ZFM. 
O Brasil já chegou a ser o terceiro maior fabricante de bicicletas no mundo. Não sei como estamos hoje, mas como fabricantes não somos mais representativos no cenário mundial. Nossa indústria ficou obsoleta, pouco competitiva, fora da globalização. O mercado de bicicletas brasileiro deu uma encolhida sensível nestas últimas décadas. A razão? Baixa qualidade e motocicletas a preço de banana, ou quase. Por sinal, alguém sabe como está o preço da banana hoje? 
Mercado que vai bem é o das bicicletas esportivas mais caras, que no passado estava concentrado nas maiores capitais e hoje se espalha pelos rincões mais improváveis, pelo menos para mim. Faz sentido: agronegócio. Agora ter um aumento de 20% numa bicicleta já cara é de doer. 
Bom, enfim, aproveitem porque é fim de ano, tem mudança de linha, uma boa quantidade de ponte de estoque e boas oportunidades que estão acabando rapidamente. 

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Desamassar aros raros ou quando não se tem outra opção

Desamassar um aro é um trabalho de paciência. Ou de emergência. Mais rápido é trocar o aro amassado por um novo, mas esta é uma outra história. 

Em aro aéro ou folha dupla só é possível corrigir pequenas deformações, mesmo assim nem todas. 
Já aros de folha simples, principalmente os de alumínio, não se consegue recuperar quando o amassado é grande. Só vale a pena recuperar quando o aro é de colecionador, mas aí tem que ter boa dose de prática e muita paciência.
  
A primeiro passo é desmontar o pneu e colocar o aro num alinhador. Caso não tenha um alinhador, use as sapatas de freio como referência. Caso sua bicicleta tenha freio a disco ou use pregador de roupa ou palito de sorvete preso por elásticos na forquilha de corrente. No caso de usar palito de sorvete faça duas marcas com caneta para saber onde deve ficar o alinhamento de guarda-chuva. Avalie quanto e onde está deformado. Pegue um marcador qualquer, um lápis por exemplo, e faça marcas para saber onde começa e termina o amassado, tanto de centro quanto de lateral. Marque também o ponto central do amassado

 Pegue um pedaço de tábua. Apoie sobre ele o lado do aro que não está amassado e com um lápiz ou caneta risque a tábua pelo lado externo do aro. Com uma serra manual corte e depois lime a tábua de forma que ela se encaixe perfeitamente na parte interna do aro, entre as duas paredes laterais. No meio desta meia lua cortada na tábua faça um afundamento de uns 5 mm. A tábua vai servir para apoiar o aro e desamassa-lo.

Retire os raios que ficam no ponto amassado. Solte os niples dos raios que ficam próximos do amassado, uns três de cada lado. 
A matriz que você fez na tábua deve estar bem presa numa morsa ou onde for possível. Já vi quem fez um apoio transversal para a tábua e assim trabalhar no chão. 
Coloque o aro com o ponto amassado encaixado na matriz de madeira (tábua). Com um martelo de borracha, ou martelo comum com um anteparo de madeira, vá desamassando aos poucos das bordas do amassado para o centro, o ponto onde está mais amassado, primeiro trabalhando a curvatura correta do aro para só depois desamassar a lateral do aro.

 O segredo é rodar o aro na matriz para ter uma comparação entre o ponto amassado e o resto do aro que está normal. Quando a diferença for pequena, uns dois milímetros, é hora de instalar os raios, dar pressão neles e ver como está no centrador. Neste ponto só é importante olhar a centragem para o aro não dar grandes pulos. 
Dependendo do pulo, do amassado, vai ter que soltar os raios e reiniciar o processo de desamassar, sempre das pontas para o centro do amassado. Talvez seja necessário embarrigar um milimetro o aro para acertar na pressão dos raios.
Se o pulo for pequeno, um milímetro, é hora de trabalhar a lateral do aro. De novo, se trabalha das bordas do amassado para o centro do amassado. O correto é trabalhar com um martelo de cabeça larga, martelo de funileiro próprio para funilaria. Caso não tenha, continue com o martelo e o anteparo de madeira. 
Será necessário corrigir a largura do aro, de parede a parede, no ponto amassado. Como comparador pegue uma chave inglesa e ajuste-a na medida de onde o aro está normal, não foi batido. Vá passando a chave inglesa pelo aro e os pontos amassados ficarão claros. Dá para acertar o ponto que está largo colocando o aro na morsa e indo aplicando pressão bem aos poucos. Prende, aperta um pouco, tira compara com a chave inglesa, prende, aperta, compara... e assim por diante.
O tapa final deve ser dado com o martelo de funileiro, se não tiver com martelo normal, mas dando batidas bem suaves. O segredo é paciência e ir passa o dedo delicadamente no ponto amassado. Importantíssimo - passe o dedo na lateral do aro com os olhos fechados, o que dará mais sensibilidade. Neste ponto de refinamento talvez se tenha que usar uma lima ou uma lixa apoiada num pedaço de madeira. 

É um trabalho de paciência, muita paciência, que como disse vale a pena para recuperar aros de colecionador. Ou quando não se tem outra alternativa. É muito mais rápido e simples trocar o aro, mas em alguns casos dá dó.

Carta à Michelin


À Michelin Brasil
bom dia

Trabalhei como colunista, redator especializado em bicicletas, articulista, responsável técnico de uma das mais importantes marcas de bicicleta do cenário mundial, consultor em projetos cicloviários e bicicleta como modo de transporte, responsável pelo maior e mais completo site sobre bicicletas do Brasil... Enfim tenho longa experiência no setor das bicicletas. 
Uma das minhas lutas nestes mais de 30 anos trabalhando pela bicicleta, ciclistas e melhoria de qualidade das cidades, foi tentar conseguir estabelecer um padrão mínimo de qualidade ao setor nacional. Um dos maiores problemas que tivemos no setor foi a qualidade dos pneus e câmaras Levorin, o que é fácil comprovar buscando informações entre bicicletarias e mecânicos sérios. 
Com a aquisição da Pneus Levorin pela Michelin, respeitadíssima empresa multinacional, tive a esperança que os pneus e câmaras de bicicleta passassem a ter o padrão de qualidade tão respeitado e invejado Michelin. Na boa fé infelizmente comprei um par de pneus Praieiro e tive a ingrata surpresa de ter os dois pneus com os mesmos problemas de assentamento no aro e desalinhamento da banda de rodagem de épocas passadas. 
Não faço esta reclamação para obter a troca dos pneus, o que será feito pela bicicletaria. Isto não me preocupa.

Tendo trabalhado em prol de políticas públicas que estimulem o uso de bicicletas, principalmente como modo de transporte. Não tenho dúvida sobre o tamanho do estrago que um pneu que se deforma, que roda aos tranquinhos, que não mantém a pressão correta, que fura com facilidade causa no estímulo ao uso da bicicleta ou de qualquer outro veículo. Trabalhei para entidades internacionais, tive acesso a números, li o suficiente sobre história da bicicleta, e tenho certeza que não preciso repetir o que a Michelin tão bem conhece, ou não seria umas das principais referências históricas do setor de pneus e câmaras. 

Os pneus Levorin atendem principalmente a população de baixa renda que por diversas razões tem dificuldades de entender o que é qualidade e limitações diversas para reclamar dos defeitos dos produtos. No caso da maioria das bicicletarias parece não haver grande interesse em corrigir estes e outros problemas de qualidade por que são justamente eles que garantem a volta da clientela para fazer manutenção que responde por boa parte de faturamento.

Direto ao ponto e pedindo desculpas por ter me alongado: por favor ou corrijam os problemas de fabricação. A marca Levorin é forte. 
Na década de 80 fiz uma reclamação à Pirelli que em pouco tempo corrigiu o problema. 

Acreditando que a Michelin tome as devidas providências, agradeço a atenção

terça-feira, 29 de outubro de 2019

Ressuscitando duas bicicletas mortas

esquerda, Trek Singletrack 820, 1989; direita, Haro Impasse 1989
Como sempre fiz parei o carro e entrei na modesta bicicletaria de Guaratuva para ver o que tinham de diferente. Um senhor me atendeu, perguntei sobre algumas peças que só são encontradas no interior, enquanto ele pegava o que havia pedido fui olhando em volta e jogada num canto, suja, enferrujada, sem algumas peças, outras em péssimo estado, estava a Trek Singletrack 820 1989 tamanho 17, justamente o tamanho de Teresa que então me acompanhava. Quando Teresa saiu da loja eu comecei a conversar com o senhor sobre a Trek. "É de meu filho. Dei para ele, mas ele não cuida. Dá até raiva. Não conserto mais!" disse ele. "E tem negócio?" perguntei. "Dá 180 e leva". E só quando coloquei-a no porta-malas do meu adorado Fiat Uno é que meu entusiasmo passou para o modo trouxa. Quando estava pegando a estrada olhei pelo espelho, olhei para Teresa e disse rindo "Minha paixão (pelas bicicletas) me enfiou numa fria de novo. Estou louco. Olha só o estado desta bicicleta!"
Não sei exatamente quanta arreia saiu da coitada da Trek, mas o suficiente para preencher forminhas de peixinho, estrelinha e sereia juntas. Desmontei rezando para que tudo soltasse, algumas peças só soltaram na base de delicadas marteladas, e fora o canote de selim tudo soltou. Desmontada e limpa; silêncio, pensamentos, o que fazer.
O primeiro passo foi fazer uma pesquisa sobre como limpar ferrugem das peças: esponja grossa ou bombril com óleo 40. Funciona. Os cubos continuam até hoje com marcas, mas a corrosão não progrediu. Os aros de alumínio originais estavam em boa condição. Não deu para trocar a raiação traseira, trocada por raios duplos, grossos, completamente enferrujados, e seus niples praticamente travados. WD40 neles, um dia de banho, e destravaram. Optei por deixar a raição dianteira como estava, enferrujada, porque ainda era a original e a roda estava relativamente bem centrada. WD40 nos niples, uma boa noite de descanso, um tapinha e zerou. Quadro e garfo não tinham jeito, raspei e repintei. Confesso que a pintura ficou um horror, daquelas que ladrão passa longe, e era o que eu queria. Fiquei impressionado com a qualidade dos tubos desta Trek básica que com certeza viveu muito tempo na praia; superficialmente enferrujados, mas bons para muitos anos de pedal. O maior problema era o canote, completamente travado, no que chamam de solda química, quando a oxidação do alumínio reage com o cromo-molibdênio e forma uma peça única. Levei num torneiro que serrou o canote e passou o torno por dentro até chegar no tubo de selim. "Fiz um milagre! Você tem muita sorte. Eu tinha a ferramenta correta" disse ele. Eu sei. 
Remontei com medo que tivesse que trocar rolamentos, mas não. Depois de dissolvida a graxa grossa e cheia de areia consegui testar os cubos e caixa de direção e funcionaram, para meu espanto. Só o movimento central estava imprestável, o que era de se esperar. Fiquei surpreso e feliz que a rosca do quadro não tivesse sido atacada pela corrosão. Pedivela, relação traseira e corrente, lixo. No final das contas tive que comprar um pedivela, catraca simples, sem marchas, corrente, dois pneus e câmaras, pedais, conduites e cabos, manetes de segunda mão, V.brakes, selim com molas. Depois de um tempo troquei os pneus por Bontrager 26 2.1 pressão alta para asfalto, a Trek merecia e como! Teresa simplesmente tomou posse dela. 
Ontem, voltando do aniversário do neto, Teresa disse que se tivesse que ficar com uma única bicicleta seria aquela. Ela está fazendo este ano 30 anos, muitos deles maltratada pela maresia e um moleque mimado. Roda macio e rápida feito um anjo. Quem olha não dá nada. Quem pedala não quer devolver.

E há vícios que nunca perdemos na vida.

A Haro Impasse estava parada no meio da rua servindo de baliza para estacionamento de vaga de automóvel de uma tradicional bicicletaria. O dono me perguntou o que queria fazer com "aquela Caloi", não respondi, só paguei o que me pediu, R$ 150,00. Era só um esqueleto, quadro, garfo, avanço, guidão, manoplas; o que restava dos manetes, passadores de marchas e freio dianteiro além do canote torto e selim de péssima colocados ali provavelmente para torna-la mais visível; rodas amassadas, pneus ressecados e sem uma das câmaras; nada de pedivela, câmbios, cabos e corrente. Dei mais R$ 35,00 por uma câmara nova para sair rodando com ela, bem entendido, pedalando a minha e empurrando ela. "Como você vai fazer para levar?" foi a última coisa que o velho bicicleteiro me perguntou. "Ué! Você foi ciclista profissional, sabe como se faz", e lá fui eu com as quatro rodas rua abaixo.
Só quando cheguei em casa é que fui olhar com atenção o que tinha comprado. Sempre é assim, o entusiasmo infantil vai tão mais rápido que sequer vê o racional pelo espelho retrovisor. Depois que faço estas besteiras, e adoro fazê-las, o primeiro olhar sempre vem acompanhado de um grito silencioso dentro da cabeça - "Estou louco! Não! sou louco!".
Bom, a hora da verdade: quadro e garfo em bom estado, uma leve ferrugem aqui outra ali, e pintura original, desbotada, linda, me faz sorrir. Avanço e guidão enferrujados, mas com longa vida pela frente. Aros danificados porque devem ter passado direto por um buraco profundo ou subido numa guia sem frear; traseiro com um afundamento de quase dois centímetros, o dianteiro bem menos, mas bem torto. Rolamentos, todos, surpreendentemente funcionando bem. Estranho, a graxa parecia nova.
Desmonta tudo e boa surpresa, está melhor que a aparência. Dá para perceber pela graxa dos rolamentos que foi menos usada que aparenta. Passadores Shimano GS 1988, ótimos, manetes, freios, tudo Shimano original, inutilizados. Triste. Canote, carrinho de selim e selim desta qualidade nem pensar. Vai tudo para reciclagem.
Paro, avalio, decido remonta-la sem marchas. Olho o que tenho no meio das caixas de peças de meia vida ou descartadas por amigos e descubro que tenho praticamente tudo, inclusive o movimento central e o pedivela simples, de coroa única. Vou precisar comprar o par de Vbrakes, catraca, e um selim. O eixo traseiro está meia boca, mas fica por enquanto. Vai demorar, vai dar muito trabalho, mas creio que consiga recuperar os aros originais. E recuperei, pelo menos consegui que eles funcionem. O dianteiro quase zerou; o traseiro estava indo no bom caminho, mas a ansiedade fez o trabalho passar do ponto. Estão montados na linda bicicletinha, rodam, mas um dia terei que trocar. Será uma decisão que tomarei depois de ter rodado uns bons km.
Montada, pronta para rodar. O pneu da frente, um Pirelli faixa branca com cravos, deu para aproveitar. O traseiro, um Levorin Praiano estava desalinhado e decidi trocar por um pneu de competição MTB que tinha guardado. Bicicleta urbana com pneus de cravo é ruim, mas a ideia aqui é gastar o mínimo possível, e gastei pouco. Leva para rua, traz para a oficina, ajusta, leva para rua, traz para ajuste... "Deu! Funciona."
Tal qual a Trek e todas as que restaurei ainda vai ter um trabalhinho, porque sou completamente neurótico com qualidade. Mesmo do jeito que está dá para perceber que quadro e garfo desta Haro Impasse 1988 é um sonho. Creio que seja 1988 pelas peças, mas uma coisa me chamou atenção: a caixa de direção é over, o que não me lembro de ter visto naquela época. Só fico triste porque é pequena para mim. Não importa, alguém vai querer e se apaixonar, disto não tenho dúvida.

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Pastilhas Shimano Tourney acabaram com menos de 300 km


Por diversas razões, algumas técnicas outras de pilotagem, optei por trocar meu freio a disco hidráulico por mecânico na minha 29 zero km. Fiz pesquisa, conversei com quem entendia, li a respeito, e troquei. Coloquei o Shimano Tourney depois de ter lido o site da própria Shimano e alguns comentários. Estava consciente dos prós e contras. Eu mesmo instalei milimetricamente segundo o manual. Rodei uns dias na cidade e funcionou como eu queria. Uns dias depois fui para o Caminho da Fé e com uns 250 km rodados fiquei praticamente sem freio. Por sorte encontrei uma ótima bicicletaria em Estiva, logo depois da entrada na cidade, e o mecânico deu um tapa num par de pastilhas e trocou o outro, e deu para seguir em frente até Consolação, de onde tive que voltar para São Paulo por causa de trabalho. Voltei a rodar pela cidade, mas os freios já não eram mais os mesmos. Cristalizados me disseram. Quando todos que voltei a conversar souberam que eram pastilhas a base de resina torceram o nariz, que deveriam ter base ferrosa, que não funcionariam bem com freios a cabo. “Não quero que trave, quero modulação, mesmo que com menos poder de frenagem” respondi. Riram, disseram que eu sou maluco, que tem que ser hidráulico e ponto. “Hidráulico tem mais poder de frenagem por isto gasta menos pastilha”; “O disco do Tourney é diferente do XT (freio hidráulico original da bicicleta) e por isto gasta mais”, e por aí foram as explicações, as mais variadas, plausíveis, mas com pequenos buracos de lógica.
Sempre aprendi muito cometendo o que para outros eram erros, maluquices, insistindo em algumas, deixando de lado o que não fez sentido, procurando saber onde está a solução dos problemas. Bater cabeça dá dor de cabeça, mas também ensina muito. Acreditei no que me disseram, assim como acreditei no que está no site da Shimano:

O TOURNEY TX é um conjunto de componentes básicos para bikes esportivas de entrada e ciclistas iniciantes.
Pedale com liberdade na sua bike, sinta-se livre, distante de sua vida diária e desfrute de um desempenho estável e sem problemas por muito tempo.

Os dois lados estão falando coisas que fazem sentido, então onde a equação não fecha?
Eu não preciso de bicicleta e componentes profissionais para pedalar descentemente; preciso pedalar descentemente e o faço respeitando o equipamento disponível. Não é o equipamento que me faz ciclista. Se a Shimano diz que Tourney é para bikes esportivas de entrada e ciclista iniciante, sem problemas por muito tempo, para mim basta.
Continuei achando que tinha feito algo errado, revi tudo que tinha lido, conversei de novo com mecânicos experientes para ir mais fundo, olhei filmes no Youtube, troquei e refinei o alinhamento das pastilhas, rodei muito subindo e descendo ruas de São Paulo e tudo parecia resolvido. Praticamente encostei a 29 até que fui fazer outra viagem na terra e novamente depois de 180 km e muito sobe e desce (3.500 m de desnível acumulado) simplesmente fiquei sem freio, zero, zero mesmo, zero total, absoluto, coisa que nem em prova final disputando campeonato com muita chuva e barro nas sapatas de V-brake me aconteceu. Tive que terminar o passeio empurrando todas as descidas. Ridículo.
Entrei em contato com a Shimano e Infelizmente não consegui uma resposta oficial; mas todos mecânicos, dos que sabem o que falam, a maioria com curso técnico na própria Shimano, afirmam que as pastilhas do freio a disco dos Shimano Tourney acabam em aproximadamente 300 km, quando muito, tanto por serem a base de resina como por obsolescência programada. Como assim?
Todos erram, até os melhores fabricantes. Se não reclamar eles não vão saber do problema.
Troquei os freios? Não. Para mim o aprendizado ainda não acabou, é o que me fez chegar onde cheguei. Mudei um princípio de ajuste. Vamos ver no que dá. Depois conto.

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Refletores e sinalizadores: ser visto a noite

"Para o ciclista ter segurança ao pedalar a noite a bicicleta tem que ter farol e luz traseira vermelha". Faz todo sentido, mas ser tão simplista pode ser perigoso. "Uma única andorinha não faz verão" diz o sábio ditado e é a mais pura verdade.
Na maioria dos países onde segurança no trânsito é coisa muito séria NÃO É OBRIGATÓRIO o uso de LUZ dianteira e traseira na bicicleta. Aliás, aqui no Brasil também não. Por que será? Já refletores são obrigatórios aqui e em todas partes do planeta. Por que será?
Segurança é resultado da aplicação de um conjunto de ações conhecidas e comprovadas. O Código de Trânsito fala sobre o que é mais seguro para todos, incluindo ciclistas. Os códigos de trânsito de todos países têm exatamente a mesma base científica, o que não deixa dúvida sobre sua eficácia. Refletores são obrigatórios em todos eles, sem exceção, e são obrigatórios porque está cientificamente provado que funcionam bem, fazem diferença, aumentam a segurança, evitam acidentes, mortes.
Aqui no Brasil refletores caíram em desuso porque os fabricados no Brasil, ou quase todos, tinham e continuam tendo um sistema de fixação de péssima qualidade. No final das contas não serviam para nada a não ser enfeiar a bicicleta. Triste, porque refletor é um diferencial importantíssimo para a segurança do ciclista. O número de mortes por falta de refletores é assustador.

Ponto de partida; CTB, Código de Trânsito Brasileiro:
  1. bicicleta é definido como um veículo e tem que respeitar as mesmas leis e normas que os veículos motorizados
  2. é obrigatório que a bicicleta tenha refletores branco dianteiro, vermelho traseiro, branco de rodas e amarelos nos pedais
  3. é opcional a iluminação, farol, lanterna, pisca-piscas, ou qualquer outra coisa que sirva de sinalizador instalado numa bicicleta. 
  4. iluminação em bicicleta deve seguir as mesmas normas e leis sobre posicionamento, luminosidade e direcionamento da luz que as de qualquer veículo motorizado.
Uso de luzes e sinalizadores, definido pelo CTB para qualquer veículo:
  1. luz branca dianteira
  2. luz vermelha traseira
  3. proibido a inversão; luz branca na traseira e vermelha na dianteira
  4. outras cores de luzes só são permitidas para casos especiais, o que não inclui bicicletas
  5. o CTB estabelece que luzes intermitentes só podem ser usados por veículos especiais (ambulâncias, bombeiros, carros de polícia, carros oficiais...) ou em situações específicas onde o pisca alerta pode ou deve ser usado.
  6. não podem ofuscar a visão de outros condutores ou pedestres
  7. o direcionamento e a intensidade das luzes estão estabelecidos por normas e leis
  8. altura do facho de luz deve ser no máximo 1 metro, ou seja, abaixo da linha do parabrisa de um carro pequeno e baixo
  9. é obrigatório o uso de luz baixa ao cruzar outro veículo
Refletores:
  1. qualidade do refletor: quanto maior o grau de reflexão do refletor melhor. Olhe os refletores dos carros, principalmente dos mais sofisticados, e entenderá. Refletores nacionais funcionam, mas não são os melhores. A diferença está na qualidade do acrílico e no desenho dos prismas refletivos. É possível usa refletores adesivos e os melhores são a base de pó de diamante. 
  2. qualidade do elemento de fixação: 
    • dois tipos: por abraçadeira e por suporte, que hoje em dia é pouco usado, mas é muito eficiente
    • infelizmente a dos nacionais, por abraçadeiras, são muito frágeis, saem de posição e quebram com facilidade. Os parafusos usados também não são os ideais, perdendo pressão com facilidade.
    • muitas abraçadeiras importadas tem múltiplos ajustes, o que é o ideal. As melhores costumam ser da marca CatEye.
    • no caso dos refletores adesivos é importante ver o grau de flexibilidade do material. Alguns são pouco flexíveis porque são especiais para caçambas de caminhões.
  3. refletores de roda ou refletivo no pneu
    • os melhores refletores de roda são os fixados por um pino no raio
    • refletores encaixados no raio quebram com certa facilidade
    • pneu com material refletivo é campeão. Só precisa tomar cuidado na hora da limpeza
  4. de pedal
  5. posição; dianteiro e traseiro a 90° do chão ou asfalto, e sempre alinhado com as rodas da bicicleta. 

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Quanto menos bagagem... muito melhor


Em 1976 decidi subir por terra até os Estados Unidos. Na época era o sonho de todo alternativo ou meio hippie. De trem, de ônibus, de carona, a pé, mochila verde militar de cordura nas costas. Não me passou pela cabeça ir pedalando, o que foi uma pena, mas na época não se pensava em bicicleta. 
Em Cuiabá, onde cheguei de trem, conheci um suíço, Bernard Zen-Ruffinen, que viajava só com uma pequena bolsa, um pouco maior que as que usamos para ir ao clube. Eu, como todo bom brasileiro, carregava nas costas uma mochila estilo militar, que é o que existia na época, grande, pesada, cheia de coisas que imaginei que precisaria, mas nunca usei. Bernard estava sempre muito bem vestido, fizesse calor ou frio, estivesse caminhando ou hospedado na casa de uma família tradicional em Santa Cruz de la Sierra, cidade linda. Questão cultural. Eu não. Minhas roupas de frio eram volumosas, pesadas, sem graça, pior, não funcionaram direito no frio para valer. Eu carregava várias calças, camisetas, camisas, meias..., roupas que além de ser não apropriadas para a situação eram volumosas e pesadas. Poucas vezes tive tanta inveja de alguém, e sigo tendo. 
Toda vez que preparo a mochila, mala ou alforje para viagem coloco tudo separado por uso e necessidade sobre a cama, deixo lá, vou fazer outra coisa, volto, olho bem, me lembro da malinha do Bernard, e tiro o que posso. Mesmo assim acabo voltando para casa sem usar alguma coisa. Recomendo a leitura dos livros de Marie Kondo, principalmente o “A mágica da arrumação” – que é mágica mesmo!
Um amigo está se preparando para fazer uma viagem longa em bicicleta. Fizemos uma viagem teste para bicicleta e tudo mais que ele pretende levar. Muito detalhista e apaixonado por estudar a fundo tudo o que faz, ele montou a bicicleta com tudo o que é necessário mais tudo para o que "pode" acontecer. Antes de sair felizmente se convenceu que algumas ferramentas eram desnecessárias, dentre elas as chaves combinadas de boca (que qualquer oficina biboca tem) e as para extração de movimento central, grandes, pesadas e por minha experiência completamente desnecessárias. A questão é que onde ele vai pedalar tem bicicletaria boa por perto, mesmo que isto signifique a alguns km de distância. Tirar este saco de ferramentas significou uns 3 quilos a menos. No meio da viagem peguei ele sentado e olhando fixo para a pesada bicicleta, 45 quilos total. Perguntei o que tinha acontecido e ele respondeu firme "Dá para tirar mais uns 10 quilos". Assim que se faz.
Bicicleta de boa qualidade dificilmente quebra. Aliás, qualquer bicicleta se bem montada e pedalada com respeito dificilmente dá problema. Andei fazendo viagens de 200 km nestes últimos tempos até com minha mais simples bicicleta, uma Decathlon 200 surrada, minha bicicleta de poste, com seus aros folha simples, câmbios os mais básicos, pedais de plástico importados (os nacionais são frágeis, ruins), etc... e fui e voltei sem qualquer problema, zero. O segredo está numa montagem cuidadosa e um bom ajuste geral. Não tem segredo. E aí ferramentas, até mesmo as mais básicas, são quase que dispensáveis. Não as dispensamos por neurose, esta é a verdade.
Como nossas estradas e seus acostamentos são muito sujos, com muito detrito, fiapo de pneu de caminhão, vidro e outros elementos cortantes e que causam furos, a única coisa que não se pode escapar é levar mais câmaras de pneu e remendos que o desejado, que é um infeliz peso a mais. Quem já teve quatro furos seguidos em 30 km sabe como é - isto com pneu e câmaras novos. 
Não existe prazer maior que no meio da viagem você olhar a bicicleta e falar para si próprio "A bicicleta está enxuta, tá leve, só tenho o que realmente preciso. Que viagem boa!"

sábado, 24 de agosto de 2019

Shimano Fest e Bike Brasil 2019, duas feiras ao mesmo tempo?

Shimano Bike Fest em uma margem do rio Tiete e Festival Bike Brasil na outra? Cara, mas é muito chique! A bicicleta está mesmo bombando no Brasil! Não, não está. É coisa de louco fazer duas feiras de bicicleta na mesma data, mas estamos no Brasil e estas coisas acontecem.
Estive na coletiva de imprensa da ABRACICLO no primeiro dia da Shimano Fest, quinta-feira 22 de Agosto, e depois pude caminhar tranquilo pelo grande evento que toma todo o espaço do Memorial da América Latina, na Barra Funda. Sexta-feira voltei, já com casa bem cheia, mas só aberto para profissionais da área e imprensa, e uns xeretas como eu. Provavelmente vai bombar, sábado e domingo, uma festa muito maior que foi ano passado, que bombou para valer. Para se ter ideia, domingo sai pela manha uma pedalada do Parque das Bicicletas até o Memorial, com previsão de 4.000 ciclistas. Ouvi que tem um grupo vindo de outra parte da cidade com mais 3.000 ciclistas. E outro mais, e outro mais, e outros mais.
A escolha do Memorial da América Latina como espaço para o evento foi mais que acertada. Lá está o Terminal / Estação Barra Funda de trem da CPMT, ônibus municipal e intermunicipal. Não é difícil chegar a pé ou pedalando, principalmente domingo quando o Minhocão está fechado para automóveis e vira um parque. De um lado da avenida está a feira, do outro, junto ao Terminal Barra Funda, está o espaço para testar bicicletas, parte da pista de competição, alguns expositores menores e os food trucks. E um pouco longe, perto da avenida Pacaembu, o estacionamento para bicicletas, que me pareceu pequeno, mas isto só se saberá depois.

Infelizmente não pude ir ao Festival Bike Brasil antes de escrever este texto. Fica do outro lado do rio, não muito distante do Shimano Bike Fest, e é muito menor. Conversei com algumas pessoas do mercado e todos disseram ser uma pena que não se tenha conseguido colocar todo setor junto num único evento. Pelo que ouvi as conversas entre as duas partes se arrastou por mais de três meses e na hora do apito final não certo. Pena. Eu espero que tenha público para os dois eventos. Devo passar por lá para ver.

A ABRADIBI estava no Shimano Bike Fest fazendo uma pesquisa com os participantes. Ótimo, porque só com pesquisas, números, alguma precisão, projetarmos o nosso futuro. É inaceitável continuar fazendo as coisas na base da sorte. Vamos ver o que esta pesquisa nos traz.

Não muito para minha surpresa ouvi que os eventos da Cyclomagazine, principalmente no norte / nordeste, vão de vento em popa. Esta tradicional publicação desde seus primeiros dias, lá por 1990, vem fazendo encontros com seus anunciantes e apoiadores, que são um mercado completamente diferente destas duas feiras paralelas. Cyclomagazine sempre trabalhou voltado para o mercado das básicas, do povão, que para quem não sabe é imenso.

Na coletiva da ABRACICLO de novo soube que algumas publicações tem tido problema para conseguir publicidade, que é o que os sustenta. Deprimente, principalmente num momento destes. O custo das propagandas não é alto para o retorno que dão. Como trabalhei dos dois lados sei que departamento de marketing, comunicação ou propaganda cometem erros bobos, algumas vezes muitos por razões inexplicáveis. Perder uma publicação é criar um vácuo no setor. Por mais difícil que esteja a situação do Brasil, não se justifica.

primeira bicicleta estacionada no evento: a minha

primeiras horas, fotos e encontros. Dai para frente muito trabalho 

vista do galpão principal. Lá no fundo passa a pista de testes

boa sinalização, estandes bem distribuídos, belo trabalho



food trucks e expositores menores ao lado do Terminal



pista de testes e para a corrida passa sobre a avenida

cruzamento demorado e irritante que liga os dois lados do evento

sábado, 17 de agosto de 2019

Ciclo Manual 2019 - bicicletas maravilhosas feitas a mão




Bicicletas feitas a mão por artesões são mais que exclusivas, algumas chiquérrimas, são fruto de mão de obra da melhor qualidade, de especialistas que mantem viva a arte secular de construção de bicicletas especiais, muito especiais. Só uma bicicleta feita a mão pode atender exatamente o que um ciclista deseja, da beleza ao comportamento no rodar. Esta foi a primeira edição. Espero que na próxima mais artesões da bicicleta estejam presentes.     

Vamos pedalar - TV Cultura entrevistando Sérgio da Silvercatbikes


Silvercatbikes

Silvercatbike - obra prima, em tubos Reynolds e solda prata










Ungaro Cycles
Ungaro Cycles - outra obra prima, em madeira









Bornia & Cox
Vários modelos, para várias finalidades, se quiser sob medida. Cromo-molibdenio
pequena cargueira da Bornia & Cox




Dinamica



Util - Bicicletas Utilitárias
Ótima qualidade, transporta muita carga, segura, e esta elétrica


Selins, manetes, bolsas em couro trabalhado


sexta-feira, 26 de julho de 2019

Evitando o roubo de sua bicicleta, sempre

Hoje soube de mais dois roubos de bicicletas, uma bicicleta completa e as duas rodas 27¹/² de outra, as duas estacionadas em bicicletários de bons e bem vigiados condomínios. Nenhuma novidade. Bicicleta é o petisco predileto da vez para oportunistas, ladrões e bandidos e a situação está cada dia pior principalmente porque poucos são os que se dão ao trabalho de fazer B.O.. Os dois edifícios onde ocorreram os roubos estão um em Pinheiros outro nos Jardins. Será que quem roubou mora lá? Eu não estranharia. A bicicleta roubada é destas de supermercado, pouco vale além do emocional. O outro roubo foi de um par de rodas 27¹/², bem..., ou o cara tem uma 27¹/², que são quase raras, ou não vai servir para nada. Casos como estes acontecem aos montes, melhor, às montanhas, às cordilheiras. Deixou na garagem ou no bicicletário ajoelha e reza. Aliás, aproveita porque hoje é dia de São Cristóvão.
A seguir: bicicletas roubadas nas ruas ou parques. Não vou contar histórias que sei porque não vai ter fim. Mas ainda neste blog, não percam, os assaltos! Também não vou contar histórias, algumas bem desagradáveis. São tantos, tão comuns..., aqui em Pinheiros, próximo ao largo da Batata, e n11a USP é uma festa. A diferença que temos para o que acontece no mundo todo é que lá fora é impensável assalto a mão armada, o que é comum, cotidiano, trivial por aqui, de resto é a mesma coisa em todos lugares: rouba-se montanhas de bicicleta.

Então vamos ao que interessa: como evitar roubos e assaltos. 
Começo por ordem alfabética, assaltos, que dá na mesma que começar pelos mais fáceis de serem evitados. "Evitar assalto? Como? Tá louco?!" Simples: evitando os locais de grande movimento, como as principais ciclovias e parques. Como me ensinou um investigador: "Bandido (assaltante) vai onde tem mercadoria farta. Ele não fica sentado na sarjeta de uma rua vazia esperando um ciclista passar para assaltar. Bandido escolhe, para escolher precisa de quantidade". Para quem não sabe São Paulo é bem grande e tem muito lugar para pedalar além de parques e ciclovias. Também para quem não sabe os locais com maiores índices de acidentes envolvendo ciclistas estão justamente em parques e ciclovias. É possível pedalar com muita mais segurança dentro dos bairros, alguns pouco conhecidos, lindos, agradáveis. Óbvio que pode acontecer um crime de oportunidade, mas a probabilidade é muitíssimo mais baixa que nos locais lotados de ciclistas. Repetindo: simples, quer segurança? Fica longe de onde tem muito ciclista.

Roubo, como evitar:
Regra básica é prender a bicicleta com uma corrente, cadeado ou trava que não se pareça com barbante. "Não se preocupe, eu só vou entrar na padaria um segundo", frase típica, e quando volta a bicicleta sumiu. Não adianta avisar o pessoal, eles continuam usando trava barbante. A trava tem que ser condizente ao perigo do local, no mínimo. Dependendo do local ladrão abre até alguns U-lock de baixa qualidade. É um saco carregar um quilo a mais que pesa uma boa trava, mas se você quer voltar pedalando para casa não tem outro jeito. O ideal é prender a bicicleta com um U-lock mais um cabo que trave as duas rodas.
Prender a bicicleta e as duas rodas deve ser regra também para quem guarda a bicicleta no estacionamento ou bicicletário de condomínios. Se a bicicleta for cara então... E não se engane, gente fina também leva tua bicicleta na surdina. 
Ladrão não gosta da sensação que tem gente olhando para ele. Esconder a bicicleta não funciona; aliás funciona para o ladrão que tem mais tempo para "trabalhar". Nos condomínios, onde geralmente as bicicletas ficam num fundão ou buraco, é bom ter câmaras e plaquinhas "Sorria, você está sendo filmado", e que esteja sendo filmado mesmo. É triste, mas é praticamente impossível as administrações entenderem que a bicicleta tem que ficar em local visível, que dificulte roubos. Não só condomínios.

Nhaca! Aconteceu? Resta ou B.O. ou responsabilizar o condomínio, ou as duas coisas juntas, que é o melhor. Deixar passar batido é uma sacanagem. Polícia só funciona com dados, portanto B.O.. E caso necessário, Juizado de Pequenas Causas. Não deixe barato. 

segunda-feira, 22 de julho de 2019

Freio a disco em bicicleta de estrada?

Durante a transmissão do Tour de France Ari Aguiar e Celso Anderson comentaram sobre o tipo de freio que os ciclistas estão usando, uns o tradicional freio ferradura, outros freio a disco. E no meio dos comentários disseram que freio a disco é quase um quilo mais pesado do que o velho e eficiente freio ferradura. O pessoal de ponta, os que estão ali para ganhar sprints, subidas de montanha, e até mesmo a corrida usam freio tradicionais. Precisa dizer mais? Ops! Mais, que os ciclistas que usam freio a disco provavelmente o fazem por contrato com os fabricantes. Ari e Celso sabem o que estão dizendo. 

A cada dia mais e mais ciclistas comuns estão comprando bicicletas de estrada com freio a disco. Por que? É chique? Status? Talvez ou provavelmente, sabe-se lá, mas com certeza tem falta de informação de qualidade. O mercado precisa vender, as revistas especializadas precisam de propaganda para sobreviver e de novidade para manter o leitor fiel; as bicicletarias, bem, bicicletarias vivem de comércio e manutenção, portanto jogam o jogo. E vivemos numa sociedade viciada em novidade... e que acredita em qualquer coisa, principalmente no eu: eu tenho, eu sou, eu posso, eu sou feliz, eu estou... 
Freio a disco numa bicicleta de estrada? Aumenta o arrasto aerodinâmico, isto não tenho dúvida. Provavelmente tem o mesmo poder de frenagem que o de um freio tradicional pelo simples fato que com um pneu tão estreito, com tão pouco contato, com tão pouca aderência, não adianta frear mais. Aliás, bom ciclista usa pouquíssimo os freios, principalmente pedalando uma bicicleta de estrada. 

Freio a disco é mais preciso que um freio tradicional? Depende. Pode ou não ser, depende de uma série de fatores, da qualidade ao ajuste, do uso à manutenção, do ambiente onde se pedala ao modal de ciclismo, e do ciclista. A situação que temos hoje é que para ser bom tem que ser freio a disco, o que definitivamente não é verdade, principalmente quando se trata de bicicletas de estrada. Mas vende, e este é o ponto. 

O poder de frenagem depende de vários fatores. Vamos ao básico do básico, por ordem: pneu, aro, montagem da roda, peso da roda, projeto do freio, sapatas ou pastilhas, cabo ou hidráulico, manete, e posicionamento do manete. Cada um destes elementos influencia na qualidade e poder de frenagem. Misturou o que não pode ser misturado, mesmo que seja top de qualidade, e o sistema de freio pode não funcionar direito. Já pedalei com V brake que estancava a bicicleta como se tivessem colocado um cabo de vassoura no meio dos raios, assim como pedalei com freio a disco que simplesmente não para a bicicleta. 

Eu preferia ter freios direct pull, os famosos "V brake", na minha MTB 29. Aliás, se pudesse escolher preferia mesmo ter cantilevers de ciclocross, que permitem uma quase infinidade de ajustes, de uma frenagem borrachenta ideal para terrenos escorregadios, até uma frenagem brusca e tão forte quanto a de um freio a disco. O problema de cantilever, como já disse, é saber ajustar, que é bem trabalhoso, cheio de detalhes, demorado, chato, para poucos, bem poucos. Mas o mercado diz que MTB 29 ou vem com freio a disco ou vem com freio a disco, e parece que estamos no caminho da extinção do freio a disco acionado por cabo. Não sei em quanto tempo todos serão hidráulicos. Não para ser do contra, mas por diversas razões, em particular poder tirar a roda sem ficar preocupado que por acidente eu acione o freio, cole as pastilhas e tenha que sangrar o sistema para voltar ao normal, que para mim é um absurdo, e para ter uma manutenção muito mais simples. 

Voltando às bicicletas de estrada e para encerrar o texto peço que olhem o vídeo da GCN Tech Show que mostra o que bicicleta cada equipe do Tour de France está usando.  

terça-feira, 16 de julho de 2019

21 marchas são 15 de verdade

Quando o Ritchey disse que o futuro da bicicleta estava em ter só 12 marchas, isto lá pelo início dos anos 90, todo mundo pensou que ele tinha pirado. Não tinha. É possível que Ritchey tenha visto uma tabela de relação de marchas onde está calculado e escrito que num câmbio de 21 marchas, 3 na frente e 7 atrás, só se tem de fato 15 marchas. A razão é simples; dependendo de em que coroa e em que relação da catraca está engatado algumas marchas se repetem. 
Num câmbio tradicional de 46/36/26 com catraca 7 marchas 11 - 26 é fácil sentir esta repetição. Basta subir da coroa 36 para a 46 e amolecer duas marchas no câmbio traseiro e você continuará com a mesma cadência, ou giro de pedal, ou marcha, como queira. Da coroa 46 para a 36 basta endurecer duas marchas atrás e acontece a mesma coisa. O mesmo acontece na passagem da 36 para a 26 e vice versa. Ou seja, de fato 15 marchas. 
É o mesmo para qualquer bicicleta que tenha os dois câmbios, o dianteiro e o traseiro. Em algumas bicicletas que vem com pedivela duas coroas é necessário mudar três marchas atrás para continuar na mesma cadência, ou giro de pedal.
Manter a cadência é fundamental para o ciclista. Deve-se evitar qualquer variação brusca de cadência, tanto pela perda do embalo da bicicleta quanto pelo tranco que se dá na musculatura. Musculatura gosta de suavidade. Pouquíssimos ciclistas sabem tirar o melhor proveito da relação de marchas. É possível acionar os dois câmbios, dianteiro e traseiro, ao mesmo tempo, mas demanda o tempo correto entre o acionar os passadores e reduzir a força nos pedais ou engastalha tudo. Quem entende a relação que tem e faz isto ganha muito rendimento porque sempre a mantém uma cadência constante, ou seja, não dá tranco na musculatura.
Bicicletas mais sofisticadas abdicaram do câmbio dianteiro para ficar mais leves e para dar ao ciclista um melhor escalonamento de marchas, o que ajuda demais no desempenho. Parece ser uma tendência. Cambio dianteiro nunca foi paixão dos ciclistas, mesmo dos profissionais. Mais, para o ciclista comum não ter que pensar em dois câmbios facilita a pilotagem, o que faz com que ter 11 ou 12 marchas em vez de 15 acabe sendo uma grande vantagem. Ritchey tinha toda razão.

Nas minhas minhas bicicletas de rua ainda tenho 21 marchas, 3 mais 7, e confesso que amo, mas fico impressionado com o péssimo uso que fazem deste básico e tradicional sistema de marchas. 
Na minha MTB 29 tenho um 2 por 10 e pretendo ficar nele. A razão é simples: preciso de muita desmultiplicação o que consegui trocando a coroa menor de 24 por uma de 22, o que parece pouco, mas não é. Fez uma grande diferença, bem maior que se houvesse colocado uma relação com dois dentes a mais na traseira. Basta fazer os cálculos de relação para ver - https://www.whycycle.co.uk/buying-a-bike/bike-jargon-buster/bike-gears-explained/
Vários amigos, alguns ciclistas de alto nível, já tentaram me convencer a tirar o câmbio dianteiro, mas sou tradicionalista, cabeça dura e pão duro. Prefiro pedalar o que tenho a mão.