sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Recuperar uma bicicleta parada há muito

Ontem mais uma vez me pediram para recuperar duas bicicletas que estavam jogadas há muito na garagem. Estavam meladas pela poluição dos escapamentos, uma tristeza, e com pneus vazios. São bicicletas simples, básicas, mas plenamente usáveis. Dá raiva vê-las nesta condição. Infelizmente temos mais bicicletas jogadas nas garagens que rodando.

É muito difícil encontrar uma bicicleta que com certos cuidados não dê para sair rodando. Pneu cheio, vai estar dura, as marchas não vão passar como devem, os freios vão arrastar no aro, mas vai rodar. Recomendo limpar a bicicleta com pano úmido com água ou um removedor diluído até para não sujar mão e roupa nos passos seguintes.

Encha os pneus com bomba de mão e de uma voltinha na garagem mesmo para ver como ela está funcionando. Pneus normalmente enchem mesmo quando ficaram parados muito tempo. Se restar um pouquinho de ar na câmara ela não deve estar furada. Antes de encher: bico de câmara sempre perpendicular em relação ao aro ou vai cortar. Se não estiverem, com o pneu vazio segure com uma mão no aro e outra no pneu e rode lentamente até o bico ficar perpendicular. 
É importante levar em consideração que um pneu que ficou vazio muito tempo sofre deformação, portanto, com uma bomba de mão vá colocando pressão aos poucos olhando como ele volta à forma. É comum o pneu sair do aro em algum ponto, mas basta recoloca-lo e continuar enchendo. Pare de encher ainda com o pneu meio mole, com pressão suficiente só para um breve teste.

Como está a corrente? Se ela estiver solta, lubrificada, não faça nada. Vai estar um pouco dura, mas com algumas pedalas volta ao normal. Se estiver presa ou passe um WD 40 ou, melhor, uma gota de óleo fino em cada elo. Caso necessário segure com um pano e mexa até soltar. Vai dar para experimentar a bicicleta. Se a corrente estiver completamente travada a coisa toda está muito feia e só vai ser resolvida na bicicletaria.

Há uma possibilidade que as marchas não funcionem como devem e os freios fiquem roçando os aros. Se forem de boa qualidade, Shimano por exemplo, a graxa vai estar mais grossa, mas com uso volta ao normal, pode acreditar. É uma questão de paciência, talvez demore um pouco, mas volta. Se continuarem chatos é possível que o problema esteja nos cabos e conduítes, mas também dá para resolver com jato de WD 40 dentro do conduíte. Feito isto, enche um pouco mais os pneus e sai para pedalar.

Freios: Cantilevers ou "V" brakes trabalham tendo o boss como eixo. Se estiverem travados basta uma gota de óleo em nos parafusos dos boss e pronto. Mexa o freio com a mão e vai entender o que falo. Depois de lubrificado cada parafuso basta ficar mexendo para lá e para cá os quatro braços das sapatas de freio que soltará. 

Limpeza, encher pneus, checar corrente, rodar na garagem; caso necessário um pouco de paciência com câmbio e freios; e pronto, você tem a bicicleta de volta.

Bicicletas importadas ou de boa qualidade só com o encher o pneu vão sair rodando meio durinhas, mas rapidamente voltam ao normal. Bicicletas básicas são bem mais chatinhas e demandam boa dose de paciência e carinho, mas também voltam ao normal.

terça-feira, 16 de outubro de 2018

Garfo torto nunca

Tem diminuído o número de bicicletas circulando com o garfo torto, o que é uma ótima notícia, muito melhor do que possa parecer a princípio. Revela que os ciclistas estão bem mais sensíveis a qualidade do rodar da bicicleta por um lado e que diminuíram os choques frontais, ou seja, os ciclistas aprenderam a pedalar com mais segurança.
Não faz muito tempo era impossível fazer uma análise destas porque era comum bicicletas saírem de fábrica com garfos desalinhados. Durante alguns anos esta foi uma regra, e não era pouco. Os garfos chegavam a estar quase um centímetro fora do alinhamento correto. É fácil ver. Olhando por trás a bicicleta principalmente quando está rodando as rodas apoiam no chão uma para cada lado. O correto é que a roda da frente fique escondida pela roda traseira. Não é só uma questão estética, mas de segurança. Em alguns casos é impossível largar o guidão porque a bicicleta dispara para o lado. Para o ciclista este rodar torto pode levar a dores na coluna, ombro, braço ou mãos.
Garfos fabricados com material impróprio, muito mole, ou com tubos de diâmetro aquém do recomendável também entortam fácil, "indo para trás", o que muda o comportamento da bicicleta deixando-a menos estável. Alguns garfos não precisam sequer de pancada para deformar, o que é um absurdo.

O pior tombo que um ciclista pode sofrer é a quebra do garfo. O ciclista enfia a cara no asfalto sem tempo de qualquer reação. Não adianta capacete porque o impacto será na face ou, muito pior, no maxilar. Afundamento de maxilar é causa de inúmeros óbitos de ciclistas. Conheço vários casos de ciclistas que quebraram maxilar e dentes e tiveram que passar por tratamentos longos, caríssimos, e mesmo assim nunca mais voltaram ao normal. Com garfo não se brinca. Mantenha a frente de sua bicicleta sempre em perfeita condição de uso, principalmente o garfo.