quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Garfos desalinhados e o leitão

Conhece-se o restaurante pelos talheres colocados á mesa. Pode até ser de qualidade popular, mas jamais ter garfo despenteado ou torto, aquele que cada ponta aponta para um lado, uma para a garganta, uma para a boca, outra para o nariz e finalmente uma para os olhos.
Nunca confie numa refeição que se aproximando da língua e suas papilas gustativas sem saber se será palatável, mastigável, e principalmente deglutida. Comer além de alimentar, pressuposto básico, e fornecer algum prazer, do contrário a probabilidade de que você termine empoderado num trono será razoável.
O mesmo pode-se dizer de bicicletas nas quais cada roda quer ir para um lado. Via de regra a culpa é do garfo (da bicicleta). O mínimo que se espera desta máquina de transporte maravilhosa, a bicicleta, é que quem esteja no comando seja você e não um garfo torto. É fácil sentir o desajuste, não só porque a bicicleta luta desesperadamente para levar seu senhorio para um dos lados, ou para um poste, meio fio. até mesmo às grades do carro que vem na contramão. Não solte a mão do guidão, não ouse fazê-lo, tombo na certa.
Garfo desalinhado na boca, entre as pernas, ou quer que esteja nunca é bom negócio.

É lógico que há marcas de bicicletas de tão baixo calão nas quais, talvez por uma questão de design pós industrial ligado a cultura do descarte, o quadro visto de cima tem o charme estético de uma meia lua. São bicicletas excelentes para pedalar em rotatórias. Mas, senhoras e senhores adeptos do surrealismo, via de regra o desalinhamento do rodar da bicicleta se deve ao garfo mal mal fabricado.

Aquela bicicleta novinha está linda. Já passou por mim várias vezes. Quadro em cor viva, das que me agrada muito, sem uma marca, um grafismo limpo. Garfo preto. Rodas 29, peças pretas, nada de frufrus, só o básico essencial, chique. Mas voltou ao mecânico e perguntei porque. "Porque?!" respondeu na gozação o mecânico, me colocou a bicicleta na mão e subi nela. Bastaram uns poucos metros pedalando, não mais que uns 10, e meu veredito estava formado: garfo torto! Barbada! Na mosca! "Bicicleta caranguejo, sai de mim, vá de retro!"
Mecânico rindo, parei a bicicleta, soltei a blocagem para o prazer dele, mecânico, e tentei alinhar a roda no garfo. Ai é que a roda ficou mais desalinhada ainda.
- Como assim, bicicleta novinha veio com este garfo?
- Está na garantia" responde o mecânico e completa, Não é este garfo, é um monte de garfo que vem assim, uma vergonha. Daí você entrega a bicicleta para o cliente e ele fica bravo, com razão.
- Mas como pode uma coisa destas sair da fábrica, ser vendida pelo distribuidor, pela bicicletaria, e pior, ser aceita por muito proprietário que se diz ciclista?
- Ora, pode, e como pode! Afinal, posso estar louco, mas estamos no Brasil, termina o mecânico.

O jantar era de gala. A fina dama da sociedade serviria um leitão ao forno. Deixou a criadagem trabalhar, mas teve cuidado especial com a nova empregada. "Antes de levar o leitão à mesa coloque uma maçã na boca (do leitão, é lógico). E como pedido pela senhora o fez: entrou carregando a maravilhosa bandeja de prata com o leitão que deliciava a todos com seu aroma e uma maçã na própria boca. (Baseado em fato real)
Eu não estava lá, mas ouvi a história da anfitriã. Os convivas se contiveram. 

Fui convencido a não ficar gastando meu tempo tentando explicar porque tem que ter qualidade ou é fácil sair pedalando numa bicicleta que insiste ir para os lados. Não é só isto, quanto mais alinhada, qualidade básica, melhor a bicicleta roda. Geralmente o desalinhamento vem do garfo, resultado de um erro grosseiro de fabricação. Caso tenha que substituir o garfo é um drama conseguir um novo que esteja alinhado. 
Tem muita gente que acharia interessante, senão normal, a maçã na boca da pessoa que serve o leitão. Vai fazer o que? 

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Câmara com sete remendos e sete vidas

Contei 7 remendos, eram 8, furou mais duas, agora são 10 remendos

Sempres evitei usar uma câmara de pneu com mais de 3 remendos. Quando fura pela terceira vez faço o remendo, testo para ver como está e uso como estepe. Sem saber estava com uma câmara de seis remendos na roda traseira de minha bicicleta. Descobri por que furou de novo, o sétimo furo. Remendei e ela é melhor que as novas.

Quando você entra numa bicicletaria com um pneu furado via de regra o bicicleteiro troca a câmara por uma nova. A razão é simples: praticidade, tempo de serviço, em outras palavras, menor custo para a bicicletaria do que fazer o remendo. As câmaras furadas vão para o reciclável não importa o tamanho do furo. Ninguém reclama, todo mundo acha ótimo sair rodando rapidinho com pneu cheio. Por um lado, o meio ambiente que se dane, por outro a indústria agradece, e sobre esta bagunça ninguém se importa.

Dependendo da qualidade da câmara o pneu vai perder pressão mais ou menos rapidamente, independentemente de ser nova e nunca ter sido remendada. Quanto mais barata a câmara mais rapidamente perde pressão, esta costuma ser a regra. Pneu com pressão abaixo da recomendada pode furar com mais facilidade, deixa a estabilidade comprometida e até mesmo pode causar acidentes. 

O pneu traseiro é mais propenso a perder pressão porque recebe boa parte do peso do ciclista. É irritante ter que calibrar o pneu a cada semana. Com câmara de primeira linha a calibragem se mantém por longo tempo. Já peguei bicicleta que ficou parada por mais de 10 anos que ainda tinha pressão no pneu, coisa de outra época. 

Tenho por hábito ter câmara nova nas rodas e sempre levar uma câmara reserva comigo. A bicicleta que estou usando é de segunda mão, foi de um amigo. O pneu traseiro dela mantinha a pressão por longo tempo, como deve ser, mas um dia furou, fiz a troca no meio da rua e para meu espanto a câmara tinha seis remendos. Seis remendos? A câmara nova que montei esvaziava mais rápido que a de seis remendos. Agora tem sete, sete vidas, e não perde pressão.