quinta-feira, 30 de julho de 2015

Fabricação de quadros de bicicletas com tubos

Estes dois filmes mostram bem como se produz um quadro de bicicleta em tubo de aço, exatamente como as bicicletas básicas que temos no mercado. A produção de bicicletas com tubos de alumínio é muito parecida. Muda basicamente o tipo de solda.
O primeiro filme é a criação de um protótipo, digamos assim.
O segundo é o processo dentro de uma fábrica de pequena escala. Note no meio deste filme que o quadro vai para uma mesa plana, o operário pega um gabarito e coloca na traseira, e corrige a diferença nas gancheiras com uma alavanca. Isto é feito em uma produção com baixo grau de precisão, que vai ter variações de décimo de milímetro, nos piores casos até mesmo um milímetro. Infelizmente temos no Brasil fabricantes que ainda trabalham na casa dos milímetros. Quanto maior a variação, ou o erro, pior é a bicicleta, mais pesada é para pedalar e mais facilmente apresentará defeito.
Lá fora mesmo o mercado está cada dia mais preciso. Tem marca de bicicleta que já está entrando no centésimo de milímetro. E nos produtos top de linha até nos milésimos de milímetro.

Caloi Sport Confort 2015 - teste

A Caloi Sport Confort foi a bicicleta inicial de vários amigos, todas recomendadas por mim. É uma bicicleta correta, simples, estável, que funciona bem, durável, prática. Continuam rodando sem problemas depois de muitos anos. E espero que continue sendo por que fiz um amigo comprar três de uma só vez. Mas... depois de retirar as bicicletas da loja fiz o ajuste fino e fiquei triste com o que vi. As bicicletas saíram rodando direitinho, mas...
Problemas:
  • Movimento central completamente solto em uma, incluindo a bacia direita, e muito preso nas outras duas. Numa delas a caixa do movimento central tinha a face direita desalinhada ou pela pintura ou por erro de corte do tubo na hora da fabricação. Ou pior, por ser ponta de tubo. Se é erro de corte do tubo eu teria uma imensa curiosidade em ver o torno (que faz o corte do tubo que depois de soldado ao quadro vai resultar na caixa do movimento central) para entender como um torno industrial consegue fazer o corte do tubo desalinhado.
  • Caixaria, eixo e bacias dos três movimentos centrais que peguei eram péssimos; simplesmente não deram regulagem. Giravam, travavam, giravam um pouco mais e travavam.... Eu queria entender como um fabricante joga no mercado um eixo de movimento central fora do centro. Gostaria de ver o torno que produz o eixo que vem montado nestas novas Sport Confort. A fábrica não tem ferramenteiro? Ou o diretor industrial não desce para o chão de fábrica, coisa que ainda acontece no Brasil. Ou o engenheiro, que deve ser novinho, inexperiente, tem uma soberba sem tamanho por que está formado nesta ou naquela universidade? Também acontece.
  • Hoje estive numa bicicletaria que foi sempre uma verdadeira parceira da Caloi, contei o caso e o proprietário me disse que por coisas como esta parou de trabalhar com o modelo e a marca. Triste! Será que a Dorel tem conhecimento?
  • Em duas delas a numeração, que fica no movimento central, estava muito fraquinha, quase invisível. Excesso de tinta ou não foram numeradas? Se não foi numerada pode apontar para uma possível sonegação. Não acredito nisto, já que Caloi tem lutado para a legalização do mercado de bicicletas.
  • As três bicicletas tinham “uma certa” variável na traseira. Vou ter que ver mais tarde, na segunda revisão, para descobrir se é erro de centragem das rodas ou desalinhamento da traseira. Aposto no desalinhamento da traseira, velho problema das bicicletas brasileiras. Aliás, não só as traseiras; muitos garfos de bicicletas básicas saem de fábrica completamente fora do centro. Ridículo!
  • A guia de cabo do câmbio traseiro está soldada fora de posição, desalinhada, na forquilha de selim, o que torce o cabo e faz com que as trocas de marchas fiquem um pouco mais duras ou imprecisas.
  • Os aros continuam com a maldita rebarba e ou desalinhamento na emenda. Por isto as bicicletas novas mais baratas freiam aos tranquinhos. Também gostaria de ver as máquinas que fazem o corte e a emenda. Talvez o diretor industrial não pedale seus produtos e nunca desce para o chão de fábrica. Não ouvir as críticas já sabemos que não ouvem. Acertar as máquinas para que o corte e emenda do perfil que faz o aro sejam precisos é brincadeira. Chama o ferramenteiro e deixa o homem trabalhar sossegado.
  • E ai vem a verdadeira vergonha nacional: câmaras de ar Levorin. Quando fomos pegar as bicicletas na loja uma das bicicletas já estava com o pneu completamente murcho. Tiramos a câmara e o defeito era na emenda. O vendedor abriu uma gaveta das grandes cheia de câmaras com defeito e enquanto procurava por uma nova contou que é o problema mais comum nas bicicletas mais simples. Sempre foi. Levorin melhorou muito boa parte de sua linha de pneus, mas pelo jeito as câmaras de ar continuam as mesmas de sempre. Vem com a válvula mal apertada, tem micro furos, problemas nas emendas... Não sei qual é o percentual, mas sei que as bicicletarias que tem um público mais exigente se recusam a vender câmaras Levorin. Deprimente! E ninguém faz nada, nem clientes, nem PROCON, nem Ministério Público. É uma sacanagem com o cliente é mais sacanagem ainda com o meio ambiente.
A maluquice é que a Caloi Sport Confort continua sendo uma das melhores opções entre as bicicletas nacionais. As de hoje são piores que as antigas, mesmo assim quando bem revisadas e reguladas são agradáveis. E eu espero que não tenha entrado numa fria com minha recomendação.
Triste mesmo é a Caloi descuidar tanto de um de seus melhores e mais tradicionais produtos. 

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Como funciona uma fábrica de bicicletas

Este link do site Escola de Bicicleta mostra  as etapas básicas da produção industrial de uma bicicleta. Uma lida rápida ajuda a entender as imagens do filme.

domingo, 19 de julho de 2015

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Apito: um perigo para o ciclista

Faz mais de 25 anos li um artigo, provavelmente na Bicycling, absolutamente contra o uso de apito na boca por ciclistas. Citava o uso de apitos por bike courriers de NY. Apontava dois grandes perigos para o ciclista: em caso de acidente engolir o próprio apito ou pedaços deste e o som pouco audível no meio do trânsito. 
Já ouvi várias histórias de médicos e socorristas sobre acidentados que foram encontrados sufocados por pedaços, cacos, ou estilhaços. Vivenciei dois casos, um primo e um grande amigo; ambos bateram violentamente de frente com seus carros e só sobreviveram por pura sorte. Muitos que tem a via respiratória fechada por detritos vão a óbito. O fato é que não se deve fazer esporte com qualquer objeto na boca. 
Boa parte dos acidentes envolvendo motociclistas se dá por que estes acreditam que todos no trânsito ouvem suas buzinadas e vão ter tempo para reagir apropriadamente. O primeiro erro é acreditar que você é o único que buzina ou faz barulho no meio do trânsito. O segundo erro de avaliação, principalmente com apitos, campainhas e outros, é que o isolamento acústico dos veículos modernos é cada dia melhor e com janela fechada o motorista pouco ouve do mundo externo. Se o rádio ou som estiverem ligados menos ainda. Cada dia mais e mais pessoas usam fone de ouvido, o que piora mais ainda a audição externa.
Mesmo em países onde houve uma cultura do apito esta foi abandonada pela pouca eficiência. Só em Roma vi uma policial organizando o trânsito no apito, mas o trânsito é muito menos barulhento que o nosso, brasileiro, e a policial fazia tantos gestos e movimentos que não dá para saber se o apito estava lá para ser ouvido ou para dar ritmo ao carnaval. 
Apitos talvez sejam eficientes com pedestres, mas este for o caso do uso do apito é melhor tomar umas aulas sobre civilidade: pedestres tem prioridade sobre ciclistas. Ameaçar pedestres é crime. Mais ainda, é indecente, imoral.
Moda não tem nada a ver com segurança e muito menos com o bom pedalar. 
Tentei encontrar artigos sobre segurança no trânsito e apito e encontrei muitos achismos, besteiras favoráveis. Lembrando sempre>: acreditar em besteira é o maior perigo.
http://massbike.org/resourcesnew/bike-law/ MassBike / Bike Lawn - Massachusetts

Casar, ter filhos: dá para viver só com bicicleta?

Nome: V.
Cidade: Brasília
UF: DF
Mensagem: Olá! Estou estudando a possibilidade de uma vida sem carro. Acho interessante e legal a ideia! Ainda vou casar em breve e pretendo ter uma família. Quero perguntar a quem quer que tenha alguma experiência no assunto, pois sei que é sempre mais fácil viver de bike quando se está só hehe. A primeira coisa que vem à nossa cabeça quando pensamos em viver sem um carro é ir ao supermercado e levar os filhos aos lugares. Também penso que tenho um certo receio de andar por alguns lugares em Brasília a noite e o carro daria uma certa segurança. Tenho vontade de ir ao trabalho todos os dias de bike, por exemplo, levaria uns 50 minutos, mas não me importo... A questão é voltar no período da noite!!! Passar pelo centro de Brasília e tudo mais, principalmente sendo mulher. E mesmo que ande de ônibus... se precisar ir a Taguatinga 11 horas da noite de ônibus, ainda me da um pouco de medo também. Acho que um carro pode ser um conforto, mas sei que é um falso conforto quando se pensa no trânsito (embora os ônibus não fujam muito dessa realidade), nos custos, na manutenção... eu não vejo necessidade de ter um carro agora. Mas o que penso é numa vida em família... gosto da ideia de levar os filhos na escola de bicicleta! Mas e quando chove e é preciso trazer a bike de volta? E quando há greve de ônibus? Sei que muitas pessoas criam suas famílias sem carro... quero saber se alguém aqui faz isso por ideologia e se pode compartilhar suas experiências! Agradeço desde já.
-----------------------------------------------------------------

V.
bom dia

Quantas perguntas... Ótimo, mas por partes.
Parabéns pelo casamento e a futura família.
O filho suponho que venha para frente, portanto ainda tem tempo para ver ao certo como vão funcionar as coisas. Enquanto não tem filho é mais fácil experimentar, de preferência usando a bicicleta para distâncias mais curtas. Não faça o erro clássico de no primeiro dia pegar a bicicleta e feliz da vida ir até Maracangalha visitar Anália achando que é muito divertido, porque não vai ser no dia seguinte. Tem que começar aos poucos.
Você terá que usar carro nos dois primeiros anos do bebe. Por diversas razões, principalmente pela saúde do bebe. Dá para ir de bicicleta neste período? Dá, inúmeras mães de bebes Brasil afora provam que dá, mas neste caso carro é melhor que bicicleta e ônibus para o bebê.
E ai caímos numa questão importante: não é o carro ou bicicleta ou ônibus, mas o que é mais apropriado para cada situação. Holanda é um dos países com maior índice de ciclistas assim como é um dos com maior índice de veículos por habitante, uso de transporte público por habitante... taxi.... Tem que ver o que é possível dentro da área onde você mora, o que tem por perto, o que precisa de transporte, que tipo de transporte....

Ir ao supermercado não é problema, basta investir um pouco num bagageiro e alforjes ou numa caixa plástica resistente com uma madeira por baixo que você prende no bagageiro. Eu acho o alforje melhor. É assim no mundo inteiro. Enfim, pequenas compras vão muito bem em bicicleta. A bicicleta é mais versátil que parece, basta saber usá-la. Vai ter que aprender a transportar as compras, equilibrando as coisas na bicicleta, colocando o inquebrável em baixo e o mais delicado por cima de tudo, algumas coisas mais protegidas em caixas ou enroladas... Enfim, tem uma técnica que depois passo para você.

Faça as contas no papel: quanto custa o carro por mês e ano. Você vai ficar um pouco assustada, mas tem que ver o custo/benefício para a situação e momento que está vivendo. Eu tinha carro, tive um pt (perda total, carro estacionado foi esmagado) e hoje descobri que alugar é muito vantajoso “para a minha forma de vida e número de vezes que tenho que usar um carro”. Como vai casar aproveita e faz as contas junto com o futuro companheiro. Não deixe de incluir seguro nas contas. Apostar que não vai acontecer nada é burrice. Perdi meu carro exatamente no momento que ia vender e por isto deixei sem seguro. O resultado é que perdi tudo, o prejuízo foi grande, maior que só a perda do valor do carro.

Segurança: A bicicleta tem uma imensa vantagem sobre o carro: você não sofre sequestro relâmpago. Normalmente a bicicleta é muito mais segura que o carro por que o ciclista é muito menos visível. Basta não estar pedalando uma bicicleta muito atrativa e toda bonitinha que a chance de ser assaltada diminui muito, praticamente zera. Eu sou homem e tenho medo mesmo é de circular dentro de um carro. E fico receoso quando mulher e minhas amigas saem circulando a noite de carro. Se sair vestida de menina linda a chance de ser assaltada é maior. Se der uma enfeiada antes de sair do trabalho vai chamar menos a atenção. Dependendo de onde tenho que ir vou mal vestido para ficar o mais discreto possível.
O segredo para ir em bicicleta é saber onde os bandidos ficam (não vou fazer piada política sobre Brasília por que é piada pronta) e evitar passar por lá. Bandido vai ficar onde o produto do roubo está disponível, fácil, por isto escolhe alguns pontos.
Se você tem carro precisa ver como está o mercado e se vale a pena vender agora. Se não tem também tem que ver como está o mercado, que está melhorando para compra, mas como a crise ainda vai piorar provavelmente no futuro a compra de carros deva ficar melhor ainda. Outro segredo é antes de comprar o carro conversar com seguradora para saber que modelos dão mais problema, são mais roubados, qual cor é melhor...

Existem capas de chuva que protegem quase que completamente o ciclista. Crianças em várias partes do Brasil, principalmente no litoral – vão e voltam da escola em bicicleta, faça chuva, faça sol. Na Europa vão com qualquer tempo, incluindo tempos gelados, com chuva, neve, vento. Eu acho ótimo por que a criança aprende a sentir o que é a vida normal. Carro é muito protetivo, a criança fica muito protegida do clima, dos ventos, dos cheiros, das pessoas... Bicicleta educa para a vida real. Meus netos quando vão adoram, mas aqui em São Paulo nem sempre é possível.

Cinquenta minutos pedalando todos dias...? Cinquenta de ida e cinquenta de volta? Bastante. Você está fazendo o cálculo de 50 minutos para que distância? Que velocidade média? Se está comparando com o pessoal treinado e mais radical eu recomendaria que revise seus cálculos. Pense numa média de 15 km/h, não mais. Acima disto começa a ser pesado.
O ideal para a bicicleta são distâncias menores, até uns 6 km, uns 30 minutos. Dá para ir mais longe? Dá, mas não é o ideal. O que você pode pensar é fazer um intermodal ou com transporte coletivo ou indo até a casa de alguém e pegando carona.
Ainda nos 50 minutos de pedal, dependendo do trânsito que sua área tenha você provavelmente irá mais rápido, mesmo assim acho bastante.

Sou contra fazer qualquer coisa por ideologia. A vida tem que ser levada em cima da sensatez, das contas, de decisões sobre o que é melhor e mais sensato naquela determinada situação. Infelizmente o Brasil foi dividido entre o que é bom e o que é ruim e deixamos de ver o que está entre estes dois polos. Dá pra mudar, dá para melhorar, dá para fazer tudo de maneira racional, econômica, sensata, e a bicicleta pode ajudar muito neste processo, desde que seja usada com sabedoria.
Pense sempre qualidade. Ideologias forçam a barra e por isto não atingem seus próprios objetivos

-----------------------------------------------------------------
mensagem de: U. Rodrigues, mora em Brasília, é casado, pai, ciclista consciente, e a quem pedi ajuda.

Olá Viviane
Começar aos poucos, sentir a bicicleta, ver as melhores rotas. Posso contribuir com dicas da cidade. Moro há quase 10 anos em Brasília e morei outros quase 10 em Sampa, onde larguei o carro e comecei a usar a bicicleta diariamente. Em casa não temos carro por opção e todos usamos bicicleta, inclusive a esposa e os dois filhos pequenos. Faça sol, faça chuva. Minha esposa usa uma dobrável com um baú acoplado, onde ela leva as tralhas e o kit com capa de chuva e calça impermeável.
Essa sensação de segurança no carro é ilusória. Um bem muito mais chamativo e onde se está mais vulnerável. De bicicleta dá para seguir sem ostentação, de forma mais segura. Precisaria saber onde você mora (ou pretende morar) e qual será seu destino no dia a dia. Uma vantagem no DF é poder embarcar com a bicicleta no metrô. Já morei em Águas Claras e fazia um trajeto mais longo, numa via um bocado insegura (EPTG), que não recomendaria para iniciantes. Quando voltava à noite muitas vezes fazia a integração bicicleta-metrô. Atualmente moro na região central e os deslocamentos são menores (até uns 8 km por trecho).
Particularmente fiz a opção pela bicicleta e continuo convicto por várias razões, inclusive ideológica. Mas os principais são: praticidade (para circular e estacionar), liberdade/autonomia (independente do horário em que você sair de bicicleta, não pegará congestionamento) e a atividade física (academia no trajeto ao trabalho, aonde se chega muito bem disposto).
A economia também é algo a se destacar, obviamente: gasto zero com combustível, IPVA e seguro, sem contar eventuais multas que poderiam chegar. E gasto com manutenção é bem reduzido: muitos pequenos reparos na bicicleta você mesma pode fazer em casa, e uma boa revisão trimestral ou semestral (a depender da frequência de uso) não te custará mais de 70 reais.
Sempre faço registros das pedaladas e já fiz um documentário sobre o uso de bicicleta com muitas imagens e personagens de Brasília. Envio, então, dois links que podem te ajudar a ficar mais motivada: