terça-feira, 16 de julho de 2019

21 marchas são 15 de verdade

Quando o Ritchey disse que o futuro da bicicleta estava em ter só 12 marchas, isto lá pelo início dos anos 90, todo mundo pensou que ele tinha pirado. Não tinha. É possível que Ritchey tenha visto uma tabela de relação de marchas onde está calculado e escrito que num câmbio de 21 marchas, 3 na frente e 7 atrás, só se tem de fato 15 marchas. A razão é simples; dependendo de em que coroa e em que relação da catraca está engatado algumas marchas se repetem. 
Num câmbio tradicional de 46/36/26 com catraca 7 marchas 11 - 26 é fácil sentir esta repetição. Basta subir da coroa 36 para a 46 e amolecer duas marchas no câmbio traseiro e você continuará com a mesma cadência, ou giro de pedal, ou marcha, como queira. Da coroa 46 para a 36 basta endurecer duas marchas atrás e acontece a mesma coisa. O mesmo acontece na passagem da 36 para a 26 e vice versa. Ou seja, de fato 15 marchas. 
É o mesmo para qualquer bicicleta que tenha os dois câmbios, o dianteiro e o traseiro. Em algumas bicicletas que vem com pedivela duas coroas é necessário mudar três marchas atrás para continuar na mesma cadência, ou giro de pedal.
Manter a cadência é fundamental para o ciclista. Deve-se evitar qualquer variação brusca de cadência, tanto pela perda do embalo da bicicleta quanto pelo tranco que se dá na musculatura. Musculatura gosta de suavidade. Pouquíssimos ciclistas sabem tirar o melhor proveito da relação de marchas. É possível acionar os dois câmbios, dianteiro e traseiro, ao mesmo tempo, mas demanda o tempo correto entre o acionar os passadores e reduzir a força nos pedais ou engastalha tudo. Quem entende a relação que tem e faz isto ganha muito rendimento porque sempre a mantém uma cadência constante, ou seja, não dá tranco na musculatura.
Bicicletas mais sofisticadas abdicaram do câmbio dianteiro para ficar mais leves e para dar ao ciclista um melhor escalonamento de marchas, o que ajuda demais no desempenho. Parece ser uma tendência. Cambio dianteiro nunca foi paixão dos ciclistas, mesmo dos profissionais. Mais, para o ciclista comum não ter que pensar em dois câmbios facilita a pilotagem, o que faz com que ter 11 ou 12 marchas em vez de 15 acabe sendo uma grande vantagem. Ritchey tinha toda razão.

Nas minhas minhas bicicletas de rua ainda tenho 21 marchas, 3 mais 7, e confesso que amo, mas fico impressionado com o péssimo uso que fazem deste básico e tradicional sistema de marchas. 
Na minha MTB 29 tenho um 2 por 10 e pretendo ficar nele. A razão é simples: preciso de muita desmultiplicação o que consegui trocando a coroa menor de 24 por uma de 22, o que parece pouco, mas não é. Fez uma grande diferença, bem maior que se houvesse colocado uma relação com dois dentes a mais na traseira. Basta fazer os cálculos de relação para ver - https://www.whycycle.co.uk/buying-a-bike/bike-jargon-buster/bike-gears-explained/
Vários amigos, alguns ciclistas de alto nível, já tentaram me convencer a tirar o câmbio dianteiro, mas sou tradicionalista, cabeça dura e pão duro. Prefiro pedalar o que tenho a mão.

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