Quebrou o eixo traseiro de minha bicicleta. Como assim 'quebrou o eixo traseiro'? Daqui dois anos vou completar 50 anos pedalando sem parar, e tenho orgulho de ainda conseguir contar nos dedos das mãos o número de peças quebradas que tive neste meio século. Sei que foram pouquíssimas por imperícia ao pedalar. Sou tanto neurótico quanto a meus erros, me cobro muito. Lembro como fiquei deprimido por ter entortado um aro traseiro por barbeiragem minha num subir uma guia. Enfim, sou cuidadoso, de uma geração que se a bicicleta quebrasse era grande a possibilidade de acabar a brincadeira, e entendam o 'acabar a brincadeira' literalmente, ou seja, fim de pedal por um bom tempo, quando não definitivamente.
Neste auto elogio, ou neurose completa, como queiram, não conta o anterior às bicicletas mountain bike. Pedalei em muita "lixocleta", apelido dado às bicicletas de merda que ainda eram fabricadas sob o manto do que se considera considerava qualidade nos anos 70. Explico.
O pior momento da história da bicicleta mundial foi na década de 70. Com as vendas em baixa, a qualidade despencou. Pedalava que realmente gostava. Na década de 80 eu não saia de casa sem uma meia caixa de ferramentas, mais um monte de remendos. Tudo funcionava precariamente, tudo entortava, quebrava, pneu furava direto coisa de loucos.
Agora, em 2025 quebrar um eixo traseiro? Ok. Pode acontecer, um buraco pego de mal jeito, ou sei lá o que. Creio que é o segundo ou talvez o terceiro eixo traseiro que quebra comigo nestes 50 anos. Só me lembro com certeza de um antes deste, mas na época que eu fazia mountain bike para valer.
Minha fúria completou ao ter saído para comprar um eixo traseiro novo e ter sido avisado por quatro donos de bicicletarias tradicionais e respeitadas que partir em dois é comum. "Não fica assim. A qualidade está muito ruim, então vai quebrar de novo e a culpa não é sua", me disse um deles, velho amigo. Upa! Upa! Como assim?
Mais, todos eles deixaram claro que o problema de qualidade é geral, não acontece só com eixos. Upa! A bem da verdade, eu sei. Cabo de câmbio de primeira linha esgarçar em meses? Como assim? Corrente que dura muito menos que durava. Pneus que chegam na lona muito antes do esperava? Camara de ar que se auto fura?
Obsolência programada? Concorrência desleal? Falta de controle por parte das autoridades? Forma de sobrevivência nesta grave crise que as bicicletas a pedal humano está passando? O que seja, não importa, é um tiro no pé. Mais, como consumidor eu quero qualidade, não quero descarte que polua, é meu direito.
Lembro a todos que a ressurreição da bicicleta nos anos 80 se deu a partir do momento que começaram a vender qualidade, portanto segurança e tranquilidade aos ciclistas.
Eu passei toda minha vida lutando contra baixa qualidade, inclusive por meios legais, o Código do Consumidor. Estou com 70 anos. Espero que acreditem que brigar por qualidade vale a pena e sigam a luta.
Bicicleta é um veículo, e como tal não pode apresentar defeitos. É a lei.
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