segunda-feira, 1 de julho de 2013

Manisfeto por uma Política Estadual para Bicicletas 2002

Manifesto entregue a candidatos ao Governo do Estado de São Paulo deste 1982. Entregávamos também um documento próprio para candidatos do Governo Federal, que infelizmente não encontro nos meus arquivos, mas que era parecido com este publicado abaixo. Alguns partidos, em especial os populistas, sempre tiveram problema em receber estes Manifestos.
Como pouco aconteceu nestas décadas os Manifestos Estadual e Municipal, publicado na postagem anterior, ainda são boa referência de caminhos para a questão da mobilidade por bicicleta - e outras.



Manifesto para Viabilização de Bicicletas como Modo de Transporte para o Estado


POR UMA POLÍTICA ESTADUAL PARA BICICLETAS




O Estado de São Paulo tem aproximadamente 15 milhões de bicicletas, sendo estas distribuídas em 6 milhões na Grande São Paulo e 9 milhões nas demais regiões do estado.

Não há números oficiais, mas é tido como certo que pelo menos 35% desta frota seja usada diariamente como modo de transporte. No Município de São Paulo ciclistas são responsáveis por 3.8% das viagens diárias (O.D. Metro). Dependendo da cidade ou da região do estado este número sobe muito, como podemos observar principalmente no litoral.

A grande maioria dos usuários da bicicleta é população de baixa renda. É, na maioria dos casos, a única opção de transporte, seja por questões econômicas ou deficiências do transporte público.

Fator importante é que a bicicleta dá ao usuário cidadania, oferecendo a opção mais barata de liberdade de mobilidade a uma larga faixa da população, tanto no que diz respeito à acessibilidade às oportunidades de trabalho, assim como ao lazer.

Há uma demanda reprimida de usuários da bicicleta, que tem como principal razão a ausência do Estado e Município no cumprimento de seus deveres estabelecidos em lei. Boa parte destes ciclistas pode ser vista nos fins de semana, quando o número de bicicletas nas ruas e avenidas chega a dobrar, quando não triplicar - como acontece em dias de sol na Capital.

A razão para este percentual baixo percentual de usuários permanentes da bicicleta como modo de transporte, está em dois pontos básicos: ausência de facilidades para o seu uso e baixa qualidade do produto.

Mesmo com todas os problemas e dificuldades, o número de usuários vem crescendo por não lhes restar outra opção econômica. Com isto o número de acidentes envolvendo ciclistas tem crescido em ordem praticamente geométrica.

Ausência de facilidades para o ciclista:

Mesmo que o novo Código de Trânsito Brasileiro tenha municipalizado as responsabilidades sobre o trânsito, há responsabilidades que são inerentes ao Estado.

É crucial que seja criado um órgão de coordenação, centralização de dados e incentivo ao uso da bicicleta, de forma a desenvolver uma política Estadual, Metropolitano e Regional para o setor.

Por outro lado, o uso da bicicleta não se restringe a trajetos urbanos, sendo freqüente ter ciclistas pedalando em estradas,  muitas delas sob responsabilidade Estadual.

É necessário tirar do papel a lei referente a Plano Cicloviário para o Estado de São Paulo, que inclui a construção de ciclovias intermunicipais. Se não é economicamente possível cumprir a Lei, que esta sirva para encontrar soluções técnicas viáveis para a diminuição dos acidentes em rodovias. Estes são pontuais e relativamente fáceis de serem contornados.

Outro ponto que deve ser levado em consideração é que o Estado de São Paulo tem aproximadamente 10% de deficientes físicos, muitos deles usuários de cadeiras de rodas, que teriam grande melhora em sua qualidade de vida com a implantação de várias facilidades para ciclistas e ciclovias já programadas. Junto a estes há crianças, velhos e usuários de outros modais de transporte não motorizados.

É desnecessário que lembrar que todo cidadão tem direito à mobilidade, ao compartilhamento do espaço destinado ao trânsito, à saúde pública, à redução de acidentes, à manutenção da saúde, à preservação do meio ambiente. A uso da bicicleta implementa todos estes direitos da população com custos irrisórios.

É necessário desenvolver uma nova política para transporte que inclua e integre de todos os modais de transporte. Não só o cidadão ciclista fica abandonado com os problemas gerados por políticas de transporte ultrapassadas.

Melhoria da qualidade:

Das mais de 4 milhões de bicicletas fabricadas no Brasil, aproximadamente 40% ou estão na total informalidade, ou estão à beira dela. Há inúmeros problemas ai: informalidade do trabalho, portanto direitos trabalhistas não respeitados; não recolhimento de impostos e, principalmente, baixa qualidade de produtos os quais tem ocasionado inúmeros acidentes, alguns de extrema gravidade para o ciclista.

Dado o tamanho do seu parque industrial, a falta de reconhecimento efetivo do setor de bicicletas e ciclopeças por parte do Estado é  quase inaceitável.

Para mudar a situação e assim gerar postos de trabalho para mão de obra não especializada, e divisas para o país e estado, é necessário que se faça pequenos ajustes no setor, da mesma forma que já foi feito em outros setores industriais.

Há estudos que demonstram que a simples melhoria das facilidades para o ciclista e melhoria da qualidade da bicicleta e ciclopeças, resultam em um crescimento médio de 30% de usuários a médio prazo, o que pode ser traduzido em criação de empregos, melhoria de saúde pública, respeito a meio ambiente.

Pontos básicos

Para os ciclistas: 

  1. Definir, e divulgar, qual a importância da bicicleta na política de transportes

  1. Destinar uma parcela dos impostos arrecadados pela cadeia do setor automotivo para educação, desenvolvimento da bicicleta e de mobilidade de deficientes, velhos e crianças.

  1. Destinar parte dos impostos arrecadados pelo setor da bicicleta, dedutíveis, para o desenvolvimento do uso da bicicleta e segurança dos ciclistas.

  1. Promover cursos sobre segurança no trânsito em todas Escolas Estaduais, enfatizando o uso da bicicleta – que é o primeiro veículo de um menor de idade, noções básicas de mecânica e urbanismo.

  1. Resolver o problema em estradas de várias localidades do litoral paulista, onde a situação de segurança do ciclista é crítica.

  1. Localizar e ouvir técnicos de segundo escalão sobre a situação atual da bicicleta.

  1. Aperfeiçoamento de técnicos especializados em bicicleta como modo de transporte.

  1. Estabelecer dois níveis de técnicos ligados aos assuntos da bicicleta: os de campo, que deverão ser ciclistas e os internos, técnicos de prancheta.

  1. Procurar estabelecer um cronograma de trabalho ligado à realidade existente do ciclista e de funcionários públicos que já estão engajados no assunto bicicletas / ciclistas. Evitar forçar situações de cima para baixo, ou tecnocratas.

  1. Criação de pasta relacionada aos assuntos da bicicleta ligada à Secretaria dos Transportes dividida em dois: por cidades e por áreas metropolitanas

  1. Criação de Centro de Pesquisa de Assuntos relacionados a Bicicletas e Veículos de Propulsão Humana do Estado de São Paulo. Será de sua competência: centralizar dados, facilitar a pesquisa, auxílio no desenvolvimento de novos projetos e facilidades; acompanhamento de populações de baixa renda, em especial as de áreas pobres ou isoladas.

  1. Criação de Curso Superior, ou Pós Graduação, relativa às Bicicletas e Modos Transportes Movidos a Propulsão Humana e Mobilidades Não Motorizadas.

  1. Promover congressos periódicos sobre Desenvolvimento Urbano, Trânsito, Transporte e Mobilidades Não Motorizadas.

  1. Facilitar a participação em seminários nacionais e internacionais.

  1. Criação de facilidades em Estradas Estaduais, como manda a Lei Valter Feldmann.

  1. Criação de ciclovias ou de estradas parque turísticas intermunicipais. Aproveitar o exemplo da Estrada Parque do Rio Tiete, entre Bom Jesus do Pirapora e Itú.

  1. Criar estrutura adequada e estabelecer normas em parques e reservas.

Para o setor:


  1. Definir uma política industrial e de exportação para o setor

  1. Controle de pirataria e contrabando, que é problema gravíssimo hoje.

  1. Rever impostos que incidem sobre o setor, incoerentes com a importância  social da bicicleta

  1. Buscar caminhos que facilitem a entrada para a formalidade dos que hoje se encontram na informalidade.

  1. Facilitar os trabalhos de criação da “Normalização” para bicicletas e ciclopeças, que atenda os interesses dos usuários e do mercado internacional.


Nenhum comentário:

Postar um comentário