sexta-feira, 1 de setembro de 2023

Ficar na roda, ou, pedalar no vácuo

Tive uma experiência assustadora na ciclovia do Rio Pinheiros. Estava num pequeno pelotão com mais quatro ciclistas, dois em paralelo na frente, eu e um outro atrás e mais um atrás de mim, quando o ciclista que estava a minha frente teve uma micro reação e eu, sem qualquer capacidade de reação, acabei por um milagre não batendo na cabeça de uma capivara. Era início de noite, pouca luz, eu estava grudado na roda do cara e simplesmente não vi nem tinha como ver a capivara. Minha única reação foi um grito meio gemido - ai! Diminuímos todos a velocidade e pouco mais a frente, não muito refeitos do susto, o ciclista que pedalava na minha frente disse que também não tinha visto a capivara. Estava distraído conversando com o ciclista ao lado. Caso ele tivesse tocado na capivara provavelmente os cinco iríamos para o chão. Pior, muito pior, iríamos machucar a capivara.

Pedalar no vácuo do ciclista que está a frente não é problema... se os dois souberem pedalar. Precisa saber a técnica, mesma assim se alguma coisa sair errado com o ciclista que puxa (o da frente) é chão na certa.
Pedalar no meio de um pelotão é mais complicado, demanda mais técnica e principalmente não ficar ansioso, mas esta é uma outra história que fica para uma outra vez, ou melhor, para ciclistas mais habilitados falarem sobre. Aqui só dou uma pincelada sobre ficar na roda ou pedalar no vácuo.

Não sou ciclista de estrada, mas tenho profundo respeito pelo ciclismo. Sei pedalar na roda e tenho um grande cuidado para não fazer besteira, não cometer erros, não incomodar ou induzir a erros. 
Pelo simples prazer de ir no vácuo já experimentei de tudo, de ter o prazer de ser puxado por três ciclistas de verdade que entenderam meu atraso, a ficar atrás de mané que acha que é ciclista, mas não é. 
A pior experiência? Tive algumas, mas talvez tenha sido na Prova 9 de Julho com um monte ciclistas sacaneando para ver se derrubaram quem vinha atrás. Metiam a mão no freio traseiro e arrastavam o pneu traseiro sem a menor cerimônia, o que é um absurdo completo. A 40 km/h ou mais é uma puta sacanagem.

Na ciclovia Capivara, a do rio Pinheiros, fui acompanhando uma menina até chegar na roda dela. Uns metros depois ela literalmente enfiou a mão no freio, estancou a bicicleta, e começou a gritar histérica comigo que não queria que eu pedalasse na roda dela. Poucas vezes na vida tomei um susto tão grande. A discussão seguiu por muitos metros com a imbecil achando que eu ia persegui-la ou agredi-la. Como assim? Dei uma bronca pela irresponsabilidade, a falta de civilidade, a completa falta de noção do que ela tinha acabado de fazer. Para piorar a situação ela pegou a rampa de saída na minha frente. Mesmo eu tendo mantido distância, bateu o desespero nela porque eu também estava saindo. A cena toda foi bizarra. Aquele dia eu fiquei furioso e ao mesmo tempo triste com a reação dela.  

Problema mesmo? Pedalar na roda de ciclista que não consegue manter a cadência é muito chato e pode ser bem perigoso. Com um ciclista "ciclista" a frente você tem que pedalar com atenção, sem se preocupar muito com mudanças de velocidade, que quando vem são suaves, previsíveis. Manter a distância correta de um ciclista que não sabe pedalar e não mantém a cadência, acelera, desacelera, acelera, desacelera..., é um porre. Quando ele acelera você perde um pouco o vácuo, quando ele diminui você tem que tomar cuidado para não encostar na roda traseira dele ou vai tomar um chão. 
Fujo de ciclista que não tem cadência como o diabo da cruz, e faço a recomendação que façam o mesmo.

Um dia sai de casa pedalando muito atrasado. Entrei na ciclovia do Pinheiros a mil olhando para trás para ver se conseguia um vácuo. Estava com minha paixão aro 26 2.1 e tinha que ser alguém ou um pelotão que estive "calmo", no final de treino, indo devagar (para eles), a uns 35 ou máximo 40 km/h. Olho para trás e vem um pedalando solo, todo paramentado, ciclista chique, do jeito e na velocidade que eu precisava, e lá vou eu, acelero, vou na roda, ótimo vácuo. Um pouco à frente o sujeito percebeu que eu estava colado, olhou para trás e viu um velho vestido com roupas comuns, sem capacete, cabelos brancos, e deve ter pensado que aquilo era uma ofensa aos brios próprios. Desandou a acelerar para tentar fugir e eu consegui acompanhar. Ele olhou para trás mais duas vezes e sua expressão foi ficando cada vez mais desgostosa de não conseguir se livrar do velho pedalando "aquilo". Ele estava numa Trek de triatlhon de carbono das bem caras, toda aerodinâmica, preta fosca, papa fina. Eu fiquei imaginando que ele estava em fim de treino e por isto não conseguia fugir. De qualquer forma quando cheguei na rampa de saída virei e fui embora.
Uns dias depois encontro um amigo, ele pega o celular. "Olha só a bicicleta que meu cunhado acaba de comprar" diz ele. Olho a foto e tenho que controlar o riso. Segurando orgulhoso a bicicleta estava o sujeito que eu tinha entrado na roda. Aí entendi porque ele não tinha conseguido fugir de mim na ciclovia.

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