segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Desunião entre bicicleteiros

Fui comprar manoplas numa bicicletaria de um velho conhecido e lá encontrei um par de uma ótima marca que parou de ser importada já faz um bom tempo. Perguntei como as tinha conseguido e ele contou que comprou todo estoque de duas bicicletarias tradicionais que fecharam as portas. Triste.
Uma das razões para o fechamento de bicicletarias é a incrível desunião no setor, que é histórica. Mesmo que se tenha avançado e em alguns pontos melhorado muito com a criação de associações, no geral, principalmente quando se fala das bicicletarias, ainda é muito pelo cada um por si
O que mais me espantou na conversa com meu amigo e dono da bicicletaria foi o fato que mesmo ele que está no negócio há 28 anos e é bom no que faz, ser dono de bicicletaria, não demonstrou conseguir separar direito negócio de paixão. Bicicleta é bicicleta, gerir um negócio é gerir um negócio, o que quase que necessariamente implica em fazer parte de um setor, não ver a concorrência como inimigo a ser derrotado e se possível extinto, varrido do mercado.

Faz algum tempo numa outra bicicletaria, esta das bem antigas e tradicionais, descobri que dois dos mais influentes donos de bicicle taria da fase heroica nunca se conheceram pessoalmente. Foram importantíssimos na formação do ciclismo esportivo, fizeram diferença, buscavam os mesmos objetivos, e não sentaram juntos para trocar experiências? Uau! "Não deu tempo" foi a resposta de um deles, o que é um absurdo. 

Sempre digo que bicicleta é um negócio duríssimo que é para bem poucos. Foram pouquíssimos entraram no ramo da bicicleta pensando só em fazer dinheiro; a maioria entrou porque no mínimo gostava de bicicleta. Que eu me lembre todos que entraram para fazer negócio, ganhar dinheiro, saíram ou chateados ou falidos. Dizem que o cliente é dos mais difíceis, a maioria é chata, que bicicletaria é um negócio instável, uma hora vai muito bem e na outra, sem razão lógica ou aparente, para completamente. O que dá dinheiro, que é a base, é a oficina, e encontrar mecânico bom é difícil. Podendo ou conseguindo, tem que trabalhar com produto subfaturado (normal em todos negócios neste país de sistema tributário esquizofrênico)... Agora, para complicar, e muito, vieram as bicicletas elétricas, com seus especialistas e a quase obrigação de espaço específico na oficina... Enfim, precisa gostar e ter um pouco de loucura para levar adiante. 
 
Brasil tem um índice vergonhoso de negócios (de todos setores da economia) que fecham ou falem. São várias as causas, mas fazer confusão entre paixão e trabalho é a mais besta, para usar uma expressão bem popular, razão para começar muito mal e dar com os burros n'água. A falta de união para troca de experiências sob a alegação de falta de tempo é outra. Até onde sei estas são as campeãs do fracasso, dentre outras tantas.

Nunca, repito, nunca trate um negócio sob o signo da paixão. Não faça confusão. Gostar do que faz é um bom caminho, mas tendo sempre como prioridade o racional, o funcional, os resultados, que num negócio é o que importa.

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