sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Sturmey-Acher e a falsa tradição

 Levei minha bicicleta numa bicicletaria tradicional (XXXXXXX) de São Paulo por que me disseram que só lá conseguiriam fazer o câmbio Sturmey voltar funcionar, mas ele voltou pior do que antes. Não dá para confiar nem nas tradicionais?

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F., boa tarde.

Quem fez o nome da bicicletaria citada foi o tio do atual proprietário, já falecido. O velhinho sabia das coisas, metia a mão na graxa, tinha tempo para fazer as coisas. O sobrinho é gerente, mas não tem a bagagem do velho um tanto rabugento tio. Situação como esta é comum em bicicletarias tradicionais. A geração mais nova acha que só acompanhando os mecânicos e dando ordens, olhando revistas, lendo um pouco aqui e ali sabe tudo, o que é uma inocência, para dizer o mínimo.

Antigamente, antes do mountain bike, tudo se aprendia na raça, na curiosidade, força de vontade, no gostar da profissão, amar a bicicleta e a mecânica. Os custos de ter uma bicicletaria eram menores, a vida mais fácil, menos corrida; era possível parar numa peça, como num câmbio interno como o seu, abrir com cuidado, estudar, pensar, e procurar corrigir o problema. Se não conseguisse era só buscar outro mecânico experiente, de moto ou carro ou até mesmo um torneiro mecânico, e trocar ideias.

“Deixa ai que eu conserto. Não sei quanto tempo demora, mas passa daqui uns 15 dias que deve estar pronto” e geralmente estava pronto e funcionava “melhor que o original”. Quantas vezes ouvi esta frase. Praticamente tudo tinha conserto ou um jeitinho, por que conseguir peça de reposição era difícil e muito caro.

Desde os anos 90 virou um tudo se troca, tudo é descartável, quebrou vai para o lixo. Tudo ficou mais simples, funcional, mais prático, tanto porque diminui os custos operacionais da bicicletaria, como os dos mecânicos. Como está cada dia mais difícil encontrar aprendizes sérios, o troca-troca virou regra – e mesmo assim com uma qualidade duvidosa. Com isto perdeu-se muito do bom jeitinho brasileiro. Perdeu-se uma vasta cultura da bicicleta e de sua mecânica. Perdeu-se muito, na verdade uma barbaridade. Sinto muita falta dos velhos mestres.

Sturmey-Acher: http://www.sturmey-archer.com/index.html
Suponho que o cubo de sua bicicleta seja este: http://www.sturmey-archer.com/products/hubs/cid/4/id/34.html
E coloca no Google “sturmey-acher 5 technical” que vai a aparecer o  PDF com o desenho técnico. Não é difícil fazer a manutenção. Se for o caso peça ajuda para um mecânico de câmbio de moto.

Acho estranho, raro mesmo, um Sturmey-Acher dar qualquer tipo de problema. Deve ser besteira. Se tiver algo quebrado basta comprar lá fora e trazer via correio.

Um comentário:

  1. Olá! Tem algum lugar em São Paulo onde possam dar uma olhada em um SA de 8 velocidades? INstalei eu mesmo ele, porém ele rodou no próprio eixo devido a uma má fixação. Abri ele para tentar resolver o travamento, mas no processo, o cubo perdeu a tensão da mola que mantem ele sempre na marcha mais alta, quando sem o cabo trocador atuando. O cubo é um X-RD8 (W).
    Obrigado,

    João Galante

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