sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

Queda de qualidade e medo de um novo 1972

Quebrou o eixo traseiro de minha bicicleta. Como assim 'quebrou o eixo traseiro'? Daqui dois anos vou completar 50 anos pedalando sem parar, e tenho orgulho de ainda conseguir contar nos dedos das mãos o número de peças quebradas que tive neste meio século. Sei que foram pouquíssimas por imperícia ao pedalar. Sou tanto neurótico quanto a meus erros, me cobro muito. Lembro como fiquei deprimido por ter entortado um aro traseiro por barbeiragem minha num subir uma guia. Enfim, sou cuidadoso, de uma geração que se a bicicleta quebrasse era grande a possibilidade de acabar a brincadeira, e entendam o 'acabar a brincadeira' literalmente, ou seja, fim de pedal por um bom tempo, quando não definitivamente.
Neste auto elogio, ou neurose completa, como queiram, não conta o anterior às bicicletas mountain bike. Pedalei em muita "lixocleta", apelido dado às bicicletas de merda que ainda eram fabricadas sob o manto do que se considera considerava qualidade nos anos 70. Explico.

O pior momento da história da bicicleta mundial foi na década de 70. Com as vendas em baixa, a qualidade despencou. Pedalava que realmente gostava. Na década de 80 eu não saia de casa sem uma meia caixa de ferramentas, mais um monte de remendos. Tudo funcionava precariamente, tudo entortava, quebrava, pneu furava direto coisa de loucos. 

Agora, em 2025 quebrar um eixo traseiro? Ok. Pode acontecer, um buraco pego de mal jeito, ou sei lá o que. Creio que é o segundo ou talvez o terceiro eixo traseiro que quebra comigo nestes 50 anos. Só me lembro com certeza de um antes deste, mas na época que eu fazia mountain bike para valer. 

Minha fúria completou ao ter saído para comprar um eixo traseiro novo e ter sido avisado por quatro donos de bicicletarias tradicionais e respeitadas que partir em dois é comum. "Não fica assim. A qualidade está muito ruim, então vai quebrar de novo e a culpa não é sua", me disse um deles, velho amigo. Upa! Upa! Como assim? 
Mais, todos eles deixaram claro que o problema de qualidade é geral, não acontece só com eixos. Upa! A bem da verdade, eu sei. Cabo de câmbio de primeira linha esgarçar em meses? Como assim? Corrente que dura muito menos que durava. Pneus que chegam na lona muito antes do esperava? Camara de ar que se auto fura?

Obsolência programada? Concorrência desleal? Falta de controle por parte das autoridades? Forma de sobrevivência nesta grave crise que as bicicletas a pedal humano está passando? O que seja, não importa, é um tiro no pé. Mais, como consumidor eu quero qualidade, não quero descarte que polua, é meu direito.

Lembro a todos que a ressurreição da bicicleta nos anos 80 se deu a partir do momento que começaram a vender qualidade, portanto segurança e tranquilidade aos ciclistas.

Eu passei toda minha vida lutando contra baixa qualidade, inclusive por meios legais, o Código do Consumidor. Estou com 70 anos. Espero que acreditem que brigar por qualidade vale a pena e sigam a luta. 

Bicicleta é um veículo, e como tal não pode apresentar defeitos. É a lei. 

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Medo de tombo, se machucar ou se quebrar

Eu fui um anjinho, vocês não fazem ideia de quão anjinho fui, minha mãe e tias sabem bem. Como um bom anjinho, que se machucava e quebrava com uma frequência, como posso dizer, estúpida, idiota... Escolham o adjetivo que quiserem. Foi com certeza um saco, a beira do insuportável para quem me socorreu com uma frequência irritante, para dizer o mínimo. Enfim, falou em tombo, falou em se machucar, bem... eu sei o que falo. Vamos lá.

Tudo na vida é aprendizado, e às custas de uma paciência infinita de quem teve que me levar 'n' vezes para pronto socorro, aprendi o que é dor, o que significa cada uma das dores que sentimos. Sim, dor não dor, mas uma boa variedade de dores diferentes entre si, cada uma com seu significado. 
Mais importante: aprendi a não ter medo de dor. Como todo ser normal não gosto de sentir dor, não sou sado, simplesmente aprendi a conviver corretamente com ela quando acontece. Não, não estou recomendando que saiam por ai se arrebentando para aprender o que é dor, só estou pedindo que ouçam alguém com experiência (larga experiência) no assunto.
Evitar a qualquer custo qualquer possibilidade de sentir dor leva a não fazer muitas coisas boas e divertidas que numa infeliz eventualidade podem machucar. Mas, como se diz, "no pain, no gain", ou "não há ganho sem dor". Ok, esta é outra dor, mas...

- Quem só pensa em perigo não tem tempo para ser seguro -
Já repeti um milhão de vezes isto. Acho que só ontem caiu minha ficha qual é o buraco de comunicação que tem aí: medo de ficar desabilitado, impossibilitado de fazer o que precisa no dia a dia. Posso afirmar que tem muito de pensamento ou as ditas verdades deste mundo bipolar. Fez, se arrebentou? Desculpe, não funciona assim. Fez errado pode se machucar. Fez certo dificilmente vai ter problema. A questão é que historicamente somos treinados para o "não", portanto pensamos "não vai dar certo". Tem até aquela gozação: "Se pode dar errado, porque vai dar certo?", a famosa lei de Murphy.   

Pode dar certo.

Passei sete anos ensinando pessoas que nunca conseguiram pedalar pelas mais diversas razões, a maioria mulheres apavoradas com tombos. Fiz todas pedalarem usando as técnicas mais estranhas, sempre focando no tirar a atenção da bicicleta. Esqueciam que estavam pedalando e pedalavam tranquilas, sem tombos, sem dor. 

"A bicicleta não existe...", ou, o perigo não existe, pelo menos pode ser controlado. E controlar o perigo começa por parar de só pensar nele. Funcionou, funciona! Óbvio que o perigo sempre está rondando, faz parte da vida, e este é o ponto. Você já deve ter tomado banho em chuveiro elétrico, e só ficou debaixo daquela divina aguinha quente porque não ficou pensando que pode morrer eletrocutado. Eu já fui, trocando resistência. Por sorte não grudei e fui arremeçado uns dois metros de distância, mesmo assim uso diariamente meu chuveiro elétrico. Ou tomo banho gelado. Para que eu tenho que ficar lembrando que Tina entendeu meu pedido errado e ligou a chave geral quando eu ainda estava trocando a resistência? E se eu ficar lembrando do chuveiro que explodiu (literalmente) no meio do meu banho? Acabei no meio da sala nú com todas minhas primas rindo. A tampa do chuveiro grudou no teto do box. O pior foi ter que tirar o sabão com água gelada. 

E se a cada pedalada eu ficar focado no que pode acontecer errado um pouco mais a frente? Óbvio que já tive pensamentos negativos, muito mais de uma vez. Óbvio que já olhei para onde não devia e me dei mal. Um dia, no meio de uma descida, caiu a ficha que eu estava a mais de 30 km/h sobre uma máquina magrinha, magrinha, de equilíbrio precário. Foi apavorante descobrir que eu estava brincando de superman sem saber voar. Naquele exato momento entendi o que sentem os iniciantes. "Que porra estou fazendo aqui?" Simples, respirei, me controlei para não me estabacar e me quebrar todo. Confesso, foi apavorante.

Inconscientemente relegamos perigos a toda hora, dependendo da situação a todo minuto ou segundo. Ou você pensa que está seguro num automóvel? Muito menos seguro que num avião, que é infinitamente mais seguro que o automóvel, mesmo assim tem monte de gente tem medo de morrer voando. No meio do trânsito não passa pela cabeça esta possibilidade porque nos acostumamos e esquecemos o perigo. "Quem só pensa em perigo não tem tempo para ser seguro".

E vem uma amiga, para quem já dei aula e fiz pedalar, e pedalava bem, mas parou, e diz que gostaria de voltar a pedalar, mas tem medo de se quebrar e ficar inútil. Aí caiu a minha ficha do problema. 

Se fossemos um pouco mais racionais, ensinaria a cair, técnica de rolagem que aprendi no judô. Nem pensar, ensinar a cair não vai ser entendido como prevenção, mas como certeza que o tombo vai ser fato consumado.

Como convencer uma pessoa que alguns riscos valem a pena e que muito do que ela considera risco só o é se ela não souber controlar e se auto controlar. A próxima vez que for acender o fogão pense nisto. Muito do auto controle vem do desviar o pensamento, se possível para o positivo. Eu sei, não é biscoito.

Muitos dos graves problemas que estamos vivendo hoje são decorrentes de uma doutrinação que a vida só é boa sem percalços. Nada mais mentiroso. Riscos  e percalços estão aí para ser vividos, até como aprendizados. Afinal, quem não arrisca, não petisca.

Viver pela metade é não viver - ditado espanhol

terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Bicicletas elétricas são a solução? Para mim... não

Por mais que digam que o bem para a saúde é o mesmo numa bicicleta a arroz com feijão que numa elétrica, eu, ignorante e já com certa raiva delas, ditas bicicletas elétricas,  afirmo: claro que não é. 

COP30: silenciaram sobre mobilidades ativas e as mobilidades elétricas. Uai? Mas por que?

Toda documentação sobre introdução de sistemas cicloviários apontam para que logo após a implantação haverá um aumento das ocorrências, acidentes, e que com o tempo e a prática dos ciclistas, vai acalmando,  as ocorrências vão aos poucos diminuindo. Foi o que aconteceu por aqui. Mas não precisava ser tanto.

Como sempre, a coisa aconteceu bem no nosso estilo: toma o brinquedo e vai brincar. Ou, "toma as ciclovias e ciclofaixas, pega tua bicicleta e vai pedalar". Deu no que deu. Não, eu sei, não há números que endossem o que falo, mas não ter informações corretas sobre o ocorrências é a regra tupi-não-dá e tupi-nim-quem. Nada de novo, só repetiram a besteira que deixaram acontecer com as motos, que eu ironicamente chamei de morto-boys. Ironia com os que deixaram rolar (os motociclistas no asfalto). Felizmente com os ciclistas não foi tão trágico, mas o número de ocorrências foi bem maior que o divulgado, quem está no meio sabe, ou tem boas razões para acreditar. 

E, para não mudar a nossa eterna loucura, agora fomos invadidos pelas bicicletas elétricas, as mais variadas, dos mais diversos tipos, que passam zunindo na orelha de ciclistas e pedestres. E as ocorrências não param. Aqui, ali, lá, acolá e planeta afora. NY Times acaba de soltar uma matéria sobre o crescente problema lá,  na cidae quw não para (NYC). Pelo menos não li mais notícias sobre prédios sendo incendiados por baterias sendo recarregadas, o que ocorreu com certa frequência em NYC até as autoridades darem um basta.

Óbvio que não aprendemos nada com o passado. Ou com a experiência dos outros. Tipicamente brasileiro. 

As elétricas foram e seguem sendo um problema em todas partes. Quem se importa? 

As elétricas são um problema? O automóvel é um problemão? Não. Sem um ........ pilotando ou dirigindo eles não fazem nada, ficam literalmente parados, não saem do lugar. 

Mas eu não posso dizer o que me passa pela cabeça quando sou ultrapassado por um missel caça ciclista. "Ufa! Escapei mais uma vez! Quando vou ser abatido?"

Lutar 30 anos por ideal para tudo se transformar nisto....

Os links não fui eu quem apliquei. Entraram automaticamente.