segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Pneu na lona

O Levorin Praieiro chegou na lona, acabou.

Sempre quis rodar, rodar, rodar, até chegar na lona de um pneu. Nunca consegui porque antes dos pneus chegarem na lona a borracha ou a banda começavam a rachar e ou abrir de velho. 
Já escrevi sobre o Levorin Praieiro, que talvez tenha sido um dos pneus mais... problemáticos... que já usei, ... pode ser. Prefiro dizer que é o mais simbólico sobre como ainda é entendida a qualidade pelo povo deste Brasil de 2023. A definição da compra ainda é pelo menor preço, não importa a qualidade e a durabilidade que vá ter, ou seja o custo final do seu uso.

A maioria dos pneus que usei e continuo usando em minhas bicicletas foram e são ou importados ou Pirelli, que também são exportados, ou seja, atendem aos quesitos do mercado internacional. Eram concorrentes da Levorin, não diretamente, porque havia alguma diferença no preço, sendo os Levorin normalmente mais baratos e populares.

Já tive pneu importado, vindo de um pequeno país do sudeste asiático, estes sim os piores que já vi. Lá pelos anos 90, de sopetão, os grandes fabricantes de bicicleta foram avisados que não teriam pneus nacionais e tiveram que procurar no mercado internacional pneus para suas vendas de fim de ano. A qualidade era um desastre. 
A Levorin pode ter tido seus problemas de qualidade, e não foram poucos, mas nada parecido com estas marcas desconhecidas. A questão do controle de qualidade não foi só da Levorin, mas de todo setor da bicicleta que só queria vender, dane-se o usuário.

A Michelin assumiu a Levorin e a qualidade do Praieiro melhorou muito, mas muito mesmo. Este que está na foto, com a lona aparecendo, durou muito menos que eu esperava, mas comparado aos mais antigos a diferença é grande.

Comprei esta boa bicicleta usada, surrada, que estava com os Praieiros já bem gastos. Sempre quis testá-los, rodei até onde deu com eles e quando não deu mais, por deformação, troquei o par por novos, estes da foto. A diferença para os que vieram com a bicicleta é que ainda foram fabricados pela Levorin, e os novos já eram Levorin / Michelin. A diferença era notável: os novos estavam alinhados, centrados, e permitiam 50 libras de pressão. Os antigos, Levorin, que eu me lembre, eram para 36 libras. 
Fiquei um pouco decepcionado porque mesmo com pressão mais alta que os velhos ainda rodavam pesado, uma diferença bem sensível para qualquer importado, inclusive os concorrentes diretos. Infelizmente não marquei a data de compra para saber exatamente quanto duraram, mas não tenho dúvida que bem menos que os importados. Quando vi que os novos também tinham chegado na lona me assustei, imaginei que na fabricação a lona tinha sido assentada errada, que ainda dava para rodar por mais um bom tempo. Uma hora desmontei o pneu do aro e com o toque dos dedos ficou claro que iriam estourar.  

Estes Levorin Praieiros que acabei de comprar já vem com a marca Michelin numa etiqueta. O povão que pedala reconhece com facilidade a marca Levorin, mas duvido que a maioria dos brasileiros tenha o mesmo reconhecimento de marca para a tradicionalíssima Michelin francesa. 

Montados e rodando, a primeira impressão é que a qualidade da borracha foi melhorada, mas não dá para dizer com certeza se roda melhor mesmo ou é impressão minha. Fato é que roda mais leve com as mesmas 40 libras que os que terminaram na lona, portanto tinham menos borracha e estavam mais leves. Peso faz muita diferença no rodar.

Espero que a Michelin vá aos poucos corrigindo os problemas que a Levorin tinha, o que acredito que venha a acontecer. Michelin não vai se queimar num mercado deste tamanho.

Bom resta algumas perguntas: Se eu entendo que os Praieiros são piores que os importados, por que repetir a compra? Primeiro porque não consegui encontrar um similar importado ou da Pirelli. Encontrar pneu 29 é fácil; achar os 26 1.95 para asfalto não, principalmente em São Paulo e nesta época de Natal e férias. Provavelmente no interior ou nas praias seja mais fácil. Aqui, na capital, só tem para bicicleta chique ou da moda, leia-se 29.
Quero ver / testar como está a evolução dos produtos da Michelin / Levorin, que é para o mercado da população mais pobre. Comprar e usar é a melhor forma. 
Por último, os aros desta bicicleta são nacionais e tem uma pequena diferença no diâmetro para menos. Os importados que tentei montar não paravam no aro quando se dava pressão. Os Praieiros param.

Só agora quando fui fazer esta foto percebi que a marca Michelin não está gravada no pneu, mas que veio estampada na etiqueta de papel que estava presa e que tirei para montar. 
A calibragem é difícil de achar e ler. Está gravada pequenina no adesivo colado ao pneu ao lado do nome Praieiro bem visível. Precisam corrigir.

Talvez o que mais queira em minha vida é parar de reclamar da baixa qualidade. Espero que um dia isto aconteça. O Praiano reflete bem o drama deste país, que começa na fabricação e termina nos compradores que aceitam qualquer coisa em nome do preço mais baixo. Vale a pena? Definitivamente não!  Acredito que a Michelin tenha chegado para corrigir velhos erros.

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