quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Clipe ou pedal plataforma?

Quanto dá a diferença de rendimento pedalando com clipe ou com um pedal plataforma? Alguma coisa em torno de 3%, isto com ciclistas profissionais pedalando. No meio de ciclistas amadores bem menos. Quem diz isto? Respeitados sites europeus especializados que fizeram testes comparativos usando tecnologia de ponta para medir os resultados. Os próprios testadores iniciaram seus trabalhos com nariz torcido para o pedal plataforma, e no final confessaram que erraram.

A comparação foi feita entre um bom pedal clipe e um pedal plataforma com pinos que mantem a posição de apoio do pé. Qualquer combinação de pedal com calçado que escorregue definitivamente não é recomendável.  

Quando a moda de pedalar estourou e o pessoal foi atrás de assessoria, ouvi muito de todos lados sobre a importância de se pedalar com sapatilha e clipe, mesmo quando o ciclista era novato, sem experiência ou idoso. Em contraponto, por um bom tempo não pararam as histórias de ciclistas que se machucaram por estarem com os pés travados no pedal. E os tombos continuam por ai. 
Cansei de discutir, e depois de algumas conversas tortas simplesmente desisti de dar murro em ponta de faca. Quer ficar travado no pedal para tomar tombos idiotas, quando não dramáticos, não é problema meu. Divirta-se!

A alegação de todos, até hoje, é que melhora muito a qualidade do pedal e dá mais segurança. Não é porque o ciclista está conectado intimamente com a bicicleta que ele pedala melhor e estará mais seguro. Pedalar melhor é conhecer e aplicar as técnicas básicas corretas, incluindo aí o respeito ao próximo, essencial. Ciclismo é a arte da suavidade. Só é seguro quem não comete erros e pensa corretamente.    

O número de tombos relatados na hora de parar a bicicleta sempre foi e continua sendo grande. Num destes tombos, parado, um ciclista amigo fraturou a cabeça do fêmur, simples assim. Conheço histórias de fratura de pulso, ombro, rótula... todos porque o clipe não soltou. 
Com um outro amigo, na chuva, ele perdeu aderência, a bicicleta voou longe travada numa das sapatilhas causando uma grave distensão muscular. Não foi o único.
As histórias não param, todo mundo já ouviu, e mesmo assim iniciantes são levados a acreditar que pedalar de sapatilha é mais seguro. Se não for assim, como vão vender sapatilhas e pedais de clipe tão preciosos. Você acredita mesmo que o pessoal está preocupado com a segurança do comprador?       

"O rendimento é melhor porque consigo puxar o pedal para cima..." Mesmo antes de aparecerem estes testes no YouTube já tinha ouvido de monte de ciclistas profissionais que não é bem assim, que puxar para cima não é fácil e muito menos para qualquer um. São pouquíssimos os ciclistas que conseguem dar o giro completo, aplicando força nos 360º. Aliás, mesmo que consigam puxar, a força que temos para puxar com a musculatura posterior da perna é muito menor que a de empurrar para baixo, que além de uma musculatura mais habituada, porque tem que sustentar o peso do corpo, o empurrar para baixo conta com o peso das pernas. 
A quase totalidade dos ciclistas só põe força, só faz valer a pedalada, quando empurra para baixo o pedal, ponto final. Inclua aí a maioria dos ciclistas profissionais, como dizem especialistas. 

Não me lembro quem me ensinou a fazer um giro mais redondo sem firma pé e clipe, mas deve ter sido um ex BMX. E dá para girar redondo com um pedal plataforma, basicamente uma técnica de BMX. Vai colocar força no pedal nos 360º? Não, mas quase, talvez uns 240º, o que faz toda diferença.

Quem quer que tenha me ensinado a técnica fina de pedalar com pedal plataforma, que não me lembro mais quem foi, me pediu para subir a cadência o máximo possível até que começasse a pular no selim. Pulou no selim, diminui o giro até o movimento ficar só nas pernas. É um giro muito rápido. Precisa treinar aos poucos, em tiros curtos, porque é exaustivo. Dá um tiro curto, acelera o máximo o giro, sem pulo ou pé escapando do pedal. Com o tempo o corpo vai aprender como fazer o movimento e pedalar vai se aproximar de 240º de força, ou de empurrar, como queira. O giro vai passar a ser suave, mesmo quando voltar a sua cadência normal. 

Quando o pedalar ficar redondo, correto, suave, o som do contato do pneu no asfalto fica contínuo. Presta atenção quando estiver pedalando normal, ou só empurrando o pedal para baixo, vai perceber que o som  é quebrado, tipo vrumm... vrumm... vrumm.. vrumm...

Outra forma de ver se o pedalar está limpo, uniforme, é soltar a mão do guidão e olhar para o guidão. Enquanto o pedalar está no empurra empurra para baixo o guidão vai fazer um zig-zag. Quando o pedal gira limpo e suave o guidão não se mexe, segue reto em frente.

Vendo alguns destes testes comparativos entre clipe e plataforma, acabei descobrindo que ciclista de montanha essencialmente empurra o pedal para baixo. Giro mais completo é mais funcional no plano ou descidas, e para a maioria dos ciclistas só durante um curto tempo. É claro que os melhores ciclistas devem despejar força no pedal muito mais uniforme que a gente, mas eles são profissionais e nós simples mortais. Para nós, simples mortais, o importante é segurança para o prazer não acabar mal. Nada como voltar para casa inteiro e entrar num chuveiro. 

O que não tenho a mais remota dúvida é que, dependendo do ciclista e para que ele usa a bicicleta, sapatilha de clipe presa no pedal não é recomendável. Os inúmeros acidentes que o digam.
Fato é que moda não costuma combinar com segurança. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

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