terça-feira, 28 de novembro de 2023

Bicicletas no (velho) west (americano) e a história da bicicleta


http://cliffhanger76.tripod.com/bikewest/1896/index.html
Eu babei quando vi pela primeira vez este site, The Bicycle & The West, com fotos do velho oeste americano. Mais que uma curiosidade, olhar suas fotos com calma mostra um outro desbravador dos Estados Unidos, bem diferente do cowboy que estamos acostumados a ver e ter como referência.  

O filme abaixo mostra a história da revolta em Amsterdam que mudou a história do uso da bicicleta no mundo, a bem da verdade, a história de como pensar a vida nas cidades. A partir daí a bicicleta passou a ser - de novo e mais uma vez - um instrumento de transformação social. O filme tem 8 minutos, tem poucas imagens de bicicletas e ciclistas, mas é a base do que vivemos hoje. Ou seja, é história, a história verdadeira. 



A história verdadeira não é a história dos vencedores, mas a história em todos seus detalhes incluindo a história dos vencedores. Muito do que nos foi contado até hoje é a história dos vencedores ou a história que foi criada pelos "perdedores" para ganhar espaço no jogo. As duas são parciais e direcionadas. 
A história da bicicleta que conhecemos agora está muito influenciada pela história do automóvel, o vencedor. E a história do automóvel deste exato momento vem sendo recontada por interesses de quem até então foram perdedores, ambientalistas e outros que foram 'prejudicados' pelo uso indiscriminado do automóvel.  Sim, o automóvel é um problema, mas... Este 'mas', quando contado em todos seus mínimos detalhes, é que faz a verdade, a real história, o que fomos e porque nos transformamos no que somos agora.

A história da bicicleta é uma senhora desconhecida, assim como tantas histórias com "H" maiúsculo que não foram contadas ou tiveram versões muito distorcidas.
Vivemos um momento fantástico onde as histórias estão sendo revisadas, contadas ou recontadas em detalhes que nunca soubemos até então. Talvez a história mais importante da humanidade que foi muito mal contada e em grande parte apagada seja a real das mulheres, que vem sendo revelada para o espanto de todos que se interessam. Se apagaram o verdadeiro passado das mulheres, imagine só o das bicicletas.
Não é por gostar de bicicletas que faço um paralelo com a história das mulheres, mas porque só lendo sobre o impacto social e desenvolvimento de engenharia industrial para entender o que realmente foi a bicicleta, tão simples e tão complexa. Meu conhecimento está muito longe de ser profundo, li alguns livros e quem sabe um dia me aprofunde mais no assunto. Um dos livros que tenho, mas não li, é sobre a engenharia, dinâmica, cálculos, física e outros assuntos que não tenho domínio e que são tão específicos que atrapalharam a cabeça de um amigo que é estudioso em engenharia. Simplificando: a história da bicicleta entra em campos específicos que demandam um aprofundamento que não é para qualquer um, eu incluso. 

Ver fotos e documentos mais leves dá uma ótima noção do que aconteceu. Não custa procurar.
   

Tenho uma pequena biblioteca sobre bicicletas. Os livros mais interessantes para mim são os sobre a história das mudanças sociais que a bicicleta trouxe principalmente entre 1880 e o começo dos anos 1900. Já existia a fotografia e estava bem no começo dos filmes, que traduzem muito dos acontecimentos. A comparação entre a leitura e os filmes é esclarecedora porque ler nos leva ao imaginário e fotos e filmes estão mais relacionados com a realidade; um complementa o outro. 

Mas precisa tomar cuidado com o que se vê. É importante contextualizar a informação. Olhar como se estivesse vendo nos dias de hoje distorce a realidade.

Filmes de avenidas de Paris, Nova Iorque, São Francisco do início do século XX mostram muito menos ciclistas circulando do que eu imaginava comparando ao que li. Por exemplo, NY tinha mais bicicletarias em 1900 que tem hoje cafeterias da Starbucks, ou seja, uma barbaridade. 
Vale lembrar que estas filmagens que posto aqui são de avenidas ou ruas de comércio muito movimentadas, que talvez não fosse o lugar predileto para ciclistas circularem, como não é hoje. Ademais, não se sabe em que hora e em que época do ano foram filmadas, o que também pode fazer muita diferença. Lembro que ainda hoje boa parte dos trabalhadores que usam bicicleta circulam em horários (entre  4:00 e 6:00h da madrugada) onde a maioria da classe média ainda está na cama. Como a maioria destes trabalhadores não tem refletores em suas bicicletas simplesmente se tornam invisíveis para os motoristas madrugadores da classe média. Outro fator, neblina. E outros fatores mais para que não sejam vistos, portanto não existam perante a história que não foi a fundo. Em outras palavras, tem muito ciclista que é invisível e inexiste perante a sociedade.

Uma das principais razões para este reescrever a história está na digitalização de documentos e na facilidade de cruzamento de dados e informações, o que de certa forma leva os pesquisadores ao que de fato aconteceu, ou seja, à História (com "H" maiúsculo). Isto só vai fazer bem para todos e tudo. E neste caso a bicicleta tem muito a contar, como tem.




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