sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Frio, chuva, pedalar com comodidade

A bicicleta parece fazer com que o corpo do ciclista esteja em uma eterna luta contra o calor, freio e principalmente a chuva ou molhado. Normalmente isto acontece porque o ciclista se veste de maneira errada, esquece que com o pedalar o corpo aquece e tende a suar, faça frio, faça chuva ou faça calor. Por isto usar a bicicleta demanda primeiro uma reeducação psicológica e depois a reeducação térmica do corpo. É preciso ter mais elasticidade na sensação de conforto do que estamos acostumados, o que é ótimo porque nos trás a sensação de estar vivo. Conforto é muito bom, mas é também mortal quando exagerado. Nos esquecemos que somos, antes de tudo, uma espécie animal cujo corpo precisa de ação.
Usar o exemplo do frio é prático porque todo mundo sabe o que é o efeito cebola, aquele que à medida que vai esquentando se vai despindo capas, luvas, suéteres... O corpo pode ficar feliz com a temperatura sempre próxima do estável, mas a paciência de carregar tudo na mão não. Ir despindo peça por peça numa bicicleta é mais complicado ainda e pode ser bem perigoso. Ou se tem uma grande mochila ou não tem como carregar tudo. Colocar sobre o guidão nem pensar. Vai que entra nos raios da roda dianteira... Zummm... Voou...
Um dos piores males de nossa sociedade é o excesso de acomodação, busca constante de conforto, da lei do menor esforço. Infelizmente estamos perdendo nossa capacidade de adaptação às adversidades, por menores que sejam. Uma das dádivas da bicicleta é que ela acaba oferecendo (ou impondo) ao ciclista vento na cara, sensação de humidade, calor, frio, o queimar do sol.... Pedalar resgata um pouco de nossa adaptabilidade.
O segredo do vestir corretamente para pedalar é, repito, sempre lembrar que com o exercício o corpo vai aquecer. Sair com um pouco menos roupa, sentindo o gostinho do frio, e de preferência com vestimentas que deixem o corpo respirar. Não precisa necessariamente ser tecido técnico ultra sofisticado, hoje fácil de encontrar; basta ter um corte que permita que o suor não fique preso ao corpo, principalmente no que diz respeito a espaço para as axilas ficarem ventiladas. Tem que dissipar o calor, exatamente como um motor qualquer. Ferveu, parou.
Cada corpo tem seu ponto mais sensível e não há uma regra que valha para todos, mas proteger a cabeça e o pescoço, com cachecol ou gorro de lã, ou os dois juntos, fazem milagres num frio mais intenso, com a vantagem que o peito não congela quando o suor esfria. Tem gente que cobre as orelhas ou o nariz e se sente bem. Tem os que não dispensam uma boa luva ou meias quentinhas.
Alguns tecidos aquecem melhor que outros. Lã de lhama, para os que não têm alergia, é muito quente, por exemplo, mesmo sendo tecida com pontos bem abertos. Jeans funciona melhor que vários corta-ventos sofisticados, mas tem a desvantagem do volume para guardar. Estou falando aqui de roupas para quem usa bicicleta como de transporte e não para esporte. Roupa de franga, o apelido dado ao vestimenta clássica de ciclistas, por ser toda ‘grudadinha’ ao corpo deixa a sensação muito sensível a mudanças de temperatura e umidade. A melhor forma de dar comodidade ao corpo é tendo um colchão de ar entre a vestimenta e o corpo. Ou seja, precisa respirar.
No caso do calor o problema é o contrário: evitar que o calor chegue ao seu corpo, o que sobre uma bicicleta é um pouco mais difícil. Não se recomenda ficar despido em calor muito forte, sendo muito melhor estar vestido com roupa leve, o mais clara possível, e muito bem ventilada. Tecidos técnicos ajudam. Cobrir a cabeça de forma a fazer sombra sempre é conveniente, mas se tiver aba deve ser dura ou com o vento há a possibilidade de ela dobrar sobre os olhos e deixa-lo cego, o que definitivamente não é uma sensação segura e agradável.
Por fim chuva. Para começar, se possível, a bicicleta deve ser própria para chuva, com para-lamas e rolamentos selados, e porque não um cobre corrente fechado. E a roupa? Qualquer uma, desde que se use uma capa apropriada para pedalar. Há modelos de blusões com zíper debaixo do braço, ou com uma abertura nas costas que ventila bem, mas você acabará molhado nas pernas. O ideal é usar um modelo de capa em forma de poncho, que cobre desde o guidão até o selim, ou seja, cobre o corpo todo, incluindo a cabeça com capuz. Como é completamente aberta por baixo o ar circula, o que evita transpiração. Não há nada melhor. Alguns modelos vêm com um corte que permite usar mochila sem ficar descoberto nas costas e bunda. Com uma capa destas, mesmo sem para-lamas, basta ir devagar para as rodas não levantar água e você chegar em casa praticamente seco. Mais seco que se estive caminhando com capa e debaixo de guarda-chuva.

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