segunda-feira, 30 de outubro de 2023

O inferno da manutenção no eixo dianteiro

Faz diferença, e muita!, rodar com rolamentos que giram lisinho. Com o tempo o sistema de rolamento vai ficando arranhado, o que é normal, e a troca dos cones, que o primeiro a dar defeito,  costuma resolver. Como dá para saber o estado dos rolamentos? Encosta dedo no eixo e veja se tem vibração; se tiver está na hora de fazer manutenção. 

Sempre fiz a troca dos cones de rolamento do eixo dianteiro em uma hora, uma hora e meia. É um trabalho simples, quase sem segredos. Gasta-se mais tempo para conseguir um bom ajuste que na limpeza do sistema: bacia, esferas, eixo, e a troca do cone em si, e a final checagem do estado de cada uma das esferas de rolamento. Isto foi no passado. Hoje gastei quase 5 horas e me irritei a não poder mais. Por que? Qualidade, ruim, e perda de padronização.
Entendi mais uma vez porque bicicletarias trocam tudo em vez de consertar. E porque as boas bicicletarias se recusam a pegar certos trabalhos de oficina. Com esta falta de padronização o que dá trabalho vai para o lixo ou se perde um tempo absurdo para fazer funcionar. Em outras palavras: a bicicleta mais simples, mais barata que temos hoje, não é tão ambientalmente correta assim. 
Estive com um dos melhores mecânicos do Brasil procurando um eixo completo de qualidade, que não tinha, mas no meio da conversa ele contou que a falta de padronização afeta todas as bicicletas atuais, inclusive as mais caras, como a de triathlon de R$ 80.000,00 que ele estava mexendo naquele momento. "Para que um allen de 2,5 mm? Por que não usar um allen 3.0 mm aqui?" 

Infelizmente eu já estava acostumado com a pequena vibração do eixo dianteiro. Era possível sentir o problema girando a roda no ar e colocando o dedo sobre a ponta do eixo. Confesso que exagerei minha preocupação ambiental, razão para não ter feito a manutenção antes. Tudo tem um limite.

Desmontei o eixo e os arranhões no cone eram visíveis. Não tinha em casa um eixo novo e fui comprar numa bicicletaria de confiança. Nem olhei o que me foi vendido, fui para casa tranquilo.
Limpa tudo, uma sujeira de graxa velha horrorosa. Graxa nova, esferas no lugar, cone e contraporca ajustados numa ponta do eixo, monto tudo e... não tem espaço para fazer o ajuste geral. Os cones que vieram são mais curtos que os originais. A flange do cubo é maior que as convencionais e não dá espaço para entrar a chave 14 no cone. Coloco arruela para tentar resolver e num aperto o eixo espana. Nunca em toda minha vida vi um a rosca de um eixo espanar. Sei quantas roscas espanei pela vida e foram bem poucas. Mais, estou mais velho e com bem menos força nas mãos e braços, portanto dou menos aperto que antigamente, o que faz o eixo espanado mais ridículo ainda. Que merda! 

Busquei nos meus vidros e achei dois cones ainda bons, melhor, usáveis e mais compridos, mas diferentes um do outro, não perfeitos, e terminei o serviço.

Quando estava conversando com o excelente mecânico contei que o eixo tinha espanado. Ele não acreditou. Perguntou se não tinha trocado as bacias também. Não troquei. Fiz o que pude, não o que seria desejável ou ideal. As bacias costumam durar muito mais que os cones, e é praticamente impossível encontrar bacia de cubo mais simples para comprar. Se tiver que trocar as bacias... joga fora tudo, não tem outra saída. Ridículo. Ambientalmente um crime, mas assim é. 

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