segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Porque não usamos bicicletas como as holandesas

O link abaixo abre um artigo sobre a insensatez do tipo de bicicleta de transporte normalmente vendida e usada na América Latina espanhola e também aqui no Brasil, muito centrado nas bicicletas tipo mountain bike e híbridas.
A diferença que tivemos para o resto da América Latina é que durante décadas, dos anos 60 até os 90, o Brasil teve um fenômeno mundial chamado "Barra Circular". Produzida pela Monark, era uma bicicleta de transporte com desenho único no mundo, foi sucesso absoluto de vendas, principalmente entre a população nordestina. Nunca entendi bem este sucesso, por mais lógico que pareça. 
O paralelo entre a Barra Circular e as bicicletas usadas na Holanda é que as duas são símbolos como modo de transporte de massas. É necessário lembrar que o Brasil da Barra Circular tinha inúmeras regiões, cidades e bairros espalhados pelo país com o mesmo índice de uso holandês da bicicleta, principalmente no litoral e interior do nordeste. Infelizmente aqui a bicicleta foi e continua sendo substituída pela moto.
A Barra Circular tem um quadro cheio de curvas e com um círculo para reforço do triângulo dianteiro, o que complica muito a produção industrial e encarece o produto. Nasceu com rodagem européia, com aros 28 (medida inglesa) e pneus (creio) 1 1/2 polegada, o que deixou a bicicleta muito alta, imprópria para a maioria do público, principalmente o do nordeste que tinha então (década de 60) uma população ainda mais baixa do que temos hoje. Logo a Monark trocou a rodagem por 26 1/2 e pneus balão (2.1) que a deixou um pouco mais baixa. O sucesso entre a população de baixa renda foi imediato. Os freios eram sistema varão, de baixa eficiência, mas resistentes; guidão levemente curvado; selim largo, com molas, mas pouco acolchoado; pé de vela sueco; bagageiro de tubos com boa resistência para carregar até mesmo a mulher e filhos. Sem marcha. A maioria diz que era muito resistente, o que é possível pelo menos para a época. A Caloi tentou fazer frente primeiro com a Barra Forte, que também tinha um desenho particular, e depois com uma quase imitação, mas nunca chegou a arranhar a imagem e as vendas da Barra Circular. Bem mais tarde, já no final dos anos 90, alguns fabricantes simplesmente começaram a produzir cópias da Barra Circular, mas sem o mesmo sucesso. 
Demorou muito até que Barra Circular fosse afetada e trocada pelas mountain bike no Brasil. Quando isto aconteceu a Monark praticamente desapareceu e o Brasil ficou sem sua bicicleta símbolo. O interessante é que a partir desta transição o modelo de bicicleta mais vendido no Brasil passou a ser uma mountain bike feminina, a Poti, e suas inúmeras cópias ou mesmo falsificações. 
O fenômeno das bicicletas holandesas, que está aos poucos invadindo o mundo, se deve a sua simplicidade de projeto e fabricação, com um quadro de dois triângulos retos, limpos, o que garante grande resistência e durabilidade. E uma geometria que faz com que o ciclista pedale praticamente em pé, ótima posição para quem está no meio do trânsito. É uma bicicleta mais lenta que mountain bikes e híbridas, o que também é uma qualidade porque o ciclista sua menos. 
A verdade é que as bicicletas holandesas se encaixam perfeitamente na forma de pensamento do europeu e holandês: forma-função, mais simplicidade-eficiência-sustentabilidade. Nós, sulamericanos e principalmente brasileiros, estamos muito longe desta educada sofisticação. Somos presas fáceis do status. 

Link para imagens de Barra Circular:

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