domingo, 10 de março de 2024

Mercado de bicicleta implodiu?

Tenho vários amigos que são donos de bicicletarias. Para eles e para os que me perguntam por que não sou dono de uma, respondo na lata:
- Sou completamente louco, mas não sou dono de bicicletaria. 
A maioria destes amigos repete a minha resposta quando me vê rindo da própria situação. Mercado de bicicleta é um dos negócios mais difíceis que alguém pode se meter. Melhorou muito, é muito mais organizado, profissional, mesmo assim é dificílimo, uma loucura para poucos (sobreviventes).

Eu sabia que o setor de bicicletas está passando por uma fase muito difícil, mas não imaginava que o buraco fosse tão embaixo como diz um artigo da Bike Magazine. 

Ano passado o UBS, um dos maiores bancos do planeta, soltou uma análise sobre o futuro dos transportes no mundo nos próximos 10 anos e para meu espanto (ou não) bicicleta e ônibus aparecem com investimento praticamente zero. 

A aposta e ou a sobrevivência do setor vem sem sendo jogada no lucro das bicicletas caras, de elite. Fiquei embasbacado em Mossoró quando entrei numa bicicletaria de luxo, e mais embasbacado ainda quando me disseram que as vendas pelo interior, leia-se sertão, iam de sol a pino e vento em popa. 
Bicicleta cara, uma moda? Gostaria que não fosse, mas no meio do dinheiro farto tudo é meio fugaz. Se fosse meio fulgaz seria ótimo. Duvido que passe disto.

E as bicicletas populares? Por diversas razões estão sendo substituídas por motos. Acredito que uma das razões vem da baixa qualidade das bicicletas populares, as baratinhas, que quebram, quebram, quebram... Melhoraram muito, mas muito mesmo, com a importação generalizada. Para a população de baixa renda moto é mais prática e acaba saindo mais barato também por diversas razões.

Rentabilidade mais estável vem com venda em massa, em grandes quantidades, e lucro apertado por venda realizada. Mercado de luxo é uma outra história, acaba se afunilando e dando espaço para poucos, bem poucos, que ganham muito enquanto produzem o que brilha nos olhos de quem pode pagar. A questão é que um dia chega uma coisa nova, uma marca diferente, alguém diz que é legal, que é o must, novo objeto de desejo, e todo mundo corre para aquele lado. Quantas bicicletarias chiques você viu abrir e fechar nos últimos anos? Quantas marcas de bicicleta eram o must e foram comidas por uma nova que é a bicicleta de uma equipe que está correndo o Tour de France e que até ontem era completamente desconhecida?

O setor de bicicleta tem um novo aliado para as vendas, que é o colapso das cidades. O automóvel não é mais tão vantajoso assim, dependendo da hora e local é uma maldição. "Viva qualquer coisa que me tire desta lata de sardinhas!" Viva a bicicleta? Pode ser, mas tem também o patinete, a scooter, a bicicleta elétrica (que não é uma bicicleta, mas dizem que é)...

Apostaram pesado no crescimento de vendas das bicicletas normais na pandemia. Sifu! geral, erro de estratégia grosseiro, falta de leitura de história, falta de referência para entender o que estava acontecendo e que iria acontecer. Houve uma explosão das vendas e de usuários durante a pandemia, mas voltamos ao normal, ao que mais ou menos éramos antes da pandemia.

Deve ter aumentado o número de usuários de bicicleta, dizem e acredito, mas principalmente da bicicleta elétrica (que não é uma bicicleta, mas dizem que é). Dá para falar em aumento porque as boas oficinas estão cheias de trabalho, é o que está sustentando tudo. As vendas já sabia que estavam fracas, pelo menos nas bicicletarias. Estive conversando com alguns gerentes da Decathlon e eles estão felizes. Por que? Preço x qualidade x facilidade de pagamento, e a meu ver mais um pequeno detalhe: bom atendimento.  

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