quarta-feira, 25 de junho de 2025

Entrada de veículos, ciclista pedalando na calçada

Antes que tire conclusões precipitadas, por favor, leia até o final.

Vou tentar usar algo como o método de análise de acidentes aplicado na aviação

Ciclista pedalando na calçada colidiu de frente com a lateral de um veículo que estava entrando no estacionamento. O ciclista foi ao chão sem grandes consequências.


Erro: ciclista pedalando na calçada. Calçadas são restritas a pedestres e pessoas com necessidades especiais de mobilidade. Pedalar numa calçada é proibido. Razão: perigoso para pedestres e aumenta a possibilidade do ciclista sofrer de acidente. O ângulo de visão do ciclista fica muito prejudicado, o que diminui muito o seu tempo de reação. Uma pessoa ou veículo saindo de uma propriedade só vai estar visível quando não houver mais tempo de reação. E o ângulo de visão dos condutores de veículos é limitado nestas saídas de propriedade. Mesmo quando vem pela rua a sua visão do que acontece na calçada é prejudicada porque seu foco é a via e ou trânsito que está a frente, e por obstáculos normais de uma calçada, postes, árvores, vegetação, carros estacionados, outros.

Segundo erro: o ângulo de acesso do veículo para o estacionamento neste caso permite uma velocidade mais alta que o recomendável quando ele atinge a calçada.

Fato: o motorista disse que tinha olhado para ver se tinha pedestre na calçada.
Fato: o ciclista estava muito lento, algo em torno de 10 km/h
Fato: a colisão do ciclista foi frontal e se deu na roda dianteira direita do automóvel
Fato: o ciclista estava distraído com luzes a frente
Fato: a bicicleta não sofreu danos, portanto o impacto foi leve devido à sua baixa velocidade
Fato: o ciclista não sofreu qualquer ferimento ou lesão que o impedisse de seguir pedalando, portanto seu impacto na lataria do carro foi leve também
Fato: estava escuro, o ciclista vestia sueter preto, que por si diminui muito a capacidade de visualização do motorista. O ciclista estava passando por um muro de vegetação, o que diminui o contraste de seu casaco preto contra a folhagem verde. 
Fato: foi possível ver que o automóvel não teve amassados

Responsabilidades

A lei é clara. A responsabilidade da ocorrência é do ciclista porque bicicleta perante a lei bicicleta é um veículo e deve ser conduzida na via, sendo proibida sua circulação nas calçadas, exceto quando devidamente sinalizado.

Podesse dizer que o motorista foi imprudente. Sua alegação que tinha olhado para ver se tinha pedestre é difícil de sustentar pela altura do ciclista, 1,85 m.. Sentado numa bicicleta faz o ciclista um pouco mais alto que os 1,85 m.. Não havia obstáculos que impedisse a visualização do dorso e cabeça do ciclista pelo motorista, mas o ciclista vestia cor escura e estava contra uma vegetação que a noite também fica escura, ou, o ciclista era difícil de ser notado. 

ciclista trafegava em baixa velocidade, aproximadamente 10 km/h, quase de um pedestre caminhando com rapidez. Um corredor a pé estaria mais rápido.

A colisão do ciclista foi na frente do automóvel, na altura da roda dianteira, o que aponta para a posição dos dois antes da colisão enquanto rodavam em paralelo. Aponta também para que o automóvel vinha de trás da posição do ciclista. 
O automóvel vinha junto com o trânsito numa velocidade aproximada de 30 km/h. Houve frenagem antes da entrada do estacionamento, mais o fazer a curva para a direita e o alcançar a calçada. Resta a dúvida se o motorista estava com sua atenção na calçada e possíveis pedestres circulando, o que seria sua obrigação legal.
Podesse afirmar que houve imperícia por parte do motorista.

O acidente foi comigo. Viajei na maionese, estava muito tranquilo e me distrai com as luzes acesas de uma casa que nunca vi iluminada. E bum! Ouvi uma barulheira, senti um tranco e cai no chão.
Se não me falha a memória a lei, o CTB, diz que durante condução se deve manter a atenção no trânsito, ou qualquer coisa do gênero. Dois a zero, a responsabilidade é minha.
Estou bem, mas um pouco dolorido. Foi uma boa lição. Mais importante, a bicicleta está inteira.

O motorista parou, desceu do carro e veio ver como eu estava, pedindo desculpas. 
Imediatamente assumi a responsabilidade, o que ele não entendeu bem, mas ficou aliviado.

sexta-feira, 20 de junho de 2025

Falta de cultura é pouco

No início dos anos 90, em homenagem a Ferrari, a tradicional marca de bicicletas de competição Colnago fez uma edição especial muito limitada, a da Colnago Ferrari. Na época foi vendida para um seleto grupo de ciclistas e colecionadores pela bagatela de US$ 12.500,00, então uma pequena fortuna. 
A Colnago Ferrari é uma Colnago C60 melhorada. A saber, a C60 foi a única bicicleta testada por uma das mais importantes e respeitadas revistas internacionais de ciclismo, que no final do texto, nas qualidades e defeitos recebeu um comentário impressionante: "sem defeitos". Reli para ver se tinha entendido e, sim, estava lá, "sem defeitos". Em décadas de leitura nunca havia lido algo próximo.

Um brasileiro comprou uma, que foi enviada para o mais respeitado mecânico, Daniel Aliperti. Caixa ainda fechada na bicicletaria, todos admirando, e mesmo antes que fosse aberta chegou um telegrama.
- Tenho informação que a Colnago Ferrari está com vocês. Pago US$ 25.000,00, mais todos transportes e impostos.

A bicicleta continuou no Brasil, uma jóia raríssima, muito mais que uma bicicleta cara, mas um símbolo do que melhor existia no mundo da bicicleta e tecnologia daquela época. É um marco histórico a ser respeitado.

Semana passada ouço de um mecânico que ele instalou um motor elétrico exatamente nesta bicicleta. Quase caí de costas. O dono não faz a mais remota ideia do que aquela obra de arte significa, não tem nem cultura ciclística,, aliás provavelmente nem cultura geral, e muito menos noção do que é História, com H maiúsculo. 
Motor elétrico numa bicicleta destas é um, não, vários disparates. Simplesmente aponta, sem o menor erro, para o baixíssimo nível cultural que temos o Brasil. 

segunda-feira, 16 de junho de 2025

Tampas de bueiro afundadas e outros buracos

SP Reclama
O Estado de São Paulo

Ontem por muito pouco não sofro um acidente grave enquanto pedalava. Peguei pedalando uma, não, duas seguidas malditas tampas de bueiro afundadas daquelas que estão por toda a cidade. Bel, num buraco destes partiu em dois a suspensão dianteira de seu carro. Não precisa de estatística para saber que muitos caem nestas tampas de bueiro afundadas, basta ficar parado próximo para ouvir o barulho das seguidas rodas batendo. De qualquer forma seria de utilidade pública se houvesse dados estatísticos sobre este tipo de ocorrência, o que aposto que não há. Reasfaltaram e deixaram a tampa afundada ou o concreto cedeu? Sou cidadão e não me interessa de quem é a responsabilidade, quero o problema definitivamente sanado. Concreto novo colapsando é coisa trivial, como é trivial que ninguém investigue o porque concretou na coisa pública, quebrou logo em seguida, é óbvio, nós que paguemos. É extremamente fácil provar que o concreto usado é inapropriado ou o serviço é mal feito. Só bueiros afundados? Quantas são as esquinas que foram repetidas vezes reconcretadas? Uma que mais uma vez está uma vergonha é a esquina da rua Augusta com Oscar Freire. Se eu começar a escrever os locais que me lembro de bate pronto onde o concreto rapidinho quebrou não paro mais. Não me interessa qual seja a razão, me interessa que se pare de gastar estupidamente dinheiro público numa obra mal feita, num problema que não se sana. Corredor de ônibus esburacado aos montes. Os remendos nas pontes..., consertos em calçadas guias rebaixadas, escadas... Concreta, cimenta, quebra, concreta, cimenta, quebra... Finalmente: quem vai ter interesse, ou coragem, para investigar porque o concreto usado em obras públicas quebra ou esfarela com tanta facilidade?


Quem vai ter interesse em descobrir o número de ocorrências graves, acidentes e incidentes que foram causados por buracos e tampas de bueiro afundadas ou inexistentes que pipocam por toda cidade? Se até hoje não se investigou e trouxe a público a verdade sobre o escárnio dos roubos de fio de cobre, que é um setor muito menor e mais fechado, o que tudo indica é que falta interesse e ou
 coragem para descobrir o que vem acontecendo com esta indústria do cimento. Relatar a ocorrência não basta, urge ir atrás dos fatos. Óbvio que alguém está ganhando muito com isto. Saber quem deveria ser o objetivo, mas saber porque o silêncio talvez seja muito mais útil. 


Não cheguei a cair da bicicleta no meio do trânsito por pura sorte, mas bati o saco no tubo superior, consegui frear a bicicleta antes de ir para o chão e a gentil senhora que estava atrás parou a tempo. Aliás, agradeço aos que viram a ocorrência e assustados pararam para perguntar como eu estava. Meu tenis foi para o lixo, eu que me vire para pagar, assim como acontece com todos nós, cidadãos. O prejuizo sempre é nosso.

sexta-feira, 13 de junho de 2025

Calçadas - texto não ainda terminado

Pedestre / Calçada
  • que tipo de via?
    • conurbada 
    • estrada
    • expressa
    • avenida
    • corredor de ônibus
    • ruas 
      • principais
      • secundárias
    • vielas
    • interno de bairros
    • rampas para pedestres
    • escadarias 
    • passarelas
    • pontes
    • pinguelas
    • oficiais 
    • privadas de uso público
    • não oficiais
  • largura
  • inclinação
  • curvatura da via e águas
  • tipo de piso
  • iluminação
  • vegetação
  • problemas sazonais 
Implicações legais em cada tipo e forma de via.  

Pontes
  • cruzamento nas alças
    • semaforização
    • posição faixa de pedestre
    • visibilidade da sinalização para pedestres
    • visibilidade da sinalização para condutores - importantíssima 
    • tempo de reação
  • cabeceiras
  • piso modular móvel - solto quando há cabos ou encanamento
  • escadas e degraus
  •     desrespeito ao padrão
  • largura da passagem
  •     uso por ciclistas
  •     espaço para caminhar
  • ferrugem
  •     pintura solta
  •     falta de limpeza 
  • pontas expostas 
Passarelas
  • cruzamentos possíveis próximos - indução a cruzar sem subir
  • distancia e tempo total do cruzamento a pé 
  • caminho obrigatório para ciclistas
  • caminho opcional facilitador para motociclistas
  • cabeceiras 
  • assaltos no meio da passarela 
Leis e normas técnicas sobre construção e manutenção
  • qual a atualidade?
  • qual a realidade em relação ao que se tem hoje na construção?
  • quem fiscaliza?
  • qual o gatilho para fiscalizar?
  • quais os critérios de aprovação ou não?
  • regras e normas de limpeza 
  • critérios para aplicação de multa
  • caso Heymeyer
Acidentes e ocorrências
  • banco de dados
    • quem cruza os dados?
    • como são cruzados? critérios? 
    • politização?
    • capacidade técnica?
    • responsabilidade técnica
  • uso de dados para correção
Ocorrência

SAMU     

  • forma de registro
  • atendimento - qual a obrigação legal e quais limites? 

Perícia 
  • quantas perícias em ocorrências fatais causadas por calçadas?
  • existência de perícia
  • qualidade da perícia
    • tempo de periciamento
    • preservação local e de dados
  • corporativismo?
  • possibilidade de acionar perícia fora do poder público?
PA

  • forma de registro
  • colaboração com formação de banco de dados
  • permissão e limites de entrada e acesso de perícia ao atendido

fato consumado - dano ao bem público

  • quantos danos ao bem público foram ressarcidos pelos causadores?
  • quem paga?
  • como paga?
  • quem controla?
  • quanto recaiu sobre os cofres públicos?
  • o que fala a lei? 
  • quantos foram punidos desta e ou de outra forma?
  • responsabilidade técnica - de volta a perícia

 Qualidade da calçada

  • tempo de garantia de obra pública
  • forma de garantia e controle sobre obra em espaço privado de uso público
  • tipo de piso
  • uniformidade
  • desníveis ou irregularidades de obra aceitos
  • como está na lei? Lei é uma coisa, realidade é outra 
  • uniformização estética e funcional
  • carga que sofre - passagem de automóveis, vans, ônibus e caminhões, por exemplo
  • calçada loca X calçadas do entorno 
exemplo Pinheiros 
  • calçadas reconstruídas dentro da Operação Faria Lima - Pinheiros
  • reconstrução de algumas ruas e avenidas desnivelou as calçadas
    • pior exemplo - entre Largos de Pinheiros e da Batata 
    • problema para a continuidade do olhar entre as duas praças
    • num sentido pedestre tem perda de visão do trânsito da avenida 
    • cruzamento com escadinha onde era plano
Vias e estradas conurbadas
  • distância entre passarelas ou cruzamentos de pedestres
  • cruzamento de pedestres através de barreiras fixas - sinalizadas, mas
  • piso começou a soltar pouco tempo depois
Meio ambiente 
  • sombra
  • umidade
  • nivel de ruido
  • agradabilidade ambiental
  • impacto visual de área construída
  • qualidade do piso na sensação do pedestre
  • arborização
  • paisagismo
  • locais de convívio / descanso
    • por que foram feitos tantos erros? porque tanto desperdício?
    • calçadas em zig-zag?
    • bancos que ninguém senta?
    • equipamento urbano inútil?
  • iluminação
Postes e fiação aérea
  • postes nas esquinas - por que tantos?
  • postes nas calçadas 
    • limita a visão do pedestre, principalmente ao cruzar a rua
    • segurança no trânsito
    • tempo de reação pedestres e motoristas
Pedestres e sistema cicloviário
  • projetos cicloviários tem que ser pensados tendo o pedestre como prioritário
  • a circulação do ciclista tem que estar a serviço de pedestres e pessoas com mobilidade especial
  • Por que pedestres querem caminhar nas ciclovias? 


segunda-feira, 2 de junho de 2025

Por que as propostas de redução da violência no trânsito não dão certo?

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Autoridades? Quem? Comecemos por aí. O primeiro passo para pararmos o banho de sangue nosso de cada dia é ter alguém que seja autoridade respeitável, mas aí dancemos!
Autoridades temos, e que merecem respeito, também, mas com a desconstrução que vivemos tendo por tantos anos não é mais discernível saber quem é o que ou o que é quem.

A questão passou há muito do como diminuir a violência para como frear a selvageria disseminada entre a população, selvageria que começa em pequenas faltas de educação básica, cidadania, e termina (será que termina?) no tiro no peito dado a troco de banana por um vira bosta, não muito diferente de um pelotão de fuzilamento de revolucionários de uma república da banania. 
Quem realmente sabe para que serve a autoridade? Não a ideológica, a funcional.

Diminuir a violência? Qual delas? Como se faz para que não joguem lixo nas ruas, ou lhe respondam o bom dia que foi desejado com sinceridade? Ou que a vendedora largue o celular e venha lhe atender, que é sua obrigação de trabalho?
Como ciclista recomendo que não peça que o outro dê passagem, até quando ele simplesmente decide parar e fechar a ciclovia para digitar o celular. Não ouse pedir que abaixe a luz piscante que cega apontada para seus olhos, e que ele acredita piamente que o faz mais seguro. Nem sequer ofereça ajuda para consertar o furo da câmara, o que pode ofender os brios do ou da ciclista. 
Gentileza gera gentileza, mas o que fazer quando a gentileza caiu fora da moda?  
 
Diminuir a violência no trânsito? Com velhas soluções? Educação, respeito, não corra, não mate, não morra? Quem se importa? Quem tem autoridade para falar tais coisas? 

Especialistas listam ações para reduzir acidentes com motos, título de matéria no Mobilidade, especial Maio Amarelo, O Estado de São Paulo, 28 de maio de 2025.
1. Formação; 2. Ficalização; 3. Conscientização; 4. Manutenção; 5. Treinamento; 6. Tecnologia; 7. Vias mais seguras, são os tópicos. E numa pequena caixa, "Vias inseguras para pilotos. Sinalização escorregadia, valetas, buracos, entre outros problemas, são verdadeiras armadilhas", diz, aliás, define porque não a situação vai mudar, ou mudará sabesse lá quando. Falar sobre formação, fiscalização, conscientização, manutenção, treinamento em 2025? A quantos anos se recita exatamente a mesma ladainha? Mudou algo? Estão falando para quem, para quem lê jornal? Pior, para os poucos que lêem e entendem o que estão lendo?

Não temos autoridades, este é o problema. Sem um poder público que tenha um mínimo de credibilidade não sairemos desta. Os 'mortoboys' que o digam.

Temos que cair na real e fazer o que tem que ser feito, que não é necessariamente o que diz a lógica. Isto aqui é uma guerra, e guerras são vencidas não com o bonitinho, mas com o uso da inteligência para vencer uma batalha por vez. De novo, o que nos falta é comandantes e mais ainda, inteligência.  

A tensão de pedalar numa ciclovia.

Só porque é ciclista é bonzinho? Tem gente que acha que sim, que bicicleta santifica. Eu tenho certeza que não é assim. Só porque está numa ciclovia junto com ciclistas você está seguro. Tem gente que pensa assim, eu definitivamente não. 

Somos todos humanos. E somos todos usuários de automóveis ou motoristas. E como ciclistas acabamos tendo os mesmos vícios de usuários de automóveis ou motos. 
Os vícios criados pelo uso do automóvel é secular, portanto está empreguinado na sociedade, principalmente na forma que nos movemos no urbano. Importante diferenciar a condução e o uso correto do impróprio, perigoso e pouco civilizado. O problema não é o automóvel, mas quem o conduz. O comportamento de boa parte dos que pedalam nas ciclovias que o digam. São poucos os que pegam o mais belo que a bicicleta oferece: paz e tranquilidade.

Quando temos em mãos um instrumento para extravasar, todos nós, sem exceção, colocamos para fora o que de mais profundo temos, o nosso mais puro caracter, com suas qualidades e mazelas. Acontece isto quando estamos dirigindo, quando estamos pedalando, ou em qualquer modo de transporte.  Aí vem a tona o que temos de mais íntimo e o como lidamos com o mundo onde se vive.

Hoje, ciclovias 'estão' um espaço para ex usuários automóveis e motocicletas. Mesmo quem nunca tenha conduzido um veículo motorizado foi com certeza levado para lá e para cá como passageiro num carro, moto, ou ônibus. Este foi o aprendizado sobre comportamento social no uso de um veículo, qualquer, o que se reflete na forma como pedalam.

A quantidade de cidadãos (?) que pedalam bicicletas elétricas (bicicletas?) de forma, eu diria, pouco civilizada é uma barbaridade. Deduzo eu que o sonho deste pessoal seria estar na ciclovia com uma Harley Davison Fat Boy escapamento aberto acelerando fundo para tirar qualquer ciclista da frente. Motos em ciclovias não acontece, é raro, mas é inegável que muitas bicicletas (?) elétricas estão mais para scooter, o que quando claramente não o são. Pedais? Onde estão? 
Pseudo scooters ou ditas bicicletas elétricas, da forma como seus proprietários se comportam não nega o que pensam: "Que coisa chata! Este pessoal não tem dinheiro para comprar uma elétrica, por que não voltam para casa?" E para estes "cidadãos" (que acham que se comportam tão bem nas ciclovias com suas elétricas) em suas noitadas e viagens de fim de semana, uma bela SUV das grandes, altas, imponentes! "Que delícia! Finalmente livre daqueles imbecis que pedalam na ciclovia".

Ciclista de pouco ou baixo senso de cidadania não é uma novidade, nem coisa de Brasil, se bem que em se falando de Brasil é coisa bem brasileira, bem peculiar, especial, muito mais sofisticada. Os números não mentem.

Vamos lá.

A primeira experiência assustadora com ciclistas agressivos numa ciclovia foi em Munique no fim da tarde, hora do rush de volta do trabalho para casa. 2005. Ainda não existiam as ditas bicicletas elétricas. A agressividade daquele povo ao abrir o semáforo me assustou. Nem em largada de prova de final de campeonato de mountain bike experimentei tal sufoco. No resto do dia as ciclovias de Munique são um sonho de tranquilidade.

Pedalar no centro de Amsterdam é complicado por causa dos turistas. Muitos não fazem ideia do que seja pedalar uma bicicleta, muito menos como se comportar numa ciclovia ou mesmo numa rua. O povo de Amsterdam não aguenta mais. A última vez que estive lá tinham liberado os scooters pequenos, com motor até 50CC. Achei estranho, não gostei muito, mas como os holandeses são muito educados, civilizados, com um senso coletivo claro, fora o barulho e o cheirinho ruim, pedalar junto com as scooters não foi um problema. Hoje, com a entrada das elétricas, que incluem scooters ditos a pedal, a coisa mudou. Tenho lido que querem fazer algo para parar a bagunça que virou.

Sensação de segurança passa pelo nível de civilidade de cada população. Aí está nosso problema. Como sempre, fácil provar a nossa triste baixa civilidade: olhem o lixo espalhado no chão de nossas cidades e tirem  suas conclusões. Está mais que provado, leiam, não resta dúvida que nosso comportamento no trânsito é selvagem. Somos um dos países com trânsito mais violento do planeta dito civilizado. Por que seria diferente com os ciclistas?

Este texto veio porque estou tendo que subir a av. Hélio Pelegrino no horário que o pessoal está indo para trabalhar. Deixei de usar aquela ciclovia porque não aguento mais a agressividade principalmente dos usuários das elétricas e afins. Eles são chiquérrimos, só vendo. A possibilidade de sofrer um acidente ali é muito maior que a de ser atropelado por um carro. Afirmo com todas letras que os motoristas são muito mais civilizados, muito menos agressivos, tem uma condução muito mais correta, que os elétricos. 

domingo, 25 de maio de 2025

Emenda da câmara de ar vazando

Pneu furado. Para o passeio. Entro no boteco, peço um suco, desmonto o pneu, pego a câmara, bombeio até ficar cheia. Passo a mão pela câmera e não consigo sentir onde está o furo, mas está vazando bem devagarinho. Encho mais ainda, encosto a câmara na bochecha, que é muito sensível, vou passando e finalmente encontro o microfuro. Na emenda. Estico a câmara com as mãos e o buraco aumenta um pouco. Paro ou não vai dar para remendar. Remendo feito seguimos em frente sem problema.

Furo em emenda da câmara acontece. Ruptura também, não é comum, mas acontece, principalmente em câmaras velhas, como era o caso. Devia ter uns pelo menos uns 20 anos. De marca européia, portanto boa. Quanto durou e ainda vai durar depende de uma série fatores. Não importa, tempo de vida é tempo de vida, tudo termina.

Por sorte, naquele domingo quente, e naquele bairro distante, tivemos a sorte de passar por dois senhores já bem altos, música alta e cerveja na mão. Olhei e vi que era uma bicicletaria bem pobrinha cheia de câmaras remendadas penduradas. Por muita sorte saímos com uma câmara nova, que foi instalada na primeira parada mais longa do passeio. Aí a dona da bicicleta me contou que já tinha trocado a câmara da roda da frente. Deveria ter trocado as duas. E guardado as velhas para estepe, para conseguir voltar para casa.

Quantos anos têm suas câmaras? Em que estado elas estão? Quando foi a última vez que as revisou? Só quando furam? Não vale a pena. Com um pouco de paciência você sairá de casa muito mais tranquilo. Revise.


A saber, todas câmaras de ar têm emendas na diagonal para juntar as duas pontas. Se não tiver é porque o tubo foi extrudado. Várias têm emenda longitudinal, ou seja, são fabricadas a partir de uma tira de borracha, látex ou outro material. Primeiro são juntados, normalmente fundidos, os dois lados para formar um tubo, depois cortada na medida desejada e finalmente juntadas as duas pontas. O bico? Não sei ao certo, mas imagino que seja colocado ainda quando é uma tira.

segunda-feira, 12 de maio de 2025

Onde você coloca seu olhar?

Subiu na bicicleta e colocou seu olhar para baixo, no chão. Esquece, não vai se equilibrar ou pedalar com facilidade. Este é um erro clássico entre os aprendizes de ciclista, mas não só deles. Entre os que pedalam mais sério no mountain bike, colocou o olhar numa árvore, "chupa!" (como minha geração dizia), líquido e certo você vai bater na árvore.
Sim, há uma forma correta de olhar, principalmente quando se trata da segurança no trânsito ou mesmo do simples pedalar.

Tive bem poucos acidentes pedalando e praticamente todos foram causados por mulheres bonitas. Não, não foram elas que causaram os acidentes, mas porque fiquei olhando e acabei batendo num poste, numa árvore, caindo num buraco ou acertando a lateral de um carro, dentre outras situações tensas que já passei. 

Outro dia estava pedalando no meio do trânsito e tirei por um segundo o olhar de onde devia estar, do carro da frente. Felizmente tive tempo para desviar da traseira que cresceu rápida. Correu um gelado pelo corpo, uma fração de segundo a mais e cabummmm.

Um dos problemas com quem se distrai prendendo o olhar num ponto fixo, e isto inclui celular, é que quando o olhar volta para o que realmente interessa, o cérebro demora para ler e entender a situação que está a frente. O número de acidentes que tem por causa isto é muito alto. No caso do uso do celular há alguns agravantes, o mais complexo é tempo de retorno à realidade depois que o olho sai do celular. Segundo pesquisas científicas, o retorno completo à realidade só se dá uns 23 segundos após o olho deixar a telinha. 
No meu caso, o vício de olhar para mulheres interessantes, depois que tirei o olho delas e voltei o olhar para a rua, o pensamento ainda fica na beleza delas por um pequeno tempo, ou seja, estou olhando para frente e não estou vendo ou entendendo o que está a frente. 

Num cálculo simples: a cada 1 segundo desatento um ciclista de rua, destes bem calmos, que pedalam a uma média de 15 km/h, a bicicleta roda 5 metros. Parece pouco, mas definitivamente não é. E não estou falando sobre a perda de direção que pode ocorrer nesta desatenção. Pelo que li, a 15 km/h uma bicicleta demora entre 10 e 15 metros para parar. Ou seja, 1 segundo de distração = 5 metros corridos, mais 10 metros para parar = 15 metros para evitar um acidente, e neste cálculo não está o fator tempo de reação, que são mais uns tantos metros.

Esportistas profissionais conseguem manter a atenção completa por um bom tempo, mas não todo tempo. Entre os mortais, eu afirmo, ninguém consegue ser perfeito o tempo todo, muito pelo contrário. Nós voamos no piloto automático com um inconsciene ligado no olho sempre pronto para reagir. Se não estiver olhando, nem o piloto automático vai funcionar.

A forma correta é olhar para onde é necessário de preferência usando a visão periférica. Trânsito, ir, pedalar, ou qualquer condução de veículo, não é exatamente uma linha reta, mas um processo dinâmico porque tudo em volta está se movimentando.

O correto mesmo é tentar relaxar quando se está no meio do trânsito. Esta é uma verdade provada e comprovada pela ciência, divulgada em relatórios e em artigos científicos publicados nas mais respeitadas revistas especializadas do planeta. Relaxado o cérebro vai automaticamente escolher o que é importante ou não para a segurança. Relaxado se enxerga muito melhor.

Não é só no meio do trânsito, mas ficar relaxado faz muita diferença em tudo. Fechou a cabeça num único pensamento sempre é problema. Há uma diferença enorme entre ficar ou estar concentrado e ficar ou estar bitolado, ou seja, com foco fixo.

Abrir o olhar demanda um certo treino, sempre demandou. A proxima vez que for para as ruas deixe seu olhar leve, quando possível treine sua visão periférica. Sua vida ficará muito mais agradável e segura.




Um dos  

segunda-feira, 5 de maio de 2025

Bondes, VLTs ou ônibus elétricos? Bicicletas?

Transporte de massa ou transporte ativo individual, leia-se bicicletas, patinetes e afins? O correto, o eficiente, é tudo junto, cada um com suas qualidades e em seu lugar, incluindo automóveis. Não é uma equação fácil de ser resolvida, mas o resultado tem que ser "qualidade de vida para todos e para o meio ambiente da cidade". Aí não dá para descartar nada. 

No fim das contas é sobre o uso de espaços de uso público, o que é o caso das vielas, ruas, avenidas, vias expressas, por onde a vida passa. Via expressa? Sim, uma linha de trem no fim das contas é uma via expressa. E por razões de contexto histórico e econômicas, as vias expressas para automóveis, o que inclui caminhões e ônibus, tem que existir, talvez, melhor, com certeza, não como são hoje.

Sobre que escala estou falando? Numa cidade como São Paulo a escala é uma loucura, quilométrica, dezenas de quilômetros, distâncias enormes, deslocamentos massivos... Pensar só em bicicletas ou patinetes é não olhar para a realidade. Transporte ativo é para distâncias curtas, quando muito médias. Eu sei, daqui até meu médico são 20 km e vou pedalando, o que acaba sendo mais rápido inclusive do que em automóvel, dependendo da hora e dia. Mas, ir tão longe, não é esta a função da bicicleta no contexto de uma cidade, ou pelo menos não deveria ser. Minha média de velocidade pedalando é de 15 km/h. Um automóvel deveria ter uma média de velocidade maior, mas, de novo, dependendo do dia e horário não tem, e aí está o erro, ou os erros, muitos erros.
 
Para distâncias maiores deveria entrar o metro ou bonde. Metro é mais rápido, com paradas bem mais espaçadas. Bonde atende as localidades com suas paradas mais curtas, mais ou menos as de um ônibus. A diferença é que está mais que provado que ônibus, mesmo os elétricos, criam problemas ambientais urbanos, o que não é o caso dos bondes ou VLTs. 

O transporte de massa mais barato e rápido de se implantar é o ônibus, mas por onde passa degrada, está aí para quem quiser ver. E seus custos de operação, diretos e indiretos, são altos. Ou seja, o barato sai caro, e como.

Metro é caro e demorado, mas sua eficiência é mais que comprovada, em praticamente todos sentidos.
É necessário diferenciar o custo inicial do operacional e suas consequências na vida dos cidadãos. Metro é um ótimo negócio, mesmo que aqui no Brasil demore e custe normalmente bem mais que o previsto e desejado.


Bonde, ou VLT, é um sistema bem menos caro que o metro, com certeza, mas bem muito caro e complexo que implantar ônibus. É transporte limpo, carrega menos passageiros que o metro, bem mais que ônibus, e é 
ambientalmente correto em vários sentidos. O grande problema é o tempo e os transtornos durante sua implantação. Depois só vantagens. 

Bonde, minha paixão, virou VLT, ou veículo leve sobre trilhos, e que são muito maiores que os velhos bondes, usam uma linha fixa, trilhos, para se movimentar. Ônibus consegue desviar. Por que os bondes desapareceram em São Paulo? Fácil, por uma ironia do destino caminhões e ônibus sempre quebravam em cima dos trilhos. Uai? Como assim? Mas por que? A cidade tinha bonde para tudo quanto era canto, e como num passe de mágica, ou de "quebra tudo exatamente sobre os trilhos", a cidade passou a ter ônibus para tudo quanto é canto. Aviso, o fenômeno não aconteceu só nestas paragens, mas em outras partes também. Maldita indústria automobilística? Eu afirmo: maldita mediocridade de toda sociedade. 

Vá a Milão, Itália, e circule nos mesmos modelos de bondes que tínhamos aqui na década de 60. Funcionam maravilhosamente bem. Pergunte se por que não foram desativados lá.

"Que inveja de Amsterdam! Bicicleta para tudo quanto é lado, uma delícia pedalar!" É mesmo? Quem fala fala como turista e não se lembra da escala urbana. Amsterdam é pequena se comparada a boa parte de nossas capitais e cidades mais importantes. Sim, o índice de uso da bicicleta é bem alto, mas a cidade não funciona por causa da bicicleta. Funciona porque tudo funciona, a bicicleta, os bondes, a qualidade para caminhar, o controle de fluxo, o projeto urbano... Tudo está e é racionalizado, bem pensado, funcionando com deve, não como alguns acham que deve. 

Qual a solução para nossas loucuras? A primeira é ter um planejamento honesto e de qualidade para curto, médio e longo prazo que levasse em consideração as necessidades específicas de cada local somada a do geral, aproveitando o potencial de cada uma das mobilidades e modos de transporte. Mudar tudo de governo administração para administração definitivamente não funciona. Apostar pesado num modo de transporte em detrimento dos outros também não. Atender a vontades e desejos específicos e particulares muito menos.
E, principalmente, que o povo aprenda que reclamar pouco adianta. Tem que saber o que está falando, trocar ideias e fazer força para que aconteça. 

Semáforos inteligentes só é novidade aqui


A primeira vez que fui para Buenos Aires foi em 1966 e as avenidas já estavam com semáforos sequenciais fazia décadas. Aqui é motivo de materia como se fosse novidade.

Em qualquer cidade civilizada o sistema semáforico é de fato inteligente, ou seja, lê não só o fluxo da avenida em si, mas de todo entorno e de todos fluxos. A diferença de qualidade para a cidade em relação a um sistema sequencial é imensa.

De novo e sempre: não muda porque não nos interessamos. Quem quer vai atrás.

sexta-feira, 18 de abril de 2025

Melhoras nas esquinas ajudam pedestres e ciclistas


A esquina da rua Estados Unidos com Canadá, no Jardim América está em obras para receber o que eu pensei ser um acalmamento de trânsito. Pelo sim ou pelo não, é e não é. A função da obra é aumentar a drenagem do solo e com isto parar os alagamentos que lá ocorrem sempre depois de qualquer chuva mais forte, um pequeno espaço verde conhecido como jardim de chuva. Com ele a distância entre as calçadas vai diminuir na esquina. A mudança da geometria da rua aumenta o ângulo de curva força os carros dobrarem bem mais devagar. Jardim de chuva vai de encontro com a técnica de trânsito básica para reduzir velocidade aplicada em todas as cidades civilizadas e que tem efeitos mais que comprovados para a segurança de todos cidadãos, principalmente pedestres e ciclistas.

Exemplos já existem espalhados pela cidade, alguns criados por puro acaso. Não muito longe dali, nas ruas Pamplona e Veneza, as esquinas foram estreitadas faz muito tempo, décadas. mas por outra razão: eram os pontos finais dos bondes, onde eles faziam a volta para retornar ao Centro. O diâmetro destas esquinas era grande, foi reduzido para uma esquina comum, transformando o local em pequenas praças. Bondes foram extintos, o que foi um crime contra a vida na cidade, mas isto é um outra história. 

Se por um lado a cidade tem urgência de aumentar sua drenagem, por outro também urge reduzir drasticamente o número de mortes no trânsito, em especial o de pedestres. Estas esquinas e ruas que estão recebendo jardins de chuva que estreitam a via são muito mais que bem vindas. 
Seria de grande valia, para não dizer inteligência, que o movimento da bicicleta mudasse seu discurso muito centrado em ciclovias e ciclofaixas e passasse a pressionar por esquinas com acalmamento de trânsito e drenagem. Não vivem falando que se deve diminuir a velocidade do trânsito? Então, aproveitem a oportunidade.

Estão fazendo esta melhoria nesta esquina de bairro chique por onde passam não muitos pedestres, mas de novo, o ponto de interesse não são os pedestres, mas o fluxo de veículos. Alameda Casa Branca e sua sequência, rua Canadá, são vias alternativas e auxiliares à av. Nove de Julho e não podem alagar ou vira um caos pior do que já é a seco. O cruzamento para os pedestres ficou melhor, mas ainda não tem a qualidade que se dá em cidades civilizadas. De novo, o número de pedestres não é grande, nem na hora de pico, mesmo assim poderiam pintar as faixas de pedestres que faltam.
Acalmamento de trânsito e jardins de chuva deveriam estar sendo aplicados por toda cidade, principalmente em cruzamentos críticos para pedestres. Como sempre a pergunta: qual é o critério adotado? De qualquer forma, que seja o primeiro de uma pandemia de acalmamentos, ou jardins de chuva, espalhados pela cidade. Pode ser no meio do quarteirão, o que vem acontecendo.
Volto ao que eu propuz como projeto cicloviário para a cidade, ao que depois eu e meu grupo, mais profissionalizado, propôs. Como primeiro passo pensar na introdução de um sistema cicloviário que beneficiasse todos, que fosse o menos segregativo possível. Ciclovia e ciclofaixa como última alternativa, onde realmente é necessário. Eu não gosto muito de ciclovia de canteiro central porque acaba impermeabilizando mais ainda a cidade. Nas demais vias, principalmente dentro de bairros, acalmamento de trânsito ou trânsito compartilhado, o que naturalmente educaria motoristas a conviver primeiro com ciclistas e por conseguinte entender e respeitar os pedestres. Segundo passo estabelecer critérios de implantação. Dinheiro público não nasce em árvore. Ciclovias e ciclofaixas custam. Terceiro passo, um passo por vez, nada de quanto mais melhor, tudo conversado e discutido com as populações locais. Quarto, o máximo de "de acordo" possível entre todas as partes. "Vocês têm que engolir" não me parece uma boa política. "Eu estou certo e você errado" também não. Fato inequívoco, temos que melhorar e muito drenagem de nossas cidades. Jardim de chuva implantado com inteligência pode resolver dois problemas numa tacada só.

terça-feira, 25 de março de 2025

Bicicleta salvou minha vida

Bicicleta salvou minha vida, esta é uma afirmação que li e ouvi inúmeras vezes, de diversas pessoas, e que em vários sentidos está correto, condiz com a verdade, não tem nada de piegas. No geral, no dito popular, se refere aos benefícios, que numa visão mais racional, são uma mistura de melhora geral de qualidade na vida pessoal. 

Tive três pré comas glicemicas antes de se descobrir que minha curva glicemia não era exatamente uma curva, mas um zigue-zague. Durval Rosa Borges, respeitado laboratorista, quando viu os resultados mandou refazer tudo, o que só confirmou. Eu fui diagnosticado com hipo-hiper glicêmico. Como foram as minhas três pré comas glicemicas? Uma brincadeira chamada "caimbra integral", em outras palavras, o corpo entra todo em caimbra em poucos minutos. A sensação é desagradável, para dizer o mínimo, principalmente porque quem está em volta entra em pânico vendo um corpo se retorcer todo.

A partir do ponto que a bicicleta entrou para valer na minha vida minha condição clínica melhorou e muito.

Em Roma, fim do ano passado, onde fiquei um mês e meio a trabalho e praticamente só caminhei, ficou patente a importância crucial do pedalar para minha estabilidade geral.

Conheci vários casos de pessoas que o pedalar acabou fazendo parte do tratamento clínico. Há farta documentação científica sobre o assunto. Os resultados são surpreendentes, num âmbito muito maior do que de uma doença específica. 

A história de introduzir a bicicleta para diminuir o número de veiculos motorizados circulando é só uma pequena parte do porque se vem forçando o aumento do número de cidadãos pedalando. Uso da bicicleta leva a uma diminuição de vários custos sociais e econômicos, o que na decisão final das autoridades pesa muito.

E agora que estou velho, posso dizer com certeza que a bicicleta me salvou duas vezes a vida. A primeira é que sem pedalar a diabetes já teria acabado comigo. A segunda é que aos 14 anos de idade, pedalando, acabei fazendo besteira, perdendo o controle e batendo de frente numa árvore, uma perna para cada lado e o saco em cheio. Ali acabou qualquer possibilidade de ter filhos. Mesmo que tenha ouvido algumas vezes que eu teria dado um bom pai, agradeço que a vida não tenha me feito pagar para ver. Dois a zero. Espero pelo menos ter sido bom para os outros, uns tantos que tratei como filhos. Bom não, util, pai ou mãe devem ser mentores, tem que ser util para os mais novos e inexperientes. Bicicleta e o pedalar aprendendo e respeitando a boa técnica me trouxeram à boa maturidade. Três a zero. 
Se tivesse filhos estaria surtando, mais do que já estou, apavorado com os descaminhos que estamos tomando faz muito. Pai e avô pirata, que sou, passo noites mal dormidas pensando neles, em todos nós, e nos outros, sei lá quem, incluídos. Tenho dificuldade em ver otimismo nesta baderda absurda que nos metemos.
 
Agora mesmo, neste começo de madrugada, se eu tivesse juízo, ou se fosse menos disciplinado, no mal sentido, o de amarrado, pegaria a bicicleta e fugiria sei lá para onde. Bicicleta me traz paz. Nunca pedalar foi tão importante para minha salvação. Bicicleta salva minha vida.

quinta-feira, 20 de março de 2025

Normas ABNT

Rádio Eldorado FM
Vencer Limites, Luiz Alexandre Souza Ventura


Espero que as normas criadas pela ABNT funcionem de fato para melhorar a vida de pessoas com necessidades especiais. No caso das bicicletas acabou não funcionando tão bem, e a razão é simples: detalhismo sem fim e falta de fiscalização.

A lei brasileira obriga um detalhamento que torna qualquer norma nada prática ou, pior, irreal, pelo menos este foi o problema para o setor da bicicleta e provavelmente deve acontecer o mesmo com outros setores.

A saber, quando foi aprovado a normalização para o setor de bicicletas as concessionárias de rodovias do interior de São Paulo, que tinham e segue tendo dados precisos sobre acidentes, afirmavam que uns 35% das mortes de ciclistas em rodovias eram resultado de falha mecânica da bicicleta. Absurdo.
Como venho a um bom tempo acompanhando pessoas com necessidades especiais, a maioria idosas, sei que há muito problema de qualidade no que usam e necessitam. Sinceramente espero que as normas ABNT para eles funcione. A saber, em 2007 ouvi de um funcionário da Prefeitura que lidava com este público, que São Paulo tinha algo em torno de 500 deficientes que sequer conseguiam sair de casa. Na época se estimava um público total de aproximadamente 15% da população paulistana, e brasileira. 

Mesmo com a aprovação das normas de qualidade ABNT, no caso da bicicleta demorou para mudar e mudou por outras razões que não só pela criação da norma. A fiscalização é praticamente nula, o nível de detalhamento irracional, repito. O sério problema da baixa qualidade não foi todo resolvido.

Sem fiscalização eficiente, esquece. Como tudo, as normas vão ser cumpridas quando der, se forem. Tem norma que cola e tem norma que não cola, este é o Brasil.


Em Werneck, Rio de Janeiro, conheci um mecânico de bicicletas que fazia absolutamente tudo sem os dois braços. Ver ele montando uma roda, trabalho complexo, simplesmente mudou minha vida.

Hoje não tenho dúvida que este pessoal com necessidades especiais sobrevive como super heróis.

sábado, 15 de março de 2025

Roubaram a bicicleta e, milagre, devolveram

Roubaram a bicicleta dentro da casa da moça. Um grupo fechado de ciclistas da internet foi acionado e publicou foto da bicicleta. Não demorou muito foi devolvida. Interessante. E curioso. 
Como o sujeito sabia que havia uma bicicleta na casa? Por ocasião? Estava passando na rua e viu a ciclista entrando? Um vizinho contou? Ele era vizinho? Pedalou junto com ela? A conhecia? Amigão? 
Como e porque se sentiu ameaçado se ser pego? Pego por um grupo restrito da internet? Que mais?
Fazia parte do grupo da mídia social?
Mui amigo? Ou um terceiro, também mui amigo que conhece o meliante e resolveu o embrólio para não piorar mais ainda a situação?

Leve em consideração o que falo e pergunto, ao mesmo tempo não leve em consideração. Só pense.

Tudo pode ser verdade. Ou não.
Confie desconfiando.

A possibilidade de um ladrão ser pego ou da bicicleta voltar para o dono original aqui nesta baderna de país deve ser mais ou menos parecida com a de tirar na mega sena. Eu aplaudo em pé o trabalho da polícia que outro dia apreendeu 2.000 celulares roubados, mas bicicleta e seus ladrões não estão na pauta do dia, o que é um erro. Quem diz são as autoridades holandesas, e de várias capitais do mundo, lidando agora com mais um problema que virou gigante. Roubo de bicicleta é coisa séria.
 
Fato é que já tive o desgosto de ter bicicletas roubadas ou ver bicicletas de amigos roubadas, e das que pude descobrir ou pegar de volta, de suas histórias algumas me surpreenderam, muito, mais que o fato do roubo em si.

Um dia um amigo levou um outro amigo para fazer compras no era então a bicicletaria mais completa da cidade de São Paulo. O convidado quase caiu de costas com a absurda variedade de bicicletas nacionais e importadas, mais peças e componentes, tudo que se possa imaginar, incluindo o que não se encontrava em lugar nenhum aqui, só lá fora, USA. A bem da verdade ninguém naquele Brasil de raras importações tinha um estoque tão farto e variado. Pequeno detalhe: tudo produto de roubo. 
A amizade dos dois acabou imediatamente.

Infelizmente com esta história acabaria descobrindo que sempre foi repetição de fato muito mais comum do que, como cidadão brasileiro não queria ter sabido e muito menos ter deixado passar. Como cidadão deveria ter ido atrás, mas não fui. Minha amizade com o cliente da dita "bicicletaria" esfriou, virou formalidade social, e foi só.

Uma bicicletaria fez uma importação de bicicletas de triathlon top de linha, Quintana Roo Kilo, a papel fina da papa fina de então, começo dos anos 90. Uma perua parou na porta da bicicletaria, dela desceu um cara bem apessoado e vestido, que entrou, esperou sair um cliente, avisou o assalto e limpou todo estoque destas bicicletas, muito especiais, de baixa fabricação, numeradas, etc..., teoricamente fáceis de rastrear e recuperar. Sumiram, desapareceram, nenhum rastro, nunca mais se soube. Levaram para outro estado? Tiraram do país? Ninguém viu, ninguém soube?

No bicicletario do Pacaembu estava minha bicicleta estacionada, ao lado uma bicicleta muito simples, mas tratada com muito carinho, limpa, polida, pintura brilhante, e ao lado dela uma Senna, edição especial criada pelo próprio Senna, que é uma maravilha, um sonho, mas suja. As três bem trancadas. Quando sai da piscina o dono da bicicleta simples estava desesperado porque tinha sido roubada. A minha e a maravilhosa Senna continuavam lá. O cara roubou a mais bonita. Ninguém viu. Os seguranças acharam estranho que entraram três com duas bicicletas e saíram três com três bicicletas. 

No estacionamento de bicicletas do Shopping Iguatemi a bicicleta de uma amiga, especial e única no Brasil, foi roubada. Ela trabalhava lá e ia todos dias pedalando aquela bicicleta. Nas câmeras de segurança ninguém conseguia acreditar que o sujeito tivesse conseguido estourar aquele U-lock. Pagaram bicicleta e trava roubadas, que demoram para vir dos Estados Unidos. Voltou a ir pedalando para o trabalho no mesmo shopping, e passado pouco tempo a nova bicicleta também foi roubada. O marido é do meio da bicicleta, mesmo assim foi impossível descobrir onde e com quem foi parar. A única coisa certa é que foi uma encomenda. Carta marcada. E ladrão profissional. Ladrão profissional de bicicletas? Sim, um que ninguém sabe, ninguém viu, mas recebe encomendas.

Todas estas histórias tem um elemento em comum: alguém silenciou, ninguém viu, ninguém sabe.

Comprar produtos roubados é fato trivial aqui no Brasil, em todos níveis sociais que se diga. Procedência indeterminada. O mesmo que comprar pirataria, que também ninguém sabe a procedência.

A principal razão de todas violências, de todos tipos e formas, está principalmente no silêncio de quem sabe sobre algum delito e não denuncia. "Dedo duro não pode" diz a regra. Não pode? Tentar fazer o certo não pode? Denunciar uma violência não pode? Apontar para o canalha que esfaqueia pelas costas não pode?
Upa!

quarta-feira, 5 de março de 2025

Elder's cofin

Ganhei de presente revistas inglesas sobre ciclismo trazidas direto de Londres pela Cristina. Gostei, agradeci, mas folheando decobri que não fazem o menor sentido para quem sou eu agora. As duas são maravilhosas, muito bem escritas, programação visual ótima, mas para um público que pedala chique e caro, o que definitivamente não é o meu caso.

I'm (not) on the mood of a elder's cofin, ou, numa tradução completamente livre,  eu (não) estou afins de morrer (entrar no caixão do velho). Ou, encanixando aqui, parar de pedalar.

Um dos melhores mecânicos de bicicleta estava com uma estradeira top de linha, muito cara, tão surrada que dava dó. O pedivela tinha dentes bem estragados, apontando para um ciclista, seu dono, que pedala sem o menor respeito pela técnica, dos que acreditam que o que vale é a força bruta, melhor, estúpida. O mecânico viu minha cara de espanto, ou raiva, não sei bem, e disse rindo "É disto que eu gosto. É o que dá dinheiro".
Ele é dono de uma das boas bicicletarias, mas só trabalha as top ou as elétricas mais sofisticadas. Destruídas por mal uso é o que mais aparece. E ele está feliz, pelo menos no lado financeiro, porque tem toda consciência que aquilo tudo é um crime. Pedalar ensina respeito, ou pelo deveria ensinar.

O mercado agora virou o que? 

De volta para casa me enfiei na leitura das revistas inglesas recém chegadas. Já li e ouvi que o busines ou são bicicletas elétricas, ou são as muito caras, principalmente as de estrada e as gravel. Gravel, nome novo e bonito para as velhas e boas ciclocross, agora para iniciantes e urbanos de toda espécie,  mas com dinheiro. Estas revistas inglesas que ganhei são todas recheadas de bicicletas caras e tentadoras, que carregam com si um sonho, que por sua vez implica em sapatilhas, capacetes e outros apetrechos caros, é  obvio. Quer fazer parte da turma? Então fantasia.


Completamente fora dos meus sonhos atuais, ou da realidade bang-bang deste Brasil. Meu e da maioria dos brasileiros que gostam de bicicletas. A única que me chamou atenção foi uma gravel de baixíssima produção, inglesa, de titânio, mas, ups! tô fora. Por que? Primeiro preço, segundo que saiu com uma destas a probabilidade de tomar um cano ou bala cresce muito além do prazer de pedalar.
Alguns artigos são sobre esportes de alto rendimento ou radicais, com fotos lindas de se ver, mas completamente fora da realidade minha e da maioria. 

Olho aquilo tudo e, pensando na história, sei que é um jogo perigosíssimo para o setor. Já fizeram uma aposta alucinada na pandemia, que quase quebrou todos. Apostar num público de alta renda foi um tiro no pé mais de uma vez. Só será uma boa jogada caso o setor tenha um olho na história e use esta referência para dar um salto para o grande público. Lembro que os tempos são outros.

Será que ter uma revista para gente normal não funciona? Será que já existe. Lá pelos primeiros anos de 90 as revistas eram direcionadas para a formação de novos usuários da bicicleta. Por um tempo foi publicada nos Estados Unidos uma revista voltada para as híbridas, com textos bem para principiantes. A qualidade da informação era precisa, rica, direcionada para o público geral. As revistas inglesas que tenho em mãos são para um público muito restrito, este é meu ponto. 

A sutileza em toda esta conversa está exatamente nas bicicletas lindas, caras e moídas por seus donos. Minha experiência de vida me diz que eles não passaram pelo básico, o b a ba. Os dentes machucados da coroa do pedivela grita pelo seu dono ciclista: sabe com quem está falando? Desculpem, mas é tudo que ciclismo não é. Bicicleta tem muito de "unidos vencemos". 

Quem é normal? Ninguém. Ok. Gente comum, ciclista comum, dos que querem simplesmente pedalar, sem frescuras. Ou talvez a grande maioria.
Maltratar a coitada da bicicleta? Sei que a maioria não se preocupa muito com cuidados; simplesmente gosta ou precisa pedalar. As milhões de bicicletas na Holanda que o digam.  

Algumas postagens atrás contei sobre um amigo, ciclista de bicicleta cara, gente de grana boa, que teve que usar a bicicleta xumbrega, mas correta, da namorada, e voltou enamorado... pela xumbrega. Contou com sorriso de prazer que não se embrava mais a verdadeira sensação de pedalar, simplesmente pedalar, com desprendimento e prazer.

O que me incomoda, e muito, é esta desconexão com as coisas e sentimentos mais básicos, simples. Aliás, é uma discussão que está sendo colocada em pauta até pela Organização Mundial da Saúde. Talvez eu esteja pensando correto.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Amy Vanderbuilt - Etiqueta ao dirigir

Esta é uma página do livro sobre Etiqueta Social de Amy Vanderbuilt. O livro todo é bem interessante, em alguns momentos destualizado, mas de leitura obrigatória para quem ainda acredita que cordialidade e gentileza é o melhor caminho para a construção de uma sociedade civilizada.

As pesquisas sobre comportamento no trânsito são profundas, muito bem fundamentadas, com uma coleta de dados imensa, claríssimas, não deixam qualquer dúvida: os que evitam discussões e brigas têm muitíssimo menos possibilidade de sofrer acidente. O contrário também é verdadeiro. Ficou nervoso, perde a concentração no que interessa e aumenta muito a possibilidade de se machucar.
 
Gentileza gera gentileza - não tenha a mais remota dúvida.

Etiqueta, onde quer que seja, contorna a maioria das situações com bons resultados. O outro errou? OK, errou, mas você nunca errou? Ler sobre etiqueta, que parece coisa antiquada, desnecessária, ajuda e muito melhorar a qualidade de vida própria e mais ainda dos que estão em volta, conhecidos ou não, o que por sua vez melhora mais ainda a própria qualidade de vida. Paz não tem preço e etiqueta ajuda muito a encontrá-la.  

Depois da figura coloco o link do site Escola de Bicicleta com recomendações de como pedalar com segurança no trânsito, incluindo algumas etiquetas básicas, tipo sinalizar, que muitos ciclistas não fazem e depois culpam os motoristas. 

Gentileza gera gentileza. Etiqueta é uma gentileza. Experimente, vai gostar.
Abraço





"Gentileza gera gentileza" é uma frase de José Datrino, o poeta popular carioca conhecido como Profeta GentilezaA frase foi escrita em pilastras do Viaduto do Caju, no Rio de Janeiro, na década de 1980.