terça-feira, 28 de setembro de 2021

Marcas de bicicletas desaparecidas


Quando liberaram a importação em 1990 começaram a aparecer no mercado brasileiro algumas marcas de bicicletas mais populares que mesmo quem seguia o que estava acontecendo no mercado internacional nunca tinham ouvido falar, vindas da China, Taiwan e Coreia do Sul. O mercado em 1989, 1990, 1991 era pequeno e bem elitista e o pessoal torcia o nariz para estas bicicletas mais simples. Olhando bem, pedalando uma em bom estado, e deixando de ser besta se descobre que a maioria destas 'marcas desconhecidas' eram bem boas.  

A maioria eram fabricadas em aço rápido ou hi-tensile, pouquíssimas em cromo-molibdênio. Lembro que na época as marcas americanas mais conhecidas eram em sua maioria em cromo-molibdênio, e umas poucas em alumínio, todas top, como Cannondale e Klein em especial, fora algumas marcas europeias caras e não tão boas quanto as americanas.
Muitas destas marcas simplesmente desapareceram do mercado. Se o Brasil não é para principiantes, o mercado de bicicletas brasileiro daquela época não era para qualquer um, mas para sobreviventes, para ser extremamente delicado e cordial.
Simples assim: o container cheio de Nishiki chegou, desembarcou no porto e sumiu. Como sumiu? Hora, sumiu, nunca mais foi visto, desapareceu, e não se fala mais nisto. Os dias eram assim. 
Uma das marcas que vieram naquele princípio dos anos 90 e explosão do mountain bike foi a Peugeot trazida por dois senhores muito simpáticos que acabaram mais perdidos que cego em tiroteio de favela (comunidade) do Rio. De partida tinham preço de França, bem caro em relação às outras marcas, depois tomaram pagando imposto cheio para tudo quanto é lado. Eram gente finíssima, do bem, nesta baderna não podia dar certo. Não deu. Felizmente o lote que trouxeram não era grande, mas o ferro deve ter sido.

Voltando às marcas de bicicletas básicas que ficaram no mercado por um tempo, comparadas as bicicletas brasileiras também básicas a diferença de qualidade era enorme em todos sentidos. Konnor era uma delas. Na verdade, deveriam concorrer com as nacionais, mas dado os impostos concorriam com as marcas famosas americanas, Trek, Specialized, GT, Diamond Back, Mongoose e outras. Confesso que não sei quantas marcas foram trazidas com licença do fabricante e quantas vieram em lotes comprados por uma pessoa ou empresa, sei lá onde, numa liquidação, negócio de ocasião ou qualquer outra oportunidade e trazidos. Specialized, Trek e Cannondale sei que tiveram representantes oficiais.  

Algumas destas marcas desconhecidas trouxeram alguns modelos top de linha. Este texto surgiu depois que vi uma Peony toda original, quadro e garfo de cromo-molibdênio, com Grip Shift original, 21 marchas Shimano, freios cantilever Sun Tour para ciclocross, aros de alumínio de primeira 36 furos, cubos Shimano, uma poesia de MTB provavelmente 1990. O interessante é que o pessoal ciclista que estava em volta olhou sem fazer ideia do que é e de sua qualidade. Nos anos era igual. Valia marca famosa.

Faz um bom tempo dois moleques seguiram a mim e Teresa provavelmente para ver que bicicletas estávamos pedalando. Pararam ao nosso lado no semáforo, olharam para as duas bicicletas, grudaram os olhos nos freios cantilever de Teresa e soltaram um "lindos freios tia", e foram embora. Nos livramos do assalto, com certeza, mas aprendemos que a molecada entende mais de bicicleta que os 

Fato é que se alguém tiver vendendo por bom preço uma bicicleta importada simples dos anos 89, 90 até uns 94, vai e dá uma pedalada. Você vai se surpreender. Comparadas com o que temos hoje são maravilhosas.

domingo, 19 de setembro de 2021

Ciclocomputadores ou pedalar?

Na minha época (faz tempo!) quem tinha velocímetro era rei. Os melhores eram da VDO, a mesma marca usada nos carros e motos e da mesma forma acionados por cabo e uma pequena roda dentada fixada nos raios próximo ao eixo. Analógico, tinha ponteiro que marcava velocidade, mais um odômetro, e ponto final. Era o must!

Um dos primeiros, talvez o primeiro, ciclocomputador chegou ao Brasil pelas mãos de meu pai, um alucinado por novidades eletrônicas. Montei o Cateye em minha bicicleta e foi um sucesso geral. No começo eu vivia olhando a coisa funcionar, mas não demorei muito para descobrir que estava ficando mais louco do que já era. Gosto de pedalar, mas definitivamente não sou de ficar medindo, comparando, fazendo planilha, marcar tudo no caderninho, ter treinamento regrado. O brinquedo acabou sendo desinstalado e foi parar no Mubi, museu de bicicletas de Joinville. 
Só voltei a colocar um outro muito tempo depois na minha primeira bicicleta de estrada, maravilhosa KHS, mas também não usei como deveria. Não tenho espírito para a coisa. E agora que pretendo fazer a prova do Desafio do Rio do Rastro voltei a usar um ciclocomputador, mas, novamente, não levo jeito e tiro pouco proveito.

Algumas coisas já 'deu' para concluir. Me chamou atenção que as distâncias que pedalo são mais curtas que minha fértil imaginação sempre sonhou. Outro ponto é minha velocidade média que também é mais baixa. Natural, bem-vindo à velhice. De qualquer forma as marcações estão ajudando.

No final estou usando dois, o Decathllon mais simples, com fio, e um wireless Cateye todo sofisticado que ganhei do Zé. O Decatlhon está na minha 26, só dá velocidade e distância enquanto você pedala. Para ver a velocidade média e odômetro é preciso parar, o que a princípio achei um absurdo, mas hoje sei que é seguro. O Cateye que instalei na minha 29 tem todas funções que se possa imaginar no modo "a", mais algumas no modo "b", para mim coisa de volante de Fórmula 1. Se bobear fico procurando informação, portanto, não olhando para frente como deveria, portanto menos seguro. Óbvio que para quem planilha treinamento deve ser ótimo. Eu quero pedalar.

A foto ilustrativa explica bem minha rara habilidade no uso de celulares e ciclocomputadores. Confesso que gostaria de saber como a foto saiu assim.

Consequências de um dente problemático

Um exemplo preciso: O pequeno e alegre poodle estava amuado, tristinho, e com um bafo de jacaré horroroso. Levamos ao veterinário que extraiu três dentes. Não podíamos acreditar na melhora que o poodle teve dois dias depois da extração.  

Cachorro não é gente, mas gente também tem dente e dente com problema faz mais mal que se possa imaginar. Dentista não é gasto, mas investimento, e dos bem rentáveis.

Outro exemplo: A primeira coisa que fazem com um menino que tem jeito para esporte é cuidar da boca dele. Um dia publicaram a diferença de rendimento antes e depois de um bom tratamento dentário e é muito grande. É o que se pode dizer "faz toda diferença".

Confesso que fazer um preparo para a prova do Desafio do Rio do Rastro está sendo divertido. Eu nunca me preparei para uma prova ou campeonato porque não tinha tempo. Adoro acordar cedo, não para treinar, mas para trabalhar. Minha coluna não aguenta mais ficar sentado trabalhando no computador. Já faz tempo que tenho escapado de casa para rodar ou correr e descansar a bunda da cadeira. Desta vez fico fora um pouco mais de tempo, este é meu trino, e estava, melhor, estou melhorando minha condição física. 
Faz uns dias comecei a sofrer o que imaginei fosse stress de treinamento. "Será possível?" Mais cansado, pedalando mais devagar, pesado, sem muita vontade, dores estranhas nas pernas quando corria. Como não exagero achei estranho. Apareceu uma tensão no pescoço e depois uma sensibilidade estranha num dos dentes de trás. Telefonei para a dentista, ela retornou rapidamente, tinha horário "agora", cheguei lá rapidinho pedalando, ela passou o dedo na minha gengiva, deu um passo para trás, e depois de me olhar um pouco disse;
- Você está com um abscesso na gengiva. Pela minha experiência digo que você trincou a raiz de mais um dente. Vamos fazer uma tomografia para confirmar, mas é praticamente certo.
Explicação: sofro de bruxismo, tendência a ranger os dentes enquanto estou dormindo, dai já ter trincado ou partido raízes e perdido dois dentes, um molar e outro pré molar, na arcada esquerda superior. Daqui para frente terei que dormir com uma espécie de dentadura de silicone que diminui ou zera as consequências do bruxismo. Já deveria estar usando, mas... cabeça dura... Foi-se mais um dente.

Não é só ir ao dentista, mas aprender como cuidar bem dos dentes, usando fio ou fita dental, escovando corretamente com a escova certa, movimento e intensidade corretos, pasta de boa qualidade e na quantidade correta, e finalmente nos momentos apropriados. Não para por aí, é saber mastigar, qual o tamanho do pedaço que se deve colocar na boca, que alimento é correto, quais devem ser evitados... Tudo para ter dentes sadios. Faz toda diferença, e como faz. 

quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Medidas de rodas e pneus das bicicletas brasileiras, uma provável história

O resumo da ópera é mais ou menos este: antes de 1960 (aproximadamente) e depois. Antes foram as importadas, depois as nacionais.

Quando Monark e Caloi se firmarem como gigantes e dominantes foi praticamente uniformizada a rodagem e os pneus usados nas bicicletas fabricadas no Brasil, provavelmente por causa do espantoso sucesso da Monark Barra Circular que usava rodas 26 1.1/2X2, também conhecidos como (pneu) balão. Este diâmetro e o tipo de pneu foi determinado pelo tipo de calçamento que tínhamos então, estradinhas de terra, cidades com ruas ainda em terra ou paralelepípedo. 
No vácuo da Monark Barra Circular e com sucesso muito mais discreto surgiu primeiro as Caloi Barra Dupla e depois a Caloi Barra Forte, todas usando a mesma rodagem. 
Em 1971 é lançada a Caloi 10 (e primeiras Ceci) com sua rodagem 27 e pneu 1.1/4, conhecidas então como pneu fino, popular entre a população mais rica. Finalmente a partir de 1986, com a Caloi Cruiser Extra Light e posterior explosão do mountain bike vai se consolidar no mercado nacional como modelo básico as rodas 26 com pneus 2.1. Rodas 700 e pneus 40 só colaram no mercado bem depois. E finalmente este surto de rodas 29, que é uma roda com aro 700 e pneu 2.125.
 
A grosso modo, antes da Monark Barra Circular a indústria nacional não atendia todo mercado e havia importação de bicicletas principalmente da Europa. A variedade de rodagens e pneus então era grande; 28, 27, 28 1.5/8 hoje conhecidos com 700, 26X1.3/8 (com diâmetro um pouco maior que o 26) dentre outros. Inglaterra, França, Suécia, Itália e Alemanha fabricavam com medidas específicas. Os ingleses foram especialistas em medidas próprias. Quem viveu aquela época sabe que as bicicletas eram ótimas, mas que podia ser uma loucura encontrar pneu ou câmara.

Como curiosidade, a Monark Barra Circular foi lançada com rodagem 28, o 28 inglês, uma roda de grande diâmetro, parecido com o de uma 29 atual. O pneu devia ser 1X1/2. Vi pouquíssimas destas, a última rodando no interno do Jockey Club de São Paulo.
A Caloi Ceci nasceu com a mesma rodagem e pneus da Caloi 10 e logo seguido ao seu lançamento, creio que já em 1972, passaram a usar o 26X1.3/8. A terceira modificação veio com os aros 26 e a consequente uniformização de toda produção. A Ceci passou a usar 26 com pneus 1.5 e as Barra Forte 26 com 2.1.
Lembro que o diâmetro da roda define o comprimento dos tubos da forquilha traseira e do garfo, a bem da verdade de toda a geometria do quadro. É fácil identificar as primeiras Ceci com aro 26 porque a roda parece menor do que deveria ser para o quadro, e de fato era.

Faz alguns anos tentaram colocar no mercado a rodagem 27 1/2, mas não colou. O setor hoje trabalha em cima da uniformização, o que tem muitas vantagens inclusive para o público usuário.

Quem pedalou com diversas rodagens sabe que diâmetro maior ou menor faz diferença. Tenho ótima recordação das 28 originais, as da década de 40 e 50, inglesas ou suecas. É difícil embalar, mas depois, principalmente no plano, é uma delícia, vira um Cadillac (rodas suave e confortável). Claro que nas subidas "haja perna!". Mas nas descidas... sai da frente! Um pouco menos ágil nas curvas. Enfim, tipicamente bicicleta de transporte urbana.
Rodas de diâmetro pequeno aceleram mais rápido, tendem a subir mais fácil e são muito mais ágeis no mudar de direção. Talvez por isto uma bicicleta de triáthlon, creio uma Nishiki lá pelos 1990, que tinha rodagem 24 não deu certo. Gostaria de experimentá-la.

Qualquer que seja a rodagem se puder ($$) opte pela roda mais leve. Faz uma diferença enorme.
E em relação aos pneus sempre busque os de melhor aderência e deslizamento, o que também faz uma diferença enorme. 
Qualquer que seja a rodagem, que esteja perfeitamente bem montada e centrada; mais diferença ainda.

Quando vai acabar a confusão do mercado de bicicletas?

Eu li o artigo em inglês sem saber que a Revista Bicicleta já tinha publicado em português. Parabéns! 
Recomendo.

O Brasil foi o 3º maior produtor de bicicletas do planeta e praticamente desaparecemos do cenário mundial. Culpa dos chineses? Definitivamente não. Competência dos chineses. Antes deles competência de Taiwan. Antes competência do Japão. E definitivamente profunda incompetência de nossa indústria e de todo o setor, com raríssimas exceções.

Quanto do que dispomos no nosso mercado é fabricado no Brasil? Qual a qualidade? Comparado aos importados como fica? Qual é sua opção? Você sabe quais são as marcas realmente fabricadas no Brasil? Sabe nominar as marcas nacionais que tem qualidade para valer? Quais são os nossos fabricantes que tem escala e qualidade para entrar num mercado americano ou europeu?
Não tem nada a ver com nacionalismo, com voltar a proibição de importação, que foi defendida a ferro e fogo na época do oligopólio Monark - Caloi, e acabou sendo uma das razões para o desmonte do setor da bicicleta brasileiro. Muito pelo contrário, temos que entrar no global play e jogar para ficar, crescer, ganhar. 
Podemos produzir com muita qualidade, mas por diversas razões boa qualidade é exceção, infelizmente. Eu gostaria de ter uma suspensão ProShock, brasileira, fabricada em São José dos Campos, mas o preço é quase proibitivo, difícil concorrência com as importadas. Porque? Custo Brasil! Estúpido e inaceitável "custo Brasil".

O Brasil fabrica em larga escala motos populares de alta qualidade. Por que não acontece o mesmo com bicicletas? A resposta é simples: porque o setor dos veículos motorizados, incluindo motos, é bem organizado e controlado. O mesmo não acontece com as bicicletas onde faz pouco que se começou a falar em qualidade de maneira séria, mas ainda numa escala insipiente para o tamanho do mercado. 
Temos um mercado consumidor bom, falta políticas públicas para organizar tudo. Sem isto continuaremos muito dependentes do mercado internacional, o que estrategicamente não é muito inteligente. Transporte é vital em nossa sociedade e bicicleta cumpre uma funsão praticamente única na estabilidade da vida da população. Vai muito mais além do "ambientalmente correta, faz bem para a saúde,  pessoas felizes..."