quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Ciclovia do Rio Pinheiros aberta até as 23:00...

A ciclovia do rio Pinheiros no trecho Jaguaré - Ponte Estaiada ficará aberta até as 23:00 h a partir de... daqui uns dias, não sei exatamente a data; que seja. Para pedalar a partir de 18:30 h., horário que hoje é fechada para entrada de ciclistas, é necessário fazer cadastro no endereço -  https://www.ciclofriends.com.br/cadastro , site "ciclo.amigos". Receberemos uma carteirinha que deverá ser apresentada na entrada da ciclovia por motivo de segurança, com o que concordo plenamente. Aos que discordam da carteirinha lembro que o trecho de ciclovia entre a Ponte Cidade Jardim e Socorro tem o apelido de "faixa de gaza".

Ontem voltei para casa com um calorzinho de verão, lua quase cheia, começo da noite. Entrei no trecho Cidade Jardim - Cidade Universitária lá pelas 18:20 h. Delícia de pedalada. Os responsáveis por esta ciclovia vêm enfrentando há muito o problema de tirar ciclistas que entram um pouco antes do fechamento e continuam rodando até quando bem entendem, pouco se importando com os pedidos dos funcionários da ciclovia que com isto voltam mais tarde para casa. Esta pressão individualista, indelicada e bem pouco civilizada provavelmente deve ter levado as autoridades a pensar e agir para manter a ciclovia aberta. 
Até onde sei a ciclovia do outro lado do rio, entre Cidade Jardim e Socorro, fica aberta direto, 24 horas, porque tem muito trabalhador circulando até de madrugada. Já vi umas poucas vezes PM de moto circulando por lá, mas não basta, os assaltos pelo jeito continuam. 
Me ocorre que com a abertura da ciclovia Jaguaré - Ponte Estaiada toda iluminada, provavelmente cheia de ciclistas abonados e suas bicicletas caras, o pessoal do mal vai migrar da faixa de gaza para as entradas da novidade iluminada. Em outras palavras: vamos ver se por razões de mercado melhora a segurança na faixa de gaza. ("It's the economy, stupid." - James Carville,1992)

Um dos melhores momentos de minha vida foi quando Olavo Setubal, um dos proprietários do Banco Itaú, então Prefeito de São Paulo (e que prefeito!), manteve aberta a piscina do Pacaembu até as 22:00 h., o que nunca foi repetido. Nadar, pedalar, correr, caminhar ou fazer qualquer atividade física ao ar livre numa noite quente é um prazer inominável. 
Não sei qual será meu prazer na ciclovia iluminada porque não sei quantos ciclistas usarão luzes piscantes no olho dos outros. Pimenta no olho do outro não arde! Se lotar como está lotada de manhãzinha e virar uma árvore de natal psicodélica estou fora. Até porque fora vai estar mais seguro que já é. De qualquer forma a novidade é ótima, mais que bem-vinda.

Sou favorável a qualquer melhoria, mas para mim melhoria é um conceito intimamente ligado a respeito pelo outro. Para mim ciclista que precisa pistar e segar para ser visto não sabe pedalar, tem medo do convívio com outros e deveria ficar em casa, na cama, escondido debaixo do cobertor.

Próximo a ponte Jaguaré antes da iluminação 


segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Alfameq Ghibli

Mesmo na foto é possível ver que a traseira é bem curta. A distância entre eixos também é curta. O resultado acabou sendo pedalar um puro sangue, uma mountain bike de reações rápidas, forte aceleração, transferência direta dos pedais para o chão, um forte poder de subida, tão forte que nas mais íngremes era preciso ter uma posição de corpo toda especial ou ela levantava a frente e capotava para trás. A primeira vez que saí com esta Alfameq Ghibli fiquei impressionado como ela era dura, áspera, sensível. Pedalar no limite com ela definia quem era você como ciclista, qual seu nível de técnica. Coisa de italiano (Alfameq) que se junta com alemão, Luiz Kuhlmann, o projetista. 
Ghibli é o nome dos ventos que vem do deserto do Sahara. Quentes.
A Alfameq Ghibli virou um dos ícones do início do mountain bike. Só entende por que quem pedalou uma. Esta minha da foto foi roubada em Joinville já faz tempo. Era montada com Suntour de 21 marchas tendo com passador de marcha um Y que corria por baixo do guidão, para mim um dos mais geniais sistemas, mas que não colou.
Fico feliz de ter dado bons prazeres a ela. Pedalei muito por São Paulo, fiz algum mountain bike, e tive uma oportunidade única de viajar para Holanda, NY e ver o mundial de MTB em Vail rodando com ela. Em NY tive mais sorte ainda porque peguei um feriado de três dias, Dia do Trabalho, uma comemoração religiosa judia, e domingo, e as ruas estavam vazias, fato raro por lá. No primeiro dia tive que parar o passeio por completa exaustão. Os poucos ciclistas que cruzei babaram nela. 
Obrigado menina. Saudades.

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

As duas ótimas bicicletas do Bike Repórter Rádio Eldorado FM

Tive muita sorte como Bike Repórter Rádio Eldorado FM (1999 - 2001) e recebi apoio das marcas de bicicleta Alfameq, a original, e nos últimos meses da Scott. Bicicletas simplesmente mágicas. Não posso deixar de citar aqui o apoio que recebi da Oympikus, que na época tentou emplacar roupas e tênis de altíssima qualidade, o que não deu certo porque a marca para o povo brasileiro não é de "rico". Idiotice completa. Olha só; quando fiz o Bike Repórter a bicicleta era coisa de pobre e quem pedalava ou era louco ou imbecil, para não ir mais longe. Veja só como as coisas mudam.
 
Comecei o Bike Repórter Rádio Eldorado pedalando uma Specialized Hard Rock "Made in Brazil" amarelinha, ótima, mas um pouco pequena para mim. Um dia Joachino perguntou se não queria ir com uma Alfameq Tirreno 21, meu tamanho e bem mais leve, 11 kg, aliás uns 3 kg mais leve que a Hard Rock. Me lembro do primeiro dia que saí para trabalhar com ela: divina! Sem meias palavras, um tesão! Melhor que a Tirreno de primeira geração, que já era ótima. Fiz o Bike Repórter entre 1999 e fim de 2000. Um pouco depois mandei ela para o MUBI, Museu de Bicicletas de Joinville, ainda acervo e responsabilidade de Valter Busto. 
Um dia cruzei com um cara pedalando uma idêntica a minha "branquinha" e pedi para dar uma pedalada. PQP! que tesão! Passadas duas décadas de tantas mudanças, de tanta evolução nas bicicletas, a tradicional e original Tirreno, projetada pelo brilhante Daniel Ochoteco, é literalmente surpreendente em todos sentidos: acelera, roda, faz curva e freia com rara qualidade. Não é por menos que o nome Alfameq ainda é tão forte. Mas preste atenção: falo das antigas, as originais, nada a ver com as novas. 
E estou escrevendo este artigo porque recuperei a minha Tirreno "branquinha", que agora vai ficar no acervo do Centro Cultural Movimento a ser aberto dentro uns dias em Socorro. Está ficando lindo, chiquérrimo!

A outra bicicleta que recebi quado Bike Repórter foi uma híbrida (rodas 700 X 38) Scott que depois acabou ficando com Teresa D'Aprile, que tem um ciumes doentio dela. A qualidade desta Scott é um absurdo. 
Confesso que não gostei quando a recebi porque minha forma de pedalar era agressiva e a geometria dela era para ciclista calmo. Mas desde o primeiro minuto percebi que a qualidade geral era impecável, um outro planeta. Por ser híbrida e com 27 marchas (uma novidade na Europa e no Brasil) era muito mais rápida que a Alfameq. O cubo traseiro integrado com catraca trabalha com roletes, ou seja, não faz tique-tique-tique, coisa de ciclista profissional. Perfeita, repito: perfeita para o que foi projetada.
Como disse, a maravilhosa Scott acabou com Teresa D'Aprile e rodou sem parar deliciosamente sem apresentar um problema sequer durante 20 anos seguidos, Saia na Noite que o diga. E como rodou! O único cuidado que tive quando entreguei a Scott para Teresa foi trocar as sapatas de freio originais que eram estúpidas, poucas vezes vi tanto poder de frenagem, provavelmente porque o modelo foi criado para cicloturismo europeu, ou seja, rodar com muita carga. 
Agora foi entregue para o acervo do Centro Cultural Movimento com pneu e corrente diferente do original, do que saiu de fábrica. Não sei o nome do modelo porque adesivei para evitar roubo. O absurdo é que o pedalar que ela oferece hoje, com 20 anos de uso constante, 20 anos de idade, uma senhora de respeito, é muito melhor que a maioria das híbridas caras zero km caras oferecidas pelo mercado. Provavelmente é um pouco mais pesada, mas a qualidade é absurda, insuperável. Eu pedi e Teresa concordou que ela, "minha Scott" como a chama Teresa com amor e ciumes, merece aposentadoria num museu. Mais, que Gian da Scott que nos deu este imenso prazer merece nosso mais profundo e sincero agradecimento. 

Termino com o agradecimento especial para Joachino (e Gaetano) os italianos que criaram e foram donos da Alfameq original. O trabalho deles deve ser reverenciado por várias razões: fabricar quadros e garfos em alumínio de qualidade envelhecido, técnica correta e nova no Brasil daqueles anos, e dar espaço para projetistas como Luiz Kuhlmann, com sua Ghibli arisca, e Daniel Ochoteco que dentre outras criou a maravilhosa Tirreno. O trabalho que este pessoal fez foi único no Brasil. Obrigado