terça-feira, 12 de novembro de 2019

Desamassar aros raros ou quando não se tem outra opção

Desamassar um aro é um trabalho de paciência. Ou de emergência. Mais rápido é trocar o aro amassado por um novo, mas esta é uma outra história. 

Em aro aéro ou folha dupla só é possível corrigir pequenas deformações, mesmo assim nem todas. 
Já aros de folha simples, principalmente os de alumínio, não se consegue recuperar quando o amassado é grande. Só vale a pena recuperar quando o aro é de colecionador, mas aí tem que ter boa dose de prática e muita paciência.
  
A primeiro passo é desmontar o pneu e colocar o aro num alinhador. Caso não tenha um alinhador, use as sapatas de freio como referência. Caso sua bicicleta tenha freio a disco ou use pregador de roupa ou palito de sorvete preso por elásticos na forquilha de corrente. No caso de usar palito de sorvete faça duas marcas com caneta para saber onde deve ficar o alinhamento de guarda-chuva. Avalie quanto e onde está deformado. Pegue um marcador qualquer, um lápis por exemplo, e faça marcas para saber onde começa e termina o amassado, tanto de centro quanto de lateral. Marque também o ponto central do amassado

 Pegue um pedaço de tábua. Apoie sobre ele o lado do aro que não está amassado e com um lápiz ou caneta risque a tábua pelo lado externo do aro. Com uma serra manual corte e depois lime a tábua de forma que ela se encaixe perfeitamente na parte interna do aro, entre as duas paredes laterais. No meio desta meia lua cortada na tábua faça um afundamento de uns 5 mm. A tábua vai servir para apoiar o aro e desamassa-lo.

Retire os raios que ficam no ponto amassado. Solte os niples dos raios que ficam próximos do amassado, uns três de cada lado. 
A matriz que você fez na tábua deve estar bem presa numa morsa ou onde for possível. Já vi quem fez um apoio transversal para a tábua e assim trabalhar no chão. 
Coloque o aro com o ponto amassado encaixado na matriz de madeira (tábua). Com um martelo de borracha, ou martelo comum com um anteparo de madeira, vá desamassando aos poucos das bordas do amassado para o centro, o ponto onde está mais amassado, primeiro trabalhando a curvatura correta do aro para só depois desamassar a lateral do aro.

 O segredo é rodar o aro na matriz para ter uma comparação entre o ponto amassado e o resto do aro que está normal. Quando a diferença for pequena, uns dois milímetros, é hora de instalar os raios, dar pressão neles e ver como está no centrador. Neste ponto só é importante olhar a centragem para o aro não dar grandes pulos. 
Dependendo do pulo, do amassado, vai ter que soltar os raios e reiniciar o processo de desamassar, sempre das pontas para o centro do amassado. Talvez seja necessário embarrigar um milimetro o aro para acertar na pressão dos raios.
Se o pulo for pequeno, um milímetro, é hora de trabalhar a lateral do aro. De novo, se trabalha das bordas do amassado para o centro do amassado. O correto é trabalhar com um martelo de cabeça larga, martelo de funileiro próprio para funilaria. Caso não tenha, continue com o martelo e o anteparo de madeira. 
Será necessário corrigir a largura do aro, de parede a parede, no ponto amassado. Como comparador pegue uma chave inglesa e ajuste-a na medida de onde o aro está normal, não foi batido. Vá passando a chave inglesa pelo aro e os pontos amassados ficarão claros. Dá para acertar o ponto que está largo colocando o aro na morsa e indo aplicando pressão bem aos poucos. Prende, aperta um pouco, tira compara com a chave inglesa, prende, aperta, compara... e assim por diante.
O tapa final deve ser dado com o martelo de funileiro, se não tiver com martelo normal, mas dando batidas bem suaves. O segredo é paciência e ir passa o dedo delicadamente no ponto amassado. Importantíssimo - passe o dedo na lateral do aro com os olhos fechados, o que dará mais sensibilidade. Neste ponto de refinamento talvez se tenha que usar uma lima ou uma lixa apoiada num pedaço de madeira. 

É um trabalho de paciência, muita paciência, que como disse vale a pena para recuperar aros de colecionador. Ou quando não se tem outra alternativa. É muito mais rápido e simples trocar o aro, mas em alguns casos dá dó.

Carta à Michelin


À Michelin Brasil
bom dia

Trabalhei como colunista, redator especializado em bicicletas, articulista, responsável técnico de uma das mais importantes marcas de bicicleta do cenário mundial, consultor em projetos cicloviários e bicicleta como modo de transporte, responsável pelo maior e mais completo site sobre bicicletas do Brasil... Enfim tenho longa experiência no setor das bicicletas. 
Uma das minhas lutas nestes mais de 30 anos trabalhando pela bicicleta, ciclistas e melhoria de qualidade das cidades, foi tentar conseguir estabelecer um padrão mínimo de qualidade ao setor nacional. Um dos maiores problemas que tivemos no setor foi a qualidade dos pneus e câmaras Levorin, o que é fácil comprovar buscando informações entre bicicletarias e mecânicos sérios. 
Com a aquisição da Pneus Levorin pela Michelin, respeitadíssima empresa multinacional, tive a esperança que os pneus e câmaras de bicicleta passassem a ter o padrão de qualidade tão respeitado e invejado Michelin. Na boa fé infelizmente comprei um par de pneus Praieiro e tive a ingrata surpresa de ter os dois pneus com os mesmos problemas de assentamento no aro e desalinhamento da banda de rodagem de épocas passadas. 
Não faço esta reclamação para obter a troca dos pneus, o que será feito pela bicicletaria. Isto não me preocupa.

Tendo trabalhado em prol de políticas públicas que estimulem o uso de bicicletas, principalmente como modo de transporte. Não tenho dúvida sobre o tamanho do estrago que um pneu que se deforma, que roda aos tranquinhos, que não mantém a pressão correta, que fura com facilidade causa no estímulo ao uso da bicicleta ou de qualquer outro veículo. Trabalhei para entidades internacionais, tive acesso a números, li o suficiente sobre história da bicicleta, e tenho certeza que não preciso repetir o que a Michelin tão bem conhece, ou não seria umas das principais referências históricas do setor de pneus e câmaras. 

Os pneus Levorin atendem principalmente a população de baixa renda que por diversas razões tem dificuldades de entender o que é qualidade e limitações diversas para reclamar dos defeitos dos produtos. No caso da maioria das bicicletarias parece não haver grande interesse em corrigir estes e outros problemas de qualidade por que são justamente eles que garantem a volta da clientela para fazer manutenção que responde por boa parte de faturamento.

Direto ao ponto e pedindo desculpas por ter me alongado: por favor ou corrijam os problemas de fabricação. A marca Levorin é forte. 
Na década de 80 fiz uma reclamação à Pirelli que em pouco tempo corrigiu o problema. 

Acreditando que a Michelin tome as devidas providências, agradeço a atenção