sexta-feira, 31 de julho de 2020

Dois pedivelas partidos ao meio



As fotos são de um dos pedivelas partidos ao meio que estavam sendo trocados ao mesmo tempo numa mesma bicicletaria. O outro era um pedivela tipo sueco, aqueles que vem nas bicicletas mais simples e baratas e são feitos de uma peça única em forma de "Z" e partiu junto a caixa de movimento central. O proprietário da bicicleta é um garoto que faz entregas e teve muita sorte porque o pedivela partiu quando ele estava parado.
A mesma sorte não teve o outro garoto, dono deste pedivela partido em dois que se vê nas fotos. O detalhe é que o braço da esquerda do pedivela já tinha partido em dois e o dono pediu para trocar só a peça, mesmo sendo avisado pelo dono da bicicletaria, excelente mecânico, que para a segurança dele todo o conjunto do pedivela deveria ser trocado. Avisado foi. Voltou no dia seguinte com o resto do pedivela partido e com um grande rasgo na perna. Como acompanho estas situações faz décadas sei que a burrice saiu muito barata. Já vi ciclista moer o pé por conta de um braço de pedivela partido, só para contar uma historinha horrorosa. 
Porque quebrou? Para baratear as bicicletas. 
Pedivela sueco tem que ser fabricado com aço especial, creio que o ideal um cromo-molibdênio. Um bom pedivela sueco dura décadas, o pedivela e o movimento central, o que raro acontecer nas bicicletas baratinhas vendidas aqui no Brasil que vivo criticando e repetindo "NÃO COMPRE!"
No caso deste absurdo que fotografei até mesmo pela foto é fácil perceber que os braços do pedivela foram fabricados em alumínio fundido, aliás muito mal fundido. O minimamente recomendável é que seja forjado, para deixar a explicação bem simples. Aliás, se tiver um mínimo de auto-respeito nuca vai pedalar com peças marca prego, e no caso deste pedivela partido ao meio não ofenda o prego. 
De novo: comprar bicicleta baratinha acaba custando caro, quando não muito caro. Estou cansado de saber sobre gente que se arrebentou por falha mecânica da bicicleta.

Agora, absurdo, mas absurdo mesmo é dar um defeito absurdo destes e o cara não ir atrás de seus direitos. Por isto é que o Brasil não vai para frente. Triste, muito triste. Aliás, deprimente, literalmente deprimente.

Ou o brasileiro luta pela qualidade, a melhor possível, ou estamos fadados não só ao abismo social que vergonhosamente vivemos, mas não só, estamos fadados a piorar e muito nossa situação e nossa miséria.

segunda-feira, 27 de julho de 2020

Uso correto da própria energia e segurança no trânsito

Ciclistas costumam ter medo de colisão por trás. Quanto menor a diferença de velocidade entre a bicicleta e o automóvel menor a possibilidade de colisão porque a aproximação é mais demorada e o condutor tem mais tempo para reagir. 
A maioria dos acidentes graves com ciclistas é resultado de colisão lateral. Quanto mais rápido o ciclista realizar o cruzamento de rua, avenida ou estrada menor o tempo que ele fica no meio da via, portanto menor a possibilidade de uma colisão.
As duas situações descritas devem ser evitadas com a famosa direção defensiva, mas não só. Dispor de energia para acelerar a bicicleta ou manter uma velocidade maior por um certo tempo para acompanhar o trânsito faz toda diferença para a segurança do ciclista. As pernas são o motor da bicicleta e o uso correto da energia disponível faz toda diferença no pedalar, aí não só para a segurança.
Mesmo o melhor dos ciclistas tem limites de velocidade e tempo pedalando forte. Se numa descida é fácil ir junto com os automóveis, numa subida não dá; automóveis e motos são muito mais rápidos e tem capacidade de resposta muito maior que qualquer ciclista. O cruzamento de acessos e saídas de estradas são os pontos mais perigosos, até mortais, para ciclistas porque o diferencial de velocidade é grande e muitos ciclistas imaginam que tem força e velocidade para fazer uma linha reta sem ser alcançado.  

"Pedalar é a arte de preservar energia"; não sei de onde tirei ou de quem ouvi esta frase, este dogma ciclístico, mas é a mais profunda sabedoria que vale para tudo, não só para que está montado numa bicicleta se movimentando pela cidade. Em qualquer situação saber usar sua energia é usar a inteligência para facilitar absolutamente tudo. Segurança e inteligência andam de mãos dadas, aos beijos e abraços.

Pedalar não é só pedalar. Quem quer pedalar com segurança deve prestar atenção em como está pedalando e o que vai ter pela frente. Chegar desembestado ou feito vaca louca numa subida é morrer no meio dela. O correto é reduzir um pouco o ritmo antes de começar a subida e ir pegando aos poucos a subida, ou seja, aumentando aos poucos o uso de energia até chegar num ritmo cardio - respiratório que faça vencer toda a subida. Ciclistas de ponta pedalam forte no fim da subida, nunca no começo. Ciclistas vencedores preservam a energia até os momentos finais. Quanto melhor o ciclista mais sábio é no uso da própria energia. E é assim que tem que ser no meio do trânsito.
Hoje a maioria das bicicletas vem com marchas, o que pode ajudar muito na preservação da energia; e eu disse "pode ajudar" porque se as marchas forem mal usadas elas matam o ciclista, o que é muito comum. Exatamente como em um carro é necessário trocar as marchas no tempo certo ou o motor vai gastar muita energia ou não vai engasgar na hora de acelerar. 
Descubra qual é sua cadência ideal e mude a marcha sempre que necessário para mantê-la. Vá se acostumando a chegar no semáforo vermelho com uma marcha reduzida. Trate de pedalar solto, descansado, onde não houver perigos, no plano ou descidas para ter agilidade nos cruzamentos ou força nas subidas. Preserve sua energia.
Finalizando: ciclista que usa muito freio não pedala bem. Diminuir a pedalada para diminuir para pegar o sinal verde é muito melhor que frear com força em cima do vermelho. É muito mais fácil retomar a velocidade com a bicicleta em movimento do que parado. "Ciclismo é a arte da suavidade" não custa repetir.

Ciclismo é a arte de preservar energia. Segurança também. 

sexta-feira, 24 de julho de 2020

Um não tão novo Metal Matrix, mas mais duro de cortar


Fui eu que trouxe para o Brasil a primeira Specialized M2 no começo de 1991. A bicicleta tinha acabado de ser lançada nos Estados Unidos e Luiz Dranger, que junto com seu irmão Beto tinham trazido e eram os representantes da marca aqui, pediu uma para a fábrica, que a enviou para Miami, onde eu estava. Depois de montada numa bicicletaria sai para andar e lembro que foi um espanto, uma experiência desconcertante. Nunca tinha pedalado numa bicicleta tão agradável, tão leve, que rodava tão fácil como aquela M2 preta. Para se ter ideia no meio de uma pedalada mais distante parei, peguei a bicicleta com raro carinho e fiquei olhando para ela para entender o que estava acontecendo, porque ela era tão absurdamente melhor que todas as outras que tinha testado. Um dos segredos estava justamente no seu nome: M2. Só quando cheguei no Brasil é que fui saber que M2 é para "metal matrix", ou seja, a mistura de metais, no caso de alumínio com partículas cerâmicas do qual era fabricado seu quadro. A composição química destas primeiras M2 da Specialized foi modificada uns dois anos depois porque o custo de produção dos quadros era muito alto em decorrência a dureza do material. As ferramentas de corte duravam pouquíssimo.

O link acima da ZME Science traz um artigo sobre a invenção do primeiro material que não se pode cortar; e a partir do qual provavelmente se vai conseguir fabricar lockers, travas, muito mais seguras. Lendo o artigo me lembrei da história da mágica M2 de 1990.

Ladrões profissionais conseguem abrir ou quebrar praticamente todos lockers disponíveis do mercado. Sei que existem uns pouquíssimos que são dificílimos de serem cortados, dois da Alemanha e um americano, todos muito caros. Tenho curiosidade em ver um alemão que feito de várias camadas de tecidos metálicos e de fibra de carbono, que parece ser a papa fina máxima. 
Como tudo indica que os roubos não vão parar, seria ótimo que conseguissem colocar no mercado travas realmente seguras e com preço acessível, que não sei se será o caso deste material no futuro. E que não quebre quando congelado, técnica usada para abrir os mais duros.

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Ser visível para o motorista

Quanto mais visível no trânsito for o ciclista maior sua segurança.
 
Qual é a cor que dá melhor visibilidade? Rosa choque é insuperável, muito mais visível que amarelo florescente ou qualquer outra cor muito chamativa. Branco? Confunde-se com a paisagem, mas sem dúvida é bem melhor que uma cor escura. 
"Visto qualquer coisa ... tenho minhas luzes e sinalizadores..." Pode ser, mas...

Qualquer documento sobre segurança no trânsito para ciclistas recomenda que se use roupas com cores chamativas para ficar visível, mas pouquíssimos são os que prestam atenção no que vão vestir para pedalar. Para piorar a moda atual está focada em cores escuras, mornas, em estampas imitando natureza, geométricas ou camuflagens. Invisibilidade completa. Pelo menos sai com um laranja, um amarelo, branquinho, algo que seja visível no meio da confusão visual urbana, mas quem presta atenção nisto?
Quanto maior a área chamativa, mais visível. Costas mais manga de camisa de preferência. Shorts, bermuda ou calça ficam abaixo da linha do para-brisa e dos vidros, portanto são menos visíveis. Se usar mochila use uma gritante, com refletor ou com luz ou sinalizador preso para a noite.
Sobre sinalizador ou lanterna, ontem pedalei atrás de um ciclista com um bom sinalizador vermelho no capacete, mas estava usando mochila e pedalava de cabeça baixa, o que escondia a boa luz vermelha. Ele vestia cinza, não tinha um refletor na bicicleta e estava completamente invisível. É situação comum ver ciclistas com luzes, sinalizadores ou lanternas mal posicionadas acreditando que estão visíveis quando não estão. 

Um monte de ciclista tem usado o sinalizador durante o dia, o que dependendo do sinalizador faz pouca ou nenhuma diferença. Praticamente todos sinalizadores e ou lanternas vermelhas só são visíveis de dia quando o veículo motorizado já está muito perto. O erro de avaliação que este pessoal que pedala com luzes ligadas durante o dia faz é simples de explicar. Quando um ciclista pedala atrás do outro vê a luz do ciclista da frente acesa e ou piscando, e isto os leva a supor que o mesmo acontece com motoristas e motociclistas. Normalmente a diferença de velocidade entre dois ciclistas é baixa o que dá tempo para o olho perceber a luz que vai a frente, mesmo que seja fraca. Não funciona assim com a aproximação de um veículo motorizado por que a diferença de velocidades é muito maior e o tempo de assimilação da luz do ciclista muito menor. Só conheço um sinalizador traseiro que realmente é visível durante o dia, até num meio dia de sol forte, pelo menos enquanto está com plena carga de bateria, mas aí o problema passa a ser outro porque o sinalizador emite uma luz tão forte, mas tão forte, que atrapalha a visibilidade dos outros, o que acaba se tornando fator de risco inclusive para o ciclista que tem em sua bicicleta o sinalizador.

Capacete pode ajudar um pouco porque é a parte mais alta do ciclista e fica mais visível entre os carros, mas, de novo, só vai funcionar se for de cor chamativa. Hoje tem os laranjas, os mais visíveis. Pelo menos a noite ter refletor e sinalizador no capacete ajuda muito. Não precisa segar o pessoal que vem atrás ou na frente. Cegar nunca funciona, sempre é um fator de risco.

O mais importante é ser visível pelo lado e por trás. A maioria dos acidentes graves acontecem por impacto lateral, em número bem menor pela traseira. Impacto frontal é raro, mas desperta mais atenção dos ciclistas, um erro crasso.

Outra questão é a altura do ciclista. Vivemos numa sociedade de carros altos, principalmente os SUVs. Mesmo um ciclista de 1,80 m fica invisível atrás de um SUV. Ciclistas de menos de 1,70 m são bem menos visíveis no trânsito e deveriam tomar mais cuidado com o que vestem, saindo sempre com cores fortes, visíveis. Escrevo este artigo porque estou cansado de ver pais pedalando com filhos pequenos invisíveis, o que é um perigo sem tamanho mesmo numa ciclovia.

A maioria dos acidentes, não só com ciclistas, ocorre no por do sol, nas primeiras horas da noite e um pouco antes do amanhecer. Luzes e sinalizadores funcionam bem, mas é um erro não ter refletores dianteiro, traseiro, de rodas e pedais. Não precisam de bateria, não quebram, não desligam do nada... E vestir roupas chamativas.

O que a ciência tem a dizer? Qualquer veículo mal conduzido é perigoso. É importante ser visto, mas infinitamente mais importante conduzir com cuidado, sem cometer erros.

terça-feira, 14 de julho de 2020

Porque brasileiro não gosta de refletores na bicicleta?

Aproveitando o tempo em casa estou fazendo uma arrumação, como todo bom brasileiro. E dei com um grande saco plástico cheio de kit de segurança para bicicletas. As bicicletarias costumavam joga-los no lixo. A razão conto aqui.

Primeiro uma foto de minha bicicleta.
Não são luzes, mas refletores, inclusive os vermelhos que refletiram a luz vinda na perpendicular.
Os dois vermelhos e os da roda traseira são adesivos destes usados em caminhões. O garfo está com um resto de refletivo de cone que encontrei no meio do asfalto (só o refletivo, o cone desapareceu). Preso no raio da roda dianteira um refletivo oval de plástico dos importados. 
Refletores funcionam muito bem. A prova está na obrigatoriedade do uso de refletores nas carrocerias dos caminhões e ônibus e a brutal queda no número de acidentes noturnos depois que o uso se tornou obrigatório. Mesmo que dê uma pane elétrica o veículo continua visível. O mesmo vale para bicicletas.

Mas se funciona porque o brasileiro não usa refletores? Porque chegamos ao ponto das bicicletarias retirarem os refletores das bicicletas novas para a venda ser mais fácil? A resposta é simples: a baixíssima qualidade do que foi oferecido ao mercado brasileiro. 
As fotos a seguir dizem tudo. 

Toda bicicleta nacional vinha com este kit de segurança, obrigatório por lei, o CTB. Era composto por um refletor dianteiro branco, um traseiro vermelho, duas abraçadeiras com parafusos e porcas; dois refletores de roda com duas travas de raio; uma campainha; um espelho retrovisor com abraçadeira, parafuso e porta.
O espelho retrovisor que nos primeiros anos era obrigatório, sendo o Brasil um dos únicos ou o único país a obrigar seu uso, deixou de ser obrigatório. Mesmo assim vale recordar sua história: por conta de um projeto errado a abraçadeira não conseguia manter o espelho na posição. O conjunto parafuso e porca foram subdimensionados, aliás dentro deste saquinho que abri nem vieram. Não importa, era comum a abraçadeira partir. Ou o espelho quebrar em sua base. 
A campainha, de bom projeto, mas fabricada com materiais de baixa qualidade, parava de funcionar por que a mola do acionador perdia sua qualidade de mola, ou o sino da campainha se perdia por que o pino que a segura à abraçadeira se soltava. E se nada disto acontecesse com certeza o sino enferruja.

Os refletores:
Os refletores dianteiro e traseiro em si não são de má qualidade, refletem aceitavelmente, mas o projeto de fixação é errado. De novo problema com a abraçadeira, muito fina e de material frágil; e o uso de parafuso e porca subdimensionado para a vibração de uma bicicleta. Resultados: ou a abraçadeira partia, ou o parafuso afrouxava da porta o que ocasionava a perda do correto alinhamento do refletor ou sua queda.
Os refletores de roda refletem aceitavelmente, não comparável aos importados. Foram fabricados num material mais frágil do que seria recomendado para montar numa roda. O principal problema deles é a trava que faz a fixação do refletor nos raios. A foto pode não estar boa, mesmo assim fica claro as rebarbas nas duas pequenas travas brancas, que torna impossível de usa-las. Outro problema destas travas é que são de material muito mole. Era frequente o refletor sair do lugar ou perder se.

O resultado deste conjunto de baixas qualidades foi que os ciclistas acabaram ficando com raiva deste kit de segurança e mesmo sendo obrigatório a primeira coisa que eles pediam na bicicletaria é que todo kit fosse retirado da bicicleta antes da entrega. Esta história é fácil de ser comprovada.

Refletores são vitais para o ciclista, não importa que eles tenham e usem luzes e sinalizadores. Estou cansado de ver ciclista invisível por que acabou a bateria ou por que a luz deu defeito e o ciclista não percebeu. Ter refletor de boa qualidade e bem posicionado é certeza de ser visto pelos motoristas.   

Só como exemplo a foto abaixo é refletor com abraçadeira Cateye, importado, nos conformes com as leis Americanas, Europeias e Japonesas. Este mesmo da foto, já velhinho, fui passando de bicicleta para bicicleta, isto desde 1990. Funciona perfeitamente, não sai da posição, não quebra ao menor toque, nem num tranco mais forte. E continua refletindo maravilhosamente bem.
Outro refletor Cateye, importado, com abraçadeira ajustável; boa foto para entender a diferença para os fabricados no Brasil. O estranho é que se fabricamos aqui no Brasil lanternas de carros, motos e ônibus e caminhões com altíssima qualidade porque os refletores para bicicleta fabricados aqui foram tão frágeis?