sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Enfim o fim da relação Mega Drive

Entrei na Decathlon para ver o que havia de novidade nas bicicletas e dei com as novas relações de câmbio traseiro que foram lançados pela Shimano. Ótima notícia: acabou a maldita catraca Mega Drive de 7 velocidades e sua reduzida de 34 dentes. 
Os 10 dentes de diferença entre a de 24 para a de 34 na Mega Drive faz com que o pedalar tome um tranco ao mudar a marcha. Se na marcha de 24 dentes está muito pesado pedalar, quando se engata a marcha seguinte de 34 dentes fica muito leve. 
As catracas de 7 marchas tradicionais tinham um escalonamento mais suave, agradável, e o pulo era de 4 dentes, de 24 para 28 dentes, menor poder de subida que a de 34, mas muito mais agradável para a musculatura. Nunca gostei de Mega Drive, troquei todas que pude pela catraca normal, estou em festa pelo seu fim.
No Mega Drive é praticamente impossível conseguir uma boa regulagem do câmbio com trocas de marchas precisas e suaves com em qualquer outro SIS da Shimano. Um amigo comprou uma bicicleta nova para mulher e pediu ajuda com a regulagem, fui lá e fiquei com cara de bunda porque simplesmente não consegui fazer a porcaria do Mega Drive funcionar direito. Conversei com um mecânico que dá aulas, ex Shimano, cara respeitadíssimo no mercado, ele riu e disse que não tem jeito, é uma porcaria. Enfim deram fim.
O que tudo indica é que a Shimano está no caminho de aposentar inclusive os câmbios de 7 marchas para ter como o mais básico o de 8 marchas. Se fizerem é medida mais que sábia. O escalonamento final fica com 24, 28 e 34 dentes, ótimo, já existente no mercado, provado e aprovado. 
O interessante é que vi bicicletas com 9 marchas atrás e uma única coroa na frente, talvez onde a Shimano queira chegar. Tom Ritchey estava certo quando ainda na década de 90 disse, para o espanto de todos, que o futuro seria 12 marchas atrás e ponto final. Bom escalonamento das marchas, ou seja, a musculatura trabalhar sempre mais ou menos com a mesma força e o giro da perna não sofrer grandes variações é a melhor forma do ciclista ter bom proveito de sua energia, e uma sequência de marchas contínua, sem trocas no câmbio dianteiro, é o melhor, mas...  
Fato é que a imensa maioria dos ciclistas amadores não sabe usar o câmbio dianteiro. Colocar uma coroa só na frente é a lógica, resta saber se para o mercado ou do mercado. 
Só vejo um problema em toda esta história: como a maioria também não sabe ou não usa sequer o câmbio traseiro e no geral pedala no plano usando uma marcha só bato uma aposta que estas mudanças tem a ver com vida útil da relação traseira, afinal os fabricantes vivem de vendas, e quanto mais dura, menos vende; ou, quanto menos dura maior o lucro.

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Garfos desalinhados e o leitão

Conhece-se o restaurante pelos talheres colocados á mesa. Pode até ser de qualidade popular, mas jamais ter garfo despenteado ou torto, aquele que cada ponta aponta para um lado, uma para a garganta, uma para a boca, outra para o nariz e finalmente uma para os olhos.
Nunca confie numa refeição que se aproximando da língua e suas papilas gustativas sem saber se será palatável, mastigável, e principalmente deglutida. Comer além de alimentar, pressuposto básico, e fornecer algum prazer, do contrário a probabilidade de que você termine empoderado num trono será razoável.
O mesmo pode-se dizer de bicicletas nas quais cada roda quer ir para um lado. Via de regra a culpa é do garfo (da bicicleta). O mínimo que se espera desta máquina de transporte maravilhosa, a bicicleta, é que quem esteja no comando seja você e não um garfo torto. É fácil sentir o desajuste, não só porque a bicicleta luta desesperadamente para levar seu senhorio para um dos lados, ou para um poste, meio fio. até mesmo às grades do carro que vem na contramão. Não solte a mão do guidão, não ouse fazê-lo, tombo na certa.
Garfo desalinhado na boca, entre as pernas, ou quer que esteja nunca é bom negócio.

É lógico que há marcas de bicicletas de tão baixo calão nas quais, talvez por uma questão de design pós industrial ligado a cultura do descarte, o quadro visto de cima tem o charme estético de uma meia lua. São bicicletas excelentes para pedalar em rotatórias. Mas, senhoras e senhores adeptos do surrealismo, via de regra o desalinhamento do rodar da bicicleta se deve ao garfo mal mal fabricado.

Aquela bicicleta novinha está linda. Já passou por mim várias vezes. Quadro em cor viva, das que me agrada muito, sem uma marca, um grafismo limpo. Garfo preto. Rodas 29, peças pretas, nada de frufrus, só o básico essencial, chique. Mas voltou ao mecânico e perguntei porque. "Porque?!" respondeu na gozação o mecânico, me colocou a bicicleta na mão e subi nela. Bastaram uns poucos metros pedalando, não mais que uns 10, e meu veredito estava formado: garfo torto! Barbada! Na mosca! "Bicicleta caranguejo, sai de mim, vá de retro!"
Mecânico rindo, parei a bicicleta, soltei a blocagem para o prazer dele, mecânico, e tentei alinhar a roda no garfo. Ai é que a roda ficou mais desalinhada ainda.
- Como assim, bicicleta novinha veio com este garfo?
- Está na garantia" responde o mecânico e completa, Não é este garfo, é um monte de garfo que vem assim, uma vergonha. Daí você entrega a bicicleta para o cliente e ele fica bravo, com razão.
- Mas como pode uma coisa destas sair da fábrica, ser vendida pelo distribuidor, pela bicicletaria, e pior, ser aceita por muito proprietário que se diz ciclista?
- Ora, pode, e como pode! Afinal, posso estar louco, mas estamos no Brasil, termina o mecânico.

O jantar era de gala. A fina dama da sociedade serviria um leitão ao forno. Deixou a criadagem trabalhar, mas teve cuidado especial com a nova empregada. "Antes de levar o leitão à mesa coloque uma maçã na boca (do leitão, é lógico). E como pedido pela senhora o fez: entrou carregando a maravilhosa bandeja de prata com o leitão que deliciava a todos com seu aroma e uma maçã na própria boca. (Baseado em fato real)
Eu não estava lá, mas ouvi a história da anfitriã. Os convivas se contiveram. 

Fui convencido a não ficar gastando meu tempo tentando explicar porque tem que ter qualidade ou é fácil sair pedalando numa bicicleta que insiste ir para os lados. Não é só isto, quanto mais alinhada, qualidade básica, melhor a bicicleta roda. Geralmente o desalinhamento vem do garfo, resultado de um erro grosseiro de fabricação. Caso tenha que substituir o garfo é um drama conseguir um novo que esteja alinhado. 
Tem muita gente que acharia interessante, senão normal, a maçã na boca da pessoa que serve o leitão. Vai fazer o que? 

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Câmara com sete remendos e sete vidas

Contei 7 remendos, eram 8, furou mais duas, agora são 10 remendos

Sempres evitei usar uma câmara de pneu com mais de 3 remendos. Quando fura pela terceira vez faço o remendo, testo para ver como está e uso como estepe. Sem saber estava com uma câmara de seis remendos na roda traseira de minha bicicleta. Descobri por que furou de novo, o sétimo furo. Remendei e ela é melhor que as novas.

Quando você entra numa bicicletaria com um pneu furado via de regra o bicicleteiro troca a câmara por uma nova. A razão é simples: praticidade, tempo de serviço, em outras palavras, menor custo para a bicicletaria do que fazer o remendo. As câmaras furadas vão para o reciclável não importa o tamanho do furo. Ninguém reclama, todo mundo acha ótimo sair rodando rapidinho com pneu cheio. Por um lado, o meio ambiente que se dane, por outro a indústria agradece, e sobre esta bagunça ninguém se importa.

Dependendo da qualidade da câmara o pneu vai perder pressão mais ou menos rapidamente, independentemente de ser nova e nunca ter sido remendada. Quanto mais barata a câmara mais rapidamente perde pressão, esta costuma ser a regra. Pneu com pressão abaixo da recomendada pode furar com mais facilidade, deixa a estabilidade comprometida e até mesmo pode causar acidentes. 

O pneu traseiro é mais propenso a perder pressão porque recebe boa parte do peso do ciclista. É irritante ter que calibrar o pneu a cada semana. Com câmara de primeira linha a calibragem se mantém por longo tempo. Já peguei bicicleta que ficou parada por mais de 10 anos que ainda tinha pressão no pneu, coisa de outra época. 

Tenho por hábito ter câmara nova nas rodas e sempre levar uma câmara reserva comigo. A bicicleta que estou usando é de segunda mão, foi de um amigo. O pneu traseiro dela mantinha a pressão por longo tempo, como deve ser, mas um dia furou, fiz a troca no meio da rua e para meu espanto a câmara tinha seis remendos. Seis remendos? A câmara nova que montei esvaziava mais rápido que a de seis remendos. Agora tem sete, sete vidas, e não perde pressão.

sábado, 13 de agosto de 2022

"Eu só vou dar uma voltinha de vez em quando...." = Lixo-cleta

J é daquelas pessoas que realmente merece o elogio "gente fina". Um dia dei com ele e sua bicicleta saindo para um passeio, e que bicicleta! Nháca! Quadro de alumínio, garfo rígido de aço, aro 26, pneus 1.9 com biscoitos, 21 marchas - opa! não - 18 marchas não indexadas... Nháca! Típica bicicleta do sujeito que entra na loja, olha, olha, pergunta o preço de tudo, acha tudo muito caro (?), olha as baratinhas, as montadas com um mix de peças de segunda linha (?) e compra. "Eu só vou dar uma voltinha de vez em quando...." 
Não sei como esta bicicleta entrou na vida de J, mas algo que me diz que não foi ele que comprou. J é um cara inteligente, culto, isto sei, e não cairia numa destas. Agora, milhões de brasileiros compraram milhões destas bicicletas que estão empoeiradas ou literalmente jogadas no lixo, um crime contra a economia popular que venho denunciando faz décadas. 

Peguei a lixo-cleta e a levei para casa para dar um tapa, e foi mais uma lição nesta longa vida de bicicletas. 
Detalhe: a lixo-cleta foi bem pouco usada
  • roda dianteira - eixo preso, de baixa qualidade, raio estourado, fita de aro fora do lugar, a bem da verdade nada demais e fácil de resolver. Com um pouquinho de sobra no ajuste do cônico vai dar para rodar
  • roda traseira - cubo roletado que já está com defeito, dando uns estalos altos; catraca de seis marchas não indexada e marca desconhecida, aliás, sem marca. Câmbio o mais básico possível Yamada com um posicionamento da polia superior muito distante da relação de marchas o que causa grande imprecisão na troca de marchas. Aro desalinhado, em razão de um acidente com a bicicleta; não consegui alinhar.
  • todos raios e niples oxidados. Oxidação é o que não falta pela bicicleta.
  • pedivela com aparência de coisa boa, mas não indexado, ou seja, da coroa pequena para a média a corrente subia; da média para a grande nem com reza brava. Mesmo com um câmbio dianteiro e corrente Shimano. Por incrível que pareça, o movimento central é selado, e confesso que esta sofisticação no meio de tanta enganação não entendi
  • passadores de marcha da Yamada, que conheço, são muito simples, de aparência igual a dos Shimanos, e funcionam; ou pelo menos deveriam funcionar caso o resto do sistema fosse compatível, mas no meio daquela bagunça servem para enganar os leigos.
  • troquei a catraca / relação de marchas por uma Shimano indexada, mesmo assim...
  • a corrente que veio na bicicleta não era indexada, no clique simplesmente não passa as marchas.  Instalei uma corrente indexada da Shimano já sabendo que o sistema não funcionaria por causa dos câmbio traseiro e pedivela não compatíveis. A culpa não é do passador
  • tive que trocar o avanço que estava lá por um mais curto e ali ficou claro que a bicicleta foi montada sem graxa. Muita oxidação
  • carrinho de selim não aguentou sequer o peso de J que é para lá de peso pena.
  • tenho que reconhecer que a bicicleta tem a qualidade de ser alinhada, o que nestas lixo-cletas definitivamente não é comum. Ótimo, não tive que alinhar o garfo.
O que quero dizer com tudo isto: olhando de longe a bicicleta em alumínio não pintado parece coisa boa. De perto até engana leigos. Mas quando se coloca mão na massa a coisa fica feia. E tem bicicleta sendo vendida que é muito muito pior. Bicicletas "me engana que eu gosto" são ruins de pedalar, desestimulantes, mais ainda, para lá de perigosas. 

Hoje em dia mesmo as bicicletas mais simples, montadas com peças as mais básicas, tem uma qualidade muito melhor que as antigas. O pessoal está pedalando muito mais e com isto procurando informação antes de comprar. Parabéns! Estão fazendo o óbvio. 

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Ceci

Desenho premiado, projeto ousado, gracioso, Caloi Ceci foi lançada em 1972. Acabou como um sucesso de vendas até que nos anos 90 foi mudada, recebendo rodagem 26, mas e sofrendo mudanças em seu quadro para barateá-la. A verdade é que esculhambaram o genial desenho original.
O impacto das primeiras Ceci foi grande. Mesmo quem não pedalava comentava sobre sua beleza. As propagandas foram marcantes, inteligentes. Mulheres de nível social alto, e era para elas que a Ceci foi destinada, eram vistas pedalando por bairros sofisticados como os Jardins, fato raro, para não dizer espantoso para a época. Iniciava se o rompimento com "lugar de mulher é em casa", "bicicleta é coisa de homem" e principalmente o "bicicleta é coisa de gente pobre", discursos triviais então. 
A Ceci trouxe charme e delicadeza para o mercado de bicicletas, exatamente o que se cobrava do comportamento das mulheres "de bem", como se dizia na época e seja lá o que isto significasse então. Deu certo, acertaram na mosca. Não pense que houve uma revolução com muitas mulheres saindo para pedalar, mas com a Ceci abriram o gotejar de uma torneira que não teria retorno e que se transformaria na enxurrada que temos hoje. 

Pouca gente sabe que as primeiras ainda eram montadas com rodas aro 27, a mesma medida da Caloi 10 lançada um ano antes. Para "abaixar" a bicicleta e dar mais comodidade para as mulheres logo mudado para 26 1 3/8. As 27 são muito mais harmônicas, elegantes que as com 26 1 3/8, aliás praticamente o mesmo diâmetro de uma roda 700 X 38. A outra mudança da primeira série para a segunda está bagageiro, que foi reforçado. A delicada cestinha branca que entortava com facilidade continuou a mesma adorada por todos.

A Ceci das fotos abaixo é de aproximadamente 1976 e está praticamente inteira original. Só o selim, manoplas, pedais e sapatas de freio não são as originais. Faltam a cestinha e refletor traseiro. Ou seja, o pedalar é original.

Eu não pedalava uma Ceci fazia décadas e fiquei surpreso com o muito agradável rodar dela. Ela vem com 3 marchas não indexadas que são longas, pesadas, em comparação ao que se usa hoje. O passador de marchas fica no avanço de guidão e é necessário aprender, ou no meu caso reaprender, a mudar as marchas movendo a alavanca lentamente para a posição exata. 
A forma de pedalar de 40 anos atrás era completamente diferente, numa cadência mais lenta, pesada, usando a força. No plano a menina vai hiper bem, nas subidas a relação e o peso da bicicleta e de suas rodas se faz sentir. Ela é estável e muito previsível, o que te leva a pedalar tranquilo.
Aros, raios e cubos são de aço; o pneu 26 1 3/8 pode ser calibrado em até 50 libras, roda bem, mas de qualquer forma as rodas são pesadas. Em razão do aro ser em aço os freios param suavemente (?) e é necessário reaprender o pedalar para ter tempo de frear. Quer saber, no final das contas é uma delícia porque tudo é mais lento, menos tenso, mais no ritmo da propaganda da própria Caloi daquela época: "pedalando, pedalando, pedalando..."

A Caloi Ceci me surpreendeu e muito. Não é por menos que o valor das usadas como esta é ao meu ver alto. Hoje em dia o pessoal, principalmente as mulheres, sabe muito bem o que é uma boa bicicleta. Na época da Ceci e Caloi 10 a maioria das bicicletas era de baixa qualidade. A bem da verdade as peças que eram montadas na Ceci fabricadas pela própria Caloi eram de baixa qualidade, em especial o movimento central que dá folga rapidamente. 
Naqueles tempos pedalava quem gostava ou ficava irritado facilmente. Olhando para trás, para aqueles tempos perdidos no passado, enquanto pedalava por aí esta velha jovem senhora posso dizer que a Ceci faz por merecer seu nome na história.  








domingo, 22 de maio de 2022

Gravel elétrica de 12 kg. Geração motor central. Custo / benefício elétrico

 

Esta Cinelli gravel que está exposta na vitrine da bicicletaria Rossignoli, casa tradicional na área central, visita obrigatória para quem vai a Milão, Itália. O detalhe é que esta Cinelli Zydeco é elétrica, o que não aparenta, e pesa só 12 kg. Com um pequeno motor de 250W e bateria embutida dentro do tubo inferior é a elétrica mais elegante e discreta que já vi. A autonomia é de 70 km segundo o fabricante, o que achei surpreendente. O atendente da bicicletaria completou que hoje tem bicicleta com motor elétrico da Bosh e Shimano com autonomia de mais de 300 km, mas que são mais pesadas. Os testes que estão no Youtube e todos falam maravilhas.

Num país onde se encontra uma McLaren estacionada no meio de uma rua como se fosse um carro qualquer ver rodando tranquilamente bicicletas elétricas caras pelas ruas é normal. Tem de tudo, de mtb full sendo pedaladas por meninas vestidas para ir para escola a road bikes topo de linha voltando do treino com seus velhinhos. Simples: não há assalto.  

Motor central chegou para ficar e tomar conta. Não sei se foram meus olhos, mas a maioria é de motor central, de todas as marcas, algumas lindíssimas. 
Agora, o que impressiona mesmo é a quantidade de patinetes elétricos, alguns bem sofisticados. Vi alguns Ducatti. Há variações sobre o tema e tem uns trecos que não são nem patinete nem bicicleta, algo que se vê por aqui com menos frequência. 



A pré história do mountain bike não contada


 

terça-feira, 26 de abril de 2022

bicicleta elétrica X scooter a gasolina

Ana Elisa comprou uma bicicleta elétrica de boa marca, uma das que mais vende. Depois de um pouco mais de dois anos a bateria pifou. Conseguimos uma solução melhor, reformar a bateria com o Luiz, um dos caras sérios do mercado. Ele abre a bateria velha, tira todas as pilhas e troca por novas. Não são pilhas, eu sei, são baterias, mas parecem com pilhas, tem forma de pilha, e no final das contas funciona como uma pilha. Que seja. O que interessa é que a brincadeira custou R$ 2.000,00. Poderia ter custado menos, mas seria com baterias de vida curta, ou a longo prazo um custo maior.

A forma como Ana Elisa pedala gasta um pouco mais energia que um ciclista comum, mas não deve fugir muito a regra. Vou fazer um cálculo básico mequetrefe sobre o custo do uso de uma bicicleta elétrica. Foram 2 anos por R$ 2.000,00, ou seja R$ 1.000,00 por ano, ou ainda, R$ 83,00 por mês / custo bateria. Não conto as recargas porque ela recarregou em tudo quanto é canto, em casa, no trabalho, na casa de amigos... Vamos calcular muito por baixo que o custo mensal total bateria mais energia tenha sido R$ 100,00, o que acho pouco, mas vamos lá.

A bicicleta mesmo sendo um modelo quase básico, motor na roda traseira, bateria sob o bagageiro, custa zero mais ou menos o que custa uma Honda Biz zero. Comparando a quilometragem que ela rodou com o que gastaria na Biz dá quase a mesma coisa, dependendo de uma série de fatores uma hora melhor para um lado outra para o outro. Não sei como seria o cálculo custo energia com uma bicicleta elétrica cara, das grandes marcas, talvez vantajoso para a elétrica, mas aí entra um fator que assusta: cano na cabeça, assalto, bang-bang. Definitivamente não é minha opção. 

Tem o discurso ambiental. A Honda Biz polui o ar e outros mais, o que já sabemos de cor e salteado. Agora, o que acontece com as baterias que foram trocadas ninguém sabe ao certo, mesmo Luiz, um cara para lá de sério, afirmar que tem uma empresa que recicla as que ele troca. Deixo a pergunta: qual é o custo ambiental de reciclar? Baterias são violentamente poluidoras e pelo que sei sem uma solução definitiva para o problema.

Uma coisa tenho certeza: a bicicleta elétrica básica é muito mais frágil que uma scooter, o que implica em custo de manutenção. Aposto que aí uma scooter básica sai ao longo do tempo muito mais barata que uma bicicleta elétrica básica de boa qualidade. 

Como disse, o que escrevi aqui tem é baseado em cálculos bestas e uma dose de impressão. O fato indubitável é que Ana Elisa está se mexendo para trocar a bicicleta elétrica por uma scooter. Fato também é que a cada dia é mais comum ver ex bicicletas elétricas circulando por aí. A bateria ou o motor tão pau e a bicicleta acaba rodando do jeito que está.
Fica a pergunta: quanto as elétricas estão estimulando a venda de motos? 

segunda-feira, 7 de março de 2022

IMETRO e a qualidade das bicicletas no Brasil


O que vocês veem na foto são dois selins que foram vendidos pela Decathlon no Brasil. Um, o mais velho e bem gasto, era importado; o segundo, o mais novinho, é Made in Brazil com selo IMETRO e tudo mais. Fora a aparência do velhinho importado que já rodou e apanhou um bocado o selim está ótimo, pronto para durar mais um tempão. O nacional já teve que ser colado porque o acolchoado estava se desprendendo na ponta depois de alguns meses de uso. Fosse um problema só com este selim paciência, acontece, mas não é, definitivamente não é. 

Não faço ideia de como é a qualidade do trabalho do pessoal que atua no IMETRO, então não vou julgar, mas sei que um produto ter selo IMETRO significa muito pouco sobre sua qualidade, durabilidade, seriedade. 
Ninguém duvida que os governos tenham uma capacidade bastante duvidosa, para dizer o mínimo, de fiscalizar, controlar e punir quem comete deslizes, erros ou ilegalidades. Mal consegue controlar a qualidade da gasolina, do diesel, da fumaça, que são problemas seríssimos, imagine só inspecionar selins ou qualquer coisa que se relacione a bicicletas. Lembrando que "Bicicleta é coisa de pobre" diz o velho e corrente dito popular. 

Tive que trocar o garfo rígido desta bicicleta que está com o selim mais novo. A gancheira do lado do freio a disco "mudou de forma". Como tive que alinhar este mesmo garfo porque veio de fábrica desalinhado, fato comum nos garfos e quadros com selo IMETRO, sei que o alumínio usado é meio mole, por assim dizer, e não estou nem um pouco afins de comprar um asfalto por ruptura da gancheira. 
Comprei um garfo novinho, bonitinho, bem pintadinho, de uma marca conhecida, que vende bem, até respeitada no mercado. Quando fui ajustar o freio a disco vi que a base do suporte da pinça não estava perfeitamente alinhada, paralela, com o disco. Óbvio que veio com selo IMETRO. Tira a pinça, passa a lima, monta roda, compara, tira roda, passa lima, monta roda, compara e assim vai até ficar alinhada. Ficou, mas aí tive que limar os parafusos para não raspar no disco. Tudo ajustado, saio para a rua, solto a mão do guidão e a bicicleta puxa legal para a direita. Toca alinhar o garfo, o que deveria ter sido na linha de produção. O selo IMETRO estava bem coladinho, selo de garantia de qualidade!

Só selim e garfo? Quem disse? Tudo tem, ou deve, sei lá, que receber o selo IMETRO para confirmar sua qualidade. Você já comprou balde de plástico? 

Não faço ideia de quantos ciclistas sofrem acidentes atualmente por falha mecânica da bicicleta, mas faz uma década as concessionárias de rodovias do interior paulista tinham planilhas que davam 35% como causa de fatalidades. Como será hoje? Quem controla? Quem tem estes dados? Qual a diferença o selo IMETRO faz?

domingo, 6 de março de 2022

Eu, dito um ciclista diferenciado. Que orgulho! Serei?

Mais uma vez fui acusado por pessoas que trabalharam e trabalham com projetos de segurança no trânsito para ciclistas de ser um ciclista diferenciado, "profissional"(?), portanto incapaz de ser incapaz de entender a realidade de ciclistas normais e consequentemente pensar errado, de maneira perigosa para o grande público e, por estas razões, não saber o que é um projeto cicloviário seguro. 

De fato, sou um ciclista diferenciado. Sempre li sobre carros, motos, bicicletas, automobilismo, competições, sempre me interessei por detalhes, o que me podia fazer melhor, o que se podia melhorar, como fazer bem-feito... Até hoje procuro aprimorar minha técnica de condução de carros e bicicletas, esportiva, de trânsito.
Enfim, não interessa nada, o que interessa é que sou um ciclista profissional, seja lá o que isto signifique.

Hoje, aos 66 anos tenho certeza de que quanto mais sei mais sei que nada sei; em outras palavras, depois de tudo que aprendi tenho muito a aprender. Não tenho a mais remota dúvida que me verem como um "ciclista profissional" prejudicou e muito minha comunicação e os resultados do que eu pretendia. 

Por outro lado...
A vida é interessante. Nunca tinha me dado conta do tamanho do elogio. Ciclistas diferenciados, os profissionais, como dizem ser meu caso (uau! obrigado), especializam-se seguindo ditames de competição. Quem sabe o que é uma competição sabe que o máximo, o melhor, o feito com cuidado e precisão, a constante busca da perfeição, é o único caminho para um bom resultado.
Um dos pesares que tenho é justamente não ter ouvido, visto, acompanhado e aprendido mais com meus caros amigos ciclistas profissionais de verdade, e olha que conheço um bom número de ciclistas de primeira linha, vários deles campeões aqui e lá fora. Tenho prazer de aprender com eles. 
Aliás, procurando fotos caiu minha ficha de um sutil detalhe: são poucos os brasileiros que sabem quem foram seus grandes ciclistas. Quem não procura saber não se interessa pelas qualidades que estas pessoas especiais tem. A imensa maioria dos brasileiros não faz ideia de nada sobre qualquer esporte que não seja futebol. É uma vergonha! É uma puta vergonha!
Eu e a querida Ieda Botelho, uma destas pessoas excepcionais, ciclista campeã, que ninguém sabe quem foi, quem é, a montanha de coisas que ela tem para contribuir para o bem comum. Triste, muito triste. 

Se há algo que posso dizer de mim mesmo é que não sou um ciclista "profissional", ciclista de competição a bem dizer. Fui e me considero um ciclista "profissional" de segurança no trânsito porque trabalhei e ganhei dinheiro pedalando, projetando, buscando dar qualidade para as bicicletas, para o setor da bicicleta, dando consultoria até para quem nem era ligado à questão da bicicleta, portanto da segurança do ciclista. Creio que não falo muita besteira, pelo menos luto para não falar nem ficar petrificado sobre posições populistas. Explico: "a voz do povo define o que deve ser feito, a parte técnica, de segurança a gente ajeita".

Em exatos 45 anos pedalando nas ruas, avenidas, estradas e trilhas sinto orgulho de ter sofrido pouquíssimos acidentes de trânsito, menos que o punhado de uma mão, e a maioria foi causado por mulheres, não por elas em si, mas pelo meu vício de ficar olhando mulher bonita enquanto pedalo. Por causa da beleza delas que não se deve perder já acertei poste, árvore, lateral de carro... Nestes 45 anos foram 5 acidentes em homenagem a elas, nenhum grave.

Ter boa técnica e ser cuidadoso é bom princípio para ter segurança no trânsito enquanto se pedala. Considero que tenho estas qualidades e me orgulho delas.
 
Sou um ciclista diferenciado? Não ou sim, sei lá. Procuro ser um cidadão que respeita as regras do jogo e os outros.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

R$ 180,00 por uma corrente de 7 marchas? É!

Tive que trocar a corrente de uma de minhas bicicletas de 7 marchas. Esperava gastar algo em torno de R$ 100,00. Doce ilusão. Com o dólar do jeito que está saiu por R$ 180,00. Putz grila! Mas não tem jeito, ou troca a corrente no momento certo ou vai ter que trocar toda a transmissão e aí sim a brincadeira fica cara para valer. Um pedivela simples e pesado está custando lá pelos de R$ 300,00, a transmissão sei lá quanto e nem quero saber para não assustar; e aí vai.

"A" grande vantagem da bicicleta é ser um transporte barato, ou pelo menos foi. Ok, não tem mais nada barato e pelo que dizem os economistas não vai ter por um bom tempo, se é que um dia volta. 
Antigamente você trocava a corrente e ela durava, durava, durava, durava... Não há quem esteja ligado ao negócio da bicicleta que não afirme que mesmo os produtos da Shimano estão durando muito menos. Tudo hoje em dia tem uma obsolescência programada muito menor que num passado não muito distante, o que são várias tragédias. A maioria dos que estão entrando nos pedais não faz ideia do que é durabilidade e de como eram ridículos os custos de uma bicicleta.

Uma das bicicletas que comprei para mandar para o museu do Valter Busto foi uma Roadmaster feminina que tinha rodado, segundo seu dono, uns 30 anos sem fazer manutenção, e não rodou pouco.  Parece absurdo, mas é isto mesmo. Óbvio que a corrente estava completamente lasseada, mas ainda rodava. Provavelmente trocou sapatas de freio, pneus e câmaras, mas o resto era de fábrica. Lembrei, uma das câmaras era original.
a Scott híbrida de 2000
Teresa D'Aprile pedalou uma Specialized Rock Hopper por 17 anos e só trocou por que ganhou uma Scott híbrida que rodou 20 anos seguidos, as duas com manutenção praticamente zero. Não foram exceção, mas regra, até em bicicletas básicas de qualidade. As bicicletas fabricadas uns anos atrás duravam muito mais, tinham um custo muitíssimo mais baixo de manutenção em relação as atuais. 

O problema mesmo recai sobre as populações de menor poder aquisitivo que simplesmente não tem como ficar trocando corrente a cada (sei lá) 2.000 km, se é que dura isto. Muito menos trocar sapatas de freio a disco que custam R$ 90,00 o par. O que acaba acontecendo? A bicicleta é usada até acabar e vai para o lixo, literalmente, ou seja, nesta história de obsolescência programada curta há um problema ambiental sério.

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Green e a história da primeira mountain bike que o Brasil viu

No mesmo ano que se lançava a Caloi Cruiser Extra Light no Brasil, 1985, Green trouxe para São Paulo uma Schwinn Sierra, um dos primeiros modelos de mountain bike fabricados em larga escala vendidos no mercado dos Estados Unidos. Até onde sei Schwinn foi a primeira marca a vencer um campeonato de mountain bike da história com Steve Tilford. Corrigindo a informação, Steve Tilford ganhou o primeiro Campeonato NORBA em 1983 com uma Moot. Schwinn ganha dois NORBA Mountain Biking National Championships, 1986 e 1987, com Ned Overend.

As duas entrevistas de Green são longas, mais de 20 minutos, mas acabam respondendo uma série de perguntas que me fazem com frequência sobre como foram aqueles anos do início do mountain bike quando a bicicleta renasceu no mundo e um pouco depois no Brasil empurrado por estas bicicletas resistentes, seguras, precisas, confortáveis, e sobre tudo divertidas, muito divertidas, as mountain bike, ou MTB.





História da primeira bicicletaria / oficina com padrão de qualidade aeronáutico

Moonbike foi a primeira bicicletaria do Brasil (1988) a ter ferramental e mecânico com o mais alto nível existente no mundo, praticamente o mesmo usado então no Tour de France, Giro d'Italia, Vuelta de España e outros. É provável que Puertolano tivesse um ferramental de alta qualidade, mas com certeza não tinha a formação quase neurótica de quem trabalha com aviação comercial, o meio de transporte de mais alto nível de controle e qualidade. Um pequeno número de bicicletarias, a maioria aqui em São Paulo, oferecia bons serviços para o punhado de ciclistas da época, e era um punhadinho. A importação de bicicletas, aliás de qualquer coisa, era ou proibida ou proibitiva, só consegue entender como era quem viveu aquela época. No momento que foi aberta a Moonbike e por alguns anos pode ser considerado um delírio de sonhadores.