segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Baixando qualidade geral

Em 1977, quando meu irmão comprou uma bicicleta que acabou sequestrada pelo irmão dele, leia-se eu, a qualidade das bicicletas era bem ruim, para dizer o mínimo. Se comparadas as maravilhosas, precisas, inquebráveis, perfeitas mountain bike que apareceram no Brasil a partir de 1989, eram um lixo, mas era o que tinha por aqui e ponto final. Saía-se para pedalar com uma caixa de ferramentas na pochete ou corria-se o sério risco de voltar a pé para casa.
 
Pedalar numa porcaria pode ensinar muito, principalmente se você tem um mínimo de consciência do que é a realidade. Nada mais incorreto que pensar que "se quebrar compra uma nova", pensamento muito difundido hoje em dia principalmente entre os jovens. Minha geração foi educada para dar valor para as coisas, não tinha esta história de mil brinquedos espalhados pelo quarto e muito menos bicicletarias espalhadas pela cidade. "Fez besteira se responsabilize pelo que fez" dizia minha mãe, o que acabou me gerando uma neurose salutar por fazer as coisas certas, no caso da bicicleta uma constante preocupação com as técnicas tanto de pedal quanto da manutenção. Quem pedala com boa técnica, leia-se delicadeza, não quebra nem uma delicada jabiraca. 

Tenho ouvido muita reclamação de dono de bicicletaria e mecânico respeitável sobre a baixa geral da qualidade das bicicletas e peças. E razões não faltam. Pequenos defeitos vêm ocorrendo com frequência, até mesmo nas bicicletas de quem sabe o que é pedalar. 

Hoje saí com uma bicicleta que tem rodas bem pouco rodadas, bem centradas e tensionadas, e mais uma vez estourou um raio. Já é a quarta vez que isto acontece. Não acreditei. São as rodas campeãs de raios estourados. "O que fiz de errado? É resultado da viagem (estradinha de terra) que fiz com bagageiro e alforjes, uns 15 kg a mais na traseira? Não pode ser. Não peguei buraco nem panela. Não desço na porrada o meio fio..." Dei meia volta e fui conversar com um dos melhores mecânicos da cidade, Djalma. "Não é você. São estes raios que são frágeis. Está tudo assim." disse ele. "E você não tem uns (raios) Wheelsmith (ótimos)", perguntei. "Não, o mercado está em falta. O que tem é mais ou menos a mesma qualidade destes." respondeu.

O mercado parece estar muito focado nos iniciantes por um lado e nos ricos na outra ponta. A qualidade vendida para iniciantes é um tanto duvidosa, até quando se olha com calma marcas tradicionais. O setor está se aproveitando da oportunidade? Não só. Muita culpa dos compradores que não procuram se  informar direito; e sem a mais remota sombra de dúvida culpa do "se quebrar compra uma nova", que é uma loucura, um crime, tiro no pé. Quem regula o mercado são os compradores. Fabricante atende à demanda, de vez em quando muito a contra gosto. E a concorrência está cada dia mais selvagem, o que abaixa a qualidade. 

O pior momento da história da bicicleta foi no início da década de 70 quando a bicicleta quase desapareceu das cidades e uma das razões foi a baixíssima qualidade do que era oferecido. Era uma bosta e não tem outro termo. Pelo que sei a Phillips, tradicional fabricante inglês, nesta época faliu porque se recusou a baixar sua altíssima qualidade de suas bicicletas. Quem tem uma não vende porque sabe que ela já rodou no mínimo 50 anos e vai rodar outras tantas décadas. Aliás, como eram as bicicletas pós mountain bike até pouco tempo atrás. 

A bicicleta ressurgiu quase que das cinzas no cenário mundial quando os fabricantes pós mountain bike passaram a oferecer bicicletas confiáveis e acessíveis para todos os níveis. Como definiu a Shimano, que tem muito a ver com este ressurgimento: bicicleta tem que ter a mesma qualidade e confiabilidade de um automóvel. Bingo! Mesmo as básicas, a partir de US$ 250,00, eram praticamente inquebráveis. Os preços subiam em degraus de US$ 100,00 e a diferença sempre era mais que justificável, o que nem sempre acontece agora. É fácil enganar, o público aceita sem questionar.

Pegando a história como referência eu não bato aposta que bicicleta veio para ficar. Sem dúvida é uma das respostas para o futuro, mas da forma como tudo está acontecendo não é difícil que a crise dos anos 70 se repita. 
O que garantirá o futuro da bicicleta é ter qualidade, durabilidade, confiabilidade, oferecer segurança. Ou desta vez será comida por patinetes, skates, monociclos e por que não por umas coisas que chamam de bicicleta elétrica.

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Correr com pneu 29 2.1 ou 38?

Se tudo der certo vou fazer de novo o Desafio da Serra do Rio do Rastro no dia 13 de dezembro próximo. Como sou velhinho sou obrigado a participar com uma moutain bike, 26 ou 29, com pneus de espessura mínima 1.5 (para 26) ou 38 (para 29). Encontrar 1.5 é fácil, já os 38 são mais complicados. A saber, 38 mm é igual a 1.49 polegadas, ou 1.5. 

Agora estão surgindo no mercado os 38 da Pirelli, ótimos pneus para uso urbano, mas com pressão máxima baixa para uma prova, 40 libras. Fui conversar com Dijalma, da Ciclo Caravelle, conhecedor das coisas. Eles tinham um par de Pirelli 38. Gente finíssima e sempre muito honesto disse "Se você tem os 29 WTB 2.1 para 65 libras mete pressão e vai com eles. Muito melhor (que os Pirelli). Se você for com os Vitoria (38) é outra história, mas custam muito para uma única prova (mais de R$ 300,00 cada)". Orientação de quem conhece é outra história. 

A saber, 2.1 é igual a 53 mm. 

Mesmo assim continuei procurando um par de 29 por 38 com pressão alta e depois de muito correr encontrei no Maga Bike um par chinês para pressão máxima 80 libras. E comprei. Desmontei a roda dianteira, peguei os dois na mão e comparei os pesos. O WTB 2.1 é muito mais leve que o 1.5 chinês. 

"Agora qual?" Entra no cálculo o fator diâmetro da roda, o 38 (mm) é menor que o 2.1 (53 mm), o que faz diferença numa subida. O WTB tem cinta de fibra de carbono, o 38 em aço. Também desconheço o coeficiente de atrito deste pneu 38, o que faz muita diferença. 

A dúvida é ir para a prova de subida com rodas muito mais leves ou com um diâmetro menor? Confesso que gostaria de ter uma opinião de especialista ou de alguém que saiba calcular para definir. Como ainda não encontrei vou no conhecimento empírico. Acredito que com 60 libras o WTB 2.1 vá dar um coeficiente de atrito próximo ao do 38, mas como a diferença de peso é bem sensível e vou bater uma aposta no WTB 2.1. 

Curioso é que estou com um ciclo computador da Cateye wireless que só dá leitura até o 38. Correndo com os 2.1 vou ter que ficar calculando uma diferença de 5.7%

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Aros aero? Eu não.

Estou recuperando mais uma bicicleta feminina aro 26 de 1989 ou 1990. Os aros daquela época é o que mecânicos chamam de folha simples. Por diversas razões prefiro um aro folha simples que os folha dupla ou aero. A principal é que um bom aro folha simples pesa menos que uma folha dupla ou um aero e isto faz muita diferença no pedalar. Já escrevi aqui se você precisa de um aro reforçado, que é o mote de venda dos aero, na verdade você precisa aprender a pedalar. Quando o aro entorta é porque houve algum erro de alinhamento do aro ou o ciclista é prego, faz muita besteira.

No pergunta aqui pergunta e ali acabei encontrando aros Weismann e Mavic que estavam jogados numa bicicletaria fazia mais de 10 anos. Upa!!!! "Ninguém quer. Você mostra, fala sobre a qualidade destes aros (maravilhosa), oferece por um preço baixíssimo e mesmo assim o pessoal diz que prefere os aero porque são mais fortes". Acredita quem quiser. Eu fico feliz da vida com estas ignorâncias porque acabei comprando os 3 Mavic e um Weismann, um par de 36 furos e outro de 32. Se tivesse mais levaria. Aliás, numa história parecida consegui um Alexrims 700 também desprezado.

Já montei e centrei o Mavic 36 furos. Que delícia! 
Aproveitei e desci da estante os aros que tenho em casa, todos nacionais, para ver o que são e acabei descobrindo que um deles, 26 X 32 folha dupla, tem o diâmetro um pouco maior que o padrão. Opa! Esta nunca tinha visto. Aí peguei os outros e fui medindo e acabei descobrindo pequenas variações no diâmetro, o que não deveria acontecer. Mas uma diferença bem visível a olho nu para quem usa óculos? Opa! que loucura. 
O diâmetro tem que ser exato, dentro do padrão estabelecido na norma técnica, ou a montagem e o assentamento do pneu no aro viram problema. No caso do aro com diâmetro maior ainda não fiz a experiência para ver se um pneu normal entra no aro. Nas décadas de 70 e 80, quando a qualidade das peças de bicicletas brasileiras era para lá de duvidosa, eram frequentes as variações. Pirelli, que fabricava a maioria dos pneus de bicicletas, teve uma briga feia com fabricantes porque todas reclamações recaiam sobre eles, nunca sobre a qualidade dos aros. Pirelli Brasil exportava (e segue exportando) pneus de bicicleta para a Europa o que era prova irrefutável que os seus pneus estavam dentro das normas padrão. Ademais era só pegar uma fita métrica e medir. O fabricante dos aros chamou o ferramenteiro e a máquina de corte e solda dos aros foi ajustada, o que deveria ter sido feito há muito. Vergonha!

Numa das bicicletarias que procurei os aros vi uns aros aero que gostaria de ter, mas minha carteira não "guenta", nem em sonhos. Simples: o par, levíssimo, maravilhoso, eixos que deslizam como manteiga em pão saído do forno, custa... R$ 10.000,00; sim dez mil Reais. "E aí, vende?" perguntei. "Vende, muito mais que eu esperava" disse Ivan. Ironia do destino enquanto eu babava entrou um chofer para pegar um par de rodas aero para a bicicleta da madame.

terça-feira, 10 de novembro de 2020

Selim muito alto, quadro quebrado

ALERTA: selim mais alto que a marca de altura máxima do canote pode quebrar o quadro e lesar seus joelhos.

A história já contei: tenho, melhor, tive duas bicicletas que foram usadas por um courrier. Ciclista muito forte, mas sem experiência e incapaz de ouvir; enfim típico de sua geração e classe social. Recebeu orientação: não use uma bicicleta com canote acima da marca limite ou vai quebrar o quadro. Mas... como a bicicleta não era dele... quebrou o primeiro quadro, que foi para o lixo. Paramos e conversamos novamente, "não usa o selim além do limite..." Nesta segunda recomendação avisei que além do quadro perdido poderia machucar o joelho ou a bacia. Um dia ele não apareceu, perguntei onde estava e contaram que estava em casa porque o joelho tinha estourado. "Caiu?" "Não". "Bateu?" "Não". Um pouco depois recebi a notícia que ele não poderia mais pedalar, fim vida de ciclista. Ficou com sequelas.

Felizmente os ciclistas estão usando o selim na posição correta ou próxima disto, mas vira e mexe se vê um ciclista, melhor, um mané com o selim muito além do que é recomendável. Uma hora estoura.  E não fale nada porque “Eu sei o que estou fazendo” será a resposta.

A rachadura que só agora ficou visível era a razão de um barulhinho que há muito incomodava. Esta bicicleta foi entregue nova para o ex ciclista. Seis meses depois parecia que tinha passado pela guerra da Síria, com mil barulhos e um tic tic quase imperceptível. Aí está. Muito triste. Perdi um excelente quadro.