sábado, 30 de novembro de 2013

Eixos presos

Ricardo
Mensagem: Tirei a roda dianteira da bicicleta nova para colocar no carro e descobri que o eixo dianteiro está duro de girar.  Veio com defeito?
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Ricardo, bom dia.
Bicicletas novas, em especial as mais básicas e baratas, costumam vir com todos os eixos presos, mal regulados. Infelizmente é normal num mercado como o brasileiro. Lá fora isto é inaceitável, tanto pelo poder público como pelos consumidores.
Qualquer bicicleta, mesmo as top de linha, deve passar por uma revisão geral antes de ser entregue ao dono para zerar os eventuais deslizes do fabricante.

Se o eixo dianteiro está duro de girar é quase certo que o eixo traseiro, o movimento central, os pedais e a caixa de direção também estejam muito apertados. Há uma grande possibilidade dos problemas não pararem por ai. Sua bicicleta precisa de um mecânico sério, paciente e que tenha boa mão.
Nas bicicletas mais simples e baratas é difícil encontrar o ponto correto de ajuste dos rolamentos por que se tirar completamente a folga o eixo não roda limpo, ou seja, ele prende em um ponto do giro. Nestes eixos/rolamentos de segunda linha o ideal é deixar uma pequenina folga no ajuste de forma a que o giro completo seja limpo, sem prender ou arranhar.
Faça uma experiência interessante: preste atenção na forma como a bicicleta está rodando agora. Mande fazer os ajustes e sinta a diferença, que vai ser muito grande.

sábado, 23 de novembro de 2013

engraxar a corrente? NUNCA!

Marisa
Mensagem: Meu marido viu que a corrente estava seca e um pouco enferrujada, saiu de casa não encontrou WD40 e trouxe graxa. A corrente parou de fazer barulho, mas está funcionando pior que antes. E sujou minha calça nova. Como limpa?
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Marisa
bom dia

Você quer limpar o que? A calça? A meleca que a corrente se transformou? Ou dar um jeito no marido?

Graxa na roupa costuma sair com sabão de lavar a mão ou tomar banho.

Corrente bem lubrificada é aquela que é seca por fora e lubrificada por dentro, exatamente o contrário do que a graxa faz. Graxa, por ser muito viscosa, não penetra nos pinos e entre os elos da corrente, onde deve estar lubrificado. Talvez seu marido tenha pensado na lubrificação da corrente da bicicleta da mesma forma que se faz com uma corrente de moto. Corrente de moto tem elos muito maiores que trabalham com forças que chegam aquecer a própria corrente, o torna um lubrificante de viscosidade mais alta apropriado.

Limpar a corrente da bicicleta vai dar trabalho, mas deve ser feito. Se a bicicleta já foi pedalada com graxa na corrente vai ser necessário limpar a corrente, toda relação e principalmente o câmbio traseiro. Se deixar a graxa vai juntar sujeira, virar uma massa abrasiva que vai acabar com as roldanas do câmbio e engrenagens da relação. Igualzinho que barro fino. O erro vai sair muito caro.

Limpe a corrente, relação e câmbios com um pincel levemente embebido em solvente ou varsol até desaparecer qualquer vestígio da graxa. Deixe secar por um bom tempo para que seque por dentro também. Pode até dar uma boa pedalada para ajudar a secar, mas ai limpe de novo o câmbio e relação. Só então lubrifique cada elo com uma gota de óleo próprio para corrente de bicicleta. Gire o pedivela para o óleo penetrar na corrente e, com um pano grosso, como um pedaço de jeans, seque completamente a corrente por fora.

Ou, seja prático, vá até uma bicicletaria e aproveite para trocar a corrente por uma nova.  

Já o problema com o marido não dou palpite, mas sugiro que a próxima vez você o mantenha longe da manutenção das bicicletas.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

a visão do condutor de um veículo grande

A maioria dos acidentes entre ciclistas ou motociclistas e veículos grandes ocorre por que o condutor do veículo grande, como um ônibus ou caminhão, simplesmente não consegue ver o ciclista ou o motociclista. Daí a razão para nós da Escola de Bicicleta repetirmos à exaustão para que se pedale em caminhos alternativos e que se evite locais de trânsito pesado ou que tenham a circulação de veículos grandes. Condutores de vans, pequenos caminhões e mesmo caminhonetes também tem vários pontos cegos onde o ciclista simplesmente desaparece.
 
 

sábado, 9 de novembro de 2013

Números do setor da bicicleta no Brasil - fonte ABRADIBI

Ana Lia de Castro expôs estes números da situação do setor de bicicleta na abertura do debate sobre a questão tributária do setor de bicicletas no Brasil realizado na Brasil Cycle Fair 2013, ocorrida dia 07 de Novembro no Centro de Convenções Center Norte, São Paulo:

Mercado mundial:

  • China produz 81% das bicicletas, Índia 10% e Brasil 6%
  • China: 71 milhões bicicletas
  • número oficial da produção mundial (aproximadamente) 85 milhões
Brasil:

  • 6 milhões de bicicleta vendidas
  • 4,5 milhões da produção industrial
  • 1,5 milhão de bicicletas montadas

  • Caloi, Houston fabricantes grandes
  • 20 fabricantes de porte médio
  • 100 fabricantes pequenos
  • (mais de 150 marcas de bicicleta brasileiras segundo outra fonte)
  • muitos fabricantes não montam – a montagem é realizada na bicicletaria
 
  • Zona Franca de Manaus tem 16% da produção nacional
(Acredito que estes números dizem respeito só ao que é oficializado. Há um mercado informal grande que ninguém sabe ao certo quantificar.)

Brasil; total de impostos:

  • bicicletas – 40,5%
  • automóveis – 32%, sendo que nestes últimos anos foi zerado o IPI, portanto o imposto foi menor
Na apresentação foi feita a comunicação de que a apresentação completa feita por Ana Lia, Diretora Executiva da ABRADIBI, será disponibilizada em breve no site deles: http://www.abradibi.com.br/
Pontos para a construção de uma política nacional para bicicleta apresentados pela ABRACICLO. Ana Lia de Castro à direita e Mona Dorf, que fez a abertura e mediou o debate, à esquerda
Rápido comentário:

A bicicleta tem ficado cada dia mais cara no Brasil principalmente por conta do aumento dos impostos. Brasil não tem uma política pública para o setor da bicicleta e as medidas tomadas, de maneira irresponsável, pelo Governo Federal nas administrações Lula e principalmente Dilma no sentido do protecionismo da (no mínimo) precária indústria brasileira mais parece uma forma de fomentar a venda de motocicleta do que estímulo ao uso da bicicleta.

ABRADIBI principalmente, mas junto com outras entidades, tem trabalhado muito para tentar corrigir a série de distorções que o setor da bicicleta vive no Brasil.

Para o consumidor da bicicleta o que temos hoje é um desastre, uma completa falta de respeito, principalmente para o usuário de bicicletas básicas.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Sturmey-Acher e a falsa tradição

 Levei minha bicicleta numa bicicletaria tradicional (XXXXXXX) de São Paulo por que me disseram que só lá conseguiriam fazer o câmbio Sturmey voltar funcionar, mas ele voltou pior do que antes. Não dá para confiar nem nas tradicionais?

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F., boa tarde.

Quem fez o nome da bicicletaria citada foi o tio do atual proprietário, já falecido. O velhinho sabia das coisas, metia a mão na graxa, tinha tempo para fazer as coisas. O sobrinho é gerente, mas não tem a bagagem do velho um tanto rabugento tio. Situação como esta é comum em bicicletarias tradicionais. A geração mais nova acha que só acompanhando os mecânicos e dando ordens, olhando revistas, lendo um pouco aqui e ali sabe tudo, o que é uma inocência, para dizer o mínimo.

Antigamente, antes do mountain bike, tudo se aprendia na raça, na curiosidade, força de vontade, no gostar da profissão, amar a bicicleta e a mecânica. Os custos de ter uma bicicletaria eram menores, a vida mais fácil, menos corrida; era possível parar numa peça, como num câmbio interno como o seu, abrir com cuidado, estudar, pensar, e procurar corrigir o problema. Se não conseguisse era só buscar outro mecânico experiente, de moto ou carro ou até mesmo um torneiro mecânico, e trocar ideias.

“Deixa ai que eu conserto. Não sei quanto tempo demora, mas passa daqui uns 15 dias que deve estar pronto” e geralmente estava pronto e funcionava “melhor que o original”. Quantas vezes ouvi esta frase. Praticamente tudo tinha conserto ou um jeitinho, por que conseguir peça de reposição era difícil e muito caro.

Desde os anos 90 virou um tudo se troca, tudo é descartável, quebrou vai para o lixo. Tudo ficou mais simples, funcional, mais prático, tanto porque diminui os custos operacionais da bicicletaria, como os dos mecânicos. Como está cada dia mais difícil encontrar aprendizes sérios, o troca-troca virou regra – e mesmo assim com uma qualidade duvidosa. Com isto perdeu-se muito do bom jeitinho brasileiro. Perdeu-se uma vasta cultura da bicicleta e de sua mecânica. Perdeu-se muito, na verdade uma barbaridade. Sinto muita falta dos velhos mestres.

Sturmey-Acher: http://www.sturmey-archer.com/index.html
Suponho que o cubo de sua bicicleta seja este: http://www.sturmey-archer.com/products/hubs/cid/4/id/34.html
E coloca no Google “sturmey-acher 5 technical” que vai a aparecer o  PDF com o desenho técnico. Não é difícil fazer a manutenção. Se for o caso peça ajuda para um mecânico de câmbio de moto.

Acho estranho, raro mesmo, um Sturmey-Acher dar qualquer tipo de problema. Deve ser besteira. Se tiver algo quebrado basta comprar lá fora e trazer via correio.