terça-feira, 27 de abril de 2021

Perseguido e mordido por cachorro?

Aulus Sellmer falou na Rádio Eldorado que teve uma experiência 'desagradável' com um cachorro. Pelo que entendi tomou uma dentada.
Correndo a pé obviamente não se consegue fugir nem sequer de um chihuahua, o que dizer de um vira-lata turbinado. Pedalando dependendo do cachorro, da vantagem que você tem, se você está na descida..., enfim, pedalando também não dá para apostar que vai sair com ou sem a batata... da perna. 
O que o cachorro quer é exatamente isto, que você corra; portanto pare! A brincadeira para o cachorro é o seu desespero; quando você para a brincadeira acaba. "Humano idiota!" 

Fique parado, imóvel, estático! Não olhe nos olhos do cachorro! Abaixe a cabeça! Fique olhando para o chão!

Um dia saiu uma notícia que duas senhoras da sociedade brasileira (?) hospedadas num hotel de luxo de NY entraram no elevador e uns andares abaixo o elevador parou, abriu a porta, entrou um homem muito alto e forte com um maravilhoso dobermann (cachorro) acenou um bom dia com a cabeça e deu a ordem "Seat!" e as duas senhoras apavoradas sentaram imediatamente. 
Dependendo do cachorro é mais ou menos por aí.

Aulus falou no erro crasso de movimentar os braços ou fazer movimentos ameaçadores para o cachorro, o que nunca se deve fazer, nunca! (Berrar, que também não funciona.) E falou que em caso de ser gravemente atacado deve-se proteger as partes vitais do corpo e o rosto. Um cachorro atacar para exterminar sua presa é uma situação completamente inusual, raríssima. 
O nome científico de todas raças e tipos de cachorros é 'canis familiaris', traduzindo de maneira livre, cachorro doméstico (ou cachorro da família). Mesmo cachorros selvagens só atacam quando se sentem atacados, tem sua área territorial ameaçada ou querem proteger sua ninhada. A primeira opção de qualquer animal é evitar conflitos desnecessários.      

Um dia decidi brincar com um labrador simpático solto num parque. Pulei, corri para um lado e para outro, abri os braços, corri para cima dele, que adorou a brincadeira; até o momento que ele decidiu levar o brinquedo para casa e mordeu leve, mas firme, meu braço e me carregou até sua dona que estava distraída a uns 50 metros. Se eu tivesse tentado soltar meu braço aí sim teria me machucado, até porque não se sabe como o labrador iria entender a perda de seu brinquedo. Com o braço mordido acompanhei o labrador até a dona, apavorada, que negociou muito até ele soltar. Meu braço ficou marcado, mas nada mais do que isto. Enquanto ele estava mordendo meu braço abanava o rabo, um bom sinal. Outra coisa, eu fui acalmando a dona para ela não fazer besteira gritando com o labrador.

Pedalando fica mais fácil de controlar a situação. Pare de pedalar, pare de mover as pernas. Pare a bicicleta devagar e coloque o pé no chão com calma. Você está montado em uma bicicleta, dura de roer, portanto tem com o que se proteger, é só ficar atrás dela. 
 
Tem ciclista que espirra água da caramanhola na cara do cachorro, o que na maioria das vezes dá certo, mas lembre-se que maioria das vezes não são todas as vezes, portanto é melhor não tentar. Uma coisa é cachorro bravo, chato; outra é cachorro bravo furioso porque foi provocado. Eu fico com o primeiro e evito provocar. 

Virou briga com o cachorro enfia a mão com tudo até o fundo da goela da fera ou aperta a língua com toda sua força. No mínimo a fera vai engasgar. Esta sei que funciona porque já tive que usar; o cachorro perdeu a braveza imediatamente e se mandou com o rabo entre as pernas.

Tomou dentada, tomou vacina antirrábica.

Mas esquece todas estas loucuras e lembra de:
Fique parado, imóvel, estático! Não olhe nos olhos do cachorro! Abaixe a cabeça! Fique olhando para o chão! De preferência atrás da bicicleta. 
Última dica: não oferece a roda porque certamente o monstro vai furar ou arrancar seu pneu.


p.s.1: Cleber Anderson foi atropelado por um cachorro (inocente, bobo) e quebrou feio a cabeça do fêmur. Cuidado com cachorros na rua, mesmo os mais pacatos. Eles se movem. 
p.s.2: Já tive 'conflitos' com cachorros, mas nada se comparou com a surra que tomei de um gato bravo. Acabei com mais de 100 cortes, arranhões profundos, feios, nas costas e peito, sangue para todo lado. Eu prefiro os cachorros. 


sexta-feira, 23 de abril de 2021

Bicicleta roubada dentro da garagem

Mais uma vez ouço a mesma história: "Roubaram as bicicletas minha e de meu filho de dentro da garagem. Meteram um pé de cabra, entortaram o portão de ferro e levaram as duas. O vizinho tem câmera de segurança. Eu vi tudo". Simplesmente não adianta tentar avisar, falar, contar histórias acontecidas, não adianta fazer nada, o pessoal acha que bicicleta atrás de portão está segura. Definitivamente não está. Está tão segura quanto amarrar cachorro com linguiça.
Pode até ser da própria família, simplesmente ouve por um ouvido e sai pelo outro. Meu genro, cara muito simpático, tinha uma Giant 1992 toda com Deore XT, toda original, perfeita, divina, uma poesia. Avisei inúmeras vezes que deixar a bicicleta na garagem era roubo certo. Confesso que não faço ideia como conseguiram entortar aquele portão de ferro reforçado, mas conseguiram e levaram só a bicicleta dele. Carta marcada.
Desta vez foram as bicicletas do segurança da rua. Depois que ele contou seu "causo" com voz choramingosa eu apontei para um edifício que tem aqui perto e contei a história do roubo de duas bicicletas de amigas. O detalhe é que o edifício em questão tem um dos melhores sistemas de segurança da cidade, com inúmeros seguranças externos e internos, com câmeras por tudo quanto é canto, etc e tal. Ninguém viu, ninguém sabe... "E as câmeras?" foi feita a pergunta. "As do bicicletário estão em manutenção..." Não? Jura! O curioso é que quando a coisa esquentou as bicicletas milagrosamente reapareceram sem as rodas, que prontamente pagas pelo condomínio. Pelo menos isto, mas em garagem de casa de rua não tem nem este babado.

Roubo de bicicleta em garagem e até em bicicletário de condomínio é muito mais comum que se possa imaginar, portanto nunca deixe a bicicleta destrancada, mesmo quando há um sofisticado sistema de segurança, que a bem da verdade vira e mexe não serve para nada. Se a bicicleta é cara, portanto tem peças caras, não deixe no bicicletário porque uma hora vai desaparecer algo; ou tudo. E se achar que tudo bem deixar trancada, que não seja uma tranca qualquer, que seja uma TRANCA! com letras maiúsculas. Na garagem? Com TRANCA! e de preferencia ou escondida ou coberta. De novo; na garagem... se a bicicleta for cara nunca na garagem; guarda dentro de casa.
       
Morávamos num bairro muito tranquilo, seguro, destes de deixar portão para rua aberto o dia todo. Falo de 1960 ou por aí. A garagem ficava no fundo da casa, próxima da porta da cozinha. A cozinha tinha um grande vitro que dava para a entrada da garagem. A garagem era fechada com um destes portões de ferro que correm e enrolam em cima, fazem uma barulheira quando abertos. Estávamos almoçando na sala de jantar, de onde se ouvia com perfeição quem passasse lá fora. Mesmo assim alguém abriu o portão de enrolar da garagem sem que percebêssemos e  levou duas bicicletas, a minha e de minha irmã. Nossa infância ciclística acabou ali. Triste, muito triste. 

Tem certeza que sua bicicleta está segura na garagem?  

quinta-feira, 22 de abril de 2021

Lixocleta

Lixocleta; adoro esta definição de Renata Falzoni. E não dá para definir de outra forma: a bicicleta é literalmente um lixo e ponto final. Por mais boa vontade que se tenha é praticamente impossível fazer estas bicicletas rodarem com um mínimo de qualidade, segurança e confiabilidade. Mas... as pessoas compram, tem mercado para elas. "Eu vou pedalar de vez em quando. Não vou fazer nada de especial, é só para fazer um pouco de exercício..." e não há forma de convencer o leigo que não vale a pena, que vai jogar dinheiro no lixo, que vai desestimula-lo, que vai acabar no lixo.
E no meio de uma conversa o feirante, gente simpática, me diz que precisa levar a bicicleta para dar um jeito porque quer pedalar com os filhos pequenos. "Traz que eu coloco ela em ordem". E hoje a bicicleta apareceu. Estava debaixo do tabuleiro, ele puxou, colocou-a em pé, e como estou velho e com isto mais calmo e educado não soltei um sonoro "Puta que o pariu, que merda!"
Levei para casa, comecei a ver o que dava para fazer, e não era muito, aliás...  Fiz o suficiente para ele rodar um pouco e comparar com uma outra, das que se pode chamar de bicicleta mesmo sendo básica. Não vou contar os problemas porque são todos possíveis.
Esta bicicleta (se é que se pode chamar de bicicleta) foi uma das inúmeras marcas produzidas em fabriquetas muito improvisadas, de donos que não faziam a mais remota ideia do que é uma bicicleta. Várias sequer tinham CNPJ, ou seja, não existiam perante a lei. Para se ter ideia do tamanho do problema na década de 90 o Brasil tinha mais de 30 fabricas produzindo estas coisas. 
O resultado desta 'displicência' foi simples: segundo uma concessionária de rodovia do interior paulista (realmente não me lembro qual) nos anos 2000 pelo menos um terço dos acidentes fatais envolvendo ciclistas foram causados por falha mecânica da bicicleta, de bicicletas com esta baixíssima qualidade. Mesmo na foto é possível ver que o garfo 'veio (um pouco) para trás'. O guidão (que eu deveria ter fotografado em separado) é de péssima qualidade e está completamente enferrujado, o aponta para a fabricação com o aço o mais barato possível. Foram muitos os relatos de ciclistas que arrebentaram a cara no chão porque o garfo, guidão e ou o avanço colapsaram. Tem mais os que se cortaram feio a perna porque o pedal quebrou sem mais nem menos... O número de acidentes consequentes da qualidade destas bicicletas foi para lá de normal; um verdadeiro absurdo. 

E fui devolver a coisa. Acredito que o feirante tenha ouvido o que expliquei e minhas palavras finais: "Compra uma nova, não usa esta nem nos sonhos, ou pesadelos". Quando sai para comer pastel um dos garotos que trabalham na banca passou por mim pedalando a coisa, e riu. Quando voltou olhou para mim e riu muito. Sinalizei tipo "gostou" e ele riu mais ainda. Uma bosta! 

Na época que estas bicicletas vendiam feito água veio um pai e pediu para eu dar um tapa que o filho dele iria usá-la. A bicicleta era ruim, mas bem melhor que esta da foto. Dei um tapa muito a contragosto e entreguei a bicicleta dizendo e alto e bom tom: "Você pode. Seu filho não merece isto. Lembre-se que se ele cair vai sair muito mais caro que o hospital". Não fui ouvido. O filho se arrebentou feio, enfiou a cara no asfalto, teve um corte horroroso, quebrou dentes... Poucas vezes em minha vida me senti tão mal.

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Pedalar na contramão diminuindo os riscos

Como escrevi no blog A escola, a bicicleta e a vida, pedalar na contramão é uma das situações mais perigosas que um ciclista pode ter, na verdade a segunda mais mortal. A primeira é impacto pela lateral que muitas vezes acontece exatamente porque o ciclista está pedalando na contramão e o motorista não o vê. 
Nossas cidades foram preparadas quase que exclusivamente para o automóvel. Como boa parte do desenho urbano que temos no Brasil é irregular, não quadriculado, é muito comum o ciclista, por razões óbvias, procurar encurtar caminho ou evitar subidas, optando por pedalar na contramão, o que infelizmente está se tornando cada dia mais normal. 
Por isto dou a contra gosto dicas de como pedalar na contramão diminuindo riscos.
Dica número zero é NÃO PEDALE NA CONTRAMÃO. O resto é "vai fazer besteira, faz bem feito, não se machuque!"
  • Lembre-se que você é invisível. Normalmente pedestres, ciclistas, motociclistas e motoristas estão olhando e concentrados no que vem na mão de direção, não num ciclista que vem do sentido contrário.
  • Sinalizar pouco vale na contramão porque a atenção dos outros está voltada para o outro lado 
  • Mesmo o mais habilidoso dos ciclistas não tem reflexo e capacidade de reagir para evitar uma colisão frontal ou o atropelamento de pedestres. Pedalar não é filme de ação ou vídeo game, é realidade.
  • O segredo de evitar um acidente é antecipar a situação, ou seja, ver à distância as alternativas de fuga ou parada para ter tempo de reagir. Vale para qualquer situação, conduzindo qualquer veículo, inclusive bicicleta 
  • Na contramão é o ciclista que tem que ver primeiro, portanto diminua a velocidade e redobre a atenção.
  • Calçada não é segura porque o ciclista só vê o carro saindo da garagem, por exemplo, quando está muito em cima ou já bateu. O mesmo para saída de pedestres.
  • Pedalando na rua olhe por onde os carros passam para ver onde é mais seguro. Por diversas razões os motoristas posicionam o trajeto mais a direita ou esquerda.
  • Todo motorista abre a curva, portanto numa rua sem movimento chegue na esquina devagar e pelo lado de dentro, de preferência
  • Pedale sempre antevendo um plano de fuga para poder ter tempo de desviar. 
  • Nunca pedale na contramão em ruas ou avenidas muito movimentadas e estreitas. 
  • Acidentes acontecem com frequência onde o condutor acredita que está tranquilo. 
  • Respeite o pedestre: ele não vê ciclista vinda na contramão.

segunda-feira, 5 de abril de 2021

O comprador é responsável direto pela qualidade que compra

Terminei um texto assim:
Enfim; o mercado brasileiro, não só o de bicicletas, está cheio de distorções que permitem problemas sérios de qualidade. E o brasileiro não pesquisa a fundo, não reclama, aceita. E agora, no meio desta baderna que a pandemia nos colocou, ajudada pelo Governo Federal, a baixa qualidade rola solta. Abra o olho.

Revisando o texto veio o óbvio:
O comprador é o único responsável pela qualidade que recebe. O brasileiro pesquisa via de regra pelo preço, sem foco na qualidade, compra problema, não reclama, aceita como normal, gasta mais dinheiro para consertar ou joga fora; uma sequência de erros que prejudica não só ao indivíduo, mas a todos brasileiros.

Estamos muito longe do "quebra zero" que todos países socialmente justos vem buscando para valer. Quem tem um mínimo de cabeça e responsabilidade caminha a passos largos para zero quebras, defeitos, até por uma questão de sobrevivência num mundo globalizado cada dia mais competitivo. Quem não fizer o dever de casa está fora, ponto final. Ou seja, quem não entender este dogma vai empobrecer - ponto final - e não adianta reclamar. Quem não entender vira pária internacional, espero que brasileiro já tenha entendido o que isto significa.

Saia para a rua e veja quantas bicicletas pouquíssimo rodadas estão com aros e pedais que não são mais os originais. Quantas bicicletas foram modificadas ainda novas?
É uma vergonha culpar os importadores, fabricantes, lojistas ou vendedores porque eles respondem ao que quer o mercado: os compradores. Vamos falar a verdade, a responsabilidade única e exclusiva é de quem gasta o próprio dinheiro com qualquer porcaria.

Tenho profundo orgulho de ter sido o primeiro brasileiro a acionar via PROCON um fabricante por (14) defeitos congênitos de fabricação, isto logo após a criação do órgão estadual, Grupo Executivo de Proteção ao Consumidor, ou PROCON, isto no final da década de 80. Deu resultado. Dá resultado. Vale a pena fazer.

Quantos brasileiros acionaram o Código do Consumidor contra defeitos (congênitos) das bicicletas, de peças e acessórios? Qual é índice de acidentalidade (e mortes) em consequência de falha mecânica das bicicletas vendidas no Brasil?