sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Pneu na chuva fura mais?

Chuva provoca mais furos de pneu? Minha larga experiência diz que sim, principalmente aquela primeira chuva fraquinha, os furos são mais frequentes. Por quê? Não sei exatamente, mas suponho. Numa chuva que não lave o asfalto a sujeira e objetos cortantes acabam sendo tirados do meio fio e levados para dentro da rua. E talvez estes mesmos objetos cortantes, pequenos pedaços de vidro, grampos, malha de aço de pneu de carros e caminhões, acabem meio que colados no asfalto e depois no pneu. 
E no meio desta dúvida de amigos, a bem da verdade minha também, decidi pesquisar.

Num ótimo artigo da cyclingtips.com (link no final) aparece uma explicação tirada do setor automobilístico: o molhado lubrifica os objetos cortantes, o que facilita o corte do pneu e consequente furo da câmara. É ciência explicada num rápido "filme que demonstra o princípio com sutil elegância" segundo o autor do texto da Cycling Tips, Matt Wikstrom. 
De qualquer forma nem eu nem Matt descartamos estas suposições. Simples experiência de vida: no seco os objetos cortantes acabam indo para o meio fio, dependendo da chuva voltam para a rua; visível a olho nu. Então primeira dica: na chuva pedale mais distante do meio fio, o que ajuda e muito.

Bom, furou, e daí?
Consertar furo de câmara no molhado é mais que chato, tem uma grande probabilidade de não funcionar, de um tempo depois o pneu murchar novamente. O ideal é trocar a câmara sem se esquecer de passar a mão por dentro do pneu para ver se o objeto cortante não continua lá. O correto mesmo é olhar com muito cuidado a banda de rodagem para ver se o maldito objeto cortante continua lá, o que é comum. É fácil acontecer de ser invisível ou o dedo não sentir nada por dentro, de pequenos pedaços de fio de aço, grampo ou vidro só transpassar o pneu rodando. Se não forem retirados vão continuar provocando micro furos, o que é um saco!

Quando se vai a uma bicicletaria para consertar o furo a regra para eles é trocar a câmara por uma nova. Bicicletarias fazem isto porque é mais rápido e tempo é dinheiro. Mais, a diferença de preço que cobrariam para remendar ou trocar a câmara é pequena, e normalmente não vale a pena - para eles. Se você não pegar a câmara velha para remendar em casa ela irá para o lixo. 

Fazer um remendo é muito fácil, qualquer um consegue. Com uma bomba de mão enche a câmara, passa a mão para localizar o furo, marca a localização com uma caneta esferográfica, lixa o local do furo e seu entorno num espaço maior que o remendo, coloca uma fina camada de cola, espera um pouco secar a cola, retira o plástico do remendo, centraliza e cola. Para terminar recomendo que pressione o remendo com a mão ou, muito melhor, com a própria bomba para reforçar a adesão do remendo. Pronto, você tem uma câmara reserva. Espero que não use na próxima chuva.

Dá para evitar furos na chuva ou mesmo no seco? A única resposta que não deixa dúvida é rodar com pneus e câmaras de boa qualidade. Quanto melhor menos problemas. Como dizia minha mãe "Já viu coisa (muito) barata ser boa?"


https://cyclingtips.com/

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Como será a bicicleta do futuro?

Será que a bicicleta do futuro será o que diz e manda o mercado? Provavelmente, mui provavelmente. E infelizmente. Bicicleta deveria ser ou tem tudo para ser mais uma vez a alavanca para mais uma revolução, desta vez a ambiental, mas a ambiental para valer, não mais uma maquiagem.

A grande revolução da bicicleta está justamente no altíssimo grau de eficiência que sua simplicidade oferece. Vide as 'velhas holandesas', as "old dutch", aquela bicicleta feminina minimalista que virou símbolo de mobilidade inteligente, mais, cidade inteligente, vida inteligente, economia sadia com justiça social, meio ambiente de fato preservado... Uma old dutch tem pouquíssimas peças, dura muito, custa pouco e tem baixíssima manutenção e, sobretudo, de fato é ambientalmente correta.

Como será a bicicleta do futuro? A bicicleta dos sonhos de quem acompanha a evolução das bicicletas de marca, as de grife, as que dão status? Então estamos fodidos, pelo menos ambientalmente.

Começando pelo freio a disco hidráulico, o fluido é altamente poluente. Pergunto: como é feito o descarte deste fluído que tem que ser trocado de tempos em tempos? Eu uso freio a disco mecânico que é reciclável.... ou menos poluente. Hidráulico ou mecânico a poluição continua nas pastilhas, muito menos preocupante a olhos vistos, mas está lá a cada freada.

Pneu sem câmara é interessante, mas para funcionar bem precisa de um líquido selante que... também é muito poluente. E se o pneu fura ou apresenta algum vazamento, até onde sei, tem que trocar todo líquido selante, o que já vi fazerem e me pareceu um absurdo ambiental. 

Motor elétrico e sua bateria é um sistema complexo na fabricação, manutenção, descarte ou reciclagem. Reciclagem? Alguém ouviu uma palavra sobre esta reciclagem? 

Mais, está tudo ficando elétrico e de onde se vai tirar tanta energia elétrica para alimentar nossas vidas acomodadas? A verdade verdadeira é que ninguém sabe onde vai dar, ambientalmente falando, toda esta maravilhosa revolução elétrica. Qual impacto trará o descarte das baterias? para ficar na pergunta mais simplória. Melhor, qual o impacto ambiental (e social) que já estamos tendo com o descarte de baterias e afins?

Sobre o capacete que aparece na matéria do Estadão deixo um ditado holandês:
Nós, holandeses, pedalamos. Americanos usam capacete.
Tem uma sutileza aí que liga as bicicletas elétricas com o capacete: velocidade. Quanto maior a velocidade do ciclista mais necessário se faz o capacete. Mas tem mais outra sutileza: há uma relação direta entre velocidade e respeito ao meio ambiente. Quanto maior a velocidade do trânsito (ou mobilidade) mais deteriorado é o meio ambiente, e são inúmeras as razões, por poluição direta e indireta, palpável ou não.

Uma coisa é pedalar numa ciclovia cheia de ciclistas com bicicletas não assistidas, ou não motorizadas, outra, completamente diferente e não tão agradável, é pedalar no meio de ciclistas eletrizados. 
Como será a bicicleta do futuro? A resposta deve vir acompanhada com outra pergunta: Como será o ciclista do futuro? Não é o automóvel que faz mal, mas a forma como seu proprietário o usa. Por que não podemos ter a mesma situação com os ciclistas?


sábado, 2 de outubro de 2021

"Tem que trocar o pneu"

- Eu vou alugar um homem para ir à oficina (funilaria de automóvel) comigo!
- O que houve?
- O mecânico me chamou de mulher burra.
- E você não fez nada?

As duas entraram na bicicletaria do supermercado da av. JK com um pneu traseiro furado. Pediram para consertar, o mecânico olhou bem e disse "O pneu está cortado, precisa trocar". 
- Agora não dá tempo. Por favor conserta o furo que estamos atrasadas. 
Ele insistiu, fez troca da câmara, encheu o pneu e cobrou sem mais palavras. Elas agradeceram e saíram.

Uns dias depois ela me telefona pedindo para resolver o pneu cortado. Pedi para levar a roda lá para casa porque tinha um e lá foi ela. 
- Upa! Bontrager! Este modelo (uso misto) é um dos melhores que já tive. Pena estar cortado.
- Eu também gosto. Fico triste em ter que trocar.
Desmontei o pneu depois de uma rápida olhada nos dois lados, passei os dedos por dentro e não encontrei nada. Abri o pneu contra o chão e fui procurando com cuidado onde estaria o corte; nada. Montei o Bontrager e coloquei pressão para ver onde estava a deformação. Ela olhava.
- Deve ser aí; apontou para um fiapo solto próximo ao aro.
- Não, isto é normal num pneu destes já rodado. Não faz qualquer diferença.
E com pneu duro rodei a roda para procurar alguma deformação ou desalinhamento. Pneus com cortes deformam, isto é líquido e certo. Nada, perfeitamente alinhado. 
- Foi tentativa de golpe, coisa tão comum. Pega o trouxa!
- Não acho difícil. Ele parecia sério. Não tem problema mesmo?
- Pelo que você usa este pneu vai durar mais uns muitos anos. A bicicleta vai acabar junto com o pneu, fica tranquila. Menina, é um Bontrager!

País rico é assim: troca! A maioria embarca nesta porque ser rico é chique, sucesso é ter dinheiro para pagar, mesmo que não tenha dinheiro. O importante é mostrar que "pode" e que "não pode passar vergonha". 

A primeira vez que estive em Amsterdam fiquei muito impressionado com o estado da maioria das bicicletas. Muito parecido com as bicicletas populares que eu via no litoral de São Paulo: se está rodando está legal. O resto é resto.

- O mecânico me chamou de mulher burra.
(Mal sabia que a mulher burra em questão tem doutorado, é professora universitária. Já o mecânico...)
Não se trata de quem está sendo atendido. Não se trata de um pneu. Se trata de que país você quer.