- Eu vou alugar um homem para ir à oficina (funilaria de automóvel) comigo!
- O que houve?
- O mecânico me chamou de mulher burra.
- E você não fez nada?
As duas entraram na bicicletaria do supermercado da av. JK com um pneu traseiro furado. Pediram para consertar, o mecânico olhou bem e disse "O pneu está cortado, precisa trocar".
- Agora não dá tempo. Por favor conserta o furo que estamos atrasadas.
Ele insistiu, fez troca da câmara, encheu o pneu e cobrou sem mais palavras. Elas agradeceram e saíram.
Uns dias depois ela me telefona pedindo para resolver o pneu cortado. Pedi para levar a roda lá para casa porque tinha um e lá foi ela.
- Upa! Bontrager! Este modelo (uso misto) é um dos melhores que já tive. Pena estar cortado.
- Eu também gosto. Fico triste em ter que trocar.
Desmontei o pneu depois de uma rápida olhada nos dois lados, passei os dedos por dentro e não encontrei nada. Abri o pneu contra o chão e fui procurando com cuidado onde estaria o corte; nada. Montei o Bontrager e coloquei pressão para ver onde estava a deformação. Ela olhava.
- Deve ser aí; apontou para um fiapo solto próximo ao aro.
- Não, isto é normal num pneu destes já rodado. Não faz qualquer diferença.
E com pneu duro rodei a roda para procurar alguma deformação ou desalinhamento. Pneus com cortes deformam, isto é líquido e certo. Nada, perfeitamente alinhado.
- Foi tentativa de golpe, coisa tão comum. Pega o trouxa!
- Não acho difícil. Ele parecia sério. Não tem problema mesmo?
- Pelo que você usa este pneu vai durar mais uns muitos anos. A bicicleta vai acabar junto com o pneu, fica tranquila. Menina, é um Bontrager!
País rico é assim: troca! A maioria embarca nesta porque ser rico é chique, sucesso é ter dinheiro para pagar, mesmo que não tenha dinheiro. O importante é mostrar que "pode" e que "não pode passar vergonha".
A primeira vez que estive em Amsterdam fiquei muito impressionado com o estado da maioria das bicicletas. Muito parecido com as bicicletas populares que eu via no litoral de São Paulo: se está rodando está legal. O resto é resto.
- O mecânico me chamou de mulher burra.
(Mal sabia que a mulher burra em questão tem doutorado, é professora universitária. Já o mecânico...)
Não se trata de quem está sendo atendido. Não se trata de um pneu. Se trata de que país você quer.
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