segunda-feira, 7 de março de 2022

IMETRO e a qualidade das bicicletas no Brasil


O que vocês veem na foto são dois selins que foram vendidos pela Decathlon no Brasil. Um, o mais velho e bem gasto, era importado; o segundo, o mais novinho, é Made in Brazil com selo IMETRO e tudo mais. Fora a aparência do velhinho importado que já rodou e apanhou um bocado o selim está ótimo, pronto para durar mais um tempão. O nacional já teve que ser colado porque o acolchoado estava se desprendendo na ponta depois de alguns meses de uso. Fosse um problema só com este selim paciência, acontece, mas não é, definitivamente não é. 

Não faço ideia de como é a qualidade do trabalho do pessoal que atua no IMETRO, então não vou julgar, mas sei que um produto ter selo IMETRO significa muito pouco sobre sua qualidade, durabilidade, seriedade. 
Ninguém duvida que os governos tenham uma capacidade bastante duvidosa, para dizer o mínimo, de fiscalizar, controlar e punir quem comete deslizes, erros ou ilegalidades. Mal consegue controlar a qualidade da gasolina, do diesel, da fumaça, que são problemas seríssimos, imagine só inspecionar selins ou qualquer coisa que se relacione a bicicletas. Lembrando que "Bicicleta é coisa de pobre" diz o velho e corrente dito popular. 

Tive que trocar o garfo rígido desta bicicleta que está com o selim mais novo. A gancheira do lado do freio a disco "mudou de forma". Como tive que alinhar este mesmo garfo porque veio de fábrica desalinhado, fato comum nos garfos e quadros com selo IMETRO, sei que o alumínio usado é meio mole, por assim dizer, e não estou nem um pouco afins de comprar um asfalto por ruptura da gancheira. 
Comprei um garfo novinho, bonitinho, bem pintadinho, de uma marca conhecida, que vende bem, até respeitada no mercado. Quando fui ajustar o freio a disco vi que a base do suporte da pinça não estava perfeitamente alinhada, paralela, com o disco. Óbvio que veio com selo IMETRO. Tira a pinça, passa a lima, monta roda, compara, tira roda, passa lima, monta roda, compara e assim vai até ficar alinhada. Ficou, mas aí tive que limar os parafusos para não raspar no disco. Tudo ajustado, saio para a rua, solto a mão do guidão e a bicicleta puxa legal para a direita. Toca alinhar o garfo, o que deveria ter sido na linha de produção. O selo IMETRO estava bem coladinho, selo de garantia de qualidade!

Só selim e garfo? Quem disse? Tudo tem, ou deve, sei lá, que receber o selo IMETRO para confirmar sua qualidade. Você já comprou balde de plástico? 

Não faço ideia de quantos ciclistas sofrem acidentes atualmente por falha mecânica da bicicleta, mas faz uma década as concessionárias de rodovias do interior paulista tinham planilhas que davam 35% como causa de fatalidades. Como será hoje? Quem controla? Quem tem estes dados? Qual a diferença o selo IMETRO faz?

domingo, 6 de março de 2022

Eu, dito um ciclista diferenciado. Que orgulho! Serei?

Mais uma vez fui acusado por pessoas que trabalharam e trabalham com projetos de segurança no trânsito para ciclistas de ser um ciclista diferenciado, "profissional"(?), portanto incapaz de ser incapaz de entender a realidade de ciclistas normais e consequentemente pensar errado, de maneira perigosa para o grande público e, por estas razões, não saber o que é um projeto cicloviário seguro. 

De fato, sou um ciclista diferenciado. Sempre li sobre carros, motos, bicicletas, automobilismo, competições, sempre me interessei por detalhes, o que me podia fazer melhor, o que se podia melhorar, como fazer bem-feito... Até hoje procuro aprimorar minha técnica de condução de carros e bicicletas, esportiva, de trânsito.
Enfim, não interessa nada, o que interessa é que sou um ciclista profissional, seja lá o que isto signifique.

Hoje, aos 66 anos tenho certeza de que quanto mais sei mais sei que nada sei; em outras palavras, depois de tudo que aprendi tenho muito a aprender. Não tenho a mais remota dúvida que me verem como um "ciclista profissional" prejudicou e muito minha comunicação e os resultados do que eu pretendia. 

Por outro lado...
A vida é interessante. Nunca tinha me dado conta do tamanho do elogio. Ciclistas diferenciados, os profissionais, como dizem ser meu caso (uau! obrigado), especializam-se seguindo ditames de competição. Quem sabe o que é uma competição sabe que o máximo, o melhor, o feito com cuidado e precisão, a constante busca da perfeição, é o único caminho para um bom resultado.
Um dos pesares que tenho é justamente não ter ouvido, visto, acompanhado e aprendido mais com meus caros amigos ciclistas profissionais de verdade, e olha que conheço um bom número de ciclistas de primeira linha, vários deles campeões aqui e lá fora. Tenho prazer de aprender com eles. 
Aliás, procurando fotos caiu minha ficha de um sutil detalhe: são poucos os brasileiros que sabem quem foram seus grandes ciclistas. Quem não procura saber não se interessa pelas qualidades que estas pessoas especiais tem. A imensa maioria dos brasileiros não faz ideia de nada sobre qualquer esporte que não seja futebol. É uma vergonha! É uma puta vergonha!
Eu e a querida Ieda Botelho, uma destas pessoas excepcionais, ciclista campeã, que ninguém sabe quem foi, quem é, a montanha de coisas que ela tem para contribuir para o bem comum. Triste, muito triste. 

Se há algo que posso dizer de mim mesmo é que não sou um ciclista "profissional", ciclista de competição a bem dizer. Fui e me considero um ciclista "profissional" de segurança no trânsito porque trabalhei e ganhei dinheiro pedalando, projetando, buscando dar qualidade para as bicicletas, para o setor da bicicleta, dando consultoria até para quem nem era ligado à questão da bicicleta, portanto da segurança do ciclista. Creio que não falo muita besteira, pelo menos luto para não falar nem ficar petrificado sobre posições populistas. Explico: "a voz do povo define o que deve ser feito, a parte técnica, de segurança a gente ajeita".

Em exatos 45 anos pedalando nas ruas, avenidas, estradas e trilhas sinto orgulho de ter sofrido pouquíssimos acidentes de trânsito, menos que o punhado de uma mão, e a maioria foi causado por mulheres, não por elas em si, mas pelo meu vício de ficar olhando mulher bonita enquanto pedalo. Por causa da beleza delas que não se deve perder já acertei poste, árvore, lateral de carro... Nestes 45 anos foram 5 acidentes em homenagem a elas, nenhum grave.

Ter boa técnica e ser cuidadoso é bom princípio para ter segurança no trânsito enquanto se pedala. Considero que tenho estas qualidades e me orgulho delas.
 
Sou um ciclista diferenciado? Não ou sim, sei lá. Procuro ser um cidadão que respeita as regras do jogo e os outros.