terça-feira, 12 de março de 2024

Por que o ciclismo brasileiro é tão precário?

"O que falta no Brasil é união", resposta do "Pé de Chinelo" sobre porque um determinado esporte não vai para frente no Brasil. O dito "Pé de Chinelo", como é chamado por muitos brasileiros numa referência pateticamente ofensiva, foi vencedor em todas as categorias por onde passou, aqui e lá fora, tem 11 vitórias na categoria mais alta e respeitada do planeta, é respeitadíssimo fora do Brasil, e finalmente, continua ganhando provas e campeonatos os mais importantes. Aqui, no Brasil, é "Pé de Chinelo", como os bobos gostam de tirar sarro. Para quem não sabe ainda, no fim deste texto conto quem é.

"O que falta no Brasil é união", diz com toda propriedade todo e qualquer atleta ou esportista que conheça os bastidores dos nossos esportes. Há exceções, sim há, mas a picuinha, o criticar, mal dizer, é regra, o esporte preferido entre os brasileiros. União? Tudo indica que não é nosso esporte predileto. Vamos na base do "nós e os outros", disputa renhida para saber quem é o bom, o gostoso, o melhor, o mais sábio, o mais inteligente, o mais forte... Viramos o país do "Nós e (ou) os outros"?

Brasil não respeita seus bons filhos, os que deixam um legado para o país. São inúmeros os exemplos deste desrespeito nacional. São inúmeros os nomes esquecidos, o que não raro é mais que um desrespeito. Faz um bom tempo escrevi sobre os esquecidos no ciclismo nacional, e me retive no ciclismo para não alongar a perder de vista a história. 
Boa parte destes verdadeiros heróis nacionais, brasileiros, os que foram chegando nas vitórias, na glória, praticamente sem qualquer apoio. Venceram. Aqui raríssimos sabem seus nomes, nem seus títulos, ninguém se interessa; mas no pódio os vitoriosos não são um sujeito com nome, sobrenome e luta, mas passa a ser o Brasil que está lá no pódio. 

Acompanho a bicicleta e um pouco de todas as modalidades de ciclismo praticadas no Brasil e afirmo que estou exausto de ver a coisa desandar. Vi o BMX, o mountain bike, o ciclismo, todos serem destruídos por imbecilidades, mesquinharias, incompetência, e pelo que me contaram, má fé. O que quer que tenha acontecido, vi o ciclismo brasileiro ser jogado no lixo mais de uma vez. Deprimente!
Eu soltei o texto e pensei mais um pouco: "Arturo, deixa de ser sabão!" Eu escrevi para a Bicisport e minha primeira matéria foi sobre a briga que naquele momento, 1988, se não me falha a memória, decretaria o fim do excelente trabalho do Niceu Sato, que comandava a "família BMX". Sim, era coisa de família, no sentido literal da palavra. Em 1991 vi o mountain bike que havia nascido bem, ia de vento em popa crescendo sem parar, ser trucidado pelo mesmo pessoal. Pelo que ouvia na época o ciclismo teve os mesmos problemas e andava muito. Nomes? Está na Bicisport, por favor leiam. Fato é que um grupelho, que por sinal patrocinava o esporte, queria ter plenos poderes em tudo e conseguiu de maneira não simpática nem agradável, com resultados péssimos em todos sentidos. BMX e mountain bike demoraram para se recuperar, o ciclismo demorou mais ainda. O que aconteceu de bom depois foi muito mais fruto de abnegados e amantes do esporte, que persistiram mesmo num ambiente para lá de pesado e contra-produtivo.  O que o povão lembra e fala é do nome do patrocinador, o mesmo que mandava e desmandava com mão pesada e arrebentou com tudo. 

A definição do que é o ciclismo no Brasil? Simples, o Brasil tem algo em torno de 30 milhões de cidadãos pedalando no dia a dia, e não conseguimos ter um representante nacional nas grandes provas europeias. Precisa dizer mais? 
Exclusividade do ciclismo? Emerson, Piquet e Senna ganharam 8 Campeonatos Mundiais de Piloto da F1 em 21 anos. Depois vieram Barrichello e Massa, dentre outros pilotos ótimos. E agora não temos representante na F1? Por que será?
A falta de apoio no Brasil aos esportes é uma vergonha! 

A última maluquice no ciclismo nacional vem acontecendo com Henrique Avancini, que só tem três títulos mundiais no mountain bike, nada mais. Mais, a UCI, União Internacional de Ciclismo, lhe deu o título de Embaixador do Mountain Bike Mundial. Mais uma vez, como tantas outras, com tanta infeliz frequência, não se respeitou nada nem ninguém. Infelizmente para alguns parece que Avancini é um bosta. Deprimente!

O deprimente é que toda vez que um esporte no Brasil vai bem acaba trucidado por interesses mesquinhos, não raro criminais, como diz a grande imprensa. 
Começo e termino minha crítica pelo dito "esporte nacional", o futebol, o mesmo dos 7X1 e dos resultados impensáveis que estamos tendo ultimamente. Não vou me alongar para falar dos problemas financeiros (problemas financeiros?) que destroem times, os mais tradicionais, dentre outros "pequenos" detalhes. 

Aliás, falei de futebol, falei tudo. O resto não existe, o resto é resto. Que resto? Os outros esportes, todos outros esportes, todos que não são divulgados, que não são lembrados, que na realidade só existem quando algum maluco sobe ao pódio e aí vira "Brasil". Os de ponta entendem quando os chamo de "malucos", porque só sendo maluco é que se aguenta o que temos no esporte brasileiro.
Até pouco tempo o esporte olímpico com mais medalhas era a vela. O que vai acontecer com ela quando acabar esta geração de dirigentes e esportistas vitoriosos? 
 
Minha querida prima Thereza diz que "amor emburrecer". Sem dúvida, mas êta burrice deliciosa que é o esporte. Nós, os sérios, amamos o esporte. Mas como tem gente que suga do esporte, opa! como tem! E se aceita com silêncio.

Conheço um monte de campeões e com eles aprendi muito sobre a vida, sobre como encontrar um caminho e chegar a bons resultados, no esporte, para a vida.

Rubens Barrichello, o homem que citei no começo é Rubens Barrichello. Tenho visto uma série de entrevistas dele no YouTube e estou muito impressionado com o homem, o ser humano Rubens Barrichello, a maturidade de seu valores, sua dignidade. 
Mesmo antes de ver suas entrevistas, sempre achei que Rubens Barrichello é uma melhor referencia para o Brasil que o Airton Senna. Senna foi um esportista completamente fora da curva, excepcional,  fazia mágicas, coisas que o pessoal tem dificuldade de entender até agora. Senna não serve como referência para os simples mortais porque era único, diferenciado. Como Pelé, o Atleta do Século, acabou, não vai ter outro. São pessoas muito especiais que devem admiradas, mas não como referência. 

Rubens Barrichello é um lutador, um trabalhador excepcional, um exemplo para todo brasileiro. "O que falta no Brasil é união" é a mais pura verdade. No esporte então...  



domingo, 10 de março de 2024

Mercado de bicicleta implodiu?

Tenho vários amigos que são donos de bicicletarias. Para eles e para os que me perguntam por que não sou dono de uma, respondo na lata:
- Sou completamente louco, mas não sou dono de bicicletaria. 
A maioria destes amigos repete a minha resposta quando me vê rindo da própria situação. Mercado de bicicleta é um dos negócios mais difíceis que alguém pode se meter. Melhorou muito, é muito mais organizado, profissional, mesmo assim é dificílimo, uma loucura para poucos (sobreviventes).

Eu sabia que o setor de bicicletas está passando por uma fase muito difícil, mas não imaginava que o buraco fosse tão embaixo como diz um artigo da Bike Magazine. 

Ano passado o UBS, um dos maiores bancos do planeta, soltou uma análise sobre o futuro dos transportes no mundo nos próximos 10 anos e para meu espanto (ou não) bicicleta e ônibus aparecem com investimento praticamente zero. 

A aposta e ou a sobrevivência do setor vem sem sendo jogada no lucro das bicicletas caras, de elite. Fiquei embasbacado em Mossoró quando entrei numa bicicletaria de luxo, e mais embasbacado ainda quando me disseram que as vendas pelo interior, leia-se sertão, iam de sol a pino e vento em popa. 
Bicicleta cara, uma moda? Gostaria que não fosse, mas no meio do dinheiro farto tudo é meio fugaz. Se fosse meio fulgaz seria ótimo. Duvido que passe disto.

E as bicicletas populares? Por diversas razões estão sendo substituídas por motos. Acredito que uma das razões vem da baixa qualidade das bicicletas populares, as baratinhas, que quebram, quebram, quebram... Melhoraram muito, mas muito mesmo, com a importação generalizada. Para a população de baixa renda moto é mais prática e acaba saindo mais barato também por diversas razões.

Rentabilidade mais estável vem com venda em massa, em grandes quantidades, e lucro apertado por venda realizada. Mercado de luxo é uma outra história, acaba se afunilando e dando espaço para poucos, bem poucos, que ganham muito enquanto produzem o que brilha nos olhos de quem pode pagar. A questão é que um dia chega uma coisa nova, uma marca diferente, alguém diz que é legal, que é o must, novo objeto de desejo, e todo mundo corre para aquele lado. Quantas bicicletarias chiques você viu abrir e fechar nos últimos anos? Quantas marcas de bicicleta eram o must e foram comidas por uma nova que é a bicicleta de uma equipe que está correndo o Tour de France e que até ontem era completamente desconhecida?

O setor de bicicleta tem um novo aliado para as vendas, que é o colapso das cidades. O automóvel não é mais tão vantajoso assim, dependendo da hora e local é uma maldição. "Viva qualquer coisa que me tire desta lata de sardinhas!" Viva a bicicleta? Pode ser, mas tem também o patinete, a scooter, a bicicleta elétrica (que não é uma bicicleta, mas dizem que é)...

Apostaram pesado no crescimento de vendas das bicicletas normais na pandemia. Sifu! geral, erro de estratégia grosseiro, falta de leitura de história, falta de referência para entender o que estava acontecendo e que iria acontecer. Houve uma explosão das vendas e de usuários durante a pandemia, mas voltamos ao normal, ao que mais ou menos éramos antes da pandemia.

Deve ter aumentado o número de usuários de bicicleta, dizem e acredito, mas principalmente da bicicleta elétrica (que não é uma bicicleta, mas dizem que é). Dá para falar em aumento porque as boas oficinas estão cheias de trabalho, é o que está sustentando tudo. As vendas já sabia que estavam fracas, pelo menos nas bicicletarias. Estive conversando com alguns gerentes da Decathlon e eles estão felizes. Por que? Preço x qualidade x facilidade de pagamento, e a meu ver mais um pequeno detalhe: bom atendimento.