terça-feira, 14 de julho de 2020

Porque brasileiro não gosta de refletores na bicicleta?

Aproveitando o tempo em casa estou fazendo uma arrumação, como todo bom brasileiro. E dei com um grande saco plástico cheio de kit de segurança para bicicletas. As bicicletarias costumavam joga-los no lixo. A razão conto aqui.

Primeiro uma foto de minha bicicleta.
Não são luzes, mas refletores, inclusive os vermelhos que refletiram a luz vinda na perpendicular.
Os dois vermelhos e os da roda traseira são adesivos destes usados em caminhões. O garfo está com um resto de refletivo de cone que encontrei no meio do asfalto (só o refletivo, o cone desapareceu). Preso no raio da roda dianteira um refletivo oval de plástico dos importados. 
Refletores funcionam muito bem. A prova está na obrigatoriedade do uso de refletores nas carrocerias dos caminhões e ônibus e a brutal queda no número de acidentes noturnos depois que o uso se tornou obrigatório. Mesmo que dê uma pane elétrica o veículo continua visível. O mesmo vale para bicicletas.

Mas se funciona porque o brasileiro não usa refletores? Porque chegamos ao ponto das bicicletarias retirarem os refletores das bicicletas novas para a venda ser mais fácil? A resposta é simples: a baixíssima qualidade do que foi oferecido ao mercado brasileiro. 
As fotos a seguir dizem tudo. 

Toda bicicleta nacional vinha com este kit de segurança, obrigatório por lei, o CTB. Era composto por um refletor dianteiro branco, um traseiro vermelho, duas abraçadeiras com parafusos e porcas; dois refletores de roda com duas travas de raio; uma campainha; um espelho retrovisor com abraçadeira, parafuso e porta.
O espelho retrovisor que nos primeiros anos era obrigatório, sendo o Brasil um dos únicos ou o único país a obrigar seu uso, deixou de ser obrigatório. Mesmo assim vale recordar sua história: por conta de um projeto errado a abraçadeira não conseguia manter o espelho na posição. O conjunto parafuso e porca foram subdimensionados, aliás dentro deste saquinho que abri nem vieram. Não importa, era comum a abraçadeira partir. Ou o espelho quebrar em sua base. 
A campainha, de bom projeto, mas fabricada com materiais de baixa qualidade, parava de funcionar por que a mola do acionador perdia sua qualidade de mola, ou o sino da campainha se perdia por que o pino que a segura à abraçadeira se soltava. E se nada disto acontecesse com certeza o sino enferruja.

Os refletores:
Os refletores dianteiro e traseiro em si não são de má qualidade, refletem aceitavelmente, mas o projeto de fixação é errado. De novo problema com a abraçadeira, muito fina e de material frágil; e o uso de parafuso e porca subdimensionado para a vibração de uma bicicleta. Resultados: ou a abraçadeira partia, ou o parafuso afrouxava da porta o que ocasionava a perda do correto alinhamento do refletor ou sua queda.
Os refletores de roda refletem aceitavelmente, não comparável aos importados. Foram fabricados num material mais frágil do que seria recomendado para montar numa roda. O principal problema deles é a trava que faz a fixação do refletor nos raios. A foto pode não estar boa, mesmo assim fica claro as rebarbas nas duas pequenas travas brancas, que torna impossível de usa-las. Outro problema destas travas é que são de material muito mole. Era frequente o refletor sair do lugar ou perder se.

O resultado deste conjunto de baixas qualidades foi que os ciclistas acabaram ficando com raiva deste kit de segurança e mesmo sendo obrigatório a primeira coisa que eles pediam na bicicletaria é que todo kit fosse retirado da bicicleta antes da entrega. Esta história é fácil de ser comprovada.

Refletores são vitais para o ciclista, não importa que eles tenham e usem luzes e sinalizadores. Estou cansado de ver ciclista invisível por que acabou a bateria ou por que a luz deu defeito e o ciclista não percebeu. Ter refletor de boa qualidade e bem posicionado é certeza de ser visto pelos motoristas.   

Só como exemplo a foto abaixo é refletor com abraçadeira Cateye, importado, nos conformes com as leis Americanas, Europeias e Japonesas. Este mesmo da foto, já velhinho, fui passando de bicicleta para bicicleta, isto desde 1990. Funciona perfeitamente, não sai da posição, não quebra ao menor toque, nem num tranco mais forte. E continua refletindo maravilhosamente bem.
Outro refletor Cateye, importado, com abraçadeira ajustável; boa foto para entender a diferença para os fabricados no Brasil. O estranho é que se fabricamos aqui no Brasil lanternas de carros, motos e ônibus e caminhões com altíssima qualidade porque os refletores para bicicleta fabricados aqui foram tão frágeis?

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