Luis de Beto Dranger conseguiram a representação da Specialized no Brasil e já em 1989 começaram a receber as primeiras bicicletas, dentre elas uma Rockhopper Pro, toda Deore DX, tamanho 18 verde folha levemente metálica com letras em laranja, linda de morrer. Virou a bicicleta do Beto. Em 1990 a Halls - Schick, patrocinadora das primeiras provas hiper organizadas de MTB em São Paulo, decidiu promover uma prova show em Recife, melhor dizendo, na Praia de Boa Viagem. Enfiaram num ônibus uns 25 ciclistas e eu, que conhecia Recife e Olinda e acabei sendo uma espécie de guia e responsável pelo grupo.
Sempre fui muito cuidadoso com as bicicletas dos outros, mesmo com as bicicletas que me foram entregues para teste de revista. Quando o Beto disse que eu iria com a Rockhopper, primeiro não acreditei, não quis, ele insistiu, e depois de muito sim e não jurei cuidados especiais, traze-la de volta perfeita, etc... e tal. Não acreditava, pedalar uma Rockhopper Pro era um sonho.
Na hora de colocar as bicicletas no portamalas do ônibus expliquei para todos que a linda (Rockhopper) era emprestada e que iria separada das outras para voltar intacta, já que não tinha dinheiro para reparar qualquer dano. Todas as bicicletas foram encaixadas milimetricamente uma grudada na outra na transversal do ônibus; e a Rockhopper foi cuidadosamente presa apoiada nas rodas das outras bicicletas, presa no sentido longitudinal do ônibus, sozinha, separada, intocável, longe de qualquer perigo.
Chegamos no hotel de Recife depois de uma longa e cansativa viagem. Foram abertas as portas do porta-malas, eu a frente de todos para tirar a linda com todo cuidado. E logo depois de ser destravada a porta do porta-malas a chave de roda caiu no chão. Ouvi o som metálico repicando no asfalto e olhei com cara de idiota. Abriu-se por completo a porta e vi a pintura da Rockhopper arruinada. Todas as outras bicicletas chegaram intactas.
No dia seguinte fizemos a corrida, ou o que quer que tenha sido aquilo no meio da areia. Que seja. Voltamos para o hotel, descansamos e o pessoal quis pedalar por Recife e chegar até Olinda, minha linda Olinda. Na cabeceira da ponte que liga Boa Viagem com a av. Agamenon Magalhães tive que proteger um ciclista que não foi visto por um motorista e acabei no asfalto, melhor arrastando na areia que a noite não vi. Mais arranhões na linda. Lei de Murphy, se pode dar errado porque vai dar certo?
Quando cheguei em São Paulo quis morrer ao devolver a bicicleta. Beto deu risada, tirou um sarro, não se importou.
Um pouco depois Luís teve que ir até a Specialized em Morgan Hill, California, então a sede da empresa. Levou um pedido especial de um amigo que queria restaurar um Stumpjumper: os adesivos originais. Falou com Mike Sinyard, o criador e dono da Specialized, que de bate pronto respondeu:
- Diga ao seu amigo que faço bicicletas para serem usadas, não para serem olhadas.
Assunto encerrado.
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