sexta-feira, 21 de julho de 2023

Está ventando muito. Hora do treino de subida

Que ventania! As árvores estão balançando forte, as janelas tremem e assobiam, nuvens passam rápido. Aproveita, sai para pedalar ou vai treinar. "Estás louco?" Pode ser, mas ventania é uma daquelas oportunidades que não devem ser perdidas para melhorar o condicionamento físico.  

Para baixo todo santo ajuda, com certeza e para a felicidade da maioria. E vento de popa (na traseira) empurra que é uma beleza. Está aí o segredo, as duas situações são moleza, sentar no pudim, portanto o contrário é sangue, suor e lagrimas; ok, nem tanto, mas pelo menos um sofrimento proveitoso.

Agora direto ao ponto; é impossível pedalar sem ter que enfrentar uma subida ou um vento, portanto prepare-se. Considero vento muito mais difícil que subidas porque é imprevisível, fica variando, nunca se consegue prever quanta força, quanta energia será necessária para seguir em frente. O pior inimigo é o invisível. 
Tenho boas recordações de várias subidas, mas não guardo o mesmo prazer de ventanias pegas de frente. Numa delas, pedalando numa estrada, a bicicleta simplesmente parava nas descidas. Em cada uma das descidas tive que engatar a primeira e pedalar com muita força, como estivesse subindo uma parede, até chegar na sombra de vento, lá em baixo. Todas subidas, na sombra de vento, foram um prazer, mas quando ia chegando no topo e início da descida voltava o suplício. Eu era jovem, forte, estava bem treinado e mesmo assim sofri uma barbaridade naqueles 10 ou 15 km de subidas e descidas sem parar de fazer força. 

Outra lembrança foi em Recife, quando todo feliz pedalei de Boa Viagem para o Centro fácil, fácil, uma beleza. Na volta peguei um vento contra vindo do mar, vento de proa mesmo, e voltar para casa foi demorado e dolorido. Num determinado ponto fui ultrapassado por uma senhora correndo a pé, ou quase andando. 
Todo mundo sonha pedalar na Holanda, pais plano, só ciclovias, o paraíso das bicicletas... até entrar o vento do Mar do Norte, forte, gelado, impiedoso. Numa das vezes a ventania congelante chegou quando faltava uns 3 km para o hotel. Para se ter ideia do é, tive que descer da bicicleta e empurrar uns 100 metros até uma loja onde entrei para não congelar. Comprei um agasalho, cruzei o canal batendo o queixo para tomar um chocolate fervendo para estabilizar. Tudo isto em uns 20 minutos se tanto, do momento que não conseguia mais pedalar até o primeiro gole do delicioso chocolate.
Vivemos num país tropical, portanto não há o que temer em relação a congelar no vento. Talvez ser precavido para não ficar ensopado ou passar algum frio, mas nada além. 

Pedalar no vento usa praticamente a mesma técnica de pedalar nas subidas. Vento vem de vez em quando, as subidas estão lá para quando quiser e puder.
Aprender a subir melhora muito o rendimento em todas outras situações, basta fazer correto. O segredo é iniciar a subida devagar para terminar rápido, regra que vale para qualquer outra situação, plano, distância, e até mesmo descida. Tem que ir pegando a situação com calma para o corpo se adaptar. Entrou de sola na subida, acreditou que embalar no começo facilita, e outras soluções mágicas, não dá certo mesmo. O correto é fazer a musculatura, o cardíaco e respiratório, se adaptarem lentamente ao esforço e continuar pedalando mantendo uma cadência que não exploda você. A boa subida é aquela que você mantem um esforço possível constantemente, sem picos, sem "morreu - parou - voltou - morreu - etc...", o que é muito comum. Por incrível que pareça em subidas longas e pesadas ir lento se chega rápido. 
Muito importante, tem que se controlar a ansiedade, que mata tanto quanto a própria subida. A saber, ciclistas profissionais são treinados para evitar a ansiedade inevitável (até para eles, profissionais) no final de qualquer subida. Quem já fez uma longa subida cansativa, cansado, mas bem, mas quando chegou nos últimos metros sentiu as forças sumirem e morreu! Normal. Por isto se deve controlar a ansiedade em toda subida. Como? Controlando os pensamentos e baixando a respiração.

Vento é um treino maravilhoso, ou terrível, como queira, porque você nunca sabe ao certo o que vai acontecer. Na subida o ciclista vê o que está a frente, no vento não. Vento é imprevisível, o que ensina muito sobre como usar constante e corretamente as marchas e a controlar a ansiedade, como se concentrar no pedalar, em usar todas as técnicas que tiver para seguir em frente. Dependendo do vento você volta para casa moído. Se der sai a favor do vento para aquecer a musculatura e volta contra. 
Divirta-se. 

Numa das vezes junto com vento veio um raio que caiu no meio da estrada a uns 500 metros a frente, se tanto. Óbvio que não só parei imediatamente como me abriguei debaixo de um viaduto. Acabou a brincadeira. 
Noutra, estava no meio de uma ponte e vi uma parede, literalmente, cor de terra vindo em minha direção. Vinha rápido e ia engolindo a paisagem. Quando chegou em mim descobri o que é uma tempestade de pó, que chamam de tempestade de arreia. Fica aqui o aviso: se um dia tiver a mesma experiência corra para um abrigo. 

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