O velho e surrado pneu começou a mostrar sua lona. Hora de trocar. Peguei um par de pneus praticamente novos de uma das melhores marcas chinesas do mercado que estavam numa bicicleta parada e tentei fazer a troca. Não consegui montar os novos, não teve jeito. Conseguir eu consegui, o problema é que enchia e o pneu pulava do aro. Recoloquei no aro tomando cuidado para que ficasse certinho, por igual em todo perímetro, enchi com bomba de pé bem lentamente, e num ponto pulou fora do aro de novo. Usei uma outra técnica, rodar devagar uns metros com baixa pressão para ele assentar uniformemente e... e... e... o pneu pulou fora do aro mais uma vez. Nunca tinha acontecido com o pneu velho, nacional. Uai, o que está acontecendo? (Sei o que foi e já conto). Desmontei os dois pneus seminovos, inspecionei com cuidado, nada. Estranho, os mesmíssimos estavam perfeitamente montados e alinhados, nunca escaparam dos outros aros ou apresentaram este problema.
Inconformado e curioso para descobrir o que estava acontecendo, peguei um par de pneus 1.5 também importados que só usei uma vez quando subi a Serra do Rio do Rastro, montei e os dois pneus também pularam do aro quando chegavam na pressão mínima, 40 libras.
Confirmado o que pensava, voltei os pneus brasileiros agora carecas que nunca pularam fora do aro e sempre rodaram alinhados.
Agora a mais provável explicação: aros com perímetro (circunferência) menor do que o padrão. Por que sei? Por causa de uma reclamação que fiz para a Pirelli sobre problemas com os pneus das Caloi 10 creio que em 1979 ou 1980. Apresentavam o mesmo problema, com a calibragem recomendada eles ou estouravam ou deformavam. Na Pirelli fui recebido gentilmente pelo vice presidente da empresa no Brasil. Ele reconheceu que havia um problema só aqui no Brasil, e completou informando que o mesmo pneu era exportado e vendido para todo mundo, incluindo Europa, e que não haviam reclamações por lá. A razão para os problemas por aqui seria a qualidade dos aros, que não tinham o perímetro correto. Avisou também que iriam diminuir a pressão recomendada para evitar futuros problemas aqui, o que fizeram logo depois, de 70 para 60 libras.
Montar pneu no aro naquela época era complicado. E ter problema com pneu era trivial.
Quando chegaram as primeiras importadas no Brasil descobrimos que de fato havia algo muito errado nesta relação dos pneus com os aros fabricados por aqui. Montar, desmontar, calibrar bem, tudo ficou muito mais fácil e confiável; incluo aqui a frenagem, que com aros nacionais era bem ruim, aos trancos. Rodar com os aros KKT, japoneses, de excelente qualidade, era um sonho realizado em todos sentidos.
Voltando; depois das explicações na Pirelli fui atrás do principal fabricante de aros e descobri, vendo pessoalmente, que eles não faziam manutenção nas máquinas que produziam os aros. Qualquer máquina de produção necessita constante ajuste, que é feito por um especialista, o ferramenteiro, que tira as folgas causadas pelo próprio funcionamento da máquina. Como ninguém reclamava, tudo era fabricado de qualquer forma, não só os aros que saíam com variações inaceitável, incluindo no alinhamento, mas isto é uma outra história que não cabe aqui.
- Bom, e daí, por que o pneu nacional fica montado no aro e o bom importado não? perguntarão.
A resposta é simples: baseado na minha experiência anterior, suponho que como o fabricante nacional de pneus sabe que alguns aros fabricados no Brasil acabam sem o perímetro exato definido por normas internacionais, eles fabricam os pneus com um perímetro um pouquinho menor, mas dentro do limite possível estabelecido por estas mesmas normais internacionais, já que são exportados. É um jeitinho inteligente para evitar problemas dos quais eles não têm nenhuma responsabilidade. IMETRO? Com todo respeito, não dá conta do recado. E continuamos no 'ninguém reclama', o pior da história.
Tenho a dizer que os aros nacionais de hoje são infinitamente melhores que os daqueles anos terríveis da década de 80, já não apresentam erros básicos, são bem fabricados, tem praticamente a mesma qualidade dos importados, mas ainda poderiam melhorar. Aliás, sempre se deve melhorar. Não tive a pachorra de medir o perímetro dos aros, aliás nem tenho ferramental de precisão para tal, mas o problema denuncia o erro.
Nas fotos, a linha de assentamento dos pneus nos aros é bem visível e dá para entender o que digo
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