Manifestos para Viabilização de Bicicletas vêm sendo entregues a candidatos a Prefeito do Município de São Paulo desde a década de 90. O texto abaixo é a versão entregue para a eleição de 2004, já com tinta do incrível Sérgio Luís Bianco, bom amigo de todos, sonhador e lutador por uma cidade mais justa para todos modais de transporte.
O mesmo documento era de conhecimento de muitos dos integrantes que fizeram o Plano Diretor do Município de São Paulo na administração Marta Suplicy. Sérgio, um dos que assinou o Projeto de Governo de Marta Suplicy (dentre outros candidatos petistas) quando de sua eleição, entregou pessoalmente o documento e mais algumas propostas que foram simplesmente engavetadas. Se saiu algo sobre bicicletas no documento final deste Plano Diretor foi por conta de Fernando Vecchia, que a poucos dias do fechamento dos trabalhos chamou atenção de maneira mais forte para o esquecimento. Durante os trabalhos por mais que Sérgio tentasse não foi ouvido. Tive a péssima experiência de ter participado com Sérgio em algumas reuniões de órgãos da Prefeitura e afirmo que o tratamento dado a Sérgio, ou às demandas da bicicleta, como queiram, foi, por assim dizer, desagradável, desprezível, dispensável. Logo em seguida Sérgio entraria em depressão, seguida de derrame e morte. O Brasil e a bicicleta perdeu uma figura maravilhosa.
Janaina Ab Saber, Sérgio Bianco, Ana Maria Hoffman, Meli Malatesta fazendo vistoria técnica em Engenheiro Marsilac |
Manifesto
para a Viabilização do Uso de Bicicletas e outros Modos de Transporte Não
Motorizados para o Município
POR UMA
POLÍTICA MUNICIPAL PARA NÃO MOTORIZADOS
Sobre o número de ciclistas e
bicicletas nas cidades brasileiras
A bicicleta deixou de ser só um meio de lazer, esporte ou brinquedo e
se tornou definitivamente uma opção de transporte.
Nestes últimos anos o número de ciclistas circulando pelo Município não
pára de crescer, seja por questões de praticidade, economia ou por causa das
deficiências do transporte público. Cresce seu uso, independente da faixa
etária, sexo, condição social, econômica e da ausência do Poder Público no
implemento de melhorias e ordenamento garantido em Lei.
Há
uma imensa demanda reprimida de usuários da bicicleta, o que pode ser
comprovado nos fins de semana, quando a frota de bicicletas na rua aumenta
sensivelmente. Somente um terço das bicicletas existentes no país saem às ruas.
Sobre o
traçado urbano e a topografia, e o uso da bicicleta:
O trânsito denso e pesado na cidade está concentrado
em avenidas e vias expressas específicas o cria ilhas de tranqüilidade no
interior do bairro, o que pode ser usado como excelente opção de caminhos
alternativos voltado para ciclistas e outros não motorizados.
A desculpa da topografia acidentada já não constitui
problema porque a maioria das bicicletas é dotada de marchas, o que permite
vencer com certa facilidade até aclives acentuados. Isto faz com que o padrão
técnico de declividade para uso de bicicletas existentes hoje seja outro.
A bicicleta é veículo ideal para pequenas e médias
distâncias, muito eficiente até 4km. Tem uma média de velocidade urbana entre
12 e 18km/h, dependendo do número de semáforos. Sua aceleração e manutenção de
velocidade tornam incompatível o convívio do ciclista com trânsito de vias
expressas. Portanto é dentro dos bairros e suas ruas tranqüilas onde há a
situação mais apropriada para estabelecer o uso da bicicleta.
Pensada com inteligência a bicicleta traz notáveis
benefícios para o seu usuário, para a comunidade local e para a economia da
cidade como um todo. Bicicleta abre as portas para um desenvolvimento urbano
mais justo para todos os outros não-motorizados.
O uso da bicicleta transforma e educa para a vida.
A vida do
ciclista e dos não-motorizados hoje
Não resta dúvidas que o uso da bicicleta está e
continuará crescendo, independente da presença ou vontade dos Governos, o que
positivamente não é uma situação ideal.
A conseqüência disto está nas poucas estatísticas que mostram o aumento
de problemas.
O descuido beira o inaceitável.
Não é de interesse dos ciclistas e menos ainda de toda
sociedade que, por descaso do poder público, haja mais um veículo gerando
conflitos em vias que já estão no seu limite.
Esta situação pode apagar a imagem simpática que a
bicicleta ainda tem, o que só faria piorar a situação.
Pela ordem e o progresso respeitando todos direitos.
Urge respeitar direitos e cumprir a Lei, fazer
presente o poder público em suas obrigações com relação aos ciclistas e todos
demais não-motorizados.
É conveniente abrir canais de comunicação e obter
colaboração de ciclistas e outros não-motorizados experientes para a solução
dos problemas.
Quem não usa veículos
motorizados se encontra abandonado. É necessário rever a política de transporte
para que esta inclua e integre todos os modais de transporte.
Infelizmente, parece ser
necessário lembrar que todo cidadão tem direito à mobilidade, ao
compartilhamento do espaço destinado ao trânsito, à saúde pública, à redução de
acidentes, à preservação do meio ambiente, enfim, ao respeito e a dignidade.
É absolutamente impossível
continuar negando a existência da bicicleta, do ciclista, do cadeirante, do
deficiente, do pedestre e de todos outros não-motorizados.
Por uma política de trânsito
democrática.
Pela criação de uma política
de mobilidades amplamente inclusiva.
Pontos
básicos de reivindicação:
Para todos:
1. pedestres!: lembrar sempre
que nós todos somos pedestres!
2. iniciar política voltada
para todas as mobilidades.
3. respeitar os direitos de
menores, idosos e não motorizados
4. inclusão em curto prazo de
deficientes (15% da população)
Para o estímulo ao uso da
bicicleta:
- Levantamento geral da situação atual:
- Mapeamento feito sob o ponto de vista do ciclista
- Campanha Educativa
- Educação para o Trânsito voltada para Crianças e Adolescentes
- Bicicletários, pára-ciclos e estacionamentos
- Criação de órgão responsável pelas bicicletas e não-motorizados
para o Município e área Metropolitana
- Dar treinamento específico para policiais e técnicos
- Criação de Polícia-ciclística
- Formação de orientadores / professores de segurança ciclistas
- Banco de dados específico
- Contato com entidades representativas de motorizados
- Rever Leis e tomar providências necessárias
- Levar em conta todas alternativas - não restringir-se a ciclovias
- Planejamento e execução de projeto melhorias: Ciclorede
- Colocar na rua orientadores / professores de segurança no trânsito
voltados para o ciclista comum, que trabalhem pedalando e vivenciando os
problemas da bicicleta > educação + pesquisa = banco de dados =
segurança = menor custo
- Cadastramento e controle imediato das bicicletas profissionais –
bicicletas de carga / entrega, definindo responsabilidades.
- Criar facilidades em estradas que cortam o Município.
- Criar áreas de treinamento esportivo
- Definir responsabilidade legal sobre a criança ciclista e uso de
calçada
- Definir regras de uso em parques e espaços públicos
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