quarta-feira, 10 de abril de 2024

Pequenas bicicletarias, pobres bicicletarias

Cheguei na bicicletaria para perguntar se tinham um pneu básico e o dono estava discutindo uma diferença de caixa de R$ 1,00 com o funcionário. Pensei eu "Uau! R$ 1,00 de diferença de caixa e uma conversa com toda esta seriedade? Faz diferença mesmo para ele?" Sim faz! Sinal claro de como é dura a vida das pequenas bicicletarias.
Ele terminou o que estava fazendo e veio me atender. A bicicletaria é muito simples, com paredes ponteadas por uns poucos produtos de forma a não deixar a parede completamente vazia. Ele não tinha o pneu abiscoitado nacional que eu procurava, mas tinha um similar chinês pelo mesmo preço. " Não estou comprando o nacional. Subiu muito de preço. Para mim não está compensando mais. O importado entra por R$ 29,00 e o nacional por R$ 32,00, e tenho que vender os dois pelo mesmo preço, R$ 50,00" terminou ele. R$ 3,00 de diferença em cada pneu e não fecha a conta? Sim, não fecha a conta. Quem vive em bairro bom de cidade grande e rica não faz ideia de como são as coisas no resto do país.
 
Pneu é um artigo que demora no estoque. A reposição é lenta, bem lenta, mesmo entre os pneus de baixa qualidade. A Decathlon parou de vender pneus porque o giro é baixíssimo e fabricantes e importadores só negociam grandes quantidades. Não perguntei como é o giro dos pneus naquela bicicletaria até porque trabalhar com um orçamento tão apertado para mim foi um choque. 

O manobrista do estacionamento aqui em frente comprou uma bicicleta usada para vir trabalhar. Fora os pneus muito gastos, o resto está em bom estado. A muito custo consegui convencê-lo a continuar rodando com aqueles pneus mais um pouco. Ele concordou porque para ele R$ 130,00 de dois novos faz muita diferença. R$ 130,00? Mas não escrevi que pneus básicos novos não custam R$ 50,00 cada um? Sim, em Penedo, não na favela onde o manobrista mora. Por que?

Não sei como está hoje, mas faz um bom tempo conversei com um dos donos das bicicletarias que ficam próximos as balsas do Guarujá, onde só vai trabalhador de baixa renda. A qualidade geral do que vendia, naquela época, faz tempo, era bem baixa. Perguntei por que e a resposta foi direta: 
- Se eu vender qualidade vou a falência. O pessoal tem que voltar para fazer manutenção ou trocar peças ou não sobrevivo.
Ups! Infelizmente a mais pura verdade.

A diferença para a pequena bicicletaria de uma cidade pequena é que todos se conhecem, o que transforma o negócio em coisa pessoal. O bicicleteiro tem que vender produtos e serviços baratos, mas não pode sacanear. Ele ganha pouco, mas mantem-se, sobrevive. 
Onde tem muito cliente, se o negócio perde um logo vem outro. 

Eu tenho o maior respeito por estas bicicletarias pequenas de periferia ou interior. A vida deles não é fácil. Mais, muitos deles são bons no que fazem. São mecânicos de bicicleta para valer. Alguns estão mais para milagreiros. 

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