Como conto neste vídeo bem antigo, ansioso nem ciclista profissional vai bem, imagine quem nunca pedalou. Aí é que não sai do lugar. Agora tenha certeza, todos que não sabem pedalar chegam determinados e muito ansiosos.
Difícil? Sua parte como professor é conseguir "desligar" a cabeça do aprendiz. Naquela hora, frente a frente com a bicicleta, fazer o aluno aterrisar em outro planeta. Fazer qualquer coisa, não importa o que. Quanto mais leve for a comunicação, mais fácil é o aprendizado. Cada aluno é um aluno, não tem dois iguais, mas rindo tudo anda mais fácil.
No vídeo conto uma história de uma aluna que só conseguia pedalar umas dezenas de metros e parava exausta. Passou um triathleta e disse para ela "siga aquela bunda (do homem que ela achou interessante). Foi a primeira vez que ela deu uma volta no quarteirão sem pestanejar. Vale qualquer coisa para distrair o ou a aluna ansiosa. A cabeça deles aterrisou em outro lugar que não seja a bicicleta e a obrigação do pedalar ele vai, sai pedalando.
O novato tem que descobrir seu próprio equilíbrio. Ou, melhor, tem que aprender a relaxar para a bicicleta fazer o que ela faz: rodar em equilíbrio.
Nunca, em hipótese alguma, coloque a mão no guidão, um grave erro que vejo com frequência. O equilíbrio da bicicleta está no guidão, ou na roda dianteira. Segurar o guidão corresponde a travar o equilíbrio da bicicleta, e aumentar a ansiedade do ciclista que vai achar que quem está errando é ele.
Aliás, evite colocar a mão no corpo do aprendiz. Ele tem que aprender a se virar. Se tiver que segurá-lo pegue por baixo do braço, próximo ao sovaco.
A verdade é que quem tem o dom do equilíbrio é a bicicleta. Cada vez que o ciclista inventa de tentar equilibrar a bicicleta, e aqui falo de quem já pedala bem, as coisas começam a dar ruim. Ciclista é passageiro de uma máquina que se auto equilibra. Sua função é direcionar a bicicleta com suavidade, delicadeza. Lutar contra a bicicleta não dá certo, não experimente.
Os melhores ciclistas do planeta nunca brigam com a bicicleta. Muito pelo contrário, são parceiros, formam uma coisa só, tratam ela com carinho, delicadeza, uma relação de extremo cuidado e respeito.
A primeira coisa que te ensinam numa escola de pilotagem automobilística ou motociclista é relaxar o corpo. Travou, não anda, não faz tempo. O mesmo na equitação, brigou com o cavalo acaba no chão. Etc... É uma regra para vida: travou, dançou, deixou de funcionar, aproveitar, ser seguro. Vale para tudo. Definitivamente não é diferente com a bicicleta.
Braços e ombros completamente relaxados, este é um ponto a ser batido, repetido a exaustão, sem encher o saco do aluno. Como? Uai, inventa, foge da regra, faz ser divertido, dar risada. Vai de cada aluno, mas sempre ha uma forma.
Dar aula, bem dada, nos enriquece muito.
Imediatamente depois dos primeiros movimentos é crucial que o futuro ciclista aprenda que muito mais importante que saber pedalar é saber parar corretamente, com segurança. Parar e descer da bicicleta com segurança. O aprendiz tem que sentir que ele tem o poder de parar quando quiser com tranquilidade. Quando conseguir seus medos da e na bicicleta vão diminuir muito ou desaparecer.
Aprendeu a parar com segurança vem um novo e importantíssimo estágio: convencê-lo a segurar o entusiasmo. Não raro é tão ou mais difícil que fazê-lo pedalar pela primeira vez.
Finalmente. É absolutamente crucial que o aluno não caia ou tome sustos. O professor está lá para garantir a segurança e integridade do aluno, ponto final. O ideal é que quem ensine tenha condição de correr ao lado do aprendiz. No caso de ele começar a perder o equilíbrio, repito, segure ele pelo braço próximo ao sovaco.
Em mais de 7 anos de aulas só tive 4 quedas de alunos. E me doem. Gostaria de ter zerado.
A única que se machucou mais sério, um corte no interno dos lábios e queixo ralado, foi a mais equilibrada de todos que ensinei, a única que partia do zero em perfeito equilíbrio. Do nada se atirou da bicicleta em movimento, jogou a bicicleta para um lado e voou para o outro. Estávamos num estágio avançado, com ela pedalando num parque, sem ninguém por perto, sem qualquer perigo eminente, e ela se atirou. Eu estava pedalando um pouco a frente e não consegui evitar. O pessoal que viu o acidente não entendeu nada. Ela se levantou pedindo desculpas. Curada, voltou às aulas. Conversamos muito sobre o ocorrido, mas ela não soube explicar o que houve. Inexplicável porque o equilíbrio dela beira a perfeição. Quisera eu ser tão equilibrado, conseguir sair do zero como ela saia com uma facilidade incrível, coisa de circo.
O segundo que caiu foi avisado várias vezes que estava cansado e que deveria parar. Parou, mergulhado numa bosta de cachorro no gramado de uma praça, literalmente. Demos muita risada e tive que voltar para casa sem camiseta. A dele, bosta fedida esmagada no meio do peito, foi para o lixo direto.
A terceira foi uma senhora idosa que se desequilibrou, eu a segurei do jeito que deu, ela não chegou a tocar o chão, nem se machucou, mas eu acabei com o sutiã dela na mão. Sem titubiar, tirando um sarro de minha agonia, ela disparou rindo: "Assim não".
O quarto tombo foi genial. A aluna mal pedalava, quando conseguia saia pedalando e depois de uns metros parava. Percebi que parava antes de um homem que olhava tudo. Eu ia até ela, conversava, percebi que o problema era aquele homem, trazia ela de volta para o ponto de partida, a soltava e ela repetia o mesmo erro. Por pura brincadeira numa destas disse para ela seguir em frente e atropelar o bonitão. Não deu outra. Foi a primeira vez que ela pedalou segura. Acertou o sujeito no meio. Ela freou antes e os dois desmancharam no asfalto. Tive que ajudar a desenroscar ela dele, e a bicicleta no meio das quatro pernas. Felizmente não se machucaram e o homem foi compreensivo. O marido dela, que assistiu tudo a boa distância, quase teve um infarto de tanto rir. "Você não conhece minha mulher", disse ele quando tudo voltou ao normal. Na aula seguinte ela já estava pedalando. Virou para nós dois e disse que ia dar uma voltinha. O marido olhou para mim rindo e disse para eu ir atrás. Respondi que não seria necessário, que ela daria meia volta, e ele repetiu "Você não conhece minha mulher". Óbvio que dois quarteirões a frente ela entrou numa rua movimentada e óbvio que sai desesperado atrás dela. Capturada e levada de volta ao marido ela perguntou "Por que não posso ir sozinha para o parque?"
Falando nisto aviso, a aula é entre você e o aluno. Não permita a presença de qualquer pessoa que intimide, iniba ou trave o aluno. Aí não vai mesmo. É muito comum a pessoa não conseguir pedalar porque quem tentou ensinar tinha uma relação muito próxima.
Cada aluno será um aluno, já disse e repito. Esteja preparado para tudo. Dar aulas é um aprendizado incrível. Nada melhor para amadurecer.
Como está no vídeo, se o sujeito for um empresário de sucesso, um diretor de multinacional, alguém que é ou se acha importante, o ensinar fica muito mais difícil. Cabeça dura é cabeça dura, sabendo ou não pedalar. São os que dão problemas ou tomam tombos.
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