Transporte de massa ou transporte ativo individual, leia-se bicicletas, patinetes e afins? O correto, o eficiente, é tudo junto, cada um com suas qualidades e em seu lugar, incluindo automóveis. Não é uma equação fácil de ser resolvida, mas o resultado tem que ser "qualidade de vida para todos e para o meio ambiente da cidade". Aí não dá para descartar nada.
No fim das contas é sobre o uso de espaços de uso público, o que é o caso das vielas, ruas, avenidas, vias expressas, por onde a vida passa. Via expressa? Sim, uma linha de trem no fim das contas é uma via expressa. E por razões de contexto histórico e econômicas, as vias expressas para automóveis, o que inclui caminhões e ônibus, tem que existir, talvez, melhor, com certeza, não como são hoje.
Sobre que escala estou falando? Numa cidade como São Paulo a escala é uma loucura, quilométrica, dezenas de quilômetros, distâncias enormes, deslocamentos massivos... Pensar só em bicicletas ou patinetes é não olhar para a realidade. Transporte ativo é para distâncias curtas, quando muito médias. Eu sei, daqui até meu médico são 20 km e vou pedalando, o que acaba sendo mais rápido inclusive do que em automóvel, dependendo da hora e dia. Mas, ir tão longe, não é esta a função da bicicleta no contexto de uma cidade, ou pelo menos não deveria ser. Minha média de velocidade pedalando é de 15 km/h. Um automóvel deveria ter uma média de velocidade maior, mas, de novo, dependendo do dia e horário não tem, e aí está o erro, ou os erros, muitos erros.
Para distâncias maiores deveria entrar o metro ou bonde. Metro é mais rápido, com paradas bem mais espaçadas. Bonde atende as localidades com suas paradas mais curtas, mais ou menos as de um ônibus. A diferença é que está mais que provado que ônibus, mesmo os elétricos, criam problemas ambientais urbanos, o que não é o caso dos bondes ou VLTs.
O transporte de massa mais barato e rápido de se implantar é o ônibus, mas por onde passa degrada, está aí para quem quiser ver. E seus custos de operação, diretos e indiretos, são altos. Ou seja, o barato sai caro, e como.
Metro é caro e demorado, mas sua eficiência é mais que comprovada, em praticamente todos sentidos.
É necessário diferenciar o custo inicial do operacional e suas consequências na vida dos cidadãos. Metro é um ótimo negócio, mesmo que aqui no Brasil demore e custe normalmente bem mais que o previsto e desejado.
Bonde, ou VLT, é um sistema bem menos caro que o metro, com certeza, mas bem muito caro e complexo que implantar ônibus. É transporte limpo, carrega menos passageiros que o metro, bem mais que ônibus, e é ambientalmente correto em vários sentidos. O grande problema é o tempo e os transtornos durante sua implantação. Depois só vantagens.
Bonde, minha paixão, virou VLT, ou veículo leve sobre trilhos, e que são muito maiores que os velhos bondes, usam uma linha fixa, trilhos, para se movimentar. Ônibus consegue desviar. Por que os bondes desapareceram em São Paulo? Fácil, por uma ironia do destino caminhões e ônibus sempre quebravam em cima dos trilhos. Uai? Como assim? Mas por que? A cidade tinha bonde para tudo quanto era canto, e como num passe de mágica, ou de "quebra tudo exatamente sobre os trilhos", a cidade passou a ter ônibus para tudo quanto é canto. Aviso, o fenômeno não aconteceu só nestas paragens, mas em outras partes também. Maldita indústria automobilística? Eu afirmo: maldita mediocridade de toda sociedade.
Vá a Milão, Itália, e circule nos mesmos modelos de bondes que tínhamos aqui na década de 60. Funcionam maravilhosamente bem. Pergunte se por que não foram desativados lá.
"Que inveja de Amsterdam! Bicicleta para tudo quanto é lado, uma delícia pedalar!" É mesmo? Quem fala fala como turista e não se lembra da escala urbana. Amsterdam é pequena se comparada a boa parte de nossas capitais e cidades mais importantes. Sim, o índice de uso da bicicleta é bem alto, mas a cidade não funciona por causa da bicicleta. Funciona porque tudo funciona, a bicicleta, os bondes, a qualidade para caminhar, o controle de fluxo, o projeto urbano... Tudo está e é racionalizado, bem pensado, funcionando com deve, não como alguns acham que deve.
Qual a solução para nossas loucuras? A primeira é ter um planejamento honesto e de qualidade para curto, médio e longo prazo que levasse em consideração as necessidades específicas de cada local somada a do geral, aproveitando o potencial de cada uma das mobilidades e modos de transporte. Mudar tudo de governo administração para administração definitivamente não funciona. Apostar pesado num modo de transporte em detrimento dos outros também não. Atender a vontades e desejos específicos e particulares muito menos.
E, principalmente, que o povo aprenda que reclamar pouco adianta. Tem que saber o que está falando, trocar ideias e fazer força para que aconteça.