Feliz Natal e Feliz Ano Novo.
Para mim será feliz mesmo. Sento na bicicleta e saio pedalando como se estive nos anos dourados do pedal, aqueles de uma cidade com pouco movimento, poucos carros circulando, ruas tranquilas. Pelo parâmetro que temos hoje, digo uma cidade vazia.
Livre, estou livre.
- Você vem passar a meia noite do Ano Novo aqui em casa!
- Nem que me pague! E percebendo o que foi recebido como uma grosseria, emendei imediatamente; O melhor momento de todo ano para mim é sair para pedalar no dia primeiro de janeiro bem cedo. Não tem igual. Faz uns anos, no meio da pandemia, só de gozação, eu deitei no meio do asfalto de uma rua que durante o resto do ano é muito movimentada, e tirei uma soneca. Tem coisa melhor?
Terminaram as festas e as férias. O inferno está de volta, pelo menos até o próximo feriado prolongado. Quando será? Preciso de uma folga, quero pedalar em paz, ruas vazias, velhos tempos, ou algo que lembre.
A pandemia foi uma benção para mim. Nos primeiros dias, com todo mundo apavorado e trancado em casa, eu pegava a bicicleta, cruzava o rio Pinheiros e ia pedalar num bairro que mesmo em dias normais é muito tranquilo. Sem máscara, sem ninguém para me encher o saco, como nos velhos tempos.
Uma das maravilhas daqueles tempos de pouco trânsito e menos bicicletas ainda, é que o ciclista era simplesmente invisível. Eram tão poucos e tão raros que a maioria sequer percebia nossa passagem. Nada como ser invisível e poder ver e curtir tudo em paz.
Não é só o saco que pedalar no meio do trânsito, ou por causa dele ter que pensar que caminho fazer para ir mais tranquilo. É ter que ficar prestando atenção no que acontece e não poder pedalar olhando os passarinhos, por exemplo, sem se preocupar.
Numa ciclovia? Aí é que fico tenso. Domingo bem cedo tenho bons momentos. Na ciclovia do rio Pinheiros? Nem que me paguem! Pedalo onde costumava pedalar sem problemas, em avenidas e até em alguns trechos da marginal.
Hoje são duas as situações que me perturbam, e por que não dizer a todo ciclista e cidadão: trânsito, ou falta de espaço para pedalar em paz, e, muito pior, o medo de ser assaltado, que virou uma constante ridícula, coisa de cidade selvagem.
Para quem não viveu os velhos tempos, e falo do final da década de 70, eu amarrava minha bicicleta com uma trava, fininha fininha, num poste da rua Boa Vista, Centro Velho, voltava e a bicicleta estava lá. Ninguém se interessava.
Naqueles tempos conseguia estacionar o carro na porta, ou muito próximo, de qualquer lugar que fosse. Na faculdade só comecei a ir pedalando quando passei a estacionar o carro a 100 metros da entrada, o que achava um absurdo. Adorava dirigir, mas preferia pedalar. Mais livre.
Tenho certeza que os velhos tempos não voltam mais, mas tenho esperança que um dia as nossas cidades fiquem minimamente organizadas para a qualidade de vida de todos. Esperança vã?
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