Passando com pressa pela rua Pinheiros, a pedal, no início de noite, fui ultrapassado por um jovem vestido com um belo e caro terno, gravata, sapatos social e mochila preta, pelo jeito vindo do trabalho do mercado financeiro. Ele me ultrapassou a mais de 20km/h e como eu estava atrasado aproveitei o estímulo e decidi segui-lo. Depois que me ultrapassou ganhou um pouco de distância e com sua roupa cinza escura e mochila preta, sem qualquer refletor ou luzinha, estava completamente invisível no meio do trânsito; o que não me preocupou muito porque o trânsito estava praticamente parado. O que me deu calafrios foi ele estar naquela velocidade num patinete e principalmente estar passando muito perto dos carros estacionados. Quem já tomou uma portada sabe muito bem o que estou falando.
Acho que a única história de portada engraçada que ouvi foi a que Fila, um grande e caro amigo, forte feito um rinoceronte, contou. O sujeito abriu a porta, Fila não conseguiu desviar e simplesmente dobrou a porta do carro para frente, o que só acontece em filme de super-herói. Como Fila não é super-herói da Marvel, é óbvio que se machucou, menos que os normais.
O que é pior, portada ou o carro colidir por trás? Eu prefiro..., melhor dizendo, não prefiro nenhuma das duas hipóteses, mas se o destino mandar um acidente no meio as ruas prefiro mil vezes tomar um carro por trás. Conforme onde você bater na porta vai machucar e muito, muito mesmo, já tendo ouvido de casos que o acidente resultou em óbito. Bater a quina no meio do peito, no externo, pode custar a vida do ciclista. Dependendo da gravidade, do afundamento toráxico, não há o que fazer, o sujeito morre porque não consegue respirar. Se a quina bater nas costelas a dor é aguda e duradoura, esta já experimentei e digo que não é nada legal. Não, não quebrei numa portada, mas numa brincadeira idiota que acabou num poste.
Já tomei portada e cai no meio da rua, o que é um perigo maior ainda. Imediatamente olhei para trás para ver se não vinha carro ou seria atropelado. Minha mão, onde foi a batida, ficou bem dolorida e por muita sorte não quebrei nenhum osso. Conheço vários casos que a mão acabou com pinos, muita fisioterapia e muito tempo ainda sensível. Enfim. sei como é.
Tentei me aproximar do jovem de patinete, mas não consegui. A maquininha infernal vai rápido. Queria dizer para ele prender um refletor na mochila e se possível ter uma luzinha vermelha. Refletor, prioridade, não acaba bateria, simples assim. Voltando, queria pedir que "pelo amor de Deus" (coisa que nunca digo, mas meu estômago estava revirando) que ele se afastasse dos carros estacionados e suas portas. A maioria dos que peço cuidado me responde que afastado ficam mais expostos aos carros, o que se por um lado é verdade, por outro é um erro de estratégia de segurança. É muito mais visível algo na frente do que ao lado. O que está numa posição que dê para passar é menos importante, portanto o motorista segue em frente.
O motorista não vê pelo espelho um ciclista, skatista ou patinete que vem passando colado na lataria. O olho do motorista busca pelo espelho os carros que vem vindo, estará focado num ângulo mais aberto. Colado é igual a invisível.
Para a segurança no trânsito o mais importante é ser visto por todos, principalmente pelos que estão dirigindo. Falei "ser visto" e não cegar os outros, há uma imensa diferença para a segurança aí.
A vantagem de estar num patinete que é que no meio do trânsito o condutor é um pouco mais visível que numa bicicleta, onde se pedala sentado e inclinado para frente. O jovem que vi estava com capacete, mas também preto, invisível. Um refletor ajudaria e muito.
O segundo ponto mais importante é o "play the game", o jogue o jogo. Uma vez li uma explicação detalhada em um artigo especializado de revista americana. O princípio é básico e simples de ser entendido: quem acompanha o jogo do trânsito tem mais segurança. Diferencial de velocidade entre os dois veículos é a maior causa de acidentes graves. Se o ciclista, skatista ou patinete está circulando junto e em velocidade compatível de todo trânsito, o tempo de reação de todos é maior...
Com portada o jogo é diferente. Simplesmente não dá para prever. Se você acredita que vai conseguir reagir e desviar, engana-se redondamente. Quando muito vai dar sorte. Eu não aposto na sorte para chegar inteiro em casa. Não sou louco.
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