segunda-feira, 19 de julho de 2021

Proteger a indústria nacional de bicicletas?


Bicicleta é veículo de duas rodas, portanto a segurança de seu condutor (o ciclista) depende de um funcionamento perfeito, sem qualquer falha; ponto final. A lei obriga. Qualquer variação deste princípio pode resultar ou resulta em acidente; fato inegável.

Qualidade nasce na indústria. Pau que nasce torto segue torto.

Corre no Congresso uma proposta de projeto que cria barreiras para a importação de forma a proteger a indústria nacional. A lei é específica para alguns setores, mas sempre aparecem os nossos famosos "jabotis" que ampliam a lei e aí está o perigo. 
No que diz respeito ao setor da bicicleta brasileira, pelo que significou para os ciclistas no passado, considero um erro monumental qualquer proteção ao setor. Sou absolutamente contra.
 
Bicicleta hoje tem alto padrão de qualidade porque governos sérios entendem que para estimular o seu uso não pode ser de outra forma. Segue o princípio da vidraça quebrada: quando você tem uma vidraça quebrada é praticamente certo que as outras também serão quebradas. Quando todas as vidraças estão inteiras e limpas a possibilidade de problemas praticamente zera. 
Fabricar bicicletas mesmo pequenos com defeitos ou algum mal funcionamento é começar mal, azedar tudo que vem depois, principalmente o estímulo ao pedalar. Mais ciclistas inseguros com a qualidade, menos ciclistas nas ruas. País sério sabe que estimular mobilidades ativas é crucial para construir um futuro sustentável.
O setor da bicicleta no Brasil é cheio de problemas e distorções e muitas destes vem da qualidade industrial. Diga-se de passagem que não é exclusividade do setor de bicicletas, muito pelo contrário.

Sem corrigir os inúmeros entraves e distorções que o setor industrial brasileiro tem hoje, sem reeducar o público consumidor, sem ter um plano de curto, médio e longo prazo que englobe tudo que é relacionado à produção, distribuição e durabilidade de bens, uma lei de proteção ao setor industrial brasileiro será não um tiro no pé, mas a amputação das duas pernas com direito a uma imensa fábrica de marmeladas que beneficiará uma minoria, o que já cansou, não é?. 

Desde 1982, quando fiz o primeiro projeto de estímulo para o uso de bicicletas, venho batendo na tecla que ter um setor industrial da bicicleta de qualidade, ou seja, forte, é crucial para que o ciclista chegue onde quer: pedalar com liberdade e segurança. Da forma como estamos temos ilhas da fantasia para umas poucas minorias. Não ter priorizado a qualidade foi um crime com o consumidor, o ciclista, a bicicleta, e a qualidade de vida das cidades. Não priorizar qualidade é uma sacanagem sem tamanho com as populações de baixa renda. 

O Brasil é uma baderna burocrática, legal e fiscal e acredito que muitos dos que tem problemas hoje produziriam corretamente caso o ambiente fosse minimamente civilizado e moderno, o que não é, repito.
Não dê o peixe; ensine a pescar, esta é uma verdade que ninguém consegue contradizer. 

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