sexta-feira, 13 de março de 2020

Mascaras, apitos, luzes e as lições do coronavírus

Tudo tem seu lado bom. Com o coronavírus talvez os ciclistas urbanos acreditem que mascara não deve ser usada indiscriminadamente e por horas sem fim. Os médicos estão repetindo sem parar que qualquer mascara deve ser trocada a cada duas horas. Isto vale também para ciclistas que querem ficar protegidos da poluição. Publiquei faz tempo que se deve evitar o uso de máscara e minha referência para dizer isto foi uma conversa com Rosilda Verissimo, Professora (acho que titular) de Enfermagem da UFSC em Joinville. Segundo ela, a diminuição da poluição respirada não compensa a quantidade de germes e bactérias que ficam retidos na máscara e que devem ser expelidos por completo. 
Poluição são partículas mais pesadas que o ar, portanto tende a descer, a decantar. Quando mais próximo do solo maior concentração de poluentes. Sei que nossas cidades são muito poluídas, basta ver que colarinho branco por aqui só se usa uma vez e já fica bem sujo. Em Paris, que tem muito trânsito, o colarinho só vai ficar sujo depois de alguns dias e raramente fica tão sujo como acontece por aqui. A princípio faz sentido usar máscara contra a poluição, mas precisa tomar muito cuidado com este "a princípio". O índice de mortes no Brasil é absurdo por que as pessoas "acham" baseadas no "a princípio".

Ainda sobre "a princípio", alguns ciclistas tem habito de usar apito no trânsito. Faz muito tempo houve uma moda do uso de apitos por ciclistas em NY. Bicycling e ou o NY Times soltaram uma recomendação das autoridades de segurança no trânsito e dos hospitais para que os ciclistas não usassem apito pedalando. Por duas razões: primeira, motoristas não ouvem com janelas fechadas e som ligado, portanto é inútil; e aconteceram acidentes onde o ciclista acabou ou engolindo o apito ou mesmo morrendo por sufocamento. E eu adiciono mais uma razão para não usar apito no pedal: tem gente que diz que usa para alertar os pedestres, o que é um absurdo. Pela lei, por um mínimo de educação, e pelo bom senso o pedestre tem prioridade total e o ciclista deve, repito, deve respeitar esta prioridade. Apitar para alertar o pedestre cheira (para ser educado) a forçar a passagem, tirar a prioridade de circulação do pedestre, o que é uma tremenda falta de civilidade. 

Mais um erro perigoso do pensar "a princípio": usar estas luzes pisca pisca que variam de cor, na frente ou atrás, o que deixa motoristas e motociclistas confusos sobre o sentido que o ciclista está indo. Aliás, inverter a posição das cores das luzes usando luz vermelha na frente e branca atrás é um absurdo perigosíssimo. Segurança no trânsito é toda baseada na previsibilidade; o contrário é um perigo. Confundir ou cegar os outros é aumentar a insegurança, disto não resta a mais remota sombra de dúvida. É muito mais importante a bicicleta estar com todos refletores de boa qualidade exigidos por lei, o CTB, do que com luzes que confundem, apagam por falta de bateria, ou que estão mal posicionadas. Refletores de qualidade bem posicionados sempre funcionam com eficiência, ou seja, dão segurança.

O trânsito do Brasil é um dos mais violentos e mortais do planeta porque as pessoas "acham", "acreditam", "fazem o que a princípio parece correto", "eu me sinto mais seguro assim..." e outros erros mais. Não sou eu quem está afirmando, são todas as autoridades e especialistas. 
As recomendações de prevenção contra o coronavírus devem servir de paralelo para os ciclistas. Não adianta histeria, bom senso sempre, saber filtrar informação correta de fake news, conhecer a fonte... E sempre ter em mente que há muito interesse na venda de máscaras, luzinhas e faróis, e outras coisinhas que dizem aumentar a segurança do ciclista. 
Vender insegurança para o publico comprar segurança é o negócio mais rentável do planeta.

Um comentário:

  1. Gostei do texto e da forma como foi escrito, também concordo contigo sobre a venda da ideia de insegurança nada como o bom senso.

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