No fim do século XIX os fabricantes de bicicleta chegaram a conclusão que era muito mais sensato uniformizar o desenho das bicicletas. A partir daí o tamanho das rodas passou a ter um certo padrão, o que facilitou e diminui muito custos de fabricação de toda a bicicleta, não só das rodas. E os quadros passaram a ser em "diamante", o desenho clássico das velhas bicicletas masculinas. Neste ponto os fabricantes desembarcavam no bom senso da equação forma e função.Nos anos 60 o planeta decide se voltar para o sistema métrico, uma uniformização não só do sistema de medidas, mas de todo setor produtivo.
A partir da metade dos anos 80 Shimano se impõe no mercado o que força a mais uma uniformização, eu diria racionalização, no setor das bicicletas, o que trouxe para a imensa maioria dos usuários da bicicleta inúmeros benefícios, principalmente uma melhora substancial na qualidade nas bicicletas populares.
Até a metade dos anos 90 maioria das bicicletas era fabricada com tubos de de aço ou cromo-molibdênio. O surgimento das Klein, em especial, fabricadas com tubos de alumínio de diâmetro umas duas vezes mais grosso que os de cromo-molibdênio iria transformar o setor da bicicleta para sempre por uma série de razões, uma em particular raramente é citada: num tubo grosso a marca da bicicleta fica mais visível e isto faz uma senhora diferença nas vendas. A saber, Klein é uma marca de alta tecnologia e fabricação limitada, que de uma certa forma revolucionou o uso do alumínio nas bicicletas. Na época eram levíssimas, maravilhosas de pedalar. Provavelmente nunca imaginaram aquilo fosse dar nisto.
E ai mesmo as bicicletas baratas fabricadas em aço começaram a ter os diâmetros dos tubos aumentados não só para parecer com as bicicletas de alumínio, que eram tidas como modernas e mais leves, como para expor melhor a marca do fabricante. O diâmetro maior do tubo de alumínio se deve às suas propriedades mecânicas. Aço é mais resistente o que permite tubos que se obtenha a mesma resistência com tubos mais finos. Quando se aumenta o diâmetro de um tubo de aço para parecer com um tubo de alumínio o que se tem é um acréscimo de peso, o que é ruim para o ciclista, mas bom para a venda, bom para o fabricante. O ciclista compra porque acha bonito, chique, ou que vai ganhar status entre os amigos.
Como a maioria dos compradores de bicicleta é leigo acabam comprando gato por lebre. A história dos tubos grossos foi só o começo do abandono do melhor em nome do status que vende. Depois vieram os aros "aéro" de parede mais larga, portanto mais pesados, o que deixa a bicicleta mais lenta e pesada para pedalar. Um aro de parede simples e fabricado em bom alumínio quando bem centrado é tão resistente quanto um aéro, mas muito mais leve. E o fator aéro, ou seja aerodinâmico, não tem nenhum valor para ciclistas normais porque são pouquíssimos que conseguem manter uma velocidade onde a aerodinâmica faça alguma diferença. Enfim, enganação. O que vale mesmo é o status do nome do fabricante bem estampado no largo aro. Para o fabricante é ótimo. E já faz tempo embarcamos nos quadros com desenhos hidroformes, o que demanda processos de fabricação sofisticados que provavelmente só se justificam em bicicletas para esportistas e profissionais.
Hoje o mercado de é feito de marcas, de modas e status, não só o de bicicletas. Muito da inteligência contida na equação forma e função foi deixado de lado. O lado bom é que num país tão apegado ao status, com uma larga tradição do "sabe com quem está falando", isto vende, o que tem aumentado muito o número de ciclistas pedalando, principalmente entre a classe média e alta.
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