segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Quando forma e função perde para a moda, o status

A forma segue a função; Louis Sullivan, arquiteto.

Resultado de imagem para safety bicycle 1885No fim do século XIX os fabricantes de bicicleta chegaram a conclusão que era muito mais sensato uniformizar o desenho das bicicletas. A partir daí o tamanho das rodas passou a ter um certo padrão, o que facilitou e diminui muito custos de fabricação de toda a bicicleta, não só das rodas. E os quadros passaram a ser em "diamante", o desenho clássico das velhas bicicletas masculinas. Neste ponto os fabricantes desembarcavam no bom senso da equação forma e função.Nos anos 60 o planeta decide se voltar para o sistema métrico, uma uniformização não só do sistema de medidas, mas de todo setor produtivo.
Resultado de imagem para schwinn MTB 1985A partir da metade dos anos 80 Shimano se impõe no mercado o que força a mais uma uniformização, eu diria racionalização, no setor das bicicletas, o que trouxe para a imensa maioria dos usuários da bicicleta inúmeros benefícios, principalmente uma melhora substancial na qualidade nas bicicletas populares.

Até a metade dos anos 90 maioria das bicicletas era fabricada com tubos de de aço ou cromo-molibdênio. O surgimento das Klein, em especial, fabricadas com tubos de alumínio de diâmetro umas duas vezes mais grosso que os de cromo-molibdênio iria transformar o setor da bicicleta para sempre por uma série de razões, uma em particular raramente é citada: num tubo grosso a marca da bicicleta fica mais visível e isto faz uma senhora diferença nas vendas. A saber, Klein é uma marca de alta tecnologia e fabricação limitada, que de uma certa forma revolucionou o uso do alumínio nas bicicletas. Na época eram levíssimas, maravilhosas de pedalar. Provavelmente nunca imaginaram aquilo fosse dar nisto.
Resultado de imagem para Klein MTB 1989E ai mesmo as bicicletas baratas fabricadas em aço começaram a ter os diâmetros dos tubos aumentados não só para parecer com as bicicletas de alumínio, que eram tidas como modernas e mais leves, como para expor melhor a marca do fabricante. O diâmetro maior do tubo de alumínio se deve às suas propriedades mecânicas. Aço é mais resistente o que permite tubos que se obtenha a mesma resistência com tubos mais finos. Quando se aumenta o diâmetro de um tubo de aço para parecer com um tubo de alumínio o que se tem é um acréscimo de peso, o que é ruim para o ciclista, mas bom para a venda, bom para o fabricante. O ciclista compra porque acha bonito, chique, ou que vai ganhar status entre os amigos.

Resultado de imagem para mtb com aro aeroComo a maioria dos compradores de bicicleta é leigo acabam comprando gato por lebre. A história dos tubos grossos foi só o começo do abandono do melhor em nome do status que vende. Depois vieram os aros "aéro" de parede mais larga, portanto mais pesados, o que deixa a bicicleta mais lenta e pesada para pedalar. Um aro de parede simples e fabricado em bom alumínio quando bem centrado é tão resistente quanto um aéro, mas muito mais leve. E o fator aéro, ou seja aerodinâmico, não tem nenhum valor para ciclistas normais porque são pouquíssimos que conseguem manter uma velocidade onde a aerodinâmica faça alguma diferença. Enfim, enganação. O que vale mesmo é o status do nome do fabricante bem estampado no largo aro. Para o fabricante é ótimo. E já faz tempo embarcamos nos quadros com desenhos hidroformes, o que demanda processos de fabricação sofisticados que provavelmente só se justificam em bicicletas para esportistas e profissionais.
Imagem relacionadaHoje o mercado de é feito de marcas, de modas e status, não só o de bicicletas. Muito da inteligência contida na equação forma e função foi deixado de lado. O lado bom é que num país tão apegado ao status, com uma larga tradição do "sabe com quem está falando", isto vende, o que tem aumentado muito o número de ciclistas pedalando, principalmente entre a classe média e alta.

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