Outro dia fui visitar uma pequena fábrica de bicicletas junto com Daniel. Ele chegou entusiasmado e saiu um tanto desapontado, para dizer o mínimo. Posso bem imaginar o que ele sonhava ser a fábrica, algo bem parecido com o que se vê neste vídeo. Infelizmente por uma série de razões os pequenos fabricantes brasileiros de bicicletas (assim como a maioria das fabriquetas) ainda tem estrutura e processo de fabricação muito parecido, se não igual, ao que vi pela primeira vez antes de 1960.
Outro dia soltaram um relatório assustador, mas previsível, sobre a obsolescência do parque industrial brasileiro em comparação ao que se encontra mundo afora. Esta obsolescência tem um custo muito maior que simplesmente o do atraso tecnológico. Causa enormes perdas econômicas e sociais. Causam vários problemas ambientais, o grau de precisão é baixo, pelo que me dizem é difícil encontrar até ferramenteiro (o especialista que cuida de máquinas e ferramental pesado). Mal temos mão de obra para trabalhar com estas máquinas, que são o básico do básico. Por exemplo, é muito difícil encontrar um bom torneiro, daqueles que resolviam tudo.
Para reconstruir o Brasil teremos que sucatear grande parte do parque industrial que está ai. E junto teremos que sucatear uma mentalidade arcaica que começa dentro da fábrica e termina no comprador final.
O Brasil tem que criar um plano de recuperação de nosso parque industrial ou jogamos a toalha e aceitamos que seremos pobres para sempre.
Em relação às bicicletas é fácil entender o que vem acontecendo: numa fabriqueta destas, como a que Daniel viu, é difícil conseguir uma precisão próxima ao milímetro, o que define muito da qualidade. Todos sabem que as bicicletas brasileiras são frágeis e quebram com rapidez e facilidade. Bicicletas com padrão internacional de mercado trabalham dentro de décimo de milímetro baixo, ou seja, uma precisão quase 10 vezes maior que a das nossas. Isto faz uma diferença enorme no bom funcionamento e durabilidade, portanto na qualidade. E não estou entrando na questão dos materiais usados para a fabricação...
O resultado final? Simples: uma bicicleta básica vai rodar - sem quebrar nada - muitos anos, muitos anos, década talvez, repito "sem quebrar nada". A comparação das baratinhas daqui com as de lá é absolutamente vergonhosa
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