quinta-feira, 17 de março de 2011

entrevista - Subject: ENC: Pesquisa - Origem & Destino

Fala Arturo,

Aí vai o questionário:

1) Quais são os locais que você considera mais importante que recebam mais investimentos cicloviários? É onde já se concentram os deslocamentos ou em locais onde pretende incentivá-los? Por favor, nomeie algumas regiões ou avenidas que você considera prioritária.
É óbvio que onde tem mais ciclista circulando deve ser prioritário, mas não só. Há os pontos ou localidades mais perigosas que tem que ser corrigidos. Tem muitas respostas. Talvez a mais correta seria respeitar as prioridades, que não são as dos técnicos de trânsito, mas dos ciclistas e pedestres.
O que se pretende com a bicicleta? Esta é a pergunta que se deve fazer quando se pensa numa cidade? Para que você vai usar os deslocamentos em bicicleta, o ciclista, a utilização dos espaços das vias e locais públicos? Que cidade você quer? Há outra forma de pensar a bicicleta.
De que forma você quer implantar? Vai ser uma coisa para satisfazer desejos políticos pessoais ou projeto de futuro para todos? É briga interna ou resposta a desejos de uma população ciclista que não tem cultura para saber o que realmente quer ou o que funciona? Enfim...., a resposta é um pouco longa e depende de vários fatores. O cidadão brasileiro perdeu a noção do que é uma cidade, do que é qualidade de vida, do que é respeito - até por si próprio. O que é prioritário então?
A apresentação que fiz na camara dos vereadores mostra um pouco sobre o que penso. Dá para fazer diferente e com custos muito menores

2) O que é mais importante num primeiro momento? Investimento em infraestrutura cicloviária ou em educação de trânsito/sinalização?
Educação e controle da qualidade da bicicleta. Não existe educação, apesar de ser lei (CTB). A qualidade da bicicleta brasileira é péssima e calcula-se que 35% das mortes tiveram como causa falah mecância da bicicleta. Se fala de ciclovia, mas não se fala sobre o veículo bicicleta. É piada! Educação e bicicleta de qualidade: feito isto você faz cair vertiginosamente o número de acidentes. Cada dia mais acho que ciclovias e outros podem ser dispensáveis. Sinalização faz muita diferença. E fiscalização, que hoje é praticamente toda voltada para critérios que sei lá quais são (talvez fluidez do trânsito), mas seguramente não são o de evitar acidentes e mortes.
E há um investimento que deve ser feito imediatamente, que é explicar para todas os meios de comunicação o que é uma bicicleta, um ciclista, um sistema cicloviário, uma cidade. Vai ser duro explicar o que é uma cidade, fazer o pessoal entender que tem vida, pedestres, deficientes, crianças, idosos.... e bicicleta, esta coisa da moda, tão atual....

3) No caso da infraestrutura, o foco deve ser, na sua opinião, em ciclovias, ciclofaixas ou paraciclos?
Se vai fazer tem que fazer tudo. Não dá para continuar pensando que as coisas podem ser feitas aos pedaços, por partes. Isto é ridículo. Incluo ai a questão completa das mobilidades, ou seja, a inclusão de pedestres (para evitar conflitos), pessoas com deficiencia fisica e de mobiloidade, e outros não motorizados. O que deve ser feito é um sistema cicloviário completo, começando na circulação dos automóveis, passando pelo ciclista, e terminando numa requalificação da cidade para todos, não só o ciclista.

4) A pesquisa Origem e Destino 2007 apontou que, das 310 mil viagens diárias que envolvem bicicletas, apenas 6 mil são combinadas com outro modal (trem, metrô, ônibus, etc). O que você sugere para aumentar essa porcentagem?
Eu espero que esta porcentagem não aumente sem que se faça um trabalho para organizar o processo. Já estamos a beira de ter um novo tipo de "mortoboys", que são os ciclistas acidentados. É incrível o número de histórias sobre ciclistas acidentados. Ou bicicleta é um suicídio, o que deve ser em todas as partes do mundo, ou está acontecendo algo muito errado aqui. Eu acredito que tenha algo muito errado aqui. Não sei... só um palpite politicamente incorreto. Aumentar esta porcentagem de forma completamente caótica pode ser indesejado para todos. Talvez não para quem insiste em negar a existência da bicicleta.

5) Apenas 4% dos deslocamentos por bicicleta tem como motivo o "lazer". Já trabalho e estudos concentram 83%. Como aumentar o número de pessoas que utilizam a bicicleta em seus momentos de folga?
São Paulo tem 1 milhão de ciclistas circulando pela cidade num domingo ensolarado, segundo a ABRACICLO - pesquisa Caloi. A Secretaria de Esporte Mun. SP diz que este número é 700 mil. Do que estamos falando? Grandes cidades? Como é no Rio? Todas cidades? Como é feita esta contagem? A quem interessa contar transporte e lazer? Qual o viés político e econômico destas contagens? O IBGE tem números que todos nós desconhecemos?

6) 78% dos deslocamentos diários de bike são realizados em menos de 30 minutos - ou seja, dizem respeito a trajetos curtos. É assim que deveria ser? Ou devemos incentivar deslocamentos também mais longos de bicicleta? Se sim, como fazê-lo?
É assim. Bicicleta é usada para distâncias mais curtas porque o povo é inteligente e sabe fazer suas escolhas. Bicicleta é fantástica no interno de bairro ou em locais tranquilos. Quando o ciclista vai longe é porque o sistema de transporte de massa e o trânsito está muito ruim e vale a pena pedalar mais de 30 minutos. Provavelmente as distâncias percorridas pelos ciclistas devem aumentar porque as cidades estão parando e vale a pena ir de bicicleta. Hoje, com a velocidade média do trânsito de São Paulo por volta dos 17 km/h, e mais baixo na hora de pico, a bicicleta é de uma eficiência incrível, até mesmo para distâncias muito longas para ela, como 20 km. Um bom ciclista faz uns 19km/h de média, um ciclista calmo faz 15km/h; o que é mais rápido que de automóvel.

7) Quase metade das viagens (49%) e realizada por pessoas entre 23 e 39 anos. Como aumentar o uso da bicicleta por pessoas de outras faixas etárias?
Com bicicletas próprias para o público alvo. A bicicleta geralmente é de baixíssima qualidade, grande e com perfil esportivo - tipo moutain bike. Com um monte de marchas e um selim que é um desastre. Os pneus murcham rapidamente. Não há estrutura para pedalar. Os ciclistas novos são agressivos. Aliás, geralmente não há respeito pelos mais velhos. E o idoso tem medo de se quebrar. Como mudar? Qualidade! Parando de brincar de Ciclo Faixa de Domingo, por exemplo, que é boa para uma faixa da população, mas um belíssimo cala boca para a maioria dos problemas reais.

8) Quase 91% desses deslocamentos é feito por homens. É possível aumentar a quantidade de mulheres que usam a bicicleta como meio de transporte? Se sim, como?
O Brasil não fabrica, nem vende, bicicletas próprias para a mulher brasileira média. Só há poucos modelos femininos tamanho 17, que é grande para a maioria. Não há modelos tamanho 15 e 16 com frente curta. Não tem acessórios próprios. O selim... só é bom para as que estão trancadas nas teias da aranha.... Mas a questão da bicicleta no Brasil está mudando principalmente por causa das mulheres. Interessante. E talvez respondo a uma das perguntas acima: quer fazer um plano cicloviário que dê certo? Faz pensando nas mulheres ciclistas e seus filhos pequenos. Isto realmente faz diferença

9) O principal lugar de guarda da bicicleta é privado: 61%. Quão perigoso é parar a bicicleta na rua? Há poucos bicicletários ou paraciclos públicos para parar a bicicleta? Como aumentar esse número?
Violência é um senhor problema não só para o ciclista. O Brasil tem índices tenebrosos de violência e estes índices não são confiáveis, provavelmente são menores que a realidade. Perder a bicicleta é o de menos, mas o psico-social do fato é um fator muito pesado e distorcido.
Se a maioria descobrisse que a possibilidade de ser assaltado numa bicicleta pode ser menor que a pé e principalmente de carro... Tem que saber usar. O problema de roubo no Brasil é muitíssimo menor que nas principais capitais da Europa e Estados Unidos. Amsterdã (Holanda no geral) e NY são um horror.
Qualquer local para estacionar bicicletas tem que ser bem posicionado. Bicicletário funciona bem, mas só quando bem implantado. Demanda um bom espaço e guarda, portanto é caro e tem dificuldades de funcionamento.

É isso. Não precisa ser muito extenso nas respostas - inclusive, quanto mais sucinto, melhor. Vamos fechar a matéria amanhã à noite, tudo bem?

Nenhum comentário:

Postar um comentário