Tive um almoço a 20 km de casa, ciclovia do rio Pinheiros de ponta a ponta, lugar delicioso, YCSA, comida ótima, companhia de dois amigos de longa data. Pedalar 20 km não é problema... se forem bem pedalados. "Ciclismo é a arte de preservar energia". Dia ótimo.
Estou gaga e já não me lembro mais se já soltei que semana que vem devo ir pedalando para Aparecida, 180 km divididos em três etapas, 100 km, um dia de descanso, mais os 80 km finais. Gostaria de um dia, lá atrás, num passado distante, ter feito os 180 km numa tacada, mas a esta altura do meu campeonato está completamente fora de questão. As dicas que dou aqui são para seres humanos normais e foram aprendidas com ciclistas de alta performance.
Primeira dica: para distâncias médias ou longas nunca saia fritando. Aliás, nunca e em nenhuma situação saia fritando. Deixa o corpo pegar aos poucos o exercício, adaptar-se à situação. Mais, dá um tempo para a cabeça entrar na brincadeira. Vale não só para ciclismo, mas para todos exercícios e esportes. Aliás, não fritar de cara é a sabedoria que o ermitão, aquele que descobriu o sentido da vida, levou para seu feliz isolamento no topo da montanha. Exatamente a mesma verdade que nós, de vida apressada que não leva a nada, procuramos em nossas vidas mundanas. O ermitão responderá: "Pedale, pedale, que teu espírito se acalmará".
Voltemos ao mundo dos simples e neuróticos mortais.
No ciclismo profissional tem uma regra explícita para subidas que vale ouro também para longas distâncias: começa devagar para terminar rápido. Para entender, vale a comparação com o sujeito que pedala desesperadamente antes da subida "para pegar embalo" e metros depois enrola a lingua nos pedais. Preciso explicar melhor?
O ideal é que quando você saia para uma pedalada longa os muitos primeiros km sejam na mais completa manha. Cada um tem um tempo de aquecimento, respeite o seu. Minha musculatura demora muito para entrar no espírito de uma pedalada longa, 100 km. Acreditem, se minha cabeça está bem, se estou me controlando, só depois de uns 10 ou 15 km é que solto. Fiz meus melhores tempo total de pedal em todas as longas distâncias que saí muito cuidadoso, diferenças grandes.
Ir e voltar do almoço, 40 km total, foi uma baba. Pensando bem, porque sai com muito tempo para chegar, não querendo suar muito, e ainda por cima peguei vento de popa indo e voltando. Virou o vento, pura sorte.
A volta foi com uma ventania empurrando forte, 24, 26 km/h de vento nas costa, o que deu uma diferença de 4 km/h de média. Mas confesso que aí me entusiasmei e fritei as pernas.
Como sei a velocidade do vento? Com vento pelas costas é fácil. No momento que para o barulho do vento é quando o vento e o ciclista estão na mesma velocidade. Aí basta olhar no velocímetro para saber.
Segunda dica: não se deixe levar por situações fáceis. Tente se controlar, o que vou dizer que não é muito fácil. Entusiasmo é bom até a hora que passa dos limites, o que pedalando é fácil acontecer. Quando vejo entro na bagunça e pedalo feito uma vaca louca. Vaca louca? Que seja.
Que delícia, vento empurrando. Aproveita para preservar mais energia. O maluco aqui socou mais ainda os pedais. Resultado: voltei moído. Desnecessário.
Sem prática é difícil se fazer algumas perguntas. Se for seu caso, comece bem devagar, curtindo a paisagem, o ar, as pessoas. Não pense na distância. Aliás, esta é uma dica indispensável: Não pense em quanto falta, não pense em nada, curta o momento que está vivendo. Quanta energia eu tenho e como posso melhor usá-la? É uma ótima pergunta que bem usada vai servir para diminuir os gastos.
Com tempo, com autonhecimento, você vai conseguir controlar o "Onde e como posso ou devo colocar minhas energias?", sempre controlando o impeto do "Eu quero chegar logo". Isto mata.
Nenhum comentário:
Postar um comentário