Fiquei no Leblon, Rio de Janeiro, e pasmei com a quantidade de bicicletas elétricas circulando pelas ruas, avenidas ou estacionadas a céu aberto com fortes travas. Como este canto da cidade é plano muitas destas bicicletas elétricas tem um assento sobre a roda traseira ou bagageiro e é comum ver duas pessoas na mesma bicicleta. A posição do ciclista em boa parte das bicicletas cariocas é baixa, bem diferente das usadas em São Paulo que via de regra se parecem mais com bicicletas normais. A razão para estas diferenças é simples: ali é plano e preguiça.
Olhando todas as elétricas que passavam ou estacionavam na padaria em que eu tomava o café da manhã e vendo que para cada muitas elétricas apareciam uma ou outra bicicleta normal fiquei preocupado. Todos os relatórios e notícias que têm sido divulgados apontam que o futuro é das bicicletas e dos patinetes elétricos. O investimento mundial nas mobilidades elétricas será pesado, já nas do arroz com feijão praticamente zero, diz um estudo longo e bem estruturado do UBS, Union Bancaire Suisse, um dos cinco maiores bancos do planeta.
Tanta bicicleta elétrica será por causa da novidade? Ou bicicletas convencionais passaram a não ser tão interessantes assim? "Precisa pedalar, que saco". A bem da verdade não é novidade que qualquer motorizado leva vantagem sobre os modos movidos a arroz com feijão. Vide o sucesso do automóvel.
Por outro lado, existe a questão macroeconômica. Bicicletas são um péssimo negócio porque geram pouco capital direto e indireto no negócio 'bicicleta' em si. A fabricação é fácil, o custo para o comprador é baixo, a manutenção é pequena, o número de empregos gerados diretamente é baixo e com pouco valor agregado...
Qualquer negócio "elétrico" é mais rentável, gira mais dinheiro, emprego, alcança setores produtivos que a bicicleta mecânica não entra, dentre outros. Com certeza, muito mais, mas muito mais mesmo, em sua cadeia de produção, distribuição, energia, e a cadeia direta e indireta de manutenção é muitíssimo mais vasta e com valor agregado completamente diferente. Ademais, emprega e mantem os que vierem do setor de bicicletas mecânicas, arroz com feijão. Faz toda diferença, os interesses são outros, muito maiores, pensando bem até um tanto relacionados com os setores automobilístico e motociclístico. Bingo!
Bicicleta tradicional é um negócio enxuto, seus benefícios, que são muito maiores que os custos, são difíceis de apresentar ao grande público, muitos deles complicados de calcular porque extrapolam e muito o âmbito direto do uso da bicicleta. Como se diz aqui no Brasil "é como esgoto: político não gosta porque ninguém vê (os inúmeros benefícios indiretos da bicicleta)". Mas os benefícios da bicicleta tradicional, arroz com feijão, são reais? Sim e estão mais que provados, mesmo assim não é de fácil compreensão e aceitação.
Fato é que todo deslumbre, como este que o planeta está tendo com todas as mobilidades elétricas, tem sua hora para acabar e seu preço. Ninguém está falando sobre os custos de produção, o descarte e o impacto ambiental causado pelas baterias elétricas, dentre outros.
Vamos ver onde vai parar esta história. Fato é que por enquanto eu não usaria o tradicional ditado: "Ao socialismo se vai em bicicleta", ou, como eu gosto de refrasear "Aos benefícios sociais se vai em bicicleta (não motorizada)" por uma única razão: elétricas são para quem tem bolso, disto não tenho dúvida, e esta brincadeira, que de brincadeira não tem absolutamente nada, vai abrir mais ainda o abismo social.
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