Confesso que não sei se tenho
orgulho ou vergonha do que escrevi como o primeiro "redator ou
jornalista" (sei lá o que eu era) a ter publicado testes de bicicletas
para uma revista no Brasil, no caso a saudosa Bicisport. Orgulho porque fui o
primeiro e por ter buscado um caminho que fosse construtivo para todos,
leitores, consumidores e mercado, envolvido num sonho de construção de um
futuro grande e promissor para o setor de bicicletas brasileiro, um mercado
honesto com consumidores felizes, e muito emprego, geração de impostos,
construção de cidades melhores, socialmente mais justas e agradáveis. E
vergonha, se é que esta é a palavra correta, por que quando você está atrás de
uma máquina de escrever, como eu estava na época, deve-se medir palavras de
forma a levar ao leitor um texto o mais equilibrado e honesto possível e eu era
um pouco mais entusiasmado do que deveria. Bem, a verdade muda com o tempo e a
maturidade. Na época estava certo de estar fazendo o correto.
Olhar para trás é complicado quando
se tem pesada autocrítica e muita cobrança consigo próprio. Em 1988 e começo
dos anos 90 a qualidade das bicicletas brasileiras não era lá muito boa...
(quanta sutileza!), mas era o que tinha, e eu era o que era. Um dia meu tio
José Guilhermo me orientou a evitar o uso de exageros e arroubos, o que não é
nada fácil para mim até hoje. Dizia meu bisavô José Maria Whitaker “o melhor
despertador é a consciência”.
É fácil fazer testes de
bicicletas topo de linha. Difícil é escrever sobre bicicletas básicas ou para
principiantes.
Qualquer bicicleta tem que ser
comparada com os modelos concorrentes de faixa de preço e tipo de uso.
Bicicletas de US$ 5.000,00 para cima normalmente são de alta qualidade e encontrar
problemas é coisa rara. Julga-se sutilezas, detalhes. Nas bicicletas de US$
1.000,00 para baixo os pequenos problemas costumam ser mais comuns. Está
dolarizado porque bicicleta é produto completamente internacionalizado. Enxugar
preço só é possível com corte de custos de produção, portanto baixando a
qualidade aqui ou ali. Cada fabricante tem sua filosofia de composição de
custo, ou seja, de onde colocar ou diminuir as qualidades de suas bicicletas.
Num mercado com público
comprador e usuários poucos afeitos a reclamações, que acha normal ocorrer
defeitos, como o brasileiro, os problemas nas faixas de preço mais baixas são
muito mais frequentes. (Nas muito baratas os problemas são críticos, perigosos
e incrivelmente ninguém abre a boca.) E ai como se faz o texto de uma destas
bicicletas? Faz um relato seco com um monte de pequenos detalhes que 99,99% dos
usuários nunca vão perceber e destrói a bicicleta para o mercado? Que tipo de detalhes?
Tipo uma rebarba de solda, um detalhe pouco visível na pintura, um desalinhamento
de 1 milímetro na traseira, coisas que só um especialista consegue perceber e
que não faz diferença no rodar ou funcionamento da bicicleta. Ou fala sobre os
problemas graves e as boas qualidades e tenta colocar a bicicleta na posição
correta dentro do mercado brasileiro que ela pertence? Acredito que esta a é posição
mais adequada. Quem já ouviu ou leu a tradução de um teste de bicicletas por uma
revista alemã sabe que estamos na idade da pedra lascada e que eles são
completamente neuróticos, malucos pela qualidade extrema. Talvez, só talvez,
por isto a Alemanha seja o país um dos países mais avançados, influentes e
ricos do planeta e nós... Quem faz um teste busca colocar tudo numa balança.
Trabalho difícil.
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